Férias Frustradas escrita por Nunah


Capítulo 27
26 - métis




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Ela sorriu. Um sorriso caloroso que lembrava risadas e bolos de chocolate nas manhãs de sábado, com as quais Athena sempre sonhou, mas nunca teve.

A mulher levantou um pouco a saia de seu vestido - para não sujá-lo à toa - e caminhou lentamente até a outra, ainda sorrindo, parecendo hipnotizada por algo que fugia do campo de compreensão de Athena.

Ela se sentou e disse, com sua voz doce:

- Acho que primeiro devo esclarecer como e porquê estou aqui, certo? - ela disse.

- Ah... Sim? - perguntou Athena, desconcertada.

- Bom, como eu disse antes, Afrodite falou comigo. Ela não falou de verdade, foi mais para uma oração do que uma conversa. Ela pedia que eu a ajudasse a entender seus sentimentos e tudo o que está acontecendo. E, bem, aqui estou eu. 

- Então... É você mesmo? - Athena perguntou, franzindo a testa adoravelmente.

A mulher riu, deixando um som parecido com música ecoando pela floresta que ladeava o lago.

- É claro que sim. Pode ficar tranquila, não está sendo vítima de nenhuma brincadeira sem graça - disse ela, com a diversão estampada nos olhos.

- Por que só apareceu agora? - ela perguntou, baixinho. - Não que eu esteja tentando tomar satisfações, nem nada, mas... Achei que estivesse...

- Morta? - ela perguntou. Athena assentiu lentamente, com medo de tê-la ofendido. - Não, não. O que é isso? Deuses não morrem, Palas. Você, mais do que ninguém, deveria se lembrar.

- Me desculpe - ela fungou. - É que são tantas coisas acontecendo que... Bem, eu ando distraída.

- Entendo. Com certeza não está sendo fácil descobrir que seu pai não é tudo aquilo que sempre aparentou, não é? Mas não fique tão deprimida, ele já foi aquilo. Tudo aquilo.

A mulher mais velha encarou a água, vendo seu reflexo, como se estivesse fazendo aquilo pela primeira vez depois de um longo tempo.

- Mas, o que aconteceu? - Athena perguntou. - Se ele era tão bom assim, o que pode ter acontecido de tão ruim para ele se tornar assim?

- Ruim... Eu não definiria como "ruim" o que aconteceu. Bem, até certa parte, não. - ela relanceou um olhar para a filha antes de continuar. - Eu pensei que ele ficaria feliz, sabe, quando eu disse que estava grávida... E ele ficaria. Eu o conhecia muito bem para saber que ficaria. Mas, aí chegou Gaia, com toda aquela falação. Ela o fez acreditar que seria destronado caso eu tivesse outro filho, mas que ele se orgulharia de você... Bem, você conhece a história, certo?

- É claro. Todos a conhecem.

- Bem, Gaia estava certa. Eu iria ter outro filho. Mas não podíamos dizer se ele destronaria Zeus, afinal, para isso ele teria de ser muito ambicioso, e eu não tenho dúvidas que seria, assim como seu pai. Mas eu me senti... ofendida... porque ele também receberia influência de sua criação, e eu não o criaria para destronar o pai, longe disso.

Athena apertou a mão da mãe, para tentar confortá-la. Era um gesto que desejava fazer desde que se entendia por gente.

Métis conseguiu dar um sorriso fraco antes de permitir que as lágrimas caíssem.

- Então, aguentei tempo suficiente para você nascer. E, assim que isso aconteceu, eu deixei o corpo dele, com a ajuda de Hades. Ele me deixou menos viva, como se eu tivesse virado um espírito, e isso reforçou a minha imortalidade, e me ajudou a escapar para o Mundo Inferior. Depois de alguns anos, chegou Perséfone. Ela me ajudou muito também, me escondendo, assim como Hades.

- Então é por isso que você brilha? - ela fez a pergunta que tanto queria, e que era digna de uma criança. O que, perto da mãe, ela era mesmo.

Métis riu mais uma vez, fazendo o coração de Athena acelerar de felicidade.

- Sim, é por isso que eu brilho.

Athena riu também, não conseguia conter o que estava sentindo. Quem diria que no meio de tanta confusão, ela veria uma luz no fim do túnel, literalmente. Sua mãe.

- Ah, bem, certo. Com o passar dos anos, eu via como Zeus estava se tornando hipócrita e cego. Ele não via o quanto Hera sofria com todos os seus atos, e eu não estou me referindo apenas a traições. Ela sempre teve um bom coração, ele não a merece. E, mesmo estando a par de tudo isso, eu não podia ajudar. Não podia revelar minha posição, porque isso causaria um desequilíbrio, e não podia me revelar à você. - ela olhou nos olhos de Athena. Ela parecia seu reflexo, tirando a idade e o leve tom azulado de seus olhos, que continham a mesma seriedade dos do pai. - Me desculpe.

Athena se assustou com as palavras, se perguntando o porquê de a mãe estar se desculpando se só tinha feito tudo aquilo para mantê-los em segurança.

- Não, não foi culpa sua, por favor - ela disse.

- Palas, eu quero que me ouça com atenção. - Métis respirou fundo e segurou as mãos de Athena fortemente. - Seu pai te ama. Acredite em mim. Ele fez muitas coisas horríveis para protegê-la. Ele pode ser o maior canalha que esse mundo já viu, mas nunca se esqueça que ele é seu pai. Não foi certo o que ele fez hoje, eu sei, você sabe, mas ele não. Ele acredita estar salvando o Olimpo, com todas essas escolhas. Mas nunca, em hipótese alguma, se esqueça dessas palavras: Ele iria até o Tártaro por você. Aconteça o que acontecer, você continuará sendo sua favorita.

 - Tudo bem. E-eu acho que posso acreditar nisso - Athena disse, incerta. A mãe sorriu. - Mas prometa que não vai sumir de novo.

- Você sabe que se eu fizer isso, será para o seu bem, não sabe? - Métis perguntou, olhando atentamente a outra.

- Mas como você quer meu bem se mantendo longe de mim? Todos esses anos eu pensava que você tinha, não sei, se desintegrado, explodido, morrido, mas você estava viva. E agora você vai me abandonar de novo... Não sei se aguento isso.

- Nunca repita isso, Palas Athena. Está me ouvindo? Eu nunca vou abandoná-la. Eu sou sua mãe, como poderia fazer algo assim? 

- Zeus é meu pai e acabou de me colocar para fora do Olimpo - Athena disse, de cabeça baixa.

- Já conversamos sobre isso, querida. Por favor, entenda. Você não vai estar sozinha. Tem todos os olimpianos do seu lado. Principalmente Afrodite, Poseidon e Hera. Cuide-se. E não me decepcione. - ela sorriu, com lágrimas nos olhos.

- Não vou - disse Athena, sorrindo fraco. As lágrimas caíam com mais facilidade agora. Seu interior era tomado por uma paz desconhecida. Parecia-lhe que agora tudo iria se resolver, apenas com um estalar de dedos. Mas não era assim. 

A mulher foi desaparecendo em névoa, sempre sorrindo. Athena se lembraria daquele sorriso para sempre. Era o sorriso que sempre quis ver em toda a sua vida. 

- Eu te amo, mãe. - ela sussurrou para o céu, feliz. Poderia ser coisa da sua cabeça, mas ela jurou ter visto uma estrela piscando especificamente para ela, o que a fez sorrir mais. Sua mãe estava em algum lugar por aí, velando por ela.

- Ah meus deuses, graças a mim eu te encontei, Athena! O que é que você estava pensando, hm? Me deixar desesperada desse jeito, era só o que faltava, você começar a fugir! Olha só o meu estado! Meus sapatos estão acabados, tem noção do que é isso?

Ela encarou uma Afrodite descabelada, ofegante e com os sapatos na mão.

- Nunca mais faça isso, mocinha.

- Desculpe, Afrodite. Eu estava precisando pensar. 

Athena se levantou e a encarou, sentia-se renovada.

- O que houve? - perguntou Afrodite, desconfiada, recuperando-se.

- Não houve nada. Então, e agora?

- Já combinei tudo com Apolo mais cedo. Você vai para Atlântida.


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Notas finais do capítulo

Particularmente, eu amei esse capítulo. Reviews? Ah, vá, eu sei que eu mereço. Parei.