Alterego escrita por Gavrilo, Drablaze


Capítulo 13
Capítulo 13




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— Agora!

Dizendo isso, Daisuke tomou seu caminho a toda velocidade rumo a leste no denso labirinto, enquanto Natt ia em sentido oposto. Como não era de se surpreender, estavam sendo perseguidos. Tudo começou alguns minutos antes, quando os dois chegaram às proximidades da cidade de Ignop, onde possivelmente encontrariam Evige. Seu caminho estava bloqueado por soldados do exército, entretanto.

A informação sobre os fugitivos era teoricamente escondida de qualquer um fora da Aliança, incluindo generais de alta patente, mas Daisuke teve um mau pressentimento e pediu a Natt que localizasse uma entrada alternativa à cidade. E de fato estava certo, pois eram soldados da Aliança disfarçados. O que ele não imaginava é que seu perseguidor fosse Fremme, que aliás não considerava o fracasso uma opção. 

Destruir Daisuke era o mínimo a fazer depois daquela manhã horrível, carregada de lembranças cuja existência Fremme preferia ignorar. Sua irmã mais nova o surpreendera em um momento de folga da missão. Corria com uma garrafa d'água em mãos e congratulava o irmão pelo bom trabalho, quando percebeu que a tampa havia sido retirada. Tarde demais. Tropeçou em alguma coisa no caminho — talvez uma formiga — e todo o líquido foi em direção à face de Fremme.

Sem qualquer mudança visível em sua expressão ou postura apesar do ocorrido, Fremme perguntou:

— Se tem alguma coisa a dizer, por que não mandou uma mensagem ou algo do tipo?

— Ugh... — murmurou a garota, levantando-se pesarosamente — Oras, não seja cruel, eu não posso querer ver meu irmão sem motivo algum?

— Pode parar com o teatro agora, Dayna.

Sim, este era o nome da estranha pessoa à sua frente: Dayna d'Elig. Ou talvez seja melhor tirar o "d'Elig" da frente. Dayna havia desaparecido da família há muito tempo e foi tida como morta desde então, mas aparentemente teria sido adotada por alguém e eventualmente se juntado à Aliança. Que posto? O que fazia? Por que tão jovem? Ninguém sabia ao certo.

Fato é que Fremme soube de sua existência tão logo quando se tornou capitão, pela própria irmã e pessoalmente. Até ele, a Máquina de Guerra, ficou chocado. Não pelo fato de que ele era a única pessoa da família que sabia de Dayna, mas por medo de reviver o passado. Na Aliança ele era o único d'Elig até o momento; isso vinha com pressões e expectativas, mas podia assumir a própria identidade sem hesitar e viver normalmente.

Então ressurgiu das trevas o prodígio. Como mais velho, Fremme era tratado como o sucessor natural da família d'Elig, mas ninguém disfarçava que era apenas formalmente. Por de trás da cortina, disputas internas violentas eram travadas para que Dayna tivesse os privilégios e direitos que merecia. Mas não era esse o problema. De fato, o jovem Fremme daria tudo para repassar suas responsabilidades, mesmo não admitindo em voz alta.

Fremme só conseguia manter sua compostura porque tinha apenas dois motivos para viver: destruir Daisuke e ir além da família d'Elig. Conscientemente ou não, Fremme queria superar sua família e ao mesmo tempo fugir dela. Por isso a presença de Dayna o perturbava, usando todas as suas forças para não perder o controle sobre a situação.

— Oh, tudo bem então — disse Dayna —. Vamos direto ao ponto.

Mantendo um vigilante olhar sobre Fremme, a garota ergueu uma das mãos e mostrou uma ilustre faca. Sua forma era um tanto estranha, mas transmitia uma sensação de grandeza inexplicável, apesar de ser um objeto comum feito à mão, sem tecnologia AE. Era uma das marcas da família d'Elig, que devia ser passada ao futuro sucessor assim que possível.

— Assumo então que você não faz mais parte da família?

— Exato, agora sou apenas Dayna oficialmente. Isso faz você feliz, irmão?

Abruptamente, Fremme pegou o objeto e deu as costas à garota.

— Importe-se com seus próprios assuntos.

Na primeira oportunidade que teve, Fremme arremessou o inútil símbolo para longe. Não era hora de se preocupar com assuntos triviais. Naquele instante a armadilha estava sendo cuidadosamente preparada para pegar Daisuke, e ele devia chegar a qualquer instante. Fremme deu suas instruções aos homens e foi à sua posição designada.

Paralelamente, Natt procurava incessantemente por alguma rota alternativa no Novivida. A persistência compensou, pois encontrou um lugar bem interessante um pouco mais a leste dali: uma floresta-labirinto com diversas passagens secretas. Uma reminiscência de alguma guerra anterior, provavelmente. Um bom comandante poderia facilmente manipular a batalha como quisesse dentro da floresta se a conhecesse.

Em particular, Natt localizou o que deveria ser uma passagem ao subterrâneo, diretamente ligada a um túnel na cidade. Com isso decidido, só precisavam passar despercebidos pelos soldados até a floresta. Sim, de forma cuidadosa, fria, prestando muita atenção no...

— Ah, droga!

... chão. Natt acionou uma espécie de bomba sonora ao pisar com pouca consideração em um lugar suspeito. Verdade seja dita, não faria diferença se esse dispositivo em particular não fosse acionado, pois havia literalmente toneladas de equipamentos sofisticados encrustados no subterrâneo prontos para captar um suspiro que fosse.

Prontos para o evento, soldados rapidamente cercaram os dois fugitivos liderados por Fremme. Natt abriu caminho com suas pistolas de tiro rápido e ofereceu um curto espaço de tempo de vantagem para os dois. Foi suficiente para Natt e Daisuke conseguirem penetrar na floresta à fundo, mas tudo havia sido planejado por Fremme. Estavam praticamente encurralados, como Natt verificou em seu aparelho.

— Droga ao quadrado! — lamentou-se Natt — Tivemos que fugir de qualquer jeito e não percebemos a situação. Neste ritmo não acho que vamos conseguir chegar à passagem subterrânea.

— Bem, agora não adianta — anunciou Daisuke, preparando sua espada ao ouvir o som de passos —. Vou tentar ver o que posso fazer enquanto você procura por outro caminho.

Normalmente seria suicídio lutar em um espaço tão fechado com pelo menos duas dezenas de soldados, mas Daisuke percebeu que havia algo de diferente com as táticas e ações dos inimigos. Até então a Aliança tentava capturá-lo, mas sem se importar se vivo ou morto. Entretanto, não houve nenhum ataque de grande escala ou certamente mortal por parte do grupo inimigo. Por que mudar agora?

Enquanto repelia hordas de inimigos com movimentos rápidos e precisos, Daisuke buscava uma chance de atacar o líder que via a cena imóvel, quase sem presença. Notou um soldado ao longe preparando uma arma poderosa, provavelmente de projéteis de energia concentrada. Propositalmente posicionou-se em uma posição na qual pudesse ser um alvo fácil e esperou até o tiro ser disparado; quatro, três, dois, um...

Aí está! Notou um movimento sutil do homem fixo, indicando que o ataque fosse impedido. Nesse pequeno instante notou uma brecha na formação, provavelmente frustrada pelo cancelamento abrupto do golpe final, o que o permitiu perfurar o pescoço do líder. Ou ao menos é o que esperava. Fremme parou o movimento da espada com uma das mãos, utilizando a outra para golpear o estômago do oponente.

Daisuke agarrou firmemente em sua espada e foi arremessado para longe. Cuspiu um pouco de sangue enquanto se levantava, arrependendo-se de sua falta de cuidado, mas pelo menos conseguira fazer com que Fremme se juntasse à luta. Estava pronto para voltar à batalha quando olhou para a arma em sua mão e viu pequenos fragmentos metálicos se desprendendo da lâmina. Compreendeu imediatamente o quão perigoso era o inimigo.

Ocultando o receio, Daisuke avançou e decidiu que o mínimo a fazer seria tentar reduzir o número de soldados, mas suas tentativas foram frustradas por Fremme. O líder inimigo usava uma espada estranha, com uma curva na extremidade. Parecia ideal para arrancar cabeças, mas também desarmar oponentes. E foi isso o que aconteceu, após algumas trocas de golpes com Daisuke.

Em situações normais Daisuke precisaria apenas materializar a espada de volta às suas mãos, mas percebeu que havia perdido o domínio sobre ela. O inimigo não apenas anulava as propriedades especiais da arma; o próprio alterego do oponente podia ser interrompido de acordo com sua vontade. Surpreso, Daisuke foi pego em sua guarda baixa por uma rajada de lâminas. 

Conseguiu desviar-se da maioria, mas sofreu alguns ferimentos nos braços e na face. Daisuke chamou então sua foice ao mundo, mas o resultado não foi muito diferente: novamente perdeu a arma. Até pensou em usar o poder elemental da foice, mesmo podendo causar um incêndio na floresta, porém conseguiu apenas produzir um pouco de faísca.

Exatamente no momento mais desesperador, Natt chegou à cena com um olhar decidido sobre Daisuke; este percebeu de imediato e iniciou a sincronização. O plano era simples, mas podia funcionar. Iriam se separar e confundir os inimigos com as passagens e armadilhas deixadas pelo exército do extinto reino de Ignop, derrotado pela Aliança após muita resistência. "Pelo visto a Aliança não é tão esperta assim, ignorando um campo de batalha tão bom como este!", menosprezou Natt.

Natt conseguiu invadir alguns bancos de dados da Aliança sobre a guerra e o local, mas as informações sobre o caminho para a cidade não eram precisas. Natt e Daisuke tomariam direções opostas e o primeiro a achar a passagem deveria avisar o outro através da sincronização, portanto. Sem tempo para hesitar, Daisuke gritou com todas as suas forças, como se para despertar a si mesmo:

— Agora!

E ambos tomaram seu caminho de acordo com o plano. Conforme Natt instruía, Daisuke facilmente diminuía cada vez mais o número de perseguidores. Parecia um tanto facilmente demais, entretanto. Embora Fremme não tivesse sido responsável, não pensou em ajudar os subordinados para conseguir o que queria. O que queria? Simples, uma luta mano-a-mano contra Daisuke. E conseguiu.

Preso em um beco sem saída, Daisuke materializou as adagas Ymir e preparou-se para lutar. Talvez comovido pela visão nostálgica, Fremme anunciou:

— Isso certamente traz memórias, não? É, já faz um ano desde então. Parece que você evoluiu bastante para um moleque selvagem, mas este é o seu limite. Vou mostrar a diferença entre um guerreiro de verdade e um pirralho que gosta de causar confusões para desafiar os outros.

— Espera — disse Daisuke.

— Se vai clamar por sua vida, agora é tarde demais. Infelizmente para...

— Eu conheço você?

— ...

— ...

Um silêncio pesado se seguiu. Os ventos sopravam e as duas figuras fitavam uma à outra, mas Daisuke exibia mais confusão do que inimizade no momento. Então uma pequena folha desprendeu-se de uma árvore, anunciando o início do combate.

— ... Mora, Kubo Daisuke.

Apesar da ameaça, foi Daisuke quem tomou a dianteira para aproveitar a vantagem de sua super velocidade devido às adagas. Furtivamente posicionou-se atrás de Fremme e atacou com suas adagas em "X", atingindo a nuca do oponente, apesar de este conseguir se desviar por pouco de um ferimento mortal. Fremme manteve sua calma e fez um gesto desafiando Daisuke a tentar novamente, materializando uma espada.

Daisuke aceitou o desafio e impulsionou-se para frente, apenas para sofrer um contra-ataque veloz de Fremme e um corte em seu peito. Sim, o oponente havia oferecido uma oportunidade propositalmente para diminuir sua velocidade. Daisuke prosseguiu o ataque, dessa vez abandonando uma adaga durante o confronto de lâminas para perfurar com seus dedos o pescoço de Fremme; este simplesmente chutou o oponente, lançando-o como uma estrela cadente contra uma árvore.

Impossível, teria o garoto errado? Não, com certeza mirou em um ponto vital e o oponente foi atingido. Estava sangrando horrivelmente, porém vivo e inabalável. Finalmente compreendeu a extensão das habilidades do oponente. Em termos simples, um lutador "expande sua presença" ao liberar o alterego, deixando seu espírito interno desprotegido para proteger seu corpo externo.

Mas alguns poucos são o oposto disso, tendo até menos presença do que uma pessoa normal. Ao "contrair sua presença", Fremme garante um estado de alienação absoluta ao seu espírito interno, desprezando o corpo. Essa alienação traduz-se em negação, anulando não apenas a manifestação do alterego de seus oponentes como qualquer ferimento recebido.

Por isso Fremme considerou sua habilidade ideal para enfrentar Daisuke. Mesmo com habilidades de combate inferiores, poderia superar o oponente se conseguisse neutralizar seus ataques, mesmo que fosse às custas de seu próprio corpo. Percebendo intuitivamente sua desvantagem, Daisuke aproveitou uma oportunidade para congelar Fremme — o que, bem sabia, não duraria muito tempo.

Ferido, Daisuke correu em uma direção qualquer, tentando localizar Natt. A sincronização fora cortada durante a batalha, apesar de sua companheira ter encontrado a passagem que ambos buscavam. Mas Natt também precisava lidar com os soldados em seu caminho, bem como vasculhar uma área muito grande de lugares onde Daisuke poderia estar.

Daisuke eventualmente sucumbiu diante de uma árvore, segurando seu ferimento com uma expressão contorcida na face. Mostrou um olhar longo e melancólico aos céus, talvez em uma tentativa de assimilar tudo aquilo. Talvez seria a última vez que fitaria aquele azul celeste, sentiria a brisa refrescante, tocaria na grama verde, faria...

— Você é idiota? Não é como se tivessem arrancado um órgão seu ou algo do tipo.

Então apareceu o milagre na forma de uma bela garota de olhos azuis e cabelos loiros, que se agachou e entregou uma estranha faca nas mãos de Daisuke. Com um olhar compadecido, sorriu e desejou boa sorte "no caminho que teria que trilhar". Sem oferecer tempo para reagir, Dayna desapareceu tão abruptamente quanto surgiu das sombras.

— Ei, quem é você e o que quer que eu faça com isso!? — exclamou Daisuke, em vão.

O primeiro milagre deu lugar para o segundo, quando Natt contactou Daisuke através do campo AE. Como? Nenhum dos dois parecia saber, nem se importar. Como Natt tinha tomado conta da maioria dos soldados, Daisuke comprometeu-se a impedir Fremme para que pudessem fugir pela passagem. Uma vez decidido, o garoto levantou-se sem hesitação e logo encontrou o oponente.

Daisuke decidiu abandonar as armas e engajou-se no combate físico, desferindo alguns socos contra Fremme. Naturalmente, o inimigo não teve problemas em ignorar os ataques e imobilizar Daisuke com uma técnica de estrangulamento, mas este contorceu o corpo para livrar-se do impedimento e golpeou Fremme repetidamente nas costas, seguido de uma arremessamento.

Fremme logo tentou levantar-se, mas viu-se com vários ossos quebrados que dificultavam a locomoção. Não, não era esse o problema. O que viu diante de seus olhos foi a visão mais perturbadora que possivelmente esperaria presenciar. Daisuke estava de pé, decidido, com uma faca apontada para o pescoço. E que faca? Exatamente o símbolo odioso que o atormentou mais cedo, com suas curvas e adornos desnecessários.

Foi apenas por um instante, mas a pequena distração foi mais do que o suficiente para Daisuke recuperar suas armas e congelar Fremme enquanto este ainda estava no chão. O alterego nada mais é do que a manifestação do verdadeiro "eu". Enquanto o lutador mantiver suas convicções inabaladas, poderá utilizar o poder do alterego.

Fremme, ao tremer diante da possibilidade de seu rival ser morto por outro a não ser ele mesmo — e ainda por cima com uma relíquia pertencente à irmã —, perdeu o controle sobre a situação. Temendo que a realidade fosse forte demais para ser negada, Fremme tirou o espírito de seu estado de alienação absoluta e portanto foi derrotado.

Sem perder tempo, Daisuke simplesmente congelou o ferimento e correu junto à Natt rumo à cidade, onde poderia ser tratado propriamente. Entretanto, no sombrio subterrâneo, o jovem sentiu uma presença inimiga tão forte que sentiu como se fosse vomitar todos os órgãos. Natt também pôde perceber um denso e poderoso campo AE se aproximando lentamente.

O nível de tensão chegou ao seu máximo quando uma sombra foi avistada na curva logo à frente. A figura caminhou imponentemente até Daisuke, cuja intuição urgia para não desafiar aquela pessoa. Natt permaneceu igualmente imóvel, certa de que seria despedaçada se movesse um músculo sequer. O misterioso homem finalmente se pronunciou, casualmente pondo uma das mãos sobre Daisuke:

— Yo.


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