— Olá Bella.

Eu não acreditei quando eu o vi em minha porta. O choque foi tão grande que nem segurar o recipiente eu consegui. Ele caiu e fez uma tremenda bagunça. Eu teria que fazer outra coisa para Charlie jantar.

— Você não mudou muita coisa. – Jacob disse – Ainda continua desastrada.

Ele fez uma tentativa de sorriso o deixou sua expressão mais triste ainda.

— Achei que não queria me ver. – Eu disse com voz chorosa. Eu, sem dúvida, estaria chorando a uma altura dessas se ainda fosse humana. Se não tivesse me transformado num monstro.

— Eu não devia te ver. – Ele fez uma pausa – Mas eu não consigo ficar sem você. Eu queria te pedir desculpas por tudo o que eu fiz. Eu não devia ter te tratado daquela maneira. Você não tem culpa por ter se transformado nisso... Talvez a culpa até seja minha. Se eu tivesse sido mais ágil, certamente você não estaria assim agora.

Eu fiquei sem fala, absorvendo o que acabara de escutar.

— Era você na floresta? Você quem foi atrás de Laurent? – Quando eu disse o nome do vampiro ele fechou a cara.

— Sim, já dei um jeito nele. A ruiva é quem nos está dando problemas, agora. Ela sempre consegue fugir, é como se ela tivesse um mapa na cabeça. – Eu o imaginei perseguindo Victoria. Era insuportável pensar em meu melhor amigo perseguindo um vampiro. Apesar de ele poder se transformar em um lobo mau enorme, ele estava perseguindo uma vampira quase indestrutível e com sede de vingança.

— Jake, não faça isso! Você pode acabar se machucando! – Eu implorei. – Você não sabe do que Victoria é capaz!

— Ah, você conhece essa também? – Ele fez uma careta.

— Sim, há quase um ano Edward matou o companheiro dela. Ela está atrás de mim. Ela quer me matar para se vingar de Edward. – Eu tentei explicar.

— Mesmo longe, esse imbecil ainda consegue te machucar. – Ele cuspiu as palavras com raiva.

— Não, ele não está longe. Na verdade eles voltaram para Forks e nos reconciliamos. Eu não vou deixar que um pequeno desentendimento entre eu e Edward enfraqueça os meus laços com os Cullens. Eu os amo, eles são minha família.

— Depois de tudo o que aqueles sanguessugas fizeram com você, você ainda os perdoa? – Jacob tremia de raiva.

— Jacob, você também já me magoou e eu te perdoei. Você sabe que eu não guardo rancores. Eu não gosto de sofrer.

Ele ainda estava emburrado.

— Ah, Jake... Acabamos de fazer as pazes e já estamos brigando de novo? – Eu fiz uma pausa, pensando – Já sei! Vamos apagar da mente essa nossa discussão e vamos tentar de novo. – Eu fechei a porta, contei até três e abri de novo.

— Oi, Jake. Que surpresa! A que devo a honra de sua visita? – Ele riu. É estava funcionando.

— Oi, eu vim pedir desculpas por ter agido como um idiota com vocês antes e... – Ele olhou para a bagunça no chão – Te ajudar com isso aqui. – Ele disse apontando.

— É, vai ser bom o jantar estar pronto quando o Charlie chegar. Isso alivia a minha barra. Sendo boazinha assim, quem sabe até ele me tire do castigo. – Eu sorri.

— Você está de castigo? – Ele perguntou surpreso. Depois começou a rir. Eu, num gesto muito infantil, mostrei a língua.

Enquanto nós trabalhamos na cozinha, ele me disse sobre o que havia acontecido com ele e como ele entrou no bando. Disse-me que a presença de vampiros os faz se transformar em lobos. Disse-me que a minha presença ocasionou a transformação de Leah Clearwater.

— Quer dizer agora que ela é uma – Hesitei, procurando por uma palavra que melhor descrevesse – Lobismulher? Se é que essa palavra existe. – Eu fiz uma careta.

Ele riu um pouco e depois ficou sério de novo.

— É mais ou menos isso. – Seus olhos ficaram distantes – Ela ainda não aceitou isso. E eu sei que não é só pelo fato de se transformar em um monstro. É mais por ter que ficar perto de Sam novamente.

Eu fiz uma cara interrogativa e ele fez uma careta.

— Eu não devia ter dito isso... – Ele ia dizendo.

— Mas agora que começou... – Eu o cortei. Ele sorriu.

— Leah e Sam namoravam antes de ele se transformar pela primeira vez. Então ele teve uma impressão com Emily e-

— Impressão? – Eu o cortei novamente.

— É, coisa de lobisomem. É como se fosse amor a primeira vista, só que muito mais forte. Só acontece depois que você se transforma.

— Ah, sim. – Eu compreendi. Me segurei para não perguntar se isso já havia acontecido com ele. – E então o que aconteceu com Leah?

Eu desejei não ter perguntado isso quando eu vi a sua expressão entristecida.

— Nem todos têm finais felizes, Bella. – Ele disse.

Eu encarei o chão friamente, sabia que não conseguiria olhar para Jacob agora. Em um triângulo amoroso, alguém sempre sai perdendo. Como aconteceu com Leah, está acontecendo com Jacob. Era justo eu fazer com ele o que eu nunca desejaria que fizessem comigo? Eu sei o que é ouvir do seu amado que ela não te quer mais, que ele não te ama. É difícil de admitir, mas eu o amo. O problema é que o amor que eu sinto por Jacob não se compara ao amor que sinto por Edward. Eu morreria se Edward me deixasse novamente.

Eu resolvi mudar de assunto. Nós limpamos a bagunça e eu refiz o jantar em poucos minutos antes de Charlie chegar. Eu esperava levar uma bronca de Charlie por estar sozinha com um homem em casa, mas se tratando de Jacob, Charlie nem ligou. Pergunto-me o que seria se Charlie chegasse me encontrasse sozinha com Edward. Ele provavelmente atiraria em Edward.

Jacob comeu quase toda a comida, conversou comigo e com Charlie por um bom tempo até resolver ir embora. Eu o levei até a porta enquanto Charlie assistia televisão.

— Você precisa mesmo ir? – Meu coração doeu.

— Sim, eu não quero preocupar ninguém. Eu venho te visitar amanhã. Ou você pode ir me visitar se quiser. – Ele sorriu.

— Posso ir a La Push? Isso não é contra as regras? – Perguntei surpresa.

— Bem, pra você eu posso abrir uma exceção. – Ele piscou.

— Você eu sei que permite, mas e o resto do bando?

— Bella, eles não vão questionar a minha decisão. Eles não podem. – Eu ergui uma sobrancelha em incompreensão e ele explicou. – Eu sou o Alpha, o líder do bando. Se eu permitir a sua entrada em nossas terras, eles podem até não gostar da idéia, mas não podem me desobedecer.

— Falou chefinho! – Eu dei uma piscadela.

— Então até amanhã...? – Ele disse, soou mais como uma pergunta.

— Se você não mudar de idéia até lá. – Eu ri.

— Não vou.

Ele veio ao meu encontro e me abraçou. Eu devo ter aplicado um pouco a mais de força, pois ele gemeu de dor.

— Me desculpe, eu ainda não me acostumei com isso. – Eu olhei para baixo envergonhada.

Ele riu e beijou o meu rosto. Ele estava olhando para os meus olhos, contemplando o que mais havia mudado em mim.

— Apesar de tudo, eu ainda te amo e quero deixar bem claro que eu sempre vou estar aqui por você, não importa o que aconteça. – Ele hesitou. – Não importa quem você escolha. – Ele adicionou num sussurro.

As suas palavras aqueceram minha alma e o meu gélido coração. Eu podia jurar que se o meu coração batesse, ele saltaria de alegria no momento em que ouvi tais palavras. Apesar de tudo o que fiz a Jacob, ele não me abandonara. E ele entenderia se eu escolhesse a Edward - o que aconteceria.

— Obrigada. Eu também te amo. Eu posso ter mudado mais isso não mudou, eu sempre vou te amar. – Eu o abracei novamente, dessa vez com mais cuidado. Jacob é e sempre vai ser o irmão que eu sempre quis. É o meu sol nessa cidade sombria.

Ele se despediu e foi embora com seu carro. Eu acompanhei com meu olhar o seu trajeto até ele sumir de vista. Foi quando eu senti um cheiro que eu não havia notado antes; um que o cheiro forte de Jacob tinha camuflado.

Eu olhei em sua direção e ele estava parado entre as árvores na escuridão da floresta. Eu podia ver detalhadamente o seu rosto contorcido de dor, no momento em que eu olhei em seus olhos, meu coração se apertou. Ele havia escutado a minha conversa com o Jacob, o seu olhar o delatava. Por um momento eu fiquei sem reação, não sabia o que fazer.

— Edward?