POV Pedro.

   Sinceramente a conversa entre reis estava um saco. Apenas o Tisroc e Aller conversavam, Caspian parecia só ouvir e Edmundo nem isso fazia, estava completamente desligado.

E eu?

Bom, estava convicto que a conversa não me interessava nem um pouco. Se falassem algo importante ou suspeito, Caspian me contaria. Ai dele se não contasse... Brincadeira. Os três conversando (ou melhor, os dois tagarelas e o ouvinte) afastaram-se para perto do trono. Edmundo parou encostado em uma coluna. Uma conversa com ele seria mais interessante. Aproximei-me. Ele fitava o vazio.

- Tem alguém em casa? - brinquei despertando-o dos pensamentos. Ele riu.

- Sinceramente, não tenho certeza.

Eu ri.

- Fala aí, o que aconteceu?

- Nada demais. - deu de ombros.

- Ah, Ed, eu lhe conheço, fala aí.

- Você viu o jeito dela? - perguntou meio bobo e logo depois tornou a si. - Ah, é claro que não viu, quase ficou vesgo olhando para a princesa. Só espero que Susana não escorregue na poça de saliva que você deixou no chão.

- Sério, de quem você está falando?

- Viu só? Por acaso você percebeu a presença de mais alguém além da de Ranyelle?

- É - confessei -, acho que você tem razão.

Edmundo revirou os olhos. Eu ri. Um silêncio. E a expressão de meu irmão adquiriu um toque de preocupação.

- Pedro, acha que Caspian tem razão?

- Sobre?

- Eu ser um candidato à marido de Renere.

- Bem... - respirei sufocado com a pergunta repentina. - nós ouvimos realmente esse boato quando estávamos na Arquelândia ha alguns dias. Mas foi só um boato. - dei de ombros na tentativa fracassada de mudar de assunto.

- Fale a verdade, Pedro! - pediu ele irritando-se. É eu estava sem saída.

- Sobre? - fiz-me de bobo e isso só o irritou mais. Encarou-me e fiquei definitivamente sem saída. Suspirei. - Tudo bem, a verdade é que o próprio rei nos falou a possibilidade. - soltei de uma vez.

- O que?! - elevou a voz mais do que devia, dando um salto.

- Shhhhh! - pedi urgente. Os dois lá na frente, tão entretidos, nem perceberam, mas Caspian deu uma olhada em nossa direção. Lancei-lhe um olhar pedindo para que viesse aqui imediatamente, entretanto ele precisava ficar lá.

- O que?! - agora a voz de Ed era baixa demais. - Por que não me contou antes? Quando ele disse isso?

- Calma Ed. - olhei para o grupo. Nem ligavam para nós. - Ele falou para Caspian quando estavam na sala do trono de Arquelândia resolvendo as clausulas da parceria entre o reino dele e Narnia.

- O que eu faço agora? - parecia estar falando com ele mesmo.

- Calma Ed. - pedi de novo. - Ainda não há nada resolvido e lembre o que Susana disse: se não quiser, nunca iremos obrigá-lo

Isso pareceu acalmá-lo.

- Posso garantir a você: não quero!! - disse convicto e firme.

- Você nem conhece a garota, Ed, tente pelo menos conhecê-la...

- Nada disso, Pedro! Só é preciso olhar para ela para perceber como é, do mesmo modo que acontece com Ranyelle.

- As aparências enganam... - falei isso me referindo a Renere, quanto a Ranyelle eu tinha certeza que não enganava.

- Chega Pedro. - e saiu irritado da sala do trono. O que deu nele?

POV Edmundo.

Saí logo de lá. Como Pedro pode querer que eu fique calmo quando querem me casar com uma garota que nem simpática é? Ah, sinceramente... Queria ver o que ele faria se fosse com ele...

Andando sem ver para onde, esbarrei em alguém.

- Desculpe. - pedi suavemente, só então vendo que era.

- Que isso, majestade, eu que peço desculpas, devo olhar por onde ando... - Argumentou Jamim com um belo sorriso divertido no rosto.

- Então somos dois. - sorri  e toda a irritação soltou-se de mim, deixando-me leve. Rimos um pouco.

- Bom, vou sair o seu caminho, com licença. - Disse depois de alguns segundos de silencio; deu-me passagem.

- Bem, eu estava procurando minha irmã. Susana. Você a viu?

- Na verdade eu já não estou andando com elas ha um bom tempo...

- Por quê?

- Bem, Renere deixa bem claro que me quer longe mesmo sem dizer nada. Ranyelle insiste para que eu a ignore, mas prefiro não provocar...

Eu ia falar quando...

- Edmundo! - chamou-me Pedro. Virei para ele que estava acompanhado pelos outros reis. Vi o olhar ameaçador que Aller lançou a garota ao meu lado. - Venha, nosso anfitrião nos convidou para assistir a um torneio.

- Jamim, chame minhas filhas e as rainhas narnianas para nos acompanharem. - ordenou Aller.

- Sim, senhor. - e logo ela saiu.

Aguardamos o retorno das damas e seguimos juntos para um lugar fora do palácio. Parecia um ginásio dos colégios de meu mundo, só que era maior descoberto e onde deveria ser a quadra era um campo relvado. Ficamos em uma plataforma no lado norte. Era um elevado de madeira e protegido do sol e tinha uma visão privilegiada para o campo. O Tisroc sentou-se em uma espécie de trono, Aller e as filhas do seu lado esquerdo, Jamim e alguns soldados de pé ao lado dele. Do lado direito do Tisroc estava Pedro seguido por mim, Lucia, Caspain e Susana. Na arquibancada a platéia estava pronta, espalhados por ela entre as pessoas normais, estavam soldados.

- Está aguardando sua ordem, majestade. - sussurrou um dos soldados na plataforma para o Tisroc. Este levantou, caminhou até a beira do elevado e anunciou direto e em alto e bom som.

- Na presença de amigos, declaro aberto o torneio! Que entre o primeiro guerreiro! - sentou-se novamente ao som dos urros e aplausos das pessoas. O portão do lado sul abriu-se e de lá surgiu o primeiro competidor. Um homem alto e forte. Logo ele escolheu se oponente.

Assistimos a alguns duelos entediantes cujo até o Tisroc parecia incomodado. Iria começar o quinto, os outros quatro foram vencidos pelo mesmo lutador, aquele que surgiu no portão logo no inicio; este se preparava para escolher seu próximo oponente quando Aller pronunciou pondo-se de pé.

- Com a licença de vossa majestade - falava com o Tisroc -, eu tenho uma proposta a fazer.

A vossa majestade em questão sinalizou para que ele prosseguisse. Direcionou-se a platéia.

- A fim de elevar o nível de entretenimento e emoção do torneio, minha real filha que muito me alegra - quanta embromação -, deu-me uma idéia a propor ao eterno Tisroc. - olhou para ele como se esperasse pela segunda autorização.

- Diga. - ordenou ele com curiosidade. 

- Proponho... - anunciou em alto e bom som.

- Não estou gostando disso. - sussurrou Lucia ao meu lado. O rei continuou:

- Um duelo entre o estimado guerreiro calormano - apontou para ele, no campo olhando para o que falava -, e minha brava general. - dirigiu-se a Jamim. Meu coração gelou. Vi o sorriso no rosto de Renere e o medo dos olhos de Ranyelle.

- Meu caro amigo - começou o Tisroc, que também parecia surpreso. - Não seria imprudente mandar uma dama duelar contra um guerreiro experiente?

- Meu caro Tisroc, seria imprudente se a dama fosse como minhas filhas que passaram a vida toda em um castelo recebendo aulas e nunca tocaram em uma arma, mas Jamim é uma veterana nesse ramo de espadas.

- Sendo assim... - concordou o anfitrião.

- Melhor não, Ed. - sussurrou Lucia segurando meu pulso quando ameacei levantar.

- Papai... - protestou Ranyelle e foi interrompida por ele.

- Minha filha, tenho certeza de que a própria Jamim não recusaria um duelo justo e limpo. Estou errado? - perguntou a moça de pé.

- Com toda razão. - concordou ela a voz séria bem diferente da que falou comigo mais cedo. Aller sorriu. Ela caminhou até o lado do rei.

- Sabe as regras: aquele que matar, será condenado a morte. - lembrou o Tisroc. A garota assentiu. Passou por nós e deixou a plataforma adentrando o campo. Posicionada diante do soldado, desembainhou a espada.