Fruto do Nosso Amor escrita por Jajabarnes


Capítulo 57
O Soar Alto de Uma Trompa.


Notas iniciais do capítulo

Conversamos lá em baixo.
Divirtam-se!



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POV. Lúcia.

Depois que Rilian saiu continuei a olhar o horizonte até o sol sumir quase totalmente, fiquei relembrando as coisas boas que vivi em Nárnia até então, mas o frio fez-me entrar. Anotei mentalmente de pedir aos guardas que trouxessem alguém para acender minha lareira, mas primeiro busquei uma capa para me aquecer. Meu estômago protestou pedindo pelo jantar, mas meu quarto era perto do de Edmundo, então era sempre um dos últimos por onde Jay passava entregando as refeições.

Tinha acabado de colocar a capa azul quando um barulho alto me assustou. Pareciam vidros estourando não muito longe dali. Alarmada, esperei para ouvir mais alguma coisa, mas nada, silêncio absoluto. Caminhei até a porta e bati chamando pelos guardas. Não houve nenhuma resposta. Insisti, chamando, porém o resultado continuou o mesmo. Preparava-me para chamar outra vez quando escutei um baixo rosnado atrás de mim.

–Ninguém irá ouvi-la, não importa o quanto grite. E você vai gritar.

Ao virar-me devagar, reprimi o susto.

–Maugrim...!

–Desculpe a indelicadeza, majestade. - disse ele, divertido. - Mas trouxe convidados para o jantar. - maneou a cabeçorra indicando a matilha atrás de si.

POV. Rany.

Num momento, nada se tinha adiante de mim senão a escuridão da inconsciência. No momento seguinte, dedos frios percorriam minha face. Com o impulso do espanto que tomei, teria sentado na cama, mas os dedos se tornaram firmes em meu pescoço, segurando-me onde estava. De uma hora para outra, na escuridão tênue da consciência, identifiquei o rosto à minha frente.

–Aller?!

–Achei que a encontraria na cama daquele reizinho – desdenhou. - Azar o seu ter acordado, se continuasse dormindo seria muito menos doloroso. - os dedos apertaram mais em volta de meu pescoço.

–Você não faria isso... - tossi, ficando sem ar. - Eu sou sua filha...

–Não. - seu rosto se contorceu de desprezo. - Você deixou de ser minha filha para se tornar a prostituta de um inimigo.

Antes que seus dedos apertassem meu pescoço ainda mais consegui exprimir um grasnar de agonia, também bati os pés contra a cama para fazer barulho, mas ao perceber minha intenção Aller pôs-se de pé, erguendo-me pelo pescoço e por ele arrastando-me para fora da cama. De repente, com uma força violenta, ele me jogou contra o chão e o gemido que soltei só serviu para fazer mais barulho. Tentei fugir em direção à porta, mas ele chutou minhas pernas. A insistente falta de ar ainda não me permitia respirar, muito menos gritar por socorro e ele se aproveitou disso.

Minhas mãos não encontraram nada com o que pudesse me defender e Aller puxou-me pelo braço para que eu me erguesse, antes que pudesse me firmar sobre meus pés, vi e senti a mão de Aller vir contra meu rosto, fazendo-me cambalear para trás. Aproveitei para direcionar-me à porta na hora exata em que notei uma movimentação dos guardas lá fora.

–Guardas! - grasnei, mas já tinha me alcançado e puxou-me pelos cabelos para longe da porta. No mesmo puxão lançou-me ao chão, num giro, ficando entre a porta e eu. Caída, senti a pressão de sua bota contra minha barriga, o que me fez perder o ar.

O guardas entraram naquela hora e avançaram contra Aller, porém covarde, ele correu para a varanda e saltou dela, sendo aparado por um grifo negro. O soldados tentaram agarrá-lo. Inútil.

Ainda ao chão, sentia uma dor aguda se espalhar por meu corpo partindo do ventre, que me fez perder a capacidade de mover as pernas por um momento, mas aliviou alguns segundos depois. Só então pude perceber os guardas cercando-me.

–Senhora! Senhora! - chamavam. Não consegui responder. Eles curvaram-se e, com cuidado, tentaram erguer-me. Devagar, fui levantando com o apoio deles. Já estava de pé, com um do braços apoiado nos ombros do guarda da direita. Notei a intenção deles de me colocar na cama e dei um passo para trás, para alcançá-la.

–Ah! - gritei quando uma dor mais aguda ainda fez-me vacilar o passo e curvar-me para frente.

Tombando para cima da cama, com uma das mãos tentei apoiar-me no móvel e a outra foi automaticamente para de onde vinha a dor. Os soldados fizeram menção de avançar para aparar-me, mas estacaram no mesmo momento em que eu olhei para baixo, para minhas pernas, por onde senti algo morno escorrer. Na camisola, surgiu uma mancha avermelhada na altura das coxas.

Em seguida, do ventre, partiu uma sequência de pontadas agudas que impediram-me de continuar de pé ou segurar as lágrimas. Naquela hora, ouviu-se, distante, o soar alto de uma trompa.

POV. Susana.

A luz do fim do pôr-do-sol invadia o quarto atravessando o vidro das janelas e das portas da varanda, fechadas devido o vento frio. Há poucos minutos vieram acender minha lareira e eu sentei na poltrona de frente para ela com um cobertor sobre as pernas e um bom livro nas mãos.

Depois de ler várias páginas concentradamente, não me dei conta de quanto tempo havia se passado. Erguendo os olhos, vi que o sol já havia sumido, mas ainda estava um pouco claro. Era geralmente a essa hora que Caspian chegava com nosso jantar, voltei a ler para passar mais o tempo, porém já escurecera e ele ainda não tinha aparecido. Do lado de fora estava um silêncio profundo e aquilo começava a me inquietar. Não quis acreditar que era mais um mal pressentimento e levei um tremendo susto quando uma das janelas abriram com o vento.

Deixei o livro aberto na página que lia sobre o assento da poltrona, joguei o cobertor por cima do encosto e fui fechar a janela. Senti um frio na barriga ao ver outra vez a neve, fechei a janela e voltei-me para a direção da poltrona. Quando virei-me, o fogo da lareira, assim como das velas, apagou lançando o quarto na completa escuridão. Um segundo mais tarde, acendeu para logo apagar outra vez, então apagou e acendeu de novo só que dessa vez havia algo diferente no quarto. De pé, do outro lado do quarto, Rabadash sorria para mim.

Recuei um mero passo e minhas costas logo encontraram a parede.

–Guardas! - chamei. - Guardas!

–Pode gritar o quanto quiser, querida, eles não vão ouvir você. Ninguém vai, só estamos nos dois por aqui. - sua voz era firme, grave, entoando o sorriso que havia em seu rosto.

–Não se aproxime! - ordenei tentando parecer autoritária, mas minha voz falhou demonstrando meu medo.

Ele avançou alguns passos e eu pus a mão sobre a barriga, instintivamente. Rabadash viu o gesto e lançou a ele um olhar de mágoa e ódio.

–Você não faz ideia do quanto me dói saber que poderia ser nosso filho aí dentro. - disse entredentes. -E o pior é que você ama esse filho do outro.

–Amo muito mais do que você imagina. - afirmei. - Não só o filho como o pai também.

–É mesmo? E ele ama você da mesma forma? Ele está aqui agora para proteger vocês? - provocou. Mantive-me calada. - Viu? Se você carregasse um filho meu eu a amaria ainda mais e a protegeria incondicionalmente. Seria um sonho, não concorda?

–Você é louco, Rabadash. - acusei. - Guardas!

–Eles estão mortos, não vão ouvir você! - gritou, para logo abrir um sorriso, seus olhos brilharam. - Somos apenas você e eu agora, minha querida, como sempre deveria ter sido. - avançou.

Com o coração aos pulos busquei pelo quarto o que precisava, mas vi que meu arco e minha trompa estavam longe de meu alcance, do outro lado do cômodo.

–Por que é tão difícil para você acreditar no que eu digo? - tornou ele. - Acreditar no que sinto por você?

–Será que se esqueceu de tudo o que me fez passar? - estreitei o olhos marejados, vendo-o se aproximar cada vez mais. - Será que esqueceu todo o mal que causou? Você é a última pessoa em quem eu confiaria, Rabadash. - lambi os lábios quando ele ficou a poucos passos de mim. - E mesmo se fosse diferente, se você não fosse o canalha que é, ainda assim, eu jamais conseguiria amá-lo.

–Não me venha falar de canalhice, Susana! - esbravejou. - Iríamos nos casar! Mas você me traiu! Fugiu! - vi seus olhos brilharem, agora por lágrimas e nada na vida me pareceu mais doentio. - Me fez acreditar que sentia algo por mim... E era tudo mentira! - fui incapaz de falar diante de tanta loucura, o medo começou a apoderar-se de mim. - Porém, Susana, apesar de toda a mágoa que me causou, estou disposto a lhe oferecer outra chance. Venha comigo e eu prometo que Jadis não tocará em você. Eu a levarei para longe de tudo isso, quem sabe para o seu mundo, onde enfim poderemos ser felizes juntos. - parou bem a minha frente, a poucos centímetros de mim.

–Você é louco, Rabadash! - empurrei-o para o lado e tentei dar passos rápidos em direção a lareira sobre a qual estava minha trompa, mas ele segurou-me pelo braço firmemente fazendo-me ficar de frente para ele outra vez, de costas para a lareira.

–Se sou louco você está cega! - rosnou. - O que ainda quer aqui?! Continuar com aquele desgraçado?! O que ele pode oferecer a você? Diga! O que ele deu a você até agora além de um filho que vai acabar te matando?!

–Caspian me deu seu amor! Ele me faz feliz! E não poderia ter me dado presente melhor do que nosso filho! - afirmei, espantando-me com a firmeza de minha voz convicta. Isso pareceu irá-lo. - Solte-me, Rabadash! - ordenei, puxando o braço.

A única coisa que ele fez foi franzir os lábios, puxar-me contra si e falar firme:

–Você vem comigo, querida. Não estou lhe dando escolhas.

–Para ser entregue nas mãos de Jadis? Não! - puxei meu braço conseguindo soltá-lo. Corri na mesma hora em direção a trompa, mas na metade do caminho ele me alcançou. Num mesmo segundo senti-me ser puxada contra ele e um impacto forte no rosto fez-me ficar tonta.

–Eu disse que não estou lhe dando escolhas.

–E eu disse não! - sem dar-me conta como, consegui acertar o rosto de Rabadash com as unhas e corri para a lareira. Quase caí no fogo, escorregando e indo ao chão bem em frente à lareira. Esse contratempo permitiu que Rabadash me alcançasse, agarrando meus cabelos, mantendo-me ajoelhada em frente a lareira. Gritei de dor.

–Susana, tola! - falou com os dentes cerrados. - Não se dê esse trabalho. Pode deixar que eu mesmo faço isso, aguardo ansiosamente uma revanche. - quando dei-me conta do que ele pretendia tentei impedi-lo cravando as unhas no braço da mão que me segurava, mas bruscamente, com a mesma, ele empurrou-me para o lado fazendo-me cair ao chão outra vez.

Rabadash olhou-me com raiva e apanhou a trompa acima da lareira, tomou fôlego e a soprou, parando apenas quando acertei no meio das pernas com o bastão de atiçar o fogo.

POV. Rilian.

–É nossa única opção, não podemos ficar de braços cruzados esperando o próximo ataque. - insistiu Pedro outra vez. Ninguém falou nos segundos seguintes, cada um divagando com seus próprios botões.

–Por que será que Jay está demorando tanto? - perguntou Caspian.

–Talvez não tenha encontrado Dave ou Vincent ainda. - sugeri.

–Não – Tirian ergueu a cabeça. Demorou alguns segundos para continuar, fitando o vazio. - Perceberam isso?

–O que? - estranhou Pedro.

–Como está quieto lá fora. - disse e todos fizeram silêncio outra vez. Ele estava certo, não havia um som sequer além da sala. - Tem alguma coisa errada.

–Os soldados todos estão se preparando, devia estar uma correria. - concordou Caspian quando Pedro deu passadas largas rumo a porta.

–Acho que não, eles devem estar se abastecendo de armas para as bandas dos dormitórios e... - fui interrompido quando Pedro abriu as portas do salão e os corpos dos soldados caíram à sua frente. Pedro recuou e voltou-se para nossa direção ao tempo em que sentimos um estranho frio no ambiente.

–Eles já estão aqui.

Pedro foi calado pelo soar alto de uma trompa.

–Susana! - Caspian disparou para saída e nós o seguimos, mas quando chegávamos às portas elas se fecharam sozinhas. Caspian a forçou para abrir, mas percebemos que a madeira era coberta por uma camada de gelo que a vedava ao chão. Ele recuou e correu para a saída lateral e a forçou também, porém era tarde. - NÃO! - Caspian esmurrou a porta que também fora vedada. Olhamos em volta e vimos que as janelas estavam do mesmo jeito.

Caspian continuou a esmurrar as portas, desesperado para ir ao socorro de Susana e nós o ajudamos, mas era inútil, estávamos presos ali. Enquanto isso, o som da trompa permaneceu por mais uns segundos, até que cessou bruscamente.


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Notas finais do capítulo

Perdões pela demora, gente, estive sem internet por um bom período e também estava trabalhando em outras fanfics, tanto as que já foram publicadas quanto as que ainda não foram. Espero que tenham gostado desse capítulo, e não se esqueçam de comentar!
Beijokas!!