POV Ranyelle.

                Continuamos correndo, mesmo sem ninguém nos seguindo. Já estávamos próximas às colinas da fronteira entre Narnia e Arquelândia quando Jay resolveu pararmos para passar a noite. Acendemos uma fogueira perto de um riacho onde demos de beber aos cavalos e nos abastecemos também. Depois sentamos em volta da fogueira.

                Eu ainda podia sentir a adrenalina correr por meu corpo. Ainda não acreditava no que fizera. Deixei tudo. Toda a minha vida. A minha família. Para seguir meu coração. Para correr para Pedro e para uma nova vida. E o que dizer de Jay. O que será que deu nela? Mudou da água para o vinho quando meu pai, ou melhor, agora, o Rei Aller, ofendeu sua família e sua descendência narniana. Ela, desde pequena, aceita tudo, menos algo contra a sua família e a quem ela ama. Agora ela estava ali. Como fugitiva, e acusada de traição. Ela também abandonou muitas coisas. Sua vida na Arquelândia, seu irmão, Julian, que ficara na Arquelândia, sua carreira no exercito, com o que ela sempre sonhou. Bem, eu não estou em uma situação muito diferente. Deixei minha irmã, minha vida, e um passado que nem sempre fora bom de lembrar. Enfim, acusada de traição e agora considerada uma fugitiva.

 Eu estava feliz e ansiosa. Finalmente reencontraria Pedro e nossos amigos narnianos!   Ao mesmo tempo, uma insegurança nascia em meu peito. Será que fiz a escolha certa em jogar tudo para cima? Será que nossos vizinhos narnianos serão compreensivos conosco e nos deixar ficar em seus domínios?

                - Está arrependida? – perguntou-me Jay.

                - Não, nem um pouco.  – falei convicta. – Meu pai não é mais o mesmo.

                - No inicio achei que a raiva que ele sentia seria passageira, mas ela se transformou em ódio. E ódio dura muito tempo... – disse ela. – E Renere? Como acha que ela vai reagir?

                - Bom, não faz muito o feitio de ela ficar preocupada, ou ao menos se importar. – respondi.

                - Você tem razão.

                - Mas e você, Jay, está arrependida?

                Ela ergueu os olhos para me olhar e demorou alguns segundos para responder.

                - Acho que ninguém vai sentir minha falta... Além disso, Rany, o que seu pai falou foi à gota d’água. Eu não conseguiria ficar lá nem se eu quisesse.

                - E Julian? Ele vai sentir a sua falta.

                - O meu maior medo é que Aller resolva descontar nele a raiva que agora sente de mim.

                - Temos que tirá-lo de lá. – concluí.

                - Primeiro temos que chegar à Narnia em segurança.

                - O único lugar para onde vocês vão, é para as masmorras do castelo de Anvard. – uma voz masculina nos fez saltar. Um grupo de soldados saiu da escuridão do bosque, nos cercando. Jay puxou sua espada. – Pensei que seria mais esperta, general, sabe que ter parado para descansar quando se está sendo perseguida, é praticamente suicídio.

                - Acontece, Andrew, que eu apostei no retardo de seus homens. – rebateu ela.

                - Apostou errado. – ele sorriu provocante. – é melhor se renderem, senão seremos obrigados a leva-las à força até o Rei.

                - Faça o que for preciso. Não voltaremos. – falei.

                - Princesa, vosso pai está desolado com sua atitude de traidora, e vossa irmã, está trancada em seus aposentos chorando por sua partida. Diga-me, o que pode fazer? Não sabe lutar, está sem um teto... Vamos, o melhor mesmo é se entregar. – disse-me Andrew.

                - E voltar a uma vida de zumbi? – questionei. – Nunquinha!

                 - Já tem sua resposta. – Jamim disse a ele.

                - Vocês é minha resposta e devo manda-la para a forca, traidora! – Ele retrucou.

                - Você é tão covarde ao ponto de atacar um rival com desvantagem numérica e sendo ele duas moças indefesas? – insistiu ela.

                - Vocês não me pareciam indefesas quando se rebelaram contra o rei. Chega de conversa. Peguem-nas! – ordenou e seus homens logo vieram para cima de nós eu ainda tinha a espada que usara dentro do castelo, saí golpeando de qualquer jeito, afinal, que prática eu tinha? Nenhuma, então, tinha que começar de algum jeito. Jay começou a lutar também. Aos poucos os soldados foram caindo. Andrew só observava. Esperando a hora de nossa morte. Mas senti ter capacidade, senti que alguém me fortalecia. Sentia que eu não estava sozinha.

                Meus golpes tornaram-se mais fortes e letais. Meu reflexo estava incrivelmente melhor. Minha agilidade estava me dando medo. Eu não desviava mais dos golpes de meus adversários, eu os usava contra eles mesmos. Aos poucos acabamos com os soldados. Um por um. E olha que na quantidade em que eles estavam, teriam nos matado em poucos minutos, mas foi o contrario. Nós os matamos em poucos minutos. Uma coisa amedrontadora que estava assustando a mim. Nós nos tornamos em maquinas assassinas.

                Andrew nos olhava apavorado. Troquei um olhar com Jay e ela também estava assustada. Minha amiga assentiu uma vez para mim, como se ela soubesse o porquê daquilo tudo, encarando Andrew em seguida com um olhar desafiador.

                - Co-como vocês fizeram isso? Ninguém lutou com elas... Como podem ter ganhado um grupo de soldados....? – ele falava com sigo mesmo.

                - Aí você se engana. – Jay apontou a espada para ele. – Não estamos lutando sozinhas. Aslam lutou e lutará sempre conosco. Agora volte para o seu rei como o rato insignificante que é, quero ver como justificará a derrota de seus homens para duas garotas.

                Ele recuou alguns passos e saiu correndo. Os primeiro raios de sol surgiram. Montamos em nossos cavalos de novo e continuamos a viagem até Narnia.