O carro da produtora estava a minha espera por UMA HORA. UMA HORA, CARA! Quando consegui descer, carregava em minhas faces um par de olheiras horrorosas, cobertas por um “Ray-ban”. Tentei me vestir bem... e até acho que consegui, com uma calça jeans escura, uma bota de salto e cano alto e um sobretudo, que tapava tudo (não Marietta, sobretudo se chama sobretudo porque ele te deixa pelada, idiota!).

- Senhorita Marietta. – começou o motorista, ao me ver entrar, em completo desespero.

- Vamos, por favor, seu moço. Estou muito atrasada.

- Tudo bem.

E lá estávamos, nas rodovias de Londres, correndo como desesperados. Cortamos a frente de dois ou três caminhões, levamos duas multas por excesso de velocidade, e vi minha vida passar por um triz quando quase atropelamos uma senhorinha (e ela não parecia ser simpática).

Depois de tantas adversidades... chegamos. Depois de quase outra UMA HORA, CHEGAMOS.

- Me desculpe, me desculpe, sério, desculpa. – entrei gritando, largando bolsa de um lado, papéis do outro. – Sério, cara, desculpa, desculpa...

- Marietta, respira. – murmurou Mel, agarrando-me pelo braço. – O produtor atrasou por sua culpa. Mas fica sussa... você teve uma diarréia danada e não teve como vir antes. E tira esse “Ray Ban”!

- To com olheiras, cara. – resmunguei, impedindo que Mel tocasse nos meus óculos.

- O que aconteceu? – perguntou, olhando para a porta. – Mattew não veio contigo?

- NÃO FALE ESSE NOME! Esse filho da puta...

- Vai falar que você brigou com o cara?

- Não fui eu que briguei com ele... ele que brigou comigo. Eu acho. – murmurei, ajeitando os cabelos bagunçados. – Ah Mel, ele estava zuando com a minha cara, me deu cano ontem... e nem sei mais se vai vir.

- Ferrou tudo... a bancada estava disposta a aceitá-lo e treiná-lo... mas agora... fudeu.

- Eu sei, Melissa Edward, EU SEI! Não precisa avisar, certo? – gritei, empurrando-a para longe. Segui para a sala onde ocorreriam as audições, e me sentei, cumprimentando a todos com um breve aceno. Ouvi Mel murmurar para o produtor e mais alguns que eu estava de péssimo humor, devido a uma intoxicação alimentar. É nessas horas que eu amo a Mel, enfim...

- Heagle, podemos começar? Há muitos atores esperando... – começou o produtor, até que eu o interrompi, sorrindo:

- Manda ver, cara... é hoje que saímos daqui com nossos personagens!

E começamos.

(Imaginem quatro horas depois).

Minha bunda estava doendo. Sério, estava doendo mesmo! Não me levantei uma mísera vez, nem pra ir ao banheiro. Eu, o produtor, o juiz artístico, Mel e outro juiz estávamos a todo vapor, comentando e discutindo sobre os atores que estavam fazendo o teste.

Apareceram alguns muito bons para ser Pierre e William. Outros, pros papéis femininos, como a de Pollyanna e Marin. Os convidados, aqueles que citei anteriormente, apresentar-se-iam depois. Alguns, não tinham aceitado, por causa da agenda. Mas legal... os que eu tinha interesse, toparam, como o Misha Collins, Johnny Depp, entre outros por aí.

- Heagle... – começou o produtor, esticando-me um papel. - Deixaremos o Jonathan e Sophia para noite, o que acha? Uma remessa para hoje, e assim vamos distribuindo pela semana, já que é a que tem mais concorrentes.

- E Jared Leto, topou ser Magnus?

- Sim. Acredito que não tenha porque fazermos teste para Magnus, Marcus e Alphonsus, se os convidados aceitaram o papel. Sem contar que foram poucos que se inscreveram para estes.

- Sempre foi assim. – disse-me Richard, um dos juízes. – Todos se concentram no papel dos mocinhos, e esquecem que os coadjuvantes fazem toda a diferença, ainda mais os Murphy! Misha Collins será eternizado como Marcus Murphy, anote que eu digo.

- Concordo. – murmurei, dando um enorme gole de limonada. Olhei apreensiva para a porta, e pedi que outro candidato entrasse. Esses eram para o papel de Takashi.

E assim se seguiu, até anoitecer. Não irei descrever toda aquela coisa chata de avaliação, porque é mega, mega chato. Legal, eu briguei com uma menina, Mel deu em cima de um rockeirinho muito tenso, e um dos juízes chamou a atuação de um cara de lixo. Fora isso... tudo dentro do controle. Até então.

- Vamos começar... hum... Jonathan Harrington, o que acha, Heagle?

- Ótimo, Richard, começaremos por ele.

- Pode entrar o ator... hum... Zac Efron?

- ZAC EFRON? QUE PORRA ESSE CARA TÁ FAZENDO AQUI? – gritei, vendo-o entrar. Disfarcei, dei uma de juíza legal... e mandei-o embora. Nãããão, ídolo Teen, que nem voz de homem tem, pra ser meu Jonathan... JAMAIS! PREFIRO O INFERNO!

E surgiram outros... piores do que o primeiro. Loiro, albino, negro, mulato, ATÉ JAPONÊS! E o pior: nenhum, nenhum deles tinha a ver com MEU JONATHAN! Tá difícil de entender que Jonathan tem cara de mau e de homem?

- Não aprovamos nenhum até agora, Heagle. Está mais difícil que pensávamos. – lamentou Mel, entregando-me um outro papel. – E... você acha que M. Shadows vem?

- Duvido muito. Deve estar curtindo na cama com a viúva negra. – resmunguei, apertando com força os tais papeis. Cheguei a amassá-los, mas tudo bem.

- Hum... podem chamar o número 69 da lista... Matthew Sanders.

Eu e Mel nos engasgamos, agarrando a mão uma da outra. Vi Shadows entrar, com uma camisa xadrez semi-aberta, um óculos “Ray Ban” e o cabelo arrumadinho para trás. Estava um gato, um gato supremo.

Fiquei meio que sem palavras porque... eu vi Jonathan Harrington diante de mim. Minha criação tomara vida... e só M. Shadows conseguia aquilo. Estava completamente... perplexa.

- Eu falei que viria. – disse para mim, dando uma piscadela.

O que fazer numa hora dessas: enfartar... ou arrancar o coração daquele idiota com as mãos?