B: Droga!

    S: PAI!? CA-RA-LHO! QUER DIZER... PUTA QUE PARIU!

    Ainda disse outra meia dúzia de palavrões para expressar meu choque. Os espíritos também fofocavam chocados. E eram extremamente inconvenientes com isso. Tudo isso deixou meu pai muito sem graça. Ele respondeu timidamente:

    B: Oi filha!

    S: COMO ASSIM “OI FILHA”! EXPLIQUE-SE!

    B: Não há tempo para isso! Quero saber por que você está aqui! Sua mãe disse que o Gerard ia tomar conta de você! E que não ia vê-la tão cedo...

    S: MINHA MÃE?

    B: É, ela mesma!

    Eu tentava desmaiar, mas não conseguia. Eu devia ser muito tapada mesmo! Não entendia nada! O Gerard não explicava nada direito! Que anta!

    S: Bob... Pai... Eu desisto! Eu não entendo nada! Isso tudo deve ser um sonho! É! Um sonho estranho e inconveniente!

    B: Minha filha, isso não é um sonho!

    S: Apenas concorde comigo! Fará as coisas serem menos confusas! ONDE EU ESTOU?

    B: Você está no Purgatório!

    S: PURGATÓRIO? É o que eu mereço por não entender nada. COMO É QUE EU CHEGUEI AQUI?

    B: É algo que temos que investigar. Do que você se lembra?

    S: Ah, pai... É uma história enorme!

    B: Só diga o final então.

    Era muito legal falar com meu pai depois todo esse tempo. E saber que ele era juiz, era ainda mais legal. Juiz dos mortos, mas juiz!

    S: Eu estava andando com um cara. O nome dele era Frank. Meio metro, sabe? Mas até que ele era forte. Disse que ele tinha que me levar para algum lugar para me explicar as coisas. Todas essas coisas que eu não entendo. Eu não tive escolha. Aí pode parecer estranho, mas eu caí no final de uma fila enorme! A fila que leva as pessoas até aqui. Foi assim que eu morri?

    B: Foi. Frank te trouxe até o inferno.

    S: O que ele pretendia com isso?

    B: Não sei querida... Mas quando as pessoas pisam no inferno, elas morrem. Quando pisou lá, deve ter caído aqui. E foi tão rápido que você nem percebeu.

    S: Ele tinha que me proteger. Por que me mataria?

    B: Essa é uma excelente pergunta.

    Fez-se silêncio por um tempo.

    S: E agora? O que vai acontecer comigo?

    B: Vou ter que julgar você. Pra saber se você vai para o Paraíso ou para o Inferno. Ah. E vou ficar com o seu verdadeiro corpo também. Só sua alma pode vagar por aí.

    S: Que horror!

    B: Não é tão horripilante assim. Olha pra mim, já não tenho mais corpo! Essa é só minha alma.

    S: Ta meio caidinho, né pai... Com cara de morto...

    Ele sorriu.

    B: Você deu sorte. Poderia ficar nessa fila por milênios. Ela é realmente grande.

    S: Ainda bem que você é um bom pai e me escolheu primeiro! Pai... É legal dizer isso. Muito bom. Mas por que você está aqui?

    B: Isso vai ter que ficar para depois, esse é o SEU julgamento!

    S: É, tem razão.

    B: Vamos ver aqui...

    Um livro enorme e vermelho se materializou em suas mãos.

    B: Esse é o livro da sua vida. Ele mostra tudo que você fez. TUDO. Depois que você vai pro Paraíso ou para o Inferno, o livro é queimado junto com o seu corpo e a sua alma fica livre.

    S: Tipo... Freedom?

    B: É. Vejamos aqui o que você fez de bom...

    Ficamos em silêncio enquanto ele lia. Os espíritos olhavam atentamente.

    B: Awwww... A garotinha do papai... Morreu virgem.

    Os espíritos fizeram “Awwwwwwwww” também. Isso foi vergonhoso.

    S: Pelo amor de Deus, não faça mais isso!

    B: É que fiquei orgulhoso!

    Ele continuou a ler... E de repente ficou chocado.

    B: Minha filha... VOCÊ MATOU UM HOMEM!

    S: NÃO, FOI UM ACIDENTE!