The Soul escrita por CaahOShea, Bellah102


Capítulo 10
Ciúmes


Notas iniciais do capítulo

Oi!
Mais um capítulo repostado!
Boa leitura! *-*
E ah, nesse teremos muita Cassie Stewart. ;D Se preparem!

Música do capítulo:

Better Than Revenge_Taylor Swift

Ela não é uma santa e ela não é o que você pensa
Ela é uma atriz, whoa
E ela é mais conhecida pelas coisas que ela faz
No colchão, whoa
Logo ela vai descobrir
Roubar brinquedos de outras pessoas no playground
Não vai te trazer muitos amigos
Ela deve ter em mente
Ela deve ter em mente
Não há nada que eu faço melhor do que vingança
(Melhor do que vingança)

http://letras.mus.br/taylor-swift/1763872/traducao.html#



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#No dia seguinte#

POV. Peg:

Suspirei, abrindo os olhos para um novo dia. O quarto continuava como sempre, pedra escavada. Eu nunca achei que sentiria tanta falta da minha cripta, e do cheiro seco de duro de casa.

– Peg? – Chamou Ian sonolento. – Está acordada

– Sim – Respondi com um sorriso – E você?

– Não tenho certeza...

Virei-me para ele. Seus olhos ainda estavam fechados. Ri, beijando sua bochecha. Recolhi-me no calor do seu peito. Tudo ali estava perfeito, Ian e eu juntos e a poucos metros de pedra da nossa família.

A história começa quando estava quente e era verão

E, eu tinha tudo, eu tinha ele onde eu queria

E de Cassie, percebi com desgosto de repente, sabendo que iríamos esbarrar nela mais ora, menos ora.

– Eu amo você. - Disse, tomada pelos ciúmes amargos.

– Eu amo mais, Peregrina. – Ele disse abrindo os olhos azuis – safira, neve e meia-noite e passando os braços ao redor da minha cintura, me trazendo mais para perto. – Só você. Para sempre.

– Sempre. - Ecoei na segurança de seus braços.

Levantamos e nos vestimos quando o estômago de Ian roncou de forma incontrolável, ameaçando trazer abaixo o quarto. Rumamos ao refeitório de mãos dadas, conversando e rindo baixinho pelo caminho. Chegando lá, poucas pessoas comiam, ao que parecia, ainda era cedo. Enfureci-me em perceber que uma das pessoas era Cassie.

Apertei a mão de Ian com mais força, estava prestes a pedir para irmos embora quando ela nos viu. Seu olhar fuzilou nossas mãos unidas e abriu um sorriso ferino que clara mente dizia “Vou roubar seu homem.”.

Ela veio, pegou ele, e vamos ouvir os aplausos

Ela o tomou mais rápido do que você pode dizer sabotagem

– Ei Ian, sente aqui! - Ela chamou, levantando o braço como se fosse difícil vê-la no refeitório quase vazio.

Ian olhou para mim como se esperasse que eu explodisse em lágrimas, mas empinei o queixo, decidida a não dar esse prazer a Cassie. Levando-o pela mão, atravessei o refeitório sem lançar um olhar a ela. Fui até a bancada onde eu e Ian nos servimos calmamente.

De prato cheio, rumei ao lado oposto ao que ela estava sentada. Sentei-me em uma mesa vazia e Ian sentou ao meu lado, beijando minha bochecha.

– Você é linda quando está com ciúmes, Peregrina. - Ele sussurrou contra minha pele. Para minha perdição, Cassie levantou de onde estava sentada, deixando seu prato para trás e me olhando com raiva.

Ela vive a vida como se fosse uma festa e ela está na lista

Ela olha para mim como se eu fosse uma tendência que ela já superou

Eu acho que a carranca dela sempre presente é um pouco preocupante

Quando Ian a viu, ela vestiu novamente a máscara de simpatia.

– Qual o problema de vocês? – Ela perguntou em tom de brincadeira, sentando do outro lado de Ian. “No momento, você.” Pensei. - Estão me evitando é?

– Se ao menos estivesse funcionando... - Sussurrei para o meu prato.

– Como disse Peg, querida?

Eu sou apenas mais uma coisa para você desdenhar, querida

Levantei os olhos, dando o sorriso falso mais simpático que consegui.

– Disse que nós não a vimos Cassie... Estávamos tão distraídos... Sabe como é... Estar tão apaixonado que não presta atenção a mais nada...

– Então Ian – Ela me interrompeu indiscretamente como sempre. – O que vocês fazem para se divertir nesse buraco?

Trinquei os dentes com força. Se ela chamasse minha casa de buraco outra vez, eu atiraria nela com a arma de Jeb. Ai, Cassie era a única que conseguia tirar uma das minhas virtudes de alma- a paciência!

– Jogamos futebol no salão de jogos de vez em quando.

Ela passou a língua nos lábios de um jeito irritantemente sedutor, exibido e oferecido. Depois ela murmurou como que deliciada, um som que mais parecia um gemido muito obsceno.

– Hum... Talvez você possa me mostrar mais tarde...

– Talvez eu te mostre um penhasco... - Sussurrei novamente com raiva para o meu prato.

– Como disse Peg? Ian, ela fala tão baixo! Como consegue ouvi-la?

Ian olhou para mim preocupado, e dirigi a ele outro olhar que dizia para ter cuidado com o que ia falar.

– Peg é... Tímida.

– Estou bem aqui Cassie. – Disse, insolente. – Não precisa falar de mim na terceira pessoa.

Comi em silêncio enquanto Cassie começava a tagarelar com Ian sobre como eu era petulante e como eu podia ser mais agradável, afinal, eu era a intrusa naquele planeta e naquela resistência.

– Cassie. – Ian interrompeu-a, firme, quando viu que eu havia me retraído, ofendida. – A única intrusa que vejo nessa resistência é você. Peg está perfeitamente entre os seus.

Ela abriu um sorriso, que dessa vez parecia menos falso e soltou um risinho de deboche.

– Não pode estar falando sério... - Ela disse com desdém. Levantei os olhos e fuzilei aquele rosto irritante mente atraente.

– Pois falo sério, Cassity.

Ela abriu a boca, em uma fraca imitação de quem está chocado e após alguns segundos seu sorriso cínico estava ali novamente. Quase podia ver a língua bifurcada saltar para fora para provar o ar.

– Ela te enfeitiçou de jeito, não foi? Se não te conhecesse bem, acharia que era um deles... – Ela disse, roubando uma tira de bacon do prato de Ian. Pude ver seus olhos seguindo a mão fina de Cassie. Ian levava o bacon muito a sério. – Não se importa de dividir, não é?

– Não. Na verdade, pode ficar com meu prato, eu divido com Peg. - Ele disse chegando mais perto de mim e passando o braço por meus ombros. Encolhi-me para perto dele e segurei as lágrimas de raiva. Não iria chorar na frente de Cassie. Nunca!

– Ele já disse que te ama? - Perguntou – Quando estávamos juntos no colégio ele inventava jeitos lindos de...

– Já. Ele já disse. Hoje, inclusive. - Interrompi-a, grossa. Ian terminou meu prato antes que Cassie pudesse formular mais alguma frase invasiva para me enciumar. Levantei-me e levei prato até a pia. Antes de voltar, respirei fundo, duas vezes. Voltei à mesa, louca para ir embora e me ver livre daquela insuportável.

– Vamos? - Perguntei ansiosa.

– Vocês já vão? – Perguntou Cassie, fazendo biquinho e voz fina, uma combinação que me irritou de um jeito que não tenho palavras para descrever – Ah eu vou tamb...

– Não se apresse – Interrompeu Ian, levantando, passando o braço pelo meu ombro novamente. – termine o café.

– A gente se vê mais tarde. - Eu disse, o mais simpática possível. Saímos do refeitório e abracei a cintura de Ian com força, tentando ao máximo afastar com seu cheiro, as palavras ásperas e ofensivas de Cassie.

– Eu a odeio Ian! Odeio mais do que odiava a Buscadora em Lacey. – Falei choramingando.

–Vamos Peg, ela é desagradável Peg, mas...

– Desagradável?! Só faltava ela escrever “EU QUERO IAN O’SHEA” na testa... Ela quer nos separar Ian, é o que ela quer, você não vê?

Logo ela vai descobrir

Roubar brinquedos de outras pessoas no playground

Não vai te trazer muitos amigos

Choraminguei, puxando sua camisa como uma criança birrenta. Ele me beijou com ternura, acariciando meu rosto.

– Eu não poderia viver em um mundo em que você não fosse minha Peg. Um mundo em que não estivéssemos juntos. Não confia em mim?

– Eu confiaria a minha vida a você. Já fiz isso na verdade. Mas não confio nada em Cassie, principalmente perto de você, assim como você não confia em Austin. - Ele parou e fez uma cara de confusão.

– Como chegamos a “Você-Sabe-Quem”?

– Austin ou Lorde Voldemort?

– Não tem graça, Peg.

– Você tem ciúmes dele, não tente negar...

– EU?!

– Ian... Não confia em mim? – Falei. Ele fez cara feia.

– Touchée. – Ele falou – Você venceu!

Voltamos a andar, com as respirações unidas ressoando pelos corredores silenciosos como a morte.

– Sabe, isso é tão bobo – Ele disse, depois de alguns minutos de silêncio – Sabemos que amamos um ao outro e confiamos um no outro. Isso não devia nos incomodar.

Pensei por alguns minutos. Fazia todo o sentido. Qual era a pior coisa que Austin ou Cassie podiam fazer? Nos raptar? Eu não deixaria de amar Ian e – eu esperava – que Ian não deixaria de me amar.

– Não. Não devia. – Respondi francamente.

Ele enrolou um dos meus cachos louros no dedo indicador, brincando distraído, mas com uma expressão pensativa. Chegamos ao quarto. Ele abriu a porta para mim e fechou atrás de nós depois que entramos.

– Vamos fazer um pacto – Ele propôs quando me abaixei ao lado da cama a fim de arrumá-la; Ele se ajoelhou ao meu lado. – É perfeito.

– Um pacto? – Perguntei, não convencida de que era perfeito – Que tipo de pacto?

No meu trabalho na universidade das almas, eu havia lido vários livros da Era dos Humanos sobre misticismo e pactos de sangue, mas nem eu, nem meus alunos apreciávamos o conhecimento dessas artes ocultas.

– Vamos prometer um ao outro não ter ciúmes. - Ele disse dando de ombros, como se essa fosse a mais simples solução para um problema unidimensional e banal.

– Não sei se posso te prometer isso... - Eu disse dobrando o lençol e colocando no canto da cama. Os olhos azuis de Ian faiscaram, chamando minha atenção. Ele segurou meu queixo entre o dedo e a dobra do indicador com doçura, e me fez olhar para ele.

– Porque? Porque tem tanto medo, meu amor?

– Eu já te disse mais de uma vez. Não tem sentido em você me amar... Ela é... Tudo o que eu não sou e... É tão, tão difícil... Ver você perto dela sem imaginar os momentos que vocês já tiveram... Momentos felizes... Humanos...

– Pois saiba você, minha Peregrina – Ele respondeu, segurando meus ombros com força como se fosse me sacudir. – E enfie isso de uma vez na sua cabecinha dura. Eu amo você e apenas você, faça isso sentido ou não. E mesmo que eu tenha tido momentos felizes com Cassie, e nem me lembro se tive, os que eu vivo com você todo o santíssimo dia, em cada beijo, em cada toque, colocam os dela no chinelo.

Sorri por entre as lágrimas doces intrusas. Deixei-as cair, mas Ian as impediu com beijos. Encolhi-me no calor nos seus braços e suspirei.

– Está bem... Então eu prometo não fazer nenhuma loucura por causa de ciúmes apesar da minha vontade. - Eu disse baixinho em seu peito. Ele sorriu e acariciou meus cabelos loiros, provavelmente pesando as palavras.

– Eu prometo não desconfiar mais de Austin e nem agredi-lo a menos que ele me dê motivos para tal. Fechado? - Sorri e olhei em seus olhos.

– Fechado. - Beijei-o, selando nosso acordo.

POV. Jamie

Assobiando devagar saí do quarto rumo ao refeitório, caminhando sem pressa, pois sabia que deveria ser o único maluco acordado às 6 da manhã, perambulando por aí, além de quem estivesse fazendo o café. Surpreendentemente, eu não era.

Chegando ao salão principal, encontrei uma estranha com o rosto virado para o teto iluminado pela luz dos espelhos a poucos metros das plantações. Devia ser uma das garotas que Peg e Ian haviam trazido da outra célula resistente. Não pude ver seu rosto muito bem, mas seus cabelos presos em um rabo de cavalo alto desciam lindos, cor de avelã, pelos ombros. Realmente a beleza daquela garota me surpreendeu naquele instante...

– Posso... Perguntar o que está fazendo? - Questionei, parando ao lado dela. Seus olhos estavam fechados e pelos longos momentos que ela não respondeu, achei que estivesse sonâmbula.

– Pode. - Ela respondeu com um risinho doce. Revirei os olhos. Não era isso que eu tinha em mente.

– E o que está fazendo? - Tornei a perguntar, claramente dessa vez. Certamente, ela não olhava os espelhos que refletiam a luz e também não estava sonâmbula, então o que diabos ela estaria fazendo de pé as 6 da manhã, naquela posição.

– Tentando absorver vitamina D o bastante para sobreviver ou realizando a fotossíntese. Enfim, o que vier primeiro... – Respondeu abrindo os olhos e olhando para mim. – Como consegue viver sem o sol? Estou acostumada com ele por cima de mim... Aqui em baixo parece meio fantasmagórico.

– Você se acostuma. – Eu disse dando de ombros. Estendi a mão. – Sou Jamie Stryder.

– Sou Alysson. - Ela respondeu aceitando minha mão e dando um sorriso vigoroso. Um lindo sorriso vigoroso, devo admitir.

– Você quer ficar fazendo sua fotossíntese, ou quer comer como pessoas normais?

– Ah sim, comer seria ótimo.

Sorri e fiz um gesto cavalheiro indicando para que ela fosse à frente. Ela segurou as pontas da camiseta como se fosse um vestido, fez uma mesura e saltitou à frente com um riso dócil.

– Uau. - Sussurrei baixinho para mim mesmo, enquanto seguia-a para mostrar-lhe o caminho. Ela era realmente... Encantadora.

POV. Peg:

Mais tarde, fomos ao salão de jogos a fim de sair um pouco do quarto. Jamie, Alysson, e a pequena Allie brincavam de um animado jogo de pega-pega às gargalhadas. Depois de um abraço de urso de Jamie, eu e Ian logo entramos na brincadeira. Não pude deixar de notar novamente a semelhança entre Allie e Ian. Os olhos, o sorriso... Isso me deixou realmente encucada. Logo me cansei da brincadeira e me sentei na arquibancada, suspirando preguiçosamente, observando-os correr um atrás do outro.

Foi uma tarde agradável, mas claro que Cassie estava pronta para arruinar ela, com a graça da sua presença. Seu sorriso de víbora adentrou a sala mais ou menos meia-hora depois de eu me cansar. Ela caminhou rebolando sedutoramente até a arquibancada e sentou-se vulgarmente ao meu lado.

Ela não é uma santa e ela não é o que você pensa

Ela é uma atriz

– Até que enfim achei esse lugar! Graças à você, Ian não me mostrou o lugar e fiquei completamente perdida nesse amontoado de pedras ridículas.

Fiquei calada. Não estranhei sua frieza, porque afinal sem Ian ouvir, ela podia ser ela mesma, uma estúpida sem dimensões de noção. Eu queria expulsá-la das cavernas à pontapés. Ela não tinha o direito de vir até a minha casa, insultá-la e ainda querer roubar meu homem. Mas eu havia prometido a Ian e eu preferia não quebrar a promessa menos de duas horas depois de tê-la feito. Cassie suspirou e observou Ian com um olhar faminto.

Depois seu olhar se suavizou e voltou-se para Allie.

– São tão parecidos não são?

Pela primeira vez, vi que seu sorriso era sincero, me senti mal de não responder.

– Sim. Estranho não é?

Ela me olhou como se tivesse achado uma mina de platina abandonada, porém já escavada, com as pepitas brilhando à sua frente, formando uma pilha de riquezas.

– Você não faz ideia do porque? – Fiz que não. Ela sorriu e recostou-se na arquibancada de pedra – Pensei mesmo que Ian tinha te contado. Pobrezinho. Deve ter tanto medo de perder você...

– Do que diabos você está falando? - Ela deu de ombros.

– Da minha filha Allie.

– Allie é... Sua filha?!

– Agora lhe pergunto, como a minha filha Allie se parece tanto com o pai?! – Ela falou apontando para Allie, no momento em que ela pulava nos braços de Ian, sorridente.

O mundo pareceu parar de girar de repente. O tempo congelou e só meu cérebro mexia suas roldanas. Ian e Cassie... Juntos em uma cama... Se amando... Cassie havia engravidado e esperado uma filha de Ian por longos nove meses. Não, não era possível, Ian me contaria, certo? Ele não se esqueceria de contar que tinha uma filha... Não se esqueceria de me contar que tinha uma filha com Cassie!

Balancei a cabeça em negação. O ar parecia ter sumido de meus pulmões. Lágrimas molharam meus olhos contra a minha vontade.

– Não – Disse engasgada – Não... É mentira, você mente...

– A semelhança é a única e inegável prova que você precisa. Porque mais eles seriam tão parecidos. – Ela falou, calmamente.

Mesmo querendo negar os fatos, tudo que ela havia falado se encaixava como um quebra cabeças... Era perturbador como tudo aquilo fazia sentido... Era isso! Por isso Cassie lutava tanto para ter Ian de volta. Ela queria a família dela de volta... Ela, Ian, e a filha deles, Allie. E nesse caso, eu era a intrusa.

Eu precisava sair dali, ir para longe do veneno de Cassie. Tentei chamar Ian, mas não consegui olhar para ele sem pensar nele e Cassie na cama, ou beijando-se, ou conversando sobre sua filha. Era horrível demais.

– Peg? - Ouvi-o me chamar atrás de mim enquanto saia do cômodo. Acelerei o passo. Não vi para onde estava indo, lágrimas salgadas tapavam minha visão. Esbarrei em alguém e me desculpei várias vezes, piscando para ver quem era.

– Peg? Tudo bem? - Reconheci a voz de Austin. Suspirei. Não queria conversar agora.

– Tudo, tudo bem Austin... Só preciso de um ar...

– Porque está chorando? – Ele perguntou, apreensivo. Respirei fundo procurando me acalmar.

– Não é nada... Só um problema...

– PEG?! - Chamou a voz de Ian atrás de nós.- Peg?!

– Tenho que ir. A gente se vê depois Austin.

Saí o mais rápido possível. Agora eu sabia para onde ir. Naquele corredor havia uma claraboia que dava para o céu aberto. Ian não conseguiria subir ele era muito grande. Me espremi pela abertura até o lado de fora. O sol estava a pino e secou as lágrimas em meu rosto. Fiquei em silêncio de olhos fechados, tentando acalmar meus pensamentos... Só desci quando a lua estava no topo, os coiotes uivando e meu estômago roncando. Desci com cuidado pela claraboia e pousei suavemente de pé. Caminhei em silêncio até o refeitório, esperando que ninguém mais estivesse acordado.

– Peg! – Chamou Mel assim que eu entrei na sala. Ela estava comendo sozinha em um canto do refeitório. Ela levantou e veio até mim. – Ian está louco atrás de você... O que aconteceu querida?

Suspirei, cansada.

– Não quero falar sobre isso... - Falei baixinho, rouca. Ela me abraçou acariciando meu cabelo com carinho. Correspondi ao abraço sentindo-me segura novamente. Eu adorava o jeito que sem uma palavra eu e Mel conseguíamos no consolar.

– Sabe que vou estar aqui quando quiser conversar não sabe?

Fiz que sim. Servi-me e nós comemos em silêncio, cada uma perdida em seus pensamentos. Terminamos e lavamos os pratos ainda em silêncio, depois caminhamos lado a lado e nos despedimos no corredor. Respirei fundo antes de entrar no quarto.

Ian estava sentado na cama com a cabeça enterrada nas mãos. Meu coração apertou-se no peito. Respirei fundo mais uma vez.

– Ian. - Chamei baixinho. Ele levantou os olhos assustado.

–Peg. – Ele levantou, veio até mim e me abraçou com força; - Estava tão preocupada com você... Onde foi que se meteu?

Me senti uma estranha nos braços que sempre me confortaram antes.

– Porque não me contou sobre Allie? - Perguntei, ao invés de respondê-lo.

–Allie? O que tem ela?

Suspirei. Porque ele ainda mentia para mim? Que motivo haveria de esconder-se agora que eu sabia a verdade?

– Allie. Sua filha. Com Cassie.

Silêncio. Silêncio total. Não olhei em seu rosto com medo do que eu poderia encontrar. Seu peito continuou subindo e descendo no mesmo ritmo, era como se ele tivesse simplesmente congelado no lugar.

– Eu nunca tive filhos. Principalmente com a Cassie!

– Então como explica o fato de que Allie se parece tanto com você? Ela é a sua cara Ian!- Ele não podia achar que eu ignoraria os fatos que estapeavam meu rosto.

– Eu não sei, mas ela não é minha filha!

Por quê? Por que ele insistia nessa mentira? Me livrei de seus braços e olhei em seus olhos, exigindo a verdade.

– Cassie NUNCA ficou grávida! Estávamos juntos no colégio, nos víamos todo o dia. Ela nunca engravidou. Não de mim, pelo menos.

Porque eu não conseguia acreditar? Porque não podia me deixar ser abraçada e dormir tranquila como toda a noite? Baixei o olhar e Ian soube que eu não havia acreditado.

– Quem te disse isso?! Foi Cassie, não foi?!

– Quem mais seria, ela finalmente conseguiu o que ela veio aqui buscar.

Ele demorou alguns segundos para entender minhas palavras. Seu rosto encheu-se de puro terror.

– Não. Não, Peg. Ela não vai conseguir nos separar... Você prometeu...

– Prometi não fazer nenhuma loucura por ciúmes. – Eu disse fungando. – Não disse uma palavra sobre mágoa.

Desviei-o e deitei na cama, me aninhando embaixo dos lençóis, virando de costas para onde ele estava de pé.

– Peg...

–Ian, estou cansada. Eu quero dormir. –Falei e Ian saiu, batendo forte a porta do quarto. Depois que ele saiu, não consegui mais segurar as lágrimas. Chorei. Chorei de dor. De aflição. De mágoa. Chorei até pegar no sono.

POV. Ian

Saí do quarto irado. Estava pronto para estrangular alguém, mas só tinha uma pessoa que eu desejava realmente estrangular. Cassie. Achei que tinha me livrado daquela psicopata quando terminei o colégio. Rompi com ela na festa de formatura e fomos para faculdades diferentes, por isso nunca mais no vimos. E eu agradeci e muito por isso.

Fui até a Sala de Banhos, pra esfriar a cabeça um pouco. Molhei um pouco a minha nuca e os meus cabelos, tentando me acalmar. Meu sangue parecia ferver dentro de mim. Por que Cassie inventou essa loucura? Por que ela não nos deixa em paz?

Nunca soube exatamente porque namorei Cassie. Ás vezes tenho certeza que vivia bêbado, apesar de sabe que minha mãe nunca deixou que eu e Kyle colocássemos uma gota de álcool na boca antes da faculdade. Outra teoria era que Cassie era uma bruxa. Nessa eu acreditava mais. Encontrei-a do lado de fora da sala de jogos conversando com a pequena Allie, ajoelhada à sua frente. Controlei-me, porque não queria fazer mal à garotinha. Ajoelhei-me ao lado de Cassie.

– Pode me emprestar Cassie por um minutinho Allie?

Ela deu um risinho e fez que sim. Dei a ela o mais sutil dos sorrisos e fechei os dedos com força ao redor do braço de Cassie, puxando-a para dentro da escura sala de jogos. Pude ver seu sorriso malicioso na escuridão. Pressionei seu corpo contra a parede de pedra, apertando forte um de seus braços para que ela não saísse dali... Provavelmente ficaria com hematomas, mas naquele instante, eu estava com tanta raiva que não pensei em nada.

– Ian. Está me machucando... - Ela gemeu assustada. – Me solta!

– Ótimo – Rugi. – E espero que esteja doendo bastante, por que é assim que você está fazendo Peg se sentir. – Encarei-a com raiva no escuro. – Que história é essa de que temos uma filha? Sabe muito bem que você nunca ficou grávida.

– Ah, ela te contou... – Ela disse vestindo uma máscara de dissimulação. Máscaras eram a especialidade dela – Descobri depois que nos separamos, depois de chegar na faculdade.

– ACHA QUE EU SOU IDIOTA CASSIE? – Gritei - Os anos de Allie não batem e você me mandava e-mails a cada duas semanas com 500 fotos cada um e em nenhum deles você estava grávida.

– Quer dizer que você via as fotos... - Ela miou em tom sugestivo. Apertei-a mais contra a parede.

– Não me desafie, Cassity. - Falei e vi que ela revirava os olhos.

– E qual é o problema Ianzinho? Estou liberando você daquele entojo. Não tem que se sentir preso... Eu sei que não quer ficar com ela. Sei que quer ficar comigo... Sei que...

– Nada! Você não sabe de NADA! Não sabe o quanto Peg sofreu para chegar onde está! Não sabe os horrores que ela viu aqui! Não sabe o que ela fez por nós! E. NÃO. SABE. NADA. SOBRE. O. MEU. AMOR . POR. ELA. – Encaramo-nos novamente. Eu estava ofegante. Me controlei pra não fazer uma loucura. Apertei com mais força seu braço quando percebi que ela tentava sair correndo– Amanhã, você vai pedir desculpas à Peg e dizer que mentiu. Entendeu?

– E... Porque... Eu faria... Isso? - Ela perguntou com dificuldade.

– Porque eu posso fazer loucuras sem Peg. E seria um prazer me livrar de você.

– Está me ameaçando? - Perguntou com a voz esganiçada.

– Estamos no deserto. Pessoas de fora morrem no deserto muito facilmente. – Me aproximei de sua orelha e sussurrei – Faria parecer um acidente sem pestanejar, e dormiria de consciência tranquila. – Falei, e naquele instante, nem eu mesmo sabia se estava blefando ou não... Estava fora de mim. Com se outra pessoa, outro Ian estivesse ali...

– Está blefando. - Ela rosnou.

– Eu não apostaria minhas fichas nisso.

– Ian, solta ela! – Ouvi uma terceira voz no corredor ordenar. Era Austin.

– Olha, o santinho das Cavernas resolveu aparecer! – Ironizei – Acho melhor você não se envolver nisso Austin!

– Ian, você sabe que Jeb não gosta de violência aqui nas Cavernas!

Sem me dar o trabalho de responder aquele idiota que vivia dando em cima da Peg, soltei o aperto que fazia no braço de Cassie e ela caiu como um saco de batatas no cão, gemendo.

– Olha, eu só tenho dois recados para o dois pombinhos – Falei, mais calmo, enquanto Austin ajudava Cassie a se levantar do chão – Você Austin, fique longe da Peg! E você Cassity, amanhã você vai falar a verdade para Peg, e isso é uma ordem!

Saí da sala, deixando a dúvida no ar.

Ela tinha que saber que a dor estava batendo em mim como uma bateria

Ela subestimou de quem estava roubando.





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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? Esperamos que sim! Reviews? Recomendações?
Caah & Bella *-*