Algum tempo se passou desde a minha última vítima. 2 meses atrás um rapaz inocente entrou aqui. Lucas. Eu bem me lembro desse sujeito. Ele queria dar uma de corajoso,mas era só um bebê.

Eu realmente não sei porque faço tudo isso,só sei que sinto, as vezes, um desejo incontrolável por sangue.

Aqui estou eu novamente, sozinho.

Eu nunca irei encontrar um lugar suficientemente feliz para mim. Eu nunca irei me encaixar.

A única forma de eu me sentir bem é matando...e isso ocorre com freqüência.

Tenho nove anos e 20 vítimas.

Eu sei que sou novo e não posso falar muita coisa, mas eu realmente tenho lembranças penosas e tristes.

As vezes eu quero simplesmente me enfiar num buraco e chorar. As pessoas esquecem que por mais cruel que eu seja, eu ainda sou uma criança pequena e que tenho sentimentos.

Mamãe.

Eu nunca a matei. Eu só falei aquilo para assustar Lucas. Mamãe era a coisa mais importante que eu tinha. Ela me entendia, ela me consolava e me amava.

Diferente de meu pai, esse nunca gostou realmente de mim. Ele me maltratava,batia e humilhava quando mamãe saia.

Flashback on

Sábado à noite. Escuridão e silêncio. Estava tudo calmo até ele chegar bêbado da rua.

Carlos, meu pai, entrou na casa e tombou. O cheiro da aguardente chegava nas minhas narinas  e me incomodava. Eu estava sentado no mesmo lugar de sempre, o primeiro degrau da grande escada principal.

O homem se levantou e me chamou:

-Eduardo, seu garoto inútil. Venha até aqui agora mesmo, seu monte de merda ambulante. – Ele gritou.

Eu me levantei , receoso , e fui até meu pai.

Ao parar ao seu lado, ele acertou uma forte bofetada em meu rosto:

-Por que fez isso? – Gritei, com a voz um pouco trêmula.

-Por que não varreu o chão e não lavou minhas roupas? – Ele se apoiou na parede, suas pernas tremiam.

-Faça isso você. Eu fui com mamãe até o trabalho dela. Quando chegamos,  ela estava muito cansada, então fiz um chá pra ela e a coloquei para dormir. – Respondi indiferente.

-Moleque insolente. Eu me casei com uma vagabunda e ela deu a luz a um mini vagabundo. Onde o mundo vai parar desse jeito?

Uma lágrima fria escorreu de meu olho esquerdo.

-Não te ensinaram que homem não chora garoto? – Ele deu outro tapa no meu rosto, mas dessa fez foi mais forte. – Pois agora eu vou te ensinar.

Ele me bateu e me jogou no chão, chutando minha barriga.

Eu queria tanto gritar, mas eu não iria. Eu sabia que se gritasse, mamãe acordaria e viria em meu auxilio. Então papai bateria nela também.

Eu só queria que ela ficasse bem.

-Angela. Onde está você, sua pirua desgraçada? – Papai parou de me bater e chamou por  minha mãe.

Eu estava caído no chão. Meu corpo doía e um filete fino de sangue escorria do canto de meu lábio inferior.

-Angela, levanta mulher e venha até aqui!! – Ele gritou mais forte.

Eu escutei o barulho de saltos e um grito fino ecoou do alto da escada.

-Carlos, o que você fez com o meu menino? – Ela correu escada a baixo e se ajoelhou ao meu lado.

-Ele estava chorando. Eu ensinei para ele que homem que é homem não chora. – Ele disse, debochado.

Mamãe me pegou no colo. Enquanto estava caminhando comigo para o andar de cima, ela deu uma leve olhada para trás e disse, seca:

-Não sei o que pensei no dia em que disse “Sim” na igreja.

Ela se virou e tornou a andar.

Flashback of

Eu nunca pude ser feliz. Por que? Por que eu simplesmente não morava numa casinha pequena , com  um pai que trabalha e chega todos os dias e dá um selinho em sua esposa, diz que a ama e depois fala como foi o trabalho?

Não, eu nunca tive isso.

O tempo passava. Eu estava à duas horas sentado naquele degrau.

Eu gostava de ficar ali. Me trazia lembranças felizes e tristes.

Olhei no relógio: 21:00.

Levantei e fui até a cozinha. Abri uma gaveta da pia e peguei uma faca de açougueiro.

Era hora da diversão noturna começar.