CAPÍTULO 29

POV's Nico

“Será que Annabeth se incomoda se eu pegar uma roupa dela?” ouvi a voz melodiosa de Stella vindo do quarto.

“Claro que não. Por que você precisa de uma roupa dela?” perguntei, dentro do closet.

“Todas as minhas coisas ficaram no Acampamento” ouvi a voz dela, mas nessa hora, eu já tinha saído do closet e vi ela envolvida numa toalha branca. Deuses, ela é perfeita! “Então, eu vou lá no quarto dela.” ela falou se virando pra sair, mas eu consegui alcançá-la antes que o fizesse. “Espera” falei no ouvido dela. Ela era irresistível. Aqueles lábios... Não consegui resistir a eles e a beijei. Ela retribuiu o beijo de pois de alguns instantes e eu numa rapidez que não conhecia, conduzi ela até minha cama.

Ouvi a voz dela, mas não entendi o que ela disse, estava muito ocupado. Senti as mãozinhas pequenas dela me empurrando levemente. “Para, Nico!” ela quase gritou, me puxando de volta à realidade. Deuses, o que eu estava fazendo? Me levantei e fiquei de costas pra ela, sem poder encará-la depois do que tinha feito.

“Eu...Stella, eu sinto muito, não sei o que em mim” falei, desesperado. Em um instante ela estava na minha frente, mas eu não pude olhar pra ela.

“Tudo bem” ela tentou me consolar “Eu não devia ter vindo dessa forma”

“Não, a culpa foi minha.Eu não me controlei. Poderia ter te machucado. Eu não... eu não...” tentei me desculpar, mas não conseguia achar as palavras certas.

“Não se preocupe, você parou, é o que importa.” Ela era tão boa, boa demais pra mim. Eu não merecia ela.

“Não, isso foi imperdoável.” falei, com raiva de mim por não ser digno dela.

“Não foi, eu já te perdoei.”

“Está falando isso pra que eu me sinta melhor, mas isso não muda o que eu quase fiz.” eu estava com nojo de mim mesmo.

“Não, não estou. Estou falando isso porque é a verdade.” então ela tentou me beijar, mas eu não me movi. “Ainda não acredita que eu estava falando sério?” Não, eu não acreditava. “Nicolas di Angelo, olha pra mim.” continuei olhando fixamente pro chão. “Tudo bem , então não olha.” se eu não estivesse tão mal, eu poderia sorrir. “Foi só um deslize, acontece, Nico.O defeito mortal dos filhos de Hades é guardar rancor, mesmo que o rancor seja dele mesmo. Me procura quando estiver pronto a se perdoar.” ouvi ela suspirar e depois o silêncio.

Que droga! Eu não pude me controlar, e o pior é que ela foi toda boazinha. Preferia que ela tivesse gritado, me batido ou sei lá.

Fiquei parado no mesmo lugar em que estava, sem mover um músculo, meu coração batendo descompassado. Quando finalmente me acalmei, desci as escadas e fiquei na cozinha, esperando por ela.

Quando ela apareceu, de novo não consegui olhar pra aquele rosto angelical. Ouvi ela puxar uma cadeira e sentar.

“Não vai comer?” ela perguntou com uma voz muito mais gentil do que a que eu merecia.

“Não estou com fome.” respondi, em voz baixa. “Além disso, é melhor que nós voltemos logo ao Acampamento, antes que seja tarde.”

“Ah!” ela pareceu surpresa por um momento. “Tinha esquecido. Então vamos logo.”

Fomos até a garagem, abri a porta pra ela, e dei a volta no carro, entrando no lado do motorista. Seguimos em silêncio pro Acampamento, e eu fiquei me torturando o caminho inteiro, pensando em como eu era idiota por estragar algo que estava perfeito. Ela não está com raiva da gente, uma parte de mim insistia. Isso só prova que ela é boa de mais pra nós, a outra parte rebatia.

Eu podia sentir o olhar de Stella em mim, mas eu não ousei parar de encarar a estrada, com medo de olhar naqueles olhos verdes amendoados e fazer alguma besteira de novo.

Quando finalmente chegamos ao Acampamento, foi quase um alívio me separar dela quando ela foi pro chalé de Apolo. Bem quase, porque uma parte de mim (e garanto que ela não era pequena) queria ficar ao lado dela e fazer tudo voltar ao normal.

Tentei empurrar todos os pensamentos sobre a Stella pra fora de minha cabeça e resolvi treinar um pouco. Quando cheguei na arena, só havia uma garota retalhando os bonecos, era uma filha de Éris, deusa da discórdia, eu não sabia bem o nome dela. A garota era bonita, não tanto quanto Stella, mas ser mais bonito que Stella é quase uma missão impossível. Ela tinha cabelos castanho escuro, com mechas vermelhas (a maioria dos filhos de Éris tinha pelo menos uma mecha colorida no cabelo, em geral vermelha, não me perguntem porque), tinha pele bronzeada e lábios cheios. Pensei em sair dali, porque me lembrava que uma filha de Afrodite tinha me dito alguns dias antes, que essa garota estava afim de mim e que ela era capaz de tudo pra conseguir o que queria. Eu acreditava na filha de Afrodite, até porque essa garota é filha da deusa da discórdia, ela podia fazer qualquer coisa.

Então dei meia volta e saí da arena, mas a voz da garota me chamou.

“Ei, Nico!” ela gritou. “Não quer treinar.”

“Eu tenho que falar com o Percy, achei que ele estava aqui, quem sabe um outro dia?”

“Tudo bem” ela respondeu com um sorriso.

Comecei a andar sem rumo pelo Acampamento, sem saber pra onde estava indo, até que percebi que estava em frente à caverna da Rachel. Fiquei encarando a entrada por um tempo indeterminado, até que uma voz me sobressaltou.

“Preciso dá uma arrumada nesse lugar.” me virei rapidamente pra o lugar de onde vinha a voz, era Rachel, que sorriu. “Oi, Nico.”

“Oi, Rachel.”

Ela tinha umas malas nas mãos e eu a ajudei a colocar as coisas pra dentro.

“Ah, Percy estava te procurando” ela falou, quando pousei a última mala perto da cama. “Obrigado.”

“Vou falar com ele. Bom te ver, até depois.” falei saindo e indo procurar Percy.

Quando achei Percy, ele estava na praia, olhando pro mar, pensativo. Sua expressão era tão séria que nem parecia com ele.

“Rachel disse que estava me procurando.” falei, indo para o lado dele.

“Sim...” ele falou, ainda parecendo distante. “Nós temos uma missão, partimos amanhã ao nascer do sol.” ele não precisava dizer o motivo da missão, nós íamos procurar as deusas perdidas.

“Já temos a profecia?” perguntei, tentando descobri porque Rachel não tinha me falado.

“Sim, mas Quíron pediu que só a revelasse na hora certa. Amanhã.”

“E desde quando você faz o que mandam?” perguntei e não tive resposta. “Tudo bem, vou estar pronto.” cedi, sabendo que não ia obter resposta.

§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§

O resto do dia passou normal, mas eu não falei de novo com a Stella. Na verdade, só a vi umas duas vezes, na hora do jantar e antes, falando com Annabeth em cochichos. Ela parecia estar normal, mas eu podia ver que seus olhos não tinham aquele brilho. E a culpa era toda minha, eu tinha que me desculpar com ela.

Depois do jantar, quando o povo foi pra fogueira, eu fiquei no refeitório pensando em um jeito de pedir desculpas pra ela. Antes que eu conseguisse pensar em alguma coisa, senti alguém envolver meu pescoço com os braços. Olhei pra cima e vi que era aquela filha de Éris.

“Olá, Niquinho, lembra de mim?” ela sussurrou em meu ouvido.

“Cl-claro. Eu tenho que ir.” falei me levantando e tentando sair de perto dela, mas ela consegui me prender na parede, colocando os braços ao lado de minha cabeça. Senti o perfume inebriante que ela exalava. Era um perfume muito bom. Me senti tonto por um instante.

“Acho que você pode ficar um pouco mais.” ela ronronou, e eu percebi que o hálito dela tinha o mesmo perfume doce. Então ela começou a me beijar, e pra minha completa surpresa eu não pude evitar retribuir.

Eu ainda estava beijando a filha de Éris, quando ouvi um barulho de passos, passos rápidos, e um som de soluços. Alguma coisa me fez quebrar o beijo e eu o fiz a tempo de ver cabelos loiros meio prateados flutuando pra longe em alta velocidade. Só uma pessoa seria graciosa daquele jeito enquanto corria e eu quase tive um treco quando percebi o que tinha feito.

“O que você fez comigo?” exige, mudando de posição e fazendo com que a garota ficasse presa entre mim e a parede. Ela se limitou a dar um sorriso. “Responda!” eu gritei.

“Só um truque de mágica com ajuda de umas filhas de Hécate” ela falou, sem um pigo de vergonha e conseguiu se livrar, saindo como se nada tivesse acontecido.

Pensei em correr atrás dela, mas reconsiderei e preferi correr pra Stella.

Encontrei ela chorando na praia, os ombros dela balançavam com os soluços e eu me senti pior ainda.

“Stella...” eu comecei, mas ela se levantou, e eu pude ver seus olhos vermelhos e o rosto molhado por lágrimas que eu tinha causado. Quando ela falou, a voz dela era frágil, mas furiosa.

“Não diga que você pode explicar!”

“Mas... eu não queria! Eu juro!” tentei explicar, mas ela me interrompeu, colocando um dedo no meu peito.

“Eu te revelei meus segredos mais profundos, eu deixei você me conhecer e você faz isso comigo!” ela gritou. “Seu idiota! Imbecil!”

“Stella! Por favor, deixe eu falar!”

“Porque você não vai se agarrar com ela de novo?” ela corava compulsivamente. “Vai lá, não deixe ela esperando! Eu tenho nojo de você!”

As palavras dela me deixaram sem ação, e eu não consegui me mover antes que ela saísse da praia. Senti meus joelhos fraquejarem e eu caí com força na areia. Senti lágrimas queimarem meus olhos, e me obriguei a voltar pro meu chalé antes que alguém me visse naquele estado lamentável.