O Cisne Negro escrita por anonimen_pisate


Capítulo 9
Capítulo 10




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P.O.V – Alec Volturi

Não demorei muito a encontrar onde elas moravam, apesar de que elas lançaram possíveis feitiços para manter os imortais longe e desorientados, eu era velho demais para cair nesse truque.

Eu estava parado do lado de fora há algum tempo, apenas escutando o que elas fazia dentro da nova casa. Essa era melhor do que a antiga, maior e com a fachada mais bonita, mais bem localizada.

Chutei um torrão de terra seca no chão, meus ouvidos ligados em qualquer ruído, apesar delas serem extremamente silenciosas em tudo que faziam.

Senti a voz de Hellena soar comunicando sua saída.

Fui em direção a porta e levei minha mão ate ela, mas nem tive tempo de bater-la, Hellena abriu-a antes.

Arregalou os olhos castanhos e entreabriu os lábios. Movimentei os meus, mas ela levou o dedo indicador aos próprios fazendo um pedido silencioso de silencio, olhou por cima do ombro e se voltou para mim.

Passou por mim e fez outro gesto me chamando para acompanhá-la.

Andamos por um longo trecho, ate o momento de ela pensar que as amigas não nos ouviriam mais. Parou no meio da rua e se virou para mim.

-O que você acha que esta fazendo? – disse em um grito contido. – Elas podiam ter visto você. E como descobriu onde eu morava?

Senti-me revigorado dela estar preocupada comigo.

-Iria chamar-la para que pudéssemos sair, mas acho que não preciso. – analisei suas roupas, ela obviamente tinha se arrumado para ir a algum lugar.

-Alec... Não devemos. – falou em um suspiro contrariado.

-Apenas como amigos. – insisti.

-Não acho que isso dará certo. – abaixou a cabeça olhando para os saltos altos. Apoiou o pé apenas no salto fino e apertou a carteira. Mordeu os lábios e olhou para mim. – Estou indo me alimentar.

-Tudo bem. – dei de ombros.

-Alec... Você sabe como eu me alimento. – prensou a boca de novo.

-Você também sabe.

Hellena suspirou de novo me olhando por baixo dos cílios.

-Três anos se passaram, é tempo.

-Não para você.

-Mas para você sim. Estou curioso para saber se o que te contei é verdade, ou se sou como um humano ignorante sobre a sua espécie. Sobre a nossa.                            

Um sorriso curioso repicou seus lábios.

-Você venceu. Vamos? – moveu a cabeça para a direita indicando a rua.

-Vamos. – concordei.

Fomos em direção a uma das ruas principais. Havia dezenas de bares que humanos freqüentavam, cheirando a álcool e maconha.

Os humanos são as criaturas mais previsíveis que o criador algum dia teve a menção de criar. Não é nem um pouco difícil imaginar o que se passa dentro da cabeça de cada um deles.

Em geral eles possuem em mente apenas cinco coisas: sexo, dinheiro, poder, vingança e amor. Nessa ordem.

Não é necessário ser nenhum Edward Cullen para ver por eles.

A noite mal tinha começado e já havia mulheres bêbadas vomitando no meio da rua e homens drogados jogados entre as vielas. A Itália havia mudado muito, deixou de ser meu paraíso particular.

Hellena andava a passos sutis por entre o circo de horrores, sem nem mesmo parecer notar nada disso, já devia estar acostumada.

Eles são as únicas criaturas que destroem o próprio habitat, destroem tudo que estiver em seus caminhos, e destroem a própria vida.

É claro que existem os pequenos problemas entre as raças imortais, as brigas e mínimas guerras, mas nenhum de nos chega a destruir o que há a nossa volta.

Ela escolheu um bar e o guarda abriu passagem para ela, olhando-a com a luxuria normal para humanos com súcubos. Entrei logo atrás, sentindo uma repentina raiva pelo segurança.

Fomos ate um balcão onde o barman fazia as bebidas e sentamos em bancos altos e giratórios.

Hellena ergueu dois dedos pedindo algo.

-Bem... – murmurou.

-Você esta muito diferente. – disse olhando-a.

-Você continua igualzinho. – falou com humor.

Dei uma risada contida, o garçom colocou em nossa frente dois copos peguei o que estava mais próximo de mim, com a bebida transparente.

Viramos o copo ao mesmo tempo e pedimos mais dois.

-Bem diferente. – enfatizei.

-Eu cresci. – deu de ombros.

O cheiro dela continuava bom, mas de uma maneira diferente, não mais como comida, agora ela era igual a mim – ou quase – seu sangue era leve, e seus batimentos convidativos. Não sabia bem se era por causa da condição de súcubo, mas... Ela estava irresistível.

-Você é o porta-voz dos Volturi? – quebrou o silencio.

-Sou muitas coisas.

Ela riu movendo a cabeça para frente e para trás.

-O que você sente? – analisei sua expressão enquanto ela soltava a bebida e prensava os braços contra cada lado de seu corpo, apertando o banco e fechando os olhos.

Depois de longos suspiros e um curto tempo ela respondeu.

-Tudo. Eu sinto cada vida, cada alma. – abriu os olhos. – Cada emoção. Me sinto viva.

-Os primeiros anos são os melhores. Tudo é novo. – levei meu copo ate minha boca e bebi todo o conteúdo em uma virada só. Bati-o na mesa e pedi outro.

-O que acontece depois? – rodou o banco ate estar de frente para mim.

-A vida vira cotidiana. – suspirei apoiando os cotovelos na mesa. – Nada é mais tão belo, nem tão colorido. – a cada palavra que eu dizia, movia a cabeça para um lado. – A vida acaba. – acrescentei taciturno.

Hellena continuou de frente para mim, analisando minuciosamente meu rosto, como que procurando vestígio de alguma mentira, ou alguma frase incompleta.

-O que houve com você para se tornar tão amargurado Alec? – franziu as sobrancelhas balançando a cabeça para um lado e para o outro. As mechas de seu cabelo balançavam consigo deixando sua fragrância mais forte.

Beberiquei um pouco do outro copo.

Memórias distantes e enevoadas voltavam à tona dentro da minha cabeça, coisas que eu me forçara a esquecer, e no momento não me atrevia a relembrar.

-Os anos vão passando e nos vamos acumulando experiências, acumulando mortes, maldades... Chega uma hora em que nos damos conta de como fomos ruins e que a única coisa que fizéssemos foi acabar com vidas alheias. Há minha hora chegou quando você partiu.

-Hum... – ela pegou o copo e bebeu um gole. – Deve mesmo ser difícil fazer o exame de consciência de mais de um milênio de existência. – sua voz assumiu um tom sarcástico.

-Você ainda vai entender o que digo. – falei carrancudo. – A vida vira existência, e na hora que você percebe isso – ergui um dedo a sua frente. – Tudo vira pó.

-Bah... – revirou os olhos. – Devia estar tendo esse papo com Jane, ela sim precisa revisar as atitudes dela. – voltou a beber e arregalou os olhos ceticamente.

-Tudo bem... Você tem razão. Não viemos aqui para me ver lamuriar. – sorri. – Eu disse alguma mentira sobre as súcubo, ou estava certo sobre algo?

-Você tem melhor percepção do que os humanos. – riu. – Pode ter certeza disso. – rodou o canudo mexendo a bebida em seu copo. Ergueu os olhos para o teto e voltou a me encarar. – Bom, acertou quando disse que somos ninfomaníacas.

Revirou os olhos.

-Hoje eu estava assistindo um seriado de teve, sobre vampiros. – rolou os olhos novamente. – E tinha um vampiro que dizia que se pode desligar os sentimentos como um botão. É verdade?

-O que acontece é que o tempo vai passando e os sentimentos não vêm junto se você não os cultiva. Às vezes chega alguma coisa que muda a sua vida, e então eles voltam. – dei de ombros.

-Não é assim com as súcubo... – seus olhos ficaram vagos. – Nos não sentimos, somos psicopatas. – voltou a me olhar.

-Não é verdade.

-É sim Alec... Só sentimos por nossas irmãs, e por mais ninguém. Se isso não é ser psicopata, o que é? – bebeu a vodca de um único gole, largou o copo e fez um gesto pedindo mais uma rodada.

-Álcool para imortais jovens tem um efeito maior. – adverti-a.

-Bobagem. – desdenhou com a mão.

-Você sente algo por mim. – não perguntei.

-Mas eu sentia isso quando era humana. – ela não negou, e isso me animou.

-Ninguém vira psicopata da noite para o dia Hellena, vocês talvez desenvolvam isso com o tempo, mas não vem do nada. E o que eu vejo na minha frente é uma garota cheia de emoção.

-É porque eu ainda sou muito humana. É o que todos dizem. – mordeu o interior da bochecha. Levou os dedos longos ate os cabelos, repetindo o gesto que eu vira ela tanto fazer anos atrás.

Ela não quis mais falar nada, então me decidi por não tocar mais no assunto.

-Sabe... Eu estou aprendendo a conviver com meus dons, eles são meio difíceis de controlar. – bebeu mais um gole drasticamente.

-Como o que? – perguntei curioso.

Olhou em volta, e logo depois fixou-os em um casal.

-A energia da súcubo é movimentada a partir de emoções, principalmente as que estão envolvidas com sexo. Podemos... Sentir a emoção vinda dos humanos, como por exemplo, aquele casal. – indicou os que havia olhado antes. – A energia sexual entre eles esta fora dos gráficos. – chupou um limão que acompanhava a bebida revirando os olhos. Pelo visto ela adquiria outra mania.

-Como você percebe isso? – estreitei os olhos.

-Hum... – ela largou o limão na mesa. – Eu vejo no fluxo de energia. – estreitou os olhos assim como eu. – Como uma aura. Tipo, quanto mais excitação, mais calor a pessoa irradia.

Parecia deleitada nisso.

-A aura vai ficando mais vermelha, mais quente. – respirava pesadamente, e os olhos estavam mais afinados. – Mais poder eles exalam. – os dois começaram a se beijarem, e conforme Hellena falava, mais o beijo aumentava. – Mais energia. – as coisas realmente começaram a ficar quentes entre eles.

-Hellena. – segurei seus ombros. – Hellena. – a forcei a me olhar. Quando desviou os olhos dos humanos, os dois pararam e ficaram se olhando surpresos.

-Deus... – ela levou a mão aos lábios. – Me perdoe. Às vezes foge ao meu controle. – apertou os olhos segurando-os.

-Não... Tudo bem, você aprende a controlar. – murmurei.

Hellena ficou parada, o peito subindo e descendo descompassado.

Fechei a conta.

-Já quer ir para casa? – girei o banco até ela.

-Sim. – moveu a cabeça e saiu com passos rápidos.

Saímos do bar e ainda estava cedo, andamos lado a lado. Ela apertava a carteira que levava como bolsa, e eu apertava as minhas mãos dentro dos bolsos do casaco.

Estávamos a alguns metros do apartamento dela quando paramos.

-Acho melhor não chegar muito perto, elas podem sentir você.

-Não... Tudo bem. – fiz que sim.

-Ahn... Nos vemos um dia desses. – me deu tchau e saiu andando na rua, mas segurei seu braço antes que ficasse muito longe do meu alcance.

-Espere. – disse.

-Não... Alec... Essa noite foi um erro. Acho melhor esquecermos ela e tudo fica bem. – esquadrinhou-me com seus olhos de chocolate. – Ou melhor, vamos esclarecer umas regras. A primeira, você não vem atrás de mim.

-Mas... – ela me interrompeu.

-Segunda. Ninguém pode saber. – fez um dois com os dedos. – E terceira, eu te procuro. Esta bem?

Demorei a responder.

-Tem como eu recusar?

-Não.

-Então está fechado.

-Eu tenho seu telefone. – me deu as costas e desta vez eu não interrompi seu caminho, deixei que ela fosse.

Havíamos feito um avanço, pouco, mas ainda assim um avanço.


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