O Cisne Negro escrita por anonimen_pisate


Capítulo 8
Capítulo 9




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P.O.V – Alec Volturi

Voei quase a noite toda para chegar em Verona. Uma viagem que seria cansativa para um vampiro jovem, ainda mais em outra forma, mas não para mim.

O céu estava coberto por uma bruma fria e irritante que se grudava em minhas penas, deixando pontos brilhantes em toda sua superfície. Crostas de gelo se formavam entre as plumas escuras.

Eu estava o mais alto que meu pulmão de ave conseguia suportar, humanos achariam estranho um falcão por aqui, afinal, a Itália era de longe o habitat de aves de rapina, mesmo apesar de ser o lar de milhares de vampiros.

Aos poucos consegui começar a visualizar o belo labirinto de teias das ruas Veronesas. A magnífica cidade que se escondia em cadeias de montanhas e arvores, como uma jóia escondida.

Fui diminuindo minha altura, e aos poucos fui me aproximando. Comecei a flutuar, com apenas o vento me sustentando no ar, desci ate estar em um beco escuro o suficiente para que eu voltasse a minha forma normal.

Minhas roupas estavam úmidas e pesadas. Sai da ruela e olhei os dois lados da rua, como que esperando alguma coisa saltar da calçada e me atacar.

Respirei fundo. Talvez fosse uma perda de tempo, elas sempre se escondiam por trás de feitiços de proteção, e freqüentemente se disfarçavam como humanas, usando outros nomes ou outros rostos. Mas para minha surpresa, senti um fraco rastro.

Segui-o com passos rápidos, como que com medo que a chuva próxima lavasse as ruas e o cheiro sumisse.

Não demorei muito tempo até chegar ao fim da onde o perfume se encontrava, mas... Era mais que um simples perfume, e era mais que a sensação de imortais por perto, era como se algo me guiasse para aquele lugar, algo que me dizia que quem eu procurava estava naquela direção.

Era uma lojinha pequena e com uma fachada colorida. Flores se estendiam do outro lado dos vidros, guardando arranjos rebuscados e cheios de fitas brilhantes.

Um forte cheiro de incenso e floral irrompia de dentro da floricultura.

Abri a porta e um sininho indicou minha entrada, não achei muito bom ser anunciado dessa forma. O lugar era escuro e cheio de samambaias para todo lado, junto com vasos recheados de plantas e flores coloridas.

Um balcão se posicionava no fundo da loja, e detrás dele se escondia uma porta coberta por uma cortina roxa berrante. Sentada em uma cadeira, uma menina de cabelo castanho escuro com um brilho avermelhado digitava em um computador velho.

Puxou todos os fios em um rabo-de-cavalo, deixando seu rosto moreno destacado, junto com um par de olhos da cor de seus cabelos, com o mesmo brilho avermelhado.

Notando minha presença, ergueu os olhos.

-Estamos fechados. – soou desinteressada, como se não me conhecesse, voltou os olhos para a tela desgastada.

-Não, a placa da porta diz aberto. – indiquei-a.

Dacra moveu a mão e a placa rodou, deixando o fechado para frente, e o aberto virado para nos.

-Não diz mais.

-Quero ver Hellena. – fui direto ao ponto.

-Não sei do que você esta falando.

-Escuta aqui Dacra – fui em velocidade vampira ate ela e apoiei as mãos no balcão, me inclinando em sua direção, mas uma voz interrompeu-nos.

-Alec... – era macia como um veludo, e tão tentadora quanto um. Tentei me desligar do feitiço de sedução que ela lançava sobre mim.

Blake apareceu empurrando a cortina e se escorando no balcão, seus cabelos loiros claros possuíam mechas verdes, não fazia idéia de como nunca percebi que ela era uma súcubo, isso estava obviamente estampado nela.

-Deseja algo? Cravos talvez? – foi na direção de um arranjo de flores vermelhas e de cheiro picante. Suas pétalas estavam murchas e de uma cor vermelha desgastada, enquanto os caules ficavam vergados com o peso.

-Essas flores estão murchas. – sibilei.

-Ah... Que pecado o meu. – passou às mãos nas flores, elas começaram a brilhar e reassumir a vida. – Prontinho. – sorriu debochadamente. Como uma boa súcubo da terra, mexer com plantas devia gratificá-la.

-Já até sei quem escolheu essa loja. – olhei em volta.

Espremeu os lábios em um sorriso desgostoso.

-Quero ver Hellena. – repeti.

-Desculpe Alec, estamos fechadas. – indicou a placa.

-Vocês acham que eu sou um idiota? – rosnei. – Eu sei que Hellena esta ai, quero ver-la. – tentei abrir caminho entre Blake pelo balcão, mas Dacra parou na minha frente segurando meu pescoço.

-Cuidado Volturi. – senti a mão dela queimar minha pele.

Rangi os dentes.

-Chega! – ecoou uma voz que me deu arrepios no corpo todo. Eu podia sentir a energia saindo de dentro dela, a energia que apenas imortais jovens têm, ou súcubo jovens. – Dacra, solte-o.

A contragosto, a súcubo me soltou deixando uma marca na minha pele.

Ela saiu da porta acortinada. Vestia roupas comuns e humanas, calças jeans e uma blusa que eu achei justa demais, alem de um avental verde por cima, mostrando que trabalhava lá.

-O que deseja? – perguntou em tom profissional, os cabelos presos no alto da nuca. Seus olhos castanhos evitavam me olharem de frente, sempre achando manchas e amassados inexistentes em sua roupa.

-Falar com você. – sussurrei.

-Tenho trabalho para fazer.

-Estão fechadas. – mostrei a placa.

-Estamos abertas. – fez um gesto de mão e a placa virou de novo.

-Isso já esta ficando irritante. – apertei os dentes, uma das virtudes que eu não tinha, era paciência. – Hellena, por favor, podemos conversar? – indiquei a porta.

Ela apertou a borda do balcão.

Mordeu o lábio inferior e me olhou por baixo dos cílios. Um colar de opala cintilava no seu pescoço, o colar da mãe humana dela não estava mais ali. Senti um choque, porque ela sempre usava aquele colar.

Olhou para as “amigas” que a olhavam de um jeito protetor.

-Esta tudo bem, vamos apenas conversar. – falou mais para elas do que para mim, tirou o avental verde e deixou ele em cima do balcão.

Passou por mim indicando a porta e saindo.

Quando ficamos na rua fria, sós, ela não parou, abraçou o próprio corpo com os braços e continuou. Foi andando ate o que parecia um parque, ele estava vazio.

-Hellena. – murmurei seu nome, mas ela me ignorou. Alcancei-a e segurei seu braço. – Hellena. – continuava a olhar para qualquer lugar menos para mim. – Da para me olhar?

Suspirou piscando e finalmente me encarando.

Quando eu estava para falar algo, ela se soltou, e continuou a andar.

Chegamos à praça de inicio do outono.

Ainda se podia notar o verão passado, mas mesmo assim, podiam sentir o frio que chegava pouco a pouco, como um vírus destruidor.

Hellena andava devagar, sem olhar para o lado, apenas fixada em um ponto a frente de si. Um brilho descomunal e de beleza única exalava de seu corpo, era quase como um imã me atraindo para perto dela.

Sentamos na grama ainda verde, lado a lado. Ela se deitou, sendo acompanhada de perto por mim, me deitei ao seu lado. As cabeças na mesma altura, as pontas dos dedos dela roçando na minha mão.

-Tem tantas coisas que eu queria ter te perguntado Alec... – murmurou.

-Então pergunte agora.

Ela pareceu relutar, consentindo para o silencio e o azul do céu, mas finalmente se pronunciou.

-Não cansa?

-O que?

-Viver para sempre, não entendia?

-Viver... – pronunciei a palavra como se nunca a tivesse ouvido. – Eu não vivo há muito tempo... Eu apenas existo. – parei olhando o céu. – Quando se tem com quem compartilhar a eternidade, talvez...

Não pareceu gostar muito da minha resposta. Se levantou e abraçou as pernas, o azul celestial fazendo uma moldura em seu corpo curvilíneo, algo que ele nunca teve.

-Droga Alec. – reclamou.

Sentei como ela.

-O que foi? – toquei em sua mão, mas ela se desvencilhou do meu toque como que com nojo de me tocar, ou com medo de me sugar com apenas um toque de seus dedos.

-Tudo que você sentiu por mim foi mentira! – segurou a cabeça.

-Eu nunca menti. – segurei seus ombros.

-Ninguém mentiu. – apertou os olhos e os abriu, mostrando lagrimas. – Mas o que sentimos foi mentira! Foi tudo parte de ser uma súcubo, por isso sentiu aquilo por mim. Foi apenas isso. – falou resignada.

-Não, não foi.

-Esta gostando Alec? Esta gostando de ser um idiota apaixonado?

Suas palavras tinham raiva, mas eu sabia que era mentira. Tinha que ser.

-Eu sei o que sinto. E não foi nada de feitiço. Ate porque naquela época você era uma humana! – voltei a tocar-la.

-Eu nunca fui humana, eu já nasci assim. Esse é o meu destino, e você não esta nele. – mais lagrimas caíram de seus olhos.

-Se não me ama mais, porque esta usando o anel que te dei?

-Nunca falei que não te amava. – voltou-se para mim, mas contornando o anel com a mão contraria a que o usava. – Apenas disse que não tem lugar para você na minha vida.

-Eu te esperei esse tempo todo Hellena.

-Esse tempo todo? – repetiu minha frase. – Foram apenas três anos Alec! Devem ter passado voando para você! Eu sou uma súcubo agora, uma princesa! Meu povo precisa de mim, e você não faz parte dele!

-Vai deixar que outros decidam por você?

-Ninguém decidiu por mim... Eu não quero mais te machucar Alec, eu sou um perigo para você. Minhas mãos... Elas são venenosas, elas matam Alec, elas machucam. A fome não passa!

-Eu sei o que você esta sentindo, eu já senti tudo isso, já passei por tudo isso. – ela tentou se afastar, mas segurei sua face com delicadeza e de um jeito firme. – Também sinto a sua fome, e não é só me tocando que você me matara.

-É sim.

-Você é jovem, vai aprender a se controlar, e eu quero estar ao seu lado para ajudar-la. Eu te amo. – ela parou e senti o coração dela perder uma batida, mas ela voltou a fechar os olhos. – Meu cisne branco.

-Deixei de ser cisne branco há muito tempo Alec, agora eu sou Odile... Vai me agradecer um dia por isso. – se soltou e levantou. Deu-me as costas e começou a voltar, levantei-me com a intenção de ir atrás dela, mas antes disso, ela disse. – Não faça isso. – soou como uma ordem.

Fiquei em pé, parado, vendo-a partir.

Meu ego estava terrivelmente ferido, mas não desistira de ter-la, a única pessoa que uma vez na minha eternidade nutri algum sentimento, a única que eu poderia um dia nutrir alguma coisa. E não deixaria partir dessa forma.

-Não faria isso se fosse você vampirinho. – segui a origem daquela voz zombeteira e macia, como o toque da morte. Incubo.

-O que quer? – rosnei olhando-o por cima do ombro.

-Não deseje o que não pode ter. Só vai sofrer. Assim como o teu pai. – ergueu uma sobrancelha escura. Seus olhos eram frios como uma lamina de gelo, e não havia emoção alguma ali.

-Quem é você?

-Quem eu sou não importa, só deixe a princesa em paz, se não serei obrigado a obrigar-lo a isso. – sua voz ficou ameaçadora. – Ordens da minha rainha.

-Você não sabe de nada incubo. – voltei à direção que Hellena sumira, mas ele já estava na minha frente, impedindo meu caminho.

-Não dificulte as coisas para ela, já estão difíceis demais.

Ele me deu as costas e foi pelo caminho que me impedia de não seguir. Pela segunda vez naquela hora fiquei parado vendo minha oportunidade se esvair, sentindo todo o meu ego se despedaçar.

Eu não desistira tão fácil assim, nunca.


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