O Cisne Negro escrita por anonimen_pisate


Capítulo 46
Capítulo 47




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P.O.V – Hellena

“Não é algo que você nunca teve certeza que não aconteceria”

“Não é algo que você não esperou acontecer”

“Não é algo que você não faria”

“Não é algo que você desistiria”

Milhões de mínimas vocês ecoavam em minha mente enquanto a mão de Alec roçava na minha. Enquanto eu insistia em sustentar aquele olhar esverdeado.

Todos olhavam, eu tinha noção disso. Eu tinha que sair agora, que desfazer o contato visual, eu também tinha noção disso, mas eu não queria. Como eu nunca quis essa coroa, como eu nunca quis esse destino.

Mas... Tudo havia acabado, tudo.

A guerra, as corrompidas, Katherine. Tudo.

E quem eu sempre tive ao meu lado, quem eu sempre quis ao meu lado, estava agora aqui, comigo. Ele não partiu como todos os outros que tive, ele não era comida, ele era vida.

Era a vida que eu roubava pelo simples ato de um beijo, pelo delicado toque entre lábios, e que pouco a pouco, roubava o que havia dentro deles, roubava a vitalidade, a sanidade.

Mas não ele, ele nunca foi obrigado a isso, nunca fez isso pelo mero desejo carnal, ele nunca teve interesses sujos. Só fazia isso por mim, apenas para me ver feliz, apenas isso.

E eu queria ver-lo feliz, queria fazer-lo feliz como ele me fez.

Hoje era o ultimo dia, a despedida. A coroa incrustada de pedras preciosas pesava em minha cabeça, assim como o olhar de minha mãe em minha nuca. Mas eu não queria sair dali, da minha pequena e finita bolha de felicidade.

Eu não queria que a estourassem, não podiam fazer isso.

Alec sabia disso, sabia que a qualquer momento alguém viria e desfazeria tudo. E que quando esse alguém viesse, nunca mais nos veríamos, mas ele não se importava, ele sorria para mim, como sempre sorriu.

Não ligava se no instante seguinte nunca mais nos veríamos, não ligava para a possibilidade de nunca mais me ver, ele queria apenas me fazer feliz, eu sentia isso vindo dele.

Naquele momento eu quis chorar, chorar de alegria. Do sentimento que ele queria para mim, algo que eu desejava mais que tudo ter apenas para ver-lo feliz, por me querer feliz.

Ele não dizia para que eu não fosse, não pedia para que eu deixasse minhas irmãs ou meu povo, não gritava ou estava irritado, apenas feliz por mim, e desejando que eu fosse feliz.

Senti vontade de chorar novamente.

Por meros segundos desviei meus olhos ate Kahlan, ela me olhava como todos os outros faziam, mas não era um olhar de desaprovação, era um olhar que dizia mais do que mostrava.

“Seja feliz”

“Faça a escolha certa”

Seus lábios formavam um sorriso, não de apelo, não de agonia, apenas de... Bondade. Um gesto que valia mais que todos os outros.

Dela meus olhos seguiram para Blake. Ah Blake, minha eterna amiga e protetora, outra que sempre esteve comigo. Seus olhos brilhavam de lagrimas, e eu quase ri de ver-la chorando.

Para ela, eu sabia que o mais importante agora era minha alegria, e eu me sentia muitíssimo bem de ver como ela havia amadurecido. Deixado de ser a mandona que fazia o que as regras ordenavam, mesmo quando achava que era o errado. Agora ela fazia o certo, mesmo que ela tivesse que ser morta, ela faria o certo.

Quenn estava ao seu lado, mas dela eu já sabia o que esperar. A delicadeza e sutileza de sua condição súcubo, seu sorriso doce, a bondade em cada gesto límpido seu. Ela pensava o mesmo que Blake, minha alegria.

Georgina e Hoppe estavam de braços dados, os opostos unidos em trégua pelo bem maior, como todos no salão faziam, todos que lutaram pela paz. E suas faces estavam lívidas, aliviadas por me ver viva e bem.

Dacra não estava entre elas, e nesse minuto não me senti alegre, e uma lagrima se formou no canto de meu olho. Ela se sacrificou, e eu sabia que agora estava bem, sentiria sua falta.

E nos segundos que meus olhos percorriam os convidados, os que dançavam ao meu lado, ou me encaravam, eu percebia os desfalques, as faltas, a tristeza mista com a alegria do fim.

Sempre haverá os sacrifícios, eu tinha plena certeza disso. Durante muito tempo fiz sacrifícios, mas agora não havia mais o porquê disso. Havia acabado.

Vi os Cullen, os Denali, os Volturi, e vi minha mãe. De primeira vista parecia só, e concentrada em me repreender com o olhar, mas depois vi que estava acompanhada, por um vampiro que segurava sua mão com carinho. Ah, mamãe, ri internamente por ela.

Desdêmona seria alguém a nunca estar só, e que nunca não será amada.

Meus olhos devanearam por ultimo em meu pai. Eu não via emoção em seus olhos, ele estava triste por ter perdido o filho mais velho, por ter passado pela vergonha de ir contra ele.

Mas quem por ultimo captou meus olhos foi Nate, ele seria o próximo na linhagem, quem deveria dar a vida a minha herdeira, nunca poderia imaginar que meu melhor amigo era na verdade meu... Irmão. Ele não passava de um bom amigo, e me sentia bem por eu sempre ter sido isso para ele, foi o único incubo que nunca desejou de mim o que não poderia ter.

Alec trouxe meus olhos de volta para os seus, e no momento em que eu fixava as esmeraldas no lugar de suas pupilas, eu descobri a resposta para a primeira coisa que ele me perguntou quando me viu.

Parei nossa dança bruscamente, apertando os tecidos de sua roupa onde minhas mãos se apoiavam. Ele me encarou curioso.

-Sabe o que o cisne vira quando deixa de ser branco Alec?

-Seria uma princesa? – disse com humor.

-Não. – respondi no mesmo tom.

-Uma rainha?

-Não. – segurei suas mãos e olhei suas palmas. – A resposta certa esta sempre onde nossos olhos não podem captar. – ergui meus olhos. – O lugar mais obvio.

Segurei sua mão e puxei ele tirando-o da pista de dança.

Levei-o por um corredor reto e plano, não andamos muito ate estarmos na entrada do castelo, não havia guardas hoje, não hoje. Havia apenas um grande vitral que era facilmente visto por quem entrasse.

-Veja. – ficamos de frente para ele de mãos dadas.

O vidro era tão grande que ia do teto ao chão, e possuía as cores mais belas que qualquer vidro poderia ter, e os desenhos eram tão perfeitamente bem feitos, que qualquer um juraria que o que via era uma foto.

O castelo era cheio de vitrais com desenhos sem sentido, e eu nunca entendi porque logo aquele estava na entrada, para que todos os visitantes pudessem ver-lo, mas agora eu entendia.

“Do fogo e da realeza duas crianças nasceram

Um menino e uma menina com perfeição.

O garoto poderoso a de ser, e um dia, a princesa ira conquistar

Uma escolha dele a de mudar tudo

Salvara ou destruirá

Apenas quando a ultima pena branca cair

E a princesa sumir

A coroa voltara a quem sempre foi a escolhida.”

Recitei a profecia que fez com que Alec e Jane virassem vampiros. As rimas podiam ser péssimas, apenas agora eu entendia.

-“A princesa sumir”. Algo que foi visto como minha morte, é na verdade a sua resposta. – sorri virando meu rosto para ele.

Eram três vitrais no total. No primeiro havia uma revoada de pássaros grandes e brancos, os cisnes. No segundo estava um cisne pousado e envolto em brilho, com uma pena branca desprendendo de seu rabo. E no ultimo por fim, havia uma mulher.

-Vira uma mulher Alec. – disse sucinta. – O cisne vira uma mulher.

Ele riu jogando a cabeça para trás.

-Mais obvio não podia ser. – olhou para mim.

-“A coroa voltara a quem sempre a mereceu.” – repeti.

-Quer dizer que saiu de Katharine para você. – ergueu as sobrancelhas.

-Não Alec, quer dizer outra coisa. – puxei-o de volta para o salão.

Soltei-o indo em direção ao palco onde ficava o trono, fiquei de frente para todos, com minhas costas protegidas pelo veludo vermelho. Inspirei fundo e pedi atenção.

-Como a maioria deve saber da profecia, a ultima estrofe diz que a coroa voltara à escolhida. Muitos chegaram a pensar que a escolhida fosse Katherine, ou mesmo eu...

-Hellena o que esta fazendo? – minha mãe ficou ao meu lado, mas sem subir no pedestal. Ignorei-a.

-Eu não sou a escolhida. Quem os espíritos escolheram, acima de mim, foi Kahlan. – apontei para ela. Minha prima arregalou os olhos. – Ela foi escolhida por eles para nascer, sem a bênção deles não nasceria.

-Já conversamos sobre isso. – Desdêmona chiou novamente.

-Você sempre disseram que eu saberia a coisa certa a fazer quando chegasse a hora. À hora chegou. Kahlan, venha até mim. – sorri para ela com carinho.

Veio com passos vacilantes.

-Hellena, só pode estar louca. – disse rindo em voz baixa.

-De joelhos. – pedi polidamente, ela obedeceu. – Com o pode investido em mim, a rainha das súcubos, dama do espírito. Quem sabe o certo. E com todos vocês, e principalmente, os espíritos como testemunha, eu declaro você Kahlan, como a nova rainha. – coloquei a coroa entre seus cabelos negros.

Em um gesto inconsciente, todos aplaudiram abismados.

E como prova, de que o que eu fazia era o certo, todas as wisps em cada pescoço súcubo, começaram a brilhar e se elevaram de nossa pele, pela segunda vez em milênios, as originais surgiram para nós.

Eram feitas de completa luz como da primeira vez, e cinco no total. Tão lindas que chegavam a cegar meus olhos.

-Hellena, minha herdeira. – a mais alta e brilhante falou com sua voz etérea. Eu não conseguia diferenciar a cor de seus cabelos ou de seus olhos, ela parecia mais espírito do que imortal agora.

-Criadora. – falei com respeito.

-Você, mais do que toda súcubo, sofreu. Fez um caminho de grandes testes, e se sacrificou por quem amava dezenas de vezes. Fez o que achou ser o certo, mesmo que tivesse que quebrar as regras que fiz nos primórdios dos tempos. – não parecia me repreender, mas fiquei corada.

-No entanto. – continuou. – Nunca vacilou em fazer o certo, ate quando todos a sua volta passaram a duvidar de sua sanidade, ou de sua fidelidade, nunca desistiu... Mas é claro, quase todos. – voltou os olhos de luz para Alec, que só agora percebia estava perto de mim. – E você, incubo da água, sempre ficou ao lado de minha filha, como o mais leal dos consortes.

-Com todo respeito majestade. – ele disse polido. – Não sou consorte de sua filha, sou o parceiro dela, seu marido.

Meu peito vincou ao ouvir a palavra “marido”, nunca pensei que ficaria tão assustada e feliz em ouvir-la.

Todos exclamaram, e a criadora meneou a cabeça.

-O marido de uma súcubo... Achei que nunca ouviria essas palavras juntas, não enquanto existisse... Mas... Agradou-me escutar-las em uma mesma frase. – sorriu. – Apesar de imaginar que deve saber da impossibilidade disso.

-Estou ciente vossa majestade, dês do inicio. – Alec falou sucinto, então ele fez o ato mais insano da noite, subiu no pedestal e segurou minha mão. – Mas amo sua descendente, e não desistirei nunca dela, mesmo que eu só possa ver-la às vezes, e mesmo que ela tenha que dar a luz ao filho de outro por seu povo.

Lagrimas escaparam de meus olhos descendo por minha face.

-Acho que... Não será mais necessário, já que ela passou a coroa para sua prima. – olhou-me curiosa.

-Não fiz isso apenas por interesse próprio mãe, continuarei entre as súcubos e darei a filha que me pedem, cumprirei as leis para com meu elemento.

-Não duvido de suas intenções Hellena, nunca duvidarei, você cumpriu a profecia, do jeito mais certo e perfeito que poderia. E acho que merece um premio por isso.

Prendi minha respiração, ate porque sentia todos atrás de mim nos encarando sem pudor, e isso me dava náuseas.

-Se desejar, pode deixar sua condição de súcubo para trás, e ir viver com seu amado. – arregalei os olhos. – Será uma vampira, e terá as qualidades para ser aceita entre os Volturi, mas não poderá mais ficar entre suas irmãs.

-Eu... – gaguejei.

Olhei de Alec para a criadora.

-Só quero que seja feliz Hellena. – ele disse suave. – Qual quer que seja sua escolha terá meu apoio.

-Eu gostaria de poder acabar com a nossa maldição querida, mas isso esta alem de meus poderes. O que Lilith fez não pode ser desfeito.

-Não posso deixar meu povo para trás. – minhas pálpebras tremeram enquanto mais lagrimas desciam.

-Entendo. – a primeira súcubo disse lamentando.

Virou os olhos para Alec.

-Você presa acima de tudo o bem-estar de sua... Esposa. E por isso tem a minha bênção. – virou-se para mim e sorriu. – Eu te liberto da necessidade de gerar herdeiros, isso já não lhe cabe mais Hellena. Você agora é livre.

As cinco ergueram as mãos para o alto e sumiram em uma revoada de penas brancas e luminosas. Dentre toda a nuvem de brilho, havia dezenas de rostos, todos espíritos.

Cada pena virava um rosto que descia ao chão e flutuava ate alguém, pela primeira vez eu não fui a única a ver espíritos.

Foi um alivio.

Olhei para Alec e sorri.

-Sou livre meu Volturi.

Segurou minha mão me tirando da multidão.

Ficamos deitados juntos no gramado do lado de fora, apenas olhando o céu estrelado como um manto cheio de brilhos.

-À noite esta linda. – murmurei.

-Onde quer que esteja, a noite sempre será a noite. – as palavras de Alec soaram vazias. – Estou partindo amanha pela manha. – murmurou sem me olhar.

Não disse nada, apenas me inclinei sobre ele e selei um beijo em seus lábios macios. Suprindo minha dor, perdendo-me em sua boca e deixando meus pensamentos vagos.


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