O Cisne Negro escrita por anonimen_pisate


Capítulo 44
Capítulo 45




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P.O.V – Hellena

Foi uma noite rápida, que eu não queria que acabasse. Mas nada é eterno.

Às três horas se esvaíram como água por entre os dedos, e logo comecei a ouvir Blake me procurando.

Vestimos nossas roupas sem trocar palavras, apenas nos olhando, como que querendo memorizar o rosto um do outro. No final, vestidos, nos abraçamos, bem na hora que Quenn entrou.

Puxei com forca o aroma que despontava dele, e me soltei de seus braços.

A súcubo do ar me olhou com doçura e estendeu um arco de madeira para mim com três flechas e mais um tubo com o veneno. Deu a Alec o odol diluído com um lenço e algumas gotas do natural em uma faca.

Subimos para o térreo e organizamos os grupos. Em todos haviam bruxas e uma de nos.

Paramos todos do lado de fora em uma campina, já organizados em como partiríamos, as bruxas formando o circulo para abrir o portal junto com uma súcubo vigiando tudo.

Georgina chegou ao meu lado, o arco nas mãos e luvas grossas de couro cobrindo-as. Estendeu luvas para mim e para o vampiro ao meu lado.

-Só temos três flechas Hellena, elas têm de ser certeiras.

Fiz que sim brevemente, minha pontaria era bem certeira, e depois de me suprir das energias de Alec algumas horas antes, me sentia melhor do que nunca.

Ele estava no mesmo grupo que o meu e apertou minha mão com força quando eu entrei no circulo pronta para invocar o portal. Segurou-a e me puxou para perto de si, mesmo tendo o olhar de Jane e Renesmee sobre nos.

-Quando o cisne deixa de ser branco, ele vira o que?

Sorri fracamente.

-Descobriremos hoje, ou nunca o faremos. – soltei minha mão da dele e entrei no circulo. A energia penetrou por meus poros e me senti renovada, me senti poderosa.

Olhei para os dois lados vendo minhas irmãs na mesma hora em que elas repetiam meus gestos. Sorrimos unicamente com preces em nossos olhos, voltamos a olhar para frente.

A tensão preenchia o ar a minha volta, essa era uma das dezenas de desvantagens de ser tão sensitiva. Estávamos em um bom numero, e mesmo sabendo que as súcubos estavam incapacitadas de usar seus dons elementais, ainda nos sentíamos incertos.

Nossa espiã infiltrada havia nos contado do crescente exercito de licantropos e íncubos no castelo, mesmo sabendo que nenhum dos dois tinha os elementos ao seu lado, a força deles era indescritível.

Respirei fundo me concentrando e tudo começou a girar.

O ar da noite atingiu meu rosto com força, rasgando minha pele e deixando um rastro de sangue para trás, mas que logo se curava, fechando e ficando liso de novo.

Estava uma escuridão plena e completa.

Nenhum sussurro se ouvia no topo da colina em que todos surgirmos. Para calcular o exato lugar onde deveríamos surgir, era preciso certa experiência que tivemos de dividir bem entre nós.

Respirei fundo olhando por sobre meu ombro todos os imortais surgindo do nada e andando agachados ate estarem todos deitados de barriga para baixo ao meu lado.

Havia cinco de nos com arcos, contando comigo. Todas as outras eram bruxas. Deixamos as flechas tensas e presas ao mesmo tempo, com os gestos sincronizados.

Fechei meu olho direito fazendo mira aos guardas que detinham o portão principal, não havia brilho no pescoço delas, já prevíamos isso, na verdade recebemos informações sobre isso.

Com meu olhar imortalmente superior, consegui avistar as sombras que eram o grupo coordenado por Hoppe. Eles se esgueiravam perto o suficiente para que não fossem percebidos pelos guardas.

Ergui uma mão com os dedos erguidos e prendi a respiração. Voltei a segurar o arco com a flecha presa entre ele. Preparei a pontaria, e juntas nossas setas cortaram o ar.

As cinco se projetaram instantaneamente no peito das cinco guardas.

Havia veneno suficiente para uma morte rápida e tão instantânea quanto às flechas.

Hoppe e mais três rebeldes pegaram os corpos desfalecidos levando-os para um beco e sumindo de vista. Nesse minuto o grupo de Georgina e Quenn já deviam ter anulado as guardas dos portões laterais e Blake o portão dos fundos.

Como o previsto, um grupo de cinco homens grandes e fortes surgiu sentindo a morte no ar: licantropos, ou, melhor dizendo, os lobos. Hoppe saiu das sombras e uma luta sem som começou.

Era a hora de invadirmos.

Tudo aconteceu como um borrão difuso. Na velocidade em que estávamos não devíamos passar de uma ventania. Passamos pelos corpos do portão e pelos corredores onde havia mais lutas.

Vi antigas amigas minhas sendo massacradas e imortais que lutavam ao meu lado perdendo membros em meio à confusão. Acho que matei doze lobos e duas súcubos, alem de por para dormir algumas cinco.

Havia três bruxas em meus flancos e quatro vampiros que ficavam para trás lutando com outras súcubos. O alarme soou alto em nossos ouvidos e tudo voltou a girar.

Tentava me lembrar do curso que tinha que seguir para chegar ao salão onde Katherine estava. Dobre duas vezes para a direita e três para a esquerda.

Já não havia mais ninguém protegendo minha retaguarda, e minhas roupas começaram a serem rasgadas junto com minha pele. Seguravam meus cabelos puxando minha cabeça para trás e tentava arrancar partes de mim.

Lutei com dois lobos ao mesmo tempo antes de conseguir dar mais dez passos, e tive que gastar o resto do meu odol com eles, pelos meus cálculos eu só poderia matar mais uma pessoa com ele.

Consegui escapar ao ataque de uma súcubo que fora minha professora e chegar ao fim de uma escadaria, onde só faltava mais uma leva de corredores para chegar ao meu destino quando três íncubos barraram meu caminho, e entre eles estava Dacra. Corrompida.

-Ora, ora, ora... – ela riu cruzando os braços na minha frente.

Fumaça invadiu meus olhos fazendo-os lacrimejarem com o perfume adocicado e nocivamente enjoativo de vampiro queimado. Não sabia se eram inimigos ou não, mas esses não poderiam ser salvos.

-Veja quem voltou.

-O que houve com você Dacra? – disse passando meus olhos por todos os cantos da passagem barrada pelos íncubos que nos olhavam e riam, pareciam estar adorando aquilo.

-Que ousadia vocês tem em atacar-nos. Ninguém nunca fez isso antes. – sibilou.

-E entramos.

-Pura sorte. – cuspiu em minha direção.

-Sorte? – arqueei uma sobrancelha. – Vocês não têm mais o controle de seus elementos, precisam de um exercito de lobisomens para sua proteção, e veneram uma falsa súcubo do espírito. Para mim isso não é sorte, isso chega ate a ser desvantagem.

Estreitou os olhos e rosnou.

Saltou em minha direção como um gato todo eriçado. Claro, bater boca não era do feitio de uma súcubo do fogo, a maioria delas é estourada demais para suportar ficar conversando.

Suas mãos voaram para meu pescoço fechando-se como garras. Contornaram-no com facilidade, e começaram a apertar, prensando e rasgando minha carne com suas longas unhas.

Arranjei espaço para conseguir dar um chute em seu peito arremessando-a para a outra parede e fazendo um buraco no lugar.

Agachou-se e pulou para cima de mim de novo.

Chute, soco, pontapé, tapa, arranhão, soco. Tudo era tão rápido que eu mal captava o que fazia, tudo era por instinto, o instinto de sobrevivência. Com uma rajada de poder, joguei-a para longe de mim.

Encostei minhas costas na parede atrás de mim e fiquei ofegante vendo-a rir malignamente e secar o sangue que despontava de seus lábios. Não havia forma de matar-la a não ser com o odol, e eu não podia gastar mais o meu. O mesmo devia estar acontecendo com todos, o veneno não duraria muito tempo, e usar o fogo seria arriscado.

Matar Katherine seria o único jeito.

-Não vai passar por mim Hele... – sua fala foi interrompida por um soco dado por... Georgina.

-Não acredito que chorei por você! – ela gritou prensando Dacra contra a parede, segurando-a pelo pescoço. Olhou para mim e sorriu fracamente, estava coberta de fuligem e havia cortes em seu rosto. – Vá Hellena.

Olhei para o corredor, e estranhamente só havia um incubo parado, os outros dois estavam... Lutando com uma bruxa do ar que veio juntamente com Georgie.

A bruxa estava perdendo.

Mas eu não podia perder tempo.

Parei de frente para o incubo, nos encaramos. Eu tentei ir para a direita, ele foi junto, fui para esquerda, ele continuou barrando meu caminho. Sorriu para mim e balançou o dedo indicador em negativa.

Quando eu estava me preparando para atacar-lo, algo se jogou contra ele fazendo-os se baterem do outro lado do corredor. Esse algo era... Alec.

Parei prendendo a respiração. Georgina lutando com Dacra, a bruxa perdendo para os dois íncubos e Alec rolando com o outro incubo.

-Vá Hellena! Vá! – todos gritavam ao mesmo tempo.

Olhei uma ultima vez para Alec e ele sorria para mim.

-Vá meu amor. – disse em voz alta.

Eu obedeci.

Depois daquele ponto não havia mais ninguém.

Sem lutas, sem lobos, sem súcubos ou íncubos, apenas o silêncio e um zumbido insistente da guerra ao lado. Meus passos ecoavam nas pedras e meu sangue pingava.

Olhei por cima de meu ombro como que me certificando que não havia ninguém me seguindo. Estava vazio, apenas uma trilha de pingos de meu próprio sangue.

Voltei a andar o mais rápido que meu manquear permitia. Perdi meu arco há bastante tempo e havia apenas uma faca embebedada de veneno em minhas mãos.

Cheguei ao que devia ser a entrada do salão onde eu podia sentir a aura negra de Katherine, havia alguma coisa espetada na frente do portal. Era uma cabeça.

Tapei minha boca com minha mão e prendi a respiração ao perceber a semelhança daquele rosto com o de Radamante. Aquela era Melina, ou devia ter sido.

Passei reto e entrei no salão. Katherine estava parada de costas para mim e havia sangue para todo o lado, alem de uma pira onde queimava os restos de Melina.

-Katherine? – murmurei assustada.

Virou-se e seus olhos eram divinamente medonhos. A loucura estampada em cada traço de sua face parecida com a minha. Naquele minuto eu tive certeza de que ela deveria morrer.

-Bem vinda, irmãzinha.

-O que houve com você? – praticamente vomitei enquanto falava.

-A coroa é minha! Minha por direito! – gritou balançando a cabeça.

-Tudo isso Katherine, toda essa morte. Todo esse sofrimento, apenas por isso? – estreitei os olhos serena. – Você forjou a morte de nossa mãe, nossa prima e me culpou...

-Tem razão, eu não deveria ter forjado, deveria ter matado! Todos esse anos sofrendo, sendo a filha indesejada, a rejeitada! Você nunca entenderia essa dor!

Respirei fundo olhando para a faca em minha mão, aproximei-me mais dois passos, ate estar a alguns palmos dela. O único sentimento que eu sentia por ela era pena.

-Você nasceu de um amor Katherine, mamãe sempre te amou, ela só tinha vergonha de ter sido a culpada da morte de seu pai. – murmurei voltando os olhos para ela.

Katherine me deu um tapa e saímos rolando no chão.

Rasgou meu rosto e segurou meu pescoço como se tentasse me sufocar, só percebi que ela tentava me decapitar com as próprias mãos. A pressão era muito forte e eu não conseguia me soltar de jeito algum.

Debatia-me e chutava, socava todo ponto vulnerável de seu corpo, mas ela não se soltava de forma alguma de cima de mim. Lagrimas quentes toldaram minha visão e senti o sangue encher meu crânio quando ela começou a bater minha cabeça no chão.

Virei o rosto para o lado o suficiente para ver dezenas de criaturas chegando pelo corredor, como mariposas em direção a luz. Não entendia muito bem o que acontecia ate ver minha mãe e Kahlan com elas.

E Alec.

Pareciam tentar se aproximar, mas uma bolha envolvia a mim e minha irmã impedindo qualquer um de penetrar-la.

-Acabou Katherine, acabou. – falei sufocada.

-Não ate uma de nos estar morta. – vi que de seus olhos vazavam lagrimas também.

-Irmã, eu te perdôo por tudo. – falei e senti a pressão em meu crânio aliviar de leve, seus olhos estavam fixos e vagos, quase como que indecisos. Ela levantou os olhos ate nossa mãe.

Parou sem soltar meu pescoço, e por um momento, vi que ela desistiria, mas então ela me deu uma joelhada no estomago me deixando impotente e gritou.

-Não a mais volta para mim! – ela tinha razão, estava corrompida, devia ser morta.

Minhas forças vazavam por entre minhas mãos, a faca tremia em meus dedos e eu via o veneno começar a secar nela.

Olhei uma ultima vez para o lado e vi Alec gritando meu nome.

Apertei o cabo da adaga e enfiei-a diretamente em seu coração, se ela tinha um e vi seus olhos perderem o brilho.

-Você tem razão. – sibilei sentindo seu corpo começar a tombar.

Uma bolha de luz envolveu todo o salão e depois estourou.

A escuridão veio com força.


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