O Cisne Negro escrita por anonimen_pisate


Capítulo 18
Capítulo 19




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P.O.V – Hellena

Sentei de pernas cruzadas no chão. A cabana de madeira rangia com o forte vento, e gotas de chuva entravam pelo telhado falho e cheio de rachaduras.

As arvores do lado de fora uivavam. Eu podia sentir presenças animais por toda floresta, mas quando chovia, raramente conseguia cheirar o que estava a minha volta.

Alec se sentou em uma cadeira e arregaçou a manga da camisa de seu braço direito, analisando a mordida.

-Droga... – reclamou baixinho olhando o machucado.

A mordida do lobisomem havia causado estragos em sua carne, a ferida começava a fechar, mas devido o veneno de lobo, demoraria bastante. Sangue jorrava da abertura que estava com as pontas inchadas.

-Podíamos já estar na Itália. – resmunguei.

-Você esta fraca demais para fazer isso. – devolveu ríspido. – Há quanto tempo você não se alimenta? – rasgou um pedaço de pano e molhou em água quente.

-A ultima vez foi ontem. – franzi os lábios. – Ou anteontem. 

-Mas aquela Fae sugou a sua energia. – prensou o pano contra o machucado. Apertou os dentes e fechou os olhos suspirando. Seus batimentos começaram a ficarem mais lentos.

-O que são essas drogas de Fae? – Alec ficou em silencio. As pálpebras caídas como finos véus translúcidos. Seu peito subia e descia devagar, e seus músculos relaxavam.

-Existem as criaturas das sombras como nos – ele começou. – Mas nem todos podem ser considerados criaturas das sombras. – seus olhos de fogo frio se abriram. – Por exemplo, os anjos.

Sua voz cortava o silencio que se instalou dentro da casa e da floresta a nossa volta. Tudo cheirava a chuva e terra molhada, um suave torpor tomava conta de meu corpo.

Sua face rígida estava relaxada e seus olhos vagos, como se uma nuvem atravessasse seu olhar. O suspiro sutil de seu respirar enchia meus sentidos tanto quanto sua voz de veludo.

-Os Fae são como um reflexo de nos, não são das sombras, mas não deixam de serem humanos. São como pessoas comuns com dons. Alguns nunca descobrem os dons e passam a vida toda sendo normais. Outros, os vampiros descobrem e os coloca para trabalhar para eles.

-Então... Edward, Alice, Jasper, Bella, Aro, Demetri, e etcetera, são Fae? – franzi meus olhos. Virei meu rosto na direção de uma janela de vidros quebrados, os cacos se erguiam como dentes de um monstro faminto.

-Sim...

-Você seria se fosse humano. – eu não havia bem perguntado, soou mais como uma afirmação. Seu rosto de marfim liso se distorceu em uma careta, como que assustado com a possibilidade de um dia ter sido humano.

-Sou assim por ser meio demônio. Apenas isso. – amarrou a faixa no braço e se levantou. – Súcubos e íncubos são poderosos, pois são meio demônios superiores, diferente dos demônios com espíritos animais.

Andou ate o que devia ser uma cozinha em tempos passados. Remexeu em armários e gavetas cheios de insetos mortos e pedaços de antigos talheres de estanho e metal. Tirou uma faca torta e pegou uma vela de seu bolso.

Sentou novamente e tirou um isqueiro, acendeu o pavio já queimado e preto, colocou a faca sob a chama e ficou observando o metal ficar incandescente.

-Eu já assisti um seriado de que tinha uma garota que era Fae. – comecei seguindo seus olhos pela chama vermelha e brilhante. Ele não disse nada, continuou a rodar a faca, fazendo o fogo pegar em toda sua superfície prateada. – True Blood.

-Mentira. Tudo uma grande baboseira. Faes não são fadas, e não soltam luz pelas mãos, nem tem um tipo sanguíneo inexistente. Eles possuem um aroma muito chamativo, mas nada muito sobrenatural.

-Por isso Bella tinha um cheiro bom? – ele concordou. – E por isso Alice também tinha um cheiro e gosto bons para aquele vampiro... – disse para mim mesma me lembrando de Crepúsculo.

Alec aproximou a faca da vela.

-Pode me dar uma ajuda? – virou as orbes verdes para mim. Ele possuía o tom de verde mais impressionante que eu já vira, e olha que eu vi muitos olhos verdes. Possuía um tom escuro com riscos mais claros.

Acenei com a cabeça me sentando ao seu lado.

-Eu já limpei o veneno, mas um dente dele ficou entre as minhas veias, preciso que tire de lá com a faca. – arregalei meus olhos com a possibilidade de enfiar uma faca em seu braço. – Vai tirar-la do fogo, e você tem que colocar na hora, antes que a faca esfrie.

Encarou-me.

-Preciso de você esta bem?

Fiz que sim. Ele me estendeu o cabo da faca e quando trocamos de mão, nos tocamos sem querer, o contato com sua pele fria fez com que eu sentisse algo estranho.

Desenrolou a faixa expondo a ferida aberta e inflamada. Consegui ver direitinho o dente entre suas duas veias, ele causava uma protuberância em sua pele, como um caroço.

-Agora. – ele sinalizou.

Tirei o talher de cima da vela e enfiei em seu braço. Alec não disse nada, mas pude sentir-lo tremer com o contato do fogo em sua carne, virei à faca dentro dele o mais delicadamente que pude, mais ainda fazendo-o gemer.

Virei mais um pouco, o dente branco e sujo de sangue surgindo entre os músculos. Puxei a faca um pouco mais para cima, e o dente veio com ela, saltando para fora.

Tirei o resto com a ponta de meu dedo. Ele era do tamanho do meu polegar afiado como uma faca bem amolada.

Estendi o dente deixando ele ser iluminado pela chama da vela.

-Prontinho... – murmurei largando ele na mesa.

Alec segurava o antebraço um pouco mais acima, como um torniquete. Ele puxou o braço ate sua boca, com a visível intenção de lamber a ferida para assim fechá-la. Que nojo, mas saliva de vampiro era a melhor coisa para cicatrização. De vampiro e de súcubo.

-Espere. – eu segurei seu pulso.

Nossos olhos se encontraram em um acordo mutuo. Abaixei minha cabeça ate o ferimento, nossa, eu ia viver com o nojo de ter feito isso, mas eu sentia a necessidade de fazer, quase como um dever.

Quando minha boca encontrou-o sua carne aberta, não desligamos os olhos um do outro, olhando-o por baixo dos cílios. Beijei sua pele intacta e movi minha língua pelo que restava.

Era para ser uma coisa terrível de se fazer, mas acredite, o gosto do sangue dele atingiu meu paladar com força, fazendo eu desejar mais ainda aquele sangue.

Movi minha boca para longe dele, vendo a linha se formar e logo sumir.

-Obrigado. – ele murmurou me olhando fixamente.

O choque de ter-lo ali, só comigo, com mais ninguém impedindo de estarmos juntos, me deixava tonta. Uma inércia persistente atingia meus sentidos, mas um desejo maior atingia meu âmago.

Ter apenas a mesa de madeira tosca nos separando, com um leve movimento ela voaria, seria arremessada do outro lado da sala e não haveria nada mais nos impedindo.

A chuva havia parado, e o cheiro da mata ficava cada vez mais intenso e forte para meus sentidos novos e apurados, mas o aroma de Alec preenchia todo meu pulmão, desconectando-me do que havia fora de nossa pequena bolha particular.

Ele não parecia sentir coisas diferentes, seus olhos se estreitavam e assumia uma pequena ruga entre eles, como alguém lutando contra uma vontade proibida.

Esticou a mão e tocou minha maça e desceu por meu queixo fino, tão desconectado com minhas bochechas maiores demais e meus lábios desproporcionais.

-Eu te amo. – ele falou lançando seu hálito contra meu rosto. Não se aproximou, com visível medo de eu não corresponde-lo. Continuou a me olhar.

“É proibido, é errado.” As palavras de minhas irmãs soavam em meus ouvidos, mas eu pouco estava ligando. O proibido era tão convidativo, tão excitante.

-Eu também te amo Alec. – murmurei me aproximando e tomando a boca dele em um beijo.

Foi uma sensação muito estranha.

A parte íncubo de Alec era mais forte do que eu imaginava, a mesma quantidade de energia que eu tirava dele, ele tirava de mim, nos deixando empatados. Era impressionante notar o controle que outrora ele tinha sobre isso quando eu era humana.

Ele tinha gostos tão estranhos quanto o beijo, como se tudo estivesse tão misturado e difuso, que eu não conseguia destingi-lo, e era confusamente viciante. Depois daquele beijo, eu nunca mais conseguiria esquecê-lo. Pela quinta ou sexta vez na semana, eu selei meu destino.

Coloquei minhas mãos em seu pescoço enquanto ele colocava as dele em minha cintura, me puxando mais para perto. Escorreguei da cadeira e levei ele comigo, fincando deitados um por cima do outro.

Eu ri baixinho sendo acompanhada por ele antes de nos beijarmos de novo, mas pela primeira vez na semana, eu tinha certeza que tinha feito a coisa certa.

Parei, me levantando e levantando ele junto comigo.

-Posso te perguntar algo?


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