O Cisne Negro escrita por anonimen_pisate


Capítulo 16
Capítulo 17




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P.O.V – Hellena

Cheguei ao bar atraindo olhares, não olhares a mais do que atraia quando era humana, homens tem um fraco para serem cafajestes, não importa como seja a garota, se tiverem um buraco entre as pernas já servem. Até mesmo crianças atraiam olhares daqueles humanos nojentos.

O bar era de quinta, mal freqüentado e cheio de bêbados estupradores planejando a próxima garotinha que seguiriam. Eu estava em vários planos.

Apesar de ser de baixa categoria, possuía um bom ambiente – encobrindo a sujeira embaixo do tapete - arrumado e de aparência bonita, do tipo cassino clandestino, aonde caras ricos vem gastar dinheiro com pôquer e prostitutas de luxo.

Sentei no balcão escutando a discussão entre dois senhores embriagados sobre cartas.

-Quer beber algo? – o bartener passava um pano pela superfície lustrosa.

-Hum... – pensei um pouco. – Uma tequila, por favor. – decidi pegar pesado com a bebida, estava precisando me distrair um pouco.

Apoiei meus cotovelos, deitando um e deixando o outro em pé, segurando meu queixo. Franzi meus lábios irritada e de mau humor, a fome borbulhava em meu estomago. Eu podia muito bem sobreviver das bolsas de sangue que Blake estocava em nossa geladeira, mas energia... Não havia como empacotar energia.

Tinha que ser direto da fonte.

Ouvi a aproximação de um homem pelas minhas costas, ele devia ser um dos estupradores, pois apertava um saquinho de “boa noite cinderela” com seus dedos gordos dentro do bolso do paletó.

Ele se sentou do meu lado e ficou parado suando.

Eu quase podia sentir o cheiro da hesitação dele, mas então ele se lembrou de como as mulheres negavam-no o tempo todo, de como ele fora ignorado por qualquer presença feminina sempre.

Bateu a mão na minha bolsa.

-Hei! – reclamei.

-Desculpe. – murmurou.

Abaixei-me para pegar a bolsa, bem na hora que a bebida chegava, consegui ver ele colocar o pozinho branco na minha tequila. Quando voltei para a cadeira, peguei o copo e virei o conteúdo.

O gordo riu nervoso.

As drogas afetavam meu organismo de uma forma diferente, mais forte, mas hoje eu estava sóbria o suficiente para não cair dura no chão na hora em que levei aquilo aos meus lábios.

Deixei uma nota de vinte no balcão e sai fingindo cambalear. Ele foi atrás de mim. Fui indo cada vez mais para dentro do hotel cassino de quinta, e ele ia atrás.

Quando fingi tropeçar junto da parede, ele me segurou.

-O que você quer? – fiz voz embargada.

-Só um beijinho.

Meu olhos brilharam e abri um sorriso de presas. O homem mal teve tempo de tentar me parar, juntei minha boca na sua boca nojenta. Anotei mentalmente para nunca mais caçar caras nojentos, mas eu estava com tanta fome que me entreguei ao desespero.

Suguei toda sua energia em um só suspiro, ele caiu no chão, inconsciente e... Morto.

-Deus... – ofeguei me escorando na parede.

Senti um formigamento se instalar em minhas costas. Imortal.

Na hora em que eu me preparava para dar meia-volta, uma mão forte me segurou. Virei-me na direção do cara forte, sentindo mais fome e tentação com seu toque másculo, e me deparei com um par de olhos castanho esverdeado.

-Súcubo. – eu odiava esses cumprimentos por raça.

-Vampiro. – entrei no jogo. Ele olhou o corpo morto no chão.

-O lanchinho foi bom? – sorriu. – Se quiser ajuda, posso eliminar pistas para você. – ergueu uma sobrancelha me soltando. Ponderei um pouco, eu estava péssima e precisando de ajuda para tirar o gosto horrível da minha boca.

-Claro. – concordei com a cabeça quando ele pegou o homem e jogou-o pelo ombro. Entramos em uma porta de saída de emergência e saímos na rua.

Ele socou a cara do homem, até ele ficar deformado e depois apertou o pescoço dele tanto, que se estivesse respirando, teria parado agora. Jogou o que restou dentro de uma lata de lixo.

-Feito. Aceita uma bebida agora? – esticou uma mão.

Olhei sua palma virada para cima. Sorri.

-É claro. – eu tinha um fraco por coisas proibidas.

-Então você vem do mundo oculto? – ele perguntou dando um gole da vodca com folhas de hortelã.

-Sim. Meu nome é Hellena.

-O meu é Adrian, sou daqui mesmo.

-Você é corajoso. Muitos vampiros fogem de súcubos, você é um dos primeiros que não me evita. Você tem algum interesse especial? – levantei uma sobrancelha zombando.

Rodei um copo entre minha mão. Suspirei me lembrando de Alec, olhando fundo naqueles olhos, que eram tão diferentes, mas que me lembravam tanto os dele.

Apesar da recente alimentação, ainda me sentia faminta. Todos os meus músculos estavam enrijecidos e meus ossos moídos.

-Não... – ele balançou a cabeça. – Vivi durante um longo tempo entre vocês. E não são todos que fogem, a maioria gosta de sua espécie, só tem cautela. – deu um ultimo gole na bebida alcoólica. Pensou um pouco. – O que você acha de darmos uma volta por um bar especial?

-Bar especial? – franzi o cenho.

-Criaturas das sombras preferem freqüentar esses bares, discretos e cheios de criminosos, onde a policia finge não saber a existência. Onde pessoas somem com freqüência... – revirou os olhos englobando todo o local. – Mas... Eu conheço um bar onde não precisamos sermos discretos.

-E que bar é esse?

-Ele fica na Escandinávia, um lugar lindo e bem atrasado no tempo, como a maioria de nos. Gostamos de lá, por causa de seus três meses sem sol, e amanha será um dos últimos. O que acha de ir à ultima festa?

-Escandinávia? – ergui uma sobrancelha. – Bar de vampiros? Porque nunca ouvi falar desse lugar especial?

-Outras raças não são muito bem vindas, mas estamos abrindo umas exceções, ultimamente temos recebido muitas raças. – me olhou de esguelha, um sorriso brotando nos lábios.

Pensei um pouco. Por que não?

-Nos vemos amanha então.

-Nos vemos amanha...

-Hellena? – Blake chamou minha atenção. – Aonde vai vestida de Lolita dark? – zombou. O espelho refletia seus olhos divertidos.

Ignorei o comentário dela e continuei a analisar minhas longas unhas pintadas de vermelho escuro. Alisei meus cabelos com minhas mãos, checando meu penteado.

-Hellena!

Revirei os olhos, manter segredos não era do meu feitio.

-Eu vou até a Escandinávia, dar uma checada em um bar vampiro que ouvi falar. – disse direta. Voltei meus olhos pintados de lápis e sombra preta em sua direção, ela arregalou os olhos azuis.

-Por favor... – zombou - Não existe nenhum bar vampiro. – revirou os olhos tentando desfazer a expressão surpresa e me enganar. Em vão, eu já sentia o cheiro da mentira dela.

-Acha que eu sou idiota Blake? – apoiei minhas mãos na cintura. – Acha que eu nunca descobria sobre essa sociedade vampira?

-Você queria que eu dissesse o que? – ela se exaltou. – “Hei Hellena, você já ouviu falar do bar vampiro? O que acha de irmos dar uma voltinha por lá?” – disse com a voz carregada.

-Seria uma boa, até porque um bar assim só existe em dois lugares em todo mundo. Aqui na Europa no norte, e nos Estados Unidos. – ergui as mãos para o alto e virei de volta para o espelho.

-Olha, só existe aqui na Europa por causa dos três meses de noite, os vampiros sobrevivem na luz, mas odeiam ficar em exposição a ela. E nos EUA por que eles gostam da America, mas... Eles não gostam que outras raças visitem o estabelecimento deles.

-Ah, pare de ser chata, quem não gosta de uma súcubo? – ergui uma sobrancelha rindo e me lembrando de Adrian.

-Eles não. Acredite em mim, ir para lá é loucura.

-Eles não podem fazer nada comigo. – rolei os olhos.

-Hell, não faça isso. – ela pediu.

-Urgh, pare de ser chata. – reclamei.

Sai do quarto usando calças de couro com botas ate o joelho. Peguei um treach coat e abotoei ele, dando um nó com a faixa na cintura.

Blake saiu correndo trás de mim.

-Hellena!

Não respondi nada, apenas continuei a andar. Fechei os olhos, e me concentrei, meu corpo começou a levitar, como quando me transformo. A voz dela começou a ficar longínqua e distante, ate sumir, junto com toda a paisagem de Verona, sendo substituída por outro lugar, um lugar cinza e cheio de prédios.

Suspirei, me teletransportar cansava muito.

Devia ser umas sete da noite, mas aqui mais parecia que já era de madrugada. A rua estava deserta e não havia sinal de ninguém por perto por menos de um quilometro.

Havia prédios velhos e em ruínas dos dois lados da rua.

Apertei o casaco de lã com mais força em meu corpo. Senti um arrepio subir por minha espinha, olhei para o lado e um grupo de três humanas acompanhando um vampiro andava em direção a um galpão.

Empertiguei-me vendo as roupas góticas deles. Andei rápida até eles.

-Boa noite. – usei minha melhor voz sedutora. O vampiro de longos cabelos loiros amarrados atrás da cabeça me analisou. Usava uma camiseta negra de mangas compridas, apertada e gola V.

-Boa... Quem é você? – franziu a sobrancelha, provavelmente sentindo os efeitos do meu feitiço de súcubo, ou a minha “marca”.

-Meu nome é Hellena. Um vampiro me contou sobre esse bar, e estou louca para conhecer. – usei meu melhor sorriso ‘Helena de tróia’, minha querida chara.

-Outras raças não são bem vindas aqui.

-E essas humanas? – indiquei elas com a cabeça, as três estavam com olhos confusos e sorrisos fixos.

-Hipnotizadas.

-Sinto cheiro de morfos e demônios por todo canto.

-Mas não de súcubos ou íncubos.

-Eu esperava mesmo poder ir para essa festa. – fiz biquinho parecendo realmente entristecida. Levantei meus olhos para ele. – Não poderia me ajudar a entrar?

Ele parou, sentindo a tentação de ceder. Virou os olhos para o céu, achando que assim meu feitiço não implicaria em sua decisão. Voltou os olhos escuros para mim.

-Me contaram que estavam mais complacentes com outras raças.

-Tudo bem – murmurou dando-se por vencido - Mas esconda sua “assinatura” está bem? Finja ser uma vampira. E a propósito, meu nome é Jeremy. – virou-me as costas e foi em direção ao galpão. Fiz como ele disse e misturei meu cheiro com o dele, fazendo-me uma vampira.

Segui ele ate uma parede solida de metal. Jeremy tateou em busca de uma caixinha, abriu ela e puxou uma alavanca que só um vampiro conseguiria mover. A porta se abriu com um estalo, e um corredor surgiu a nossa frente.

Fez um gesto com a mão, me indicando a entrada. Passei por ele sendo acompanhada das humanas.

-Quem te contou sobre esse lugar? Não são todos que sabem dele. – se aproximou e sussurrou perto do meu pescoço. Sorri e olhei ele por baixo dos meus cílios.

-Não sabe o quão esse bar é famoso por ai.

-Meu criador é um dos donos. – murmurou. – Eu sou o procurador dele.

Os vampiros se organizavam de uma forma estranha, diferente do jeito súcubo de se organizar. Eu não entendia os postos deles, mas sabia que havia um grande respeito entre criador e criado, um laço muito forte.

Jeremy cheirava a cravo e pimenta, um cheiro picante. Se podia perceber muitas coisas através da “assinatura” de cada imortal. Já começava adivinhar o temperamento dele.

-Se ficar misturando seu cheiro com o meu, vão achar que é minha criação.

-Foi mal... – fundi o cheiro com o de outros vampiros que estavam por perto. Jeremy respirou fundo.

-Esta melhor, apesar de eu preferir seu cheiro normal. – disse de um jeito que me lembrou muito as cantadas que eu levava em festas nos meus quatorze anos, e foi fofo.

-Eu cheiro a o que?

-Angelicas, amoras silvestres, e... Um cheiro doce, um doce de calda de açúcar... Com nozes... E noz moscada... – franzia o cenho tentando achar meu cheiro na mistura de odores.

-Praline. – sorri simpática me lembrando de Alec.

-Isso... Nossa, esse doce é muito antigo.

-É... Já me disseram isso.

Paramos de falar quando uma musica hipnotizante começou a soar mais e mais alta. Eu já havia escutado a musica, mais fiquei ignorando, agora era praticamente impossível.

-Se cuide. Estarei por perto. – Jeremy murmurou em meu ouvido.

As “pessoas” dançavam contorcendo o corpo em uma dança lenta e que me lembrava o colear de uma cobra, como se estivessem todos enfeitiçados e em um momento de êxtase.

“I know you want it (Eu sei o que você quer)
I know you fear it (Eu sei que você teme)
I know you need to (Eu sei o que você precisa)
But still you fear it (Mas você ainda teme que)
Allow yourself (Permita-se)
To be wild (Para ser selvagem)”

Era mais ou menos isso cantado em ingles, com uma voz baixa e sinuosa.

Não sabia bem o que aquela mulher de voz estonteante tinha, mas na hora, eu senti um forte encanto em mim, e a forte vontade de dançar, contorcer meu corpo naquele ritmo de tambores.

-O que esta havendo? – mumurei com meus olhos tremendo por baixo das minhas palpebras cerradas.

Jeremy me segurou e arrastou-me para um canto.

-Quantos tempo você tem?

-Três anos como imortal.

-É uma bebe. – ele zombou.

-O que isso tem haver? – apertei meus olhos tentando me concentrar.

-Os povos antigos acreditavam que os tambores tinham o poder de os conectarem com seus deuses interiores. Eles entravam em extase.

-Que droga de cantora é essa? – gemi.

-Ela é uma Fae.

-O que é um Fae?

-São criaturas magicas, somos nos. Nos somos Fae. Ela é um tipo de Fae hipnotizador. Por isso sua voz tem esse poder sobre jovens e mentes mais fracas, como você e os lobos. Se concentre.

Apertei meus olhos e pouco a pouco, a musica começou a se esvair de dentro de mim, aliviando e tirando minha tentação.

-Prontinho. – ele sussurrou esfregando meus braços.

-Ora, ora... O que temos aqui? Uma súcubo bebe? Em meus dominios. Que grande honra. – levantei meus olhos até um vampiros com um cavanhaque e um rosto de aparencia estrangeira.

-Criador. – Jeremy se curvou.

-Como se chama mocinha? – ele se dirigiu a mim.

-Hellena. A princesa do espirito. – falei erguendo o queixo. Todos vampiros por perto riram mostrando as presas que só usam quando estão bravos, ou quando vão comer.

-Que surpresa...


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