Memórias de Bellatrix Lestrange escrita por Shanda Cavich


Capítulo 7
Demência




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Uma nova guerra havia sido iniciada enquanto estive presa. Meus anos em Azkaban me impeliram a admitir um sentimento que eu sempre acompanhei com temor. O ódio. Agora sim eu tinha motivos para adorá-lo. Agora sim eu teria prazer em explorar suas emendas sem preocupação. Eu precisava suprimir minhas cobiças, através dele. Crucio. Principalmente sobre aqueles que ousaram seguir contra Milorde. Foram eles os culpados pela minha derrota. Derrota ilusória, eu diria. Pois eu retornei, conquistando a maior carta do jogo.

"Chegaram mesmo a acreditar? Tiveram a ingenuidade de pensar que o Lord das Trevas realmente foi morto?" – eu ria e gritava, apontando minha varinha aos dois aurores do ministério que foram responsáveis pela minha captura. "Crucio!", eu gracejava e sorria, saltando entre os confins, ao perceber quanta dor eles sentiam. "Crucio!". Quanta satisfação! Agora eram eles que imploravam para mim. Ajoelhados e humilhados. Acredito no poder da dor. E dor vem a calhar nessas horas. A Maldição Cruciatus sempre obrigou as pessoas a me fazerem feliz por alguns instantes, até que finalmente eu pudesse dizer: – Avada Kedavra!

Então os dois aurores morreram.

Logo em meus primeiros dias em liberdade, Lord Voldemort já incluía planos envolvendo seus mais fiéis Comensais da Morte. Naquela época, o mundo bruxo não acreditava em hipótese alguma que Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado havia voltado. Momento perfeito para começar a agir. Era o ano de 1996. Estremeço ao lembrar de como o fim daquela noite fora trágico. Mas algo em particular me fez bem. Muito bem, por sinal. No momento em que matei o homem, que naqueles tempos eu já o tinha desconsiderado como primo, senti-me gloriosa. Menos um Black traidor do sangue na família. Então a próxima em minha lista passou a ser Andrômeda.  

"Eu matei Sirius Black! Eu matei Sirius Black!", gritei pelo grande saguão. Até que Harry Potter, o mestiço imundo, me amaldiçoou. Ou melhor, tentou me amaldiçoar, obtendo absoluto fracasso. Bebezinho estúpido! Na cabeça dele, deve ter achado que fez grande coisa. Mas naquele mesmo instante, eu ri por dentro. Era uma questão de tempo até que Tom aparecesse. Depois descobri que a profecia fora destruída. Enquanto todos os outros Comensais da Morte haviam sido capturados pelos aurores, eu havia sido poupada. Tom voltara para me buscar naquela noite, antes que ousassem me prender novamente.

"Silêncio, Bella! Você não sabe o quanto estou furioso!" – disse Tom, enquanto eu suplicava longas e aprazadas desculpas, através de incontáveis reverências. – "É melhor você ter uma boa explicação para o que aconteceu hoje. E pare de pedir perdão, antes que eu enlouqueça!"

"Milorde, por favor... Eu juro que não se repetirá! Agradeço muito pelo que tem feito por mim, mas... Mas e os outros, como sairão de Azkaban? E Rodolfo! O que será dele?"

"Incarcerous!" – uma corda saltou de sua varinha e veio em minha direção, sufocando-me lentamente. – "Por favor, Bella... Diga que me ama. Diga! Diga que ama somente a mim!"

"Milorde... O senhor sabe..." – minha voz estava enfraquecendo. A corda começou a subir em volta de meu pescoço. – "Solte-me!"

"Antes diga, Bella! Preciso ter certeza!" – Os olhos de Tom Riddle estavam em chamas.

"Amo." – eu disse quase em um sussurro. Logo, a corda se soltou e esvaeceu.

"Eu precisava ouvir." – Tom abaixou-se em minha frente. Sua voz estava tão calma que parecia outro homem. – "Por um instante, eu duvidei. Contudo, agora ficarei tranqüilo, sabendo que fiz a coisa certa cumprindo minha palavra. Pois veja só, você ainda é livre, Bella. Livre e minha."

No ano seguinte meu sobrinho, Draco, a quem eu tive tão pouco tempo para orientar, fora convocado para uma virtuosa, porém difícil, missão. Ciça estava começando a perder o juízo. Com o marido na prisão, e o filho tentando matar Dumbledore dentro da própria escola, ela tinha motivos para isso. Entretanto, jamais devia ter pedido ajuda ao um traidor como Severo Snape. Eu não poderia culpá-la. O Lord das Trevas ainda confiava nele.

"Tia Bella, a senhora pode me ensinar Oclumência?" – disse Draco, desajeitadamente, como se o que estivesse me pedindo, pudesse de alguma forma prejudicá-lo.

Por um instante eu ri, mesmo não tendo graça nenhuma na situação. Draco chegou a se assustar. O efeito que minha risada fazia nas pessoas era tão avassalador que até eu mesma me surpreendia.

"Por que surgiu esse interesse agora, garoto? Não está querendo esconder alguma coisa, está?"

"De jeito nenhum. Mas pretendo me defender do professor Snape, caso ele queira... você sabe... Levar vantagem."

Quando Draco Malfoy mencionou seu professor favorito daquele jeito, tive a certeza de que Snape estava mais do que interessado em cumprir a missão de meu sobrinho. Mais tarde eu descobriria o porquê. Mas naquele momento, resolvi ajudá-lo. Se Ciça soubesse teria ficado furiosa, já que foi propriamente ela quem insistiu em procurar Snape.

"Muito bem, Draco. Mas me prometa que não aceitará ajuda de seu professor."

"Não devo contar nada a ele?"

"Nada! Nem pra ele nem pra sua mãe, ouviu? O que você tiver que perguntar, pergunte a mim!"

"Confio na senhora." – finalizou Draco. Seu tom de voz arrastado era exatamente como o do pai.

Meses depois, o plano da invasão através do armário sumidouro foi inteiramente bem-sucedido. Porém, quem matou Dumbledore foi Snape. Mas o que realmente importava não era exatamente quem havia matado o diretor, e sim o fato de ele havia morrido. Dumbledore finalmente estava morto! Não demoraria muito até que o mundo da Magia se tornasse um caos.


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