Memórias de Bellatrix Lestrange escrita por Shanda Cavich


Capítulo 6
Azkaban




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Eu não estava chorando. Chorar não era permitido quando se tinha um sobrenome pesando nos ombros. A voz farpada de meu pai me assombrava a mente a cada minuto, lembrando-me do quão fraca eu estava sendo. Não me deixava escolhas. Meu sofrimento devia ser seco, no mais fúnebre sentido da palavra. O sentimento de culpa não existia em mim. Nenhum remorso, nenhuma dúvida. Sabia que seria recompensada. Tom viria me buscar. Isso era uma certeza.

Arrancaram Rodolfo do meu lado assim que chegamos à ilha. O som de sua voz não mais me acalmaria quando eu estivesse nervosa. Seus braços não mais me abraçariam, quando eu não me sentisse segura. Ele não estaria mais por perto, quando eu fraquejasse. Seus olhos não encontrariam mais os meus para ele me dizer o quanto me amava. "Boa noite, minha querida.", ele disse como se fosse me ver pela manhã. O rosto dele se afastou, debatendo-se entre as correntes.

"Nós sairemos daqui, Bella. Seja forte! Por favor, seja forte!" – disse Rodolfo em meio a soluços aguados. E essas foram suas últimas palavras antes de ser levado à ala oeste. Gritei por seu nome até minha garganta secar. Então me levaram até meu novo lar. Sujo, imundo. Digno de um inferno.

Os dementadores visitavam aqueles que de alguma forma se sentissem felizes ou esperançosos. Cada bom pensamento era roubado e destruído. Até que o detento se tornasse um corpo vazio, dotado apenas de tristeza. Muitos se deixaram levar. Muitos foram fracos. Mas eu suportei até o fim. A solidão foi gentil comigo. O céu escuro me permitiu sonhar. Nos sonhos eu era livre. E Milorde estava ao meu lado.

A comida era escassa. Aprendi a torná-la real. Senti meu rosto sendo destruído aos poucos. O pequeno espelho ao lado da cama me forçava a encará-lo todos os dias. Percebi que já haviam se passado anos, e eu ainda era uma prisioneira. A frieza foi minha única aliada. Ajudou-me a esconder minhas lágrimas, que ficaram guardadas dentro de mim por tanto tempo.

Um dementador pousou ao meu lado. Suas longas vestes negras sacudiram a minha volta. A sensação de angústia voltou a me perturbar. Então a voz de Tom silvou em minha cabeça. "Você é mais do que pensa, Bella. Precisa acreditar nisso.". O dementador recuou. Vencido por minha crença e convicção. Milorde não estava ali. Mas eu ainda sentia sua presença, a sua força protegendo a mim.

Dava a impressão de que minha cela diminuía conforme o tempo. Conversava comigo mesmo para evitar o inevitável. A tristeza. Teria que passar por tudo aquilo. E sem reclamar. Foi escolha minha unir-me a Lord Voldemort. Não devia envergonhar-me de minha própria decisão. Não entrei nessa guerra apenas pela causa, mas também por um mestre ocasional, uma fúria, e um convite ao perigo. Vivia meu destino como em um devaneio, sem saber quem eu era, ou o que eu era. Apreciando somente o fato de algum dia eu ter existido e amado.

Eu ria, então gritava. Condenava e amaldiçoava os céus, pela alegria em ter liberdade ao menos para isso. Murmúrios de fora me contavam que aurores vinham de lá, carregados de prisioneiros, que assim como eu, eram adeptos ao Lord das Trevas. Com raras e cuidadosamente escolhidas palavras eu disse a eles que sou uma Black, e esperaria até o mais corajoso ceder ao meu desafio. Nenhum dementador foi mandado a minha cela. Nenhum maldito auror ousou me ameaçar. Logo, meus olhos brilharam maldosamente ao perceber que ainda suportavam a vontade de chorar.

E eu comecei a rir. Uma profunda risada gutural se transformou em gargalhadas barulhentas, exaltadas e agudas. Quase imaginei uma voz chamando meu nome, de tamanho era o surto de ansiedade. A partir deste dia, eu passei a sorrir. Tão somente a sorrir. Aprendi que Dementadores vencem os fracos. E eu não deixaria que desfalcassem minhas lembranças. As únicas responsáveis pela minha sobrevivência naquele lugar.

Ouvi o choro de uma bruxa jovem. Por um momento, achei que fosse Narcisa. Minha única e verdadeira irmã. Se ela realmente estivesse ali, eu teria enlouquecido. Não me perdoaria se deixasse algum mal acontecer a ela. Azkaban nunca foi o lugar certo para alguém tão puro como Narcisa. Fique aliviada ao saber que não era ela. Então me lembrei de sua voz inocente na noite em que matei os Prewett.

"Fiquei preocupada. Onde você esteve, Bella?"

"Tornando o mundo um lugar melhor, Ciça."

"Pode me contar como?" – disse ela, com real curiosidade.

"Ainda não. É cedo demais para isso. Mas você pode confiar em mim. Comigo por perto, você sempre estará segura."

O tempo estava se tornando incalculável. A espera por meu mestre servia-me de consolo. A esperança foi algo que eu sempre manti aceso. Meu coração, agora adoecido em frieza dedicava suas batidas somente a ele. Aguardava ansiosa por algum sinal, algum rumor de que ele teria voltado para trazer novamente brilho aos meus dias.

Durante aquela noite, eu estava acordada. Encarando as nuvens como se fossem rostos. Chegou o momento em que a imagem de um crânio esverdeado formou-se entre elas. A Marca Negra em meu braço avisou-me de que ele tinha chegado. Um berro alto e aguçado formou um feitiço, que naquela época, eu desconhecia. Exatamente o local onde ficava minha cela foi derruído por completo. Caí para trás, levando um susto. Quando olhei para cima, uma mão pálida estava estendida diante de mim.

Tom estava em minha frente. Tão forte e tão poderoso, que quase senti medo. Quando finalmente tive energias suficientes para crer no que acabara de acontecer, escondi meu rosto com as mãos, envergonhada pela minha aparência maltratada.

"Não se esconda de mim, Bella. Por favor." – disse Tom, erguendo-me do chão.

"Perdoe-me, Milorde... Mas eu estou tão..."

"Estás radiante, Bellatrix!" – e pela primeira vez, ele me abraçou de verdade, sem receio sobre minha reação. Retribuí ao gesto, inteiramente encantada. – "Ainda mais viva e enérgica do que antes, tenho certeza! Diga adeus a este lugar. Pois neste chão você não pisará nunca mais. Dou-lhe a minha palavra."


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