é sempre assim! escrita por joss


Capítulo 2
ESA 2 - Cecília e Sofia no ringue pelos garotos




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Renato usava calça jeans e uma camiseta vermelho-vinho. Subiu as escadas apressado, um pouco apertado para usar o banheiro de tanto beber guaraná – nada de álcool para o atleta.

Assim que chegou no topo da escada seus olhos se cruzaram com os olhos de vidro de Erick.
Ele percorreu as roupas esquisitas do meio-irmão de André com estranheza: calça de flanela verde e preta que mais parecia um pijama, camiseta preta de mangas compridas com uma enorme caveira prateada na frente e botas de combate com correntes. Pulseiras de couro por cima da manga e duas tiras de couro – que Renato podia jurar que pareciam uns suspensórios – penduradas pela calça, como uma espécie de punk-rock dos anos oitenta.

- Oi! – tentou ser simpático com um largo sorriso. – Você deve ser o irmão do André.

- Ele não é meu irmão. – replicou Erick sem a menor simpatia. Renato reparou nos piercings de argola na boca. Era uma visão do além... e antipático ainda por cima!

Sem dizerem mais nada um para o outro, Renato entrou no banheiro e Erick desceu as escadas para entrar na festa sem a menor disposição. Quem teria vontade de comemorar a morte da mãe e o fato de ter sido expulso de casa por seu padrasto? Que droga esse aniversário...

Assim que chegou no jardim onde o churrasco rolava Erick sentiu todos os olhares curiosos percorrerem sua calça de flanela, suas pulseiras e seus piercings. Qual era o problema desse pessoal? Ele estava limpinho, tinha tomado um banho enorme e nem estava mal vestido, ou estava? Reparando bem naquele monte de patrícias e mauricinhos, talvez ele estivesse meio fora do conceito... – meio?!

Como era a praxe de seu figurino, mandou mentalmente todos a merda e continuou entrando na festa de adolescentes, passando por duas garotas gêmeas que paqueravam o bartender.

Cecília era uma das gêmeas. Estava vestindo roupas idênticas a da irmã: um vestido de verão tomara que caia creme com bordados nas pontas marrons, os cabelos loiro-alaranjados compridos tinham cachos feitos em uma tarde no salão presos do lado direito com uma flor de pano marrom – da mesma cor que os bordados. Havia uma fitinha marrom que passava pelo vestido creme bem em baixo dos seios redondos. Cutucou com o cotovelo a irmã que pegava um Kyr Royal azul das mãos do bartender:

- Credo, que garoto mais escroto. – comentou sem pudores.

Sofia girou nos sapatos marrons e antes de beber do seu drink acompanhou com seus olhos castanho-esverdeados o dedo da irmã, apontando sem vergonha para um garoto com jeito descolado e esquisito:

- Que gatinho... – murmurou meio sem graça, perdendo o fôlego de uma só vez.

Cecília encarou a irmã um pouco incrédula e reconheceu naquela carinha de nariz arrebitado que era igual a sua, uma expressão abobalhada. Sofia não só estava falando sério como estava encantada com o garoto estranho de calça xadrez preta e verde como um pijama velho de avô.

- Ora, vamos lá que vou te apresentar a ele! – Cecília passou o braço pelo braço da irmã.

Mas Sofia logo escapou, virando-se de costas e dando um largo gole em sua bebida azulada:

- Agora não, Ceci.

Ah, mas era a deixa “Estou a fim dele e não vou lá porque sou uma idiota tapada” que Cecília odiava ouvir da irmã. Não era porque elas eram idênticas que tinham de ser parecidas no quesito personalidade e nem se amarem como boas irmãs. A maioria das vezes as duas passavam se odiando, porque Sofia era sensível demais e toda metida a artista, pintando quadros idiotas e tentando tocar seu violino... enquanto Cecília era intensa demais, azarando os garotos da escola com seu decote avassalador, fingindo sempre pesquisar algum tema para o jornal da escola, para onde passava a maior parte do tempo escrevendo.

Cecília se viu tentada em pentelhar a irmã e arrastá-la até o garoto esquisito só para vê-la se atrapalhar com as palavras e perder a pose – o que ela adorava, já que dessa forma sentia-se a mais bonita, a mais segura de si e a mais perfeita das irmãs. Não contou duas e puxou Sofia pelo braço:

- Vamos lá! – encorajou.

Cecília acabou indo sozinha, porque Sofia ficou para trás. Assim que ela chegou perto do garoto, André o puxou para sua mesa:

- Erick, quero te apresentar a minha namorada, Joyce... – André apontou para a bela garota de cabelos castanhos e pele pálida vestindo rosa, bonita demais até mesmo para André. – E Guta, uma de minhas melhores amigas. – Guta era bonita também, embora suas bochechas rosadas da timidez tivessem menos impacto que os lábios cor-de-cereja de Joyce.

- Muito prazer. – as duas meninas disseram em coro quando André o apresentou. As duas se entreolharam um pouco curiosas, mas sorriram para Erick com beleza.

- Senta aí, o Renato deve estar chegando, é meu melhor amigo. – André puxou uma cadeira para o irmão sentar na mesma mesa que eles.

Erick encarou André com uma camiseta amarela com desenhos azuis de um barco à vela e gola pólo. André era um mauricinho insuportável, com calça da Levis e tênis social da Reebock, que tinha uma namorada e uma amiga usando M. Officer dos pés a cabeça. Por que ele tinha que morar com gente assim?! A contragosto, sentou-se.

- Olá gente! – Cecília chegou. Olhou para trás procurando a irmã e não a viu no meio da multidão achando que Sofia tinha se escondido e fugido como um cachorro assustado. – Sou eu, Cecília!
- Ceci! – Joyce sorriu para a amiga. – Senta aí!

- Erick, essa é a Cecília! Ela estuda conosco, é a jornalista mais sabichona da escola, encarregada não só pelo editorial do jornal como também pela coluna de entretenimento. – André a apresentou.

- Bem eu faço o que posso! – Cecília se atirou na cadeira entre Erick e Guta, passando a mão delicada pelos cabelos avermelhados. – Mas sabe como é... o jornal está uma droga sem um fotógrafo decente, o Adalberto, atual, é uma bosta completa e não tira uma foto decente... as vezes nem colocamos foto nenhuma por causa dele e o jornal fica mais bosta ainda!

- Você não ganhou um concurso de fotografia no ano passado, Erick? – André perguntou lembrando-se da conversa de seu pai com sua mãe no aeroporto. – Talvez pudesse ajudar a Cecília no jornal da escola.

Erick mais uma vez sentiu como se todos os olhos se virassem para ele, analisando-o. Joyce, Guta e Cecília o encaravam com olhares ansiosos esperando por uma resposta.

- Talvez, não sei... – respondeu meio sem jeito. – Nunca tirei fotos pra jornal antes.

- Se você não tiver câmera nenhuma a gente tem uma Cybershot no Colégio, que o Adalberto usa e as fotos imprimem legais no jornal. – Cecília continuou, empolgada.

Erick torceu o nariz. Uma Sony Cybershot era uma câmera para amadores tirarem fotos de baladas, era óbvio que as fotos do jornal ficavam ruins. Ele tinha uma Canon Rebel K2 Analógica 35mm e uma digital Canon EOS XT de 8.0 megapixel e uma coleção de lentes diversas, mas ainda assim, só tirava fotos porque não tinha muito mais coisas para fazer e era um hobby que adquirira há dois anos atrás quando ganhou uma câmera de aniversário de sua mãe - a digital.

- Por que você não leva um portfólio para o Jornal? Tenho certeza que a Cecília pode dar uma mãozinha a ingressar na equipe... – Joyce completou, fazendo parecer que Erick queria entrar para o jornal de uma escola que ele nem conhecia.

- Além do mais, qualquer coisa é melhor do que o Adalberto. – André falou, dando um tapinha no ombro de Erick. – E aí?

- Ah, tá... posso levar algumas fotos se for o caso... algum dia.

- Ótimo! Assim eu espero você no jornal amanhã depois da aula!

- Combinado! – André falou por Erick – Que sorte o seu primeiro dia de aula, hein?

- Você costuma fotografar o quê? – Cecília puxou papo, olhando por cima da cabeça de Erick procurando Sofia.

Sofia estava com os dedos dos pés vermelhos porque Renato havia dado um pisão distraído enquanto ela era puxada pela irmã.

- Puxa, vou recompensar com uma bebida, que tal? – ele tentou ser educado segurando-a pelos ombros delicados enquanto a menina fazia cara de dor.

- Tudo bem. – Sofia concordou.

Renato a conduziu para o bar, onde ela havia largado o Kyr Royal. Pediu um guaraná para ele e um Cosmos para ela.

Sofia sorriu:

- Obrigada.

- E aí – Renato puxou assunto. – quanto tempo! Você anda um tanto sumida...

- É, ando meio atarefada com os estudos de música!

- Sei como é, também ando meio cheio de coisas com o basquete... quinta-feira tem jogo!

- Estou sabendo...

- Vê se aparece mais, você e Cecília!

- É... você sabe como é... – Sofia tentou esconder suas lembranças. Na verdade da última vez que Cecília a vira falando com Renato ficou tão furiosa com a irmã que ameaçou arrancar sua cabeça com um garfo no jantar em casa. Cecília era louca por Renato e não suportava a idéia da irmã gêmea conversando com o menino dos seus sonhos.

- Sei sim. – ele respondeu imaginando que Sofia queria dizer que “ele sabia como era estar atarefado”. – Mas você vai ao meu jogo na quinta, não vai?

- Não sei... – por cima do ombro Sofia procurou pela irmã. Encontrou Cecília conversando sentada numa mesa com o garoto esquisito por quem havia se derretido há pouco. – Mas eu acho que posso arrumar tempo para ir ao seu jogo sim...

Afinal, se Cecília podia conversar com seu garoto, porque ela não podia conversar com o dela?

- E que tal no cinema um dia desses?

- É, pode ser...

Do outro lado do salão, Cecília avistou a irmã conversando com Renato no bar, de costas. Seu sangue ferveu e de repente, estava soando gongo do ringue de disputas entre as irmãs. Só esqueceram de avisar os garotos para eles também usarem suas luvas de boxe...!


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