é sempre assim! escrita por joss


Capítulo 1
ESA 1 - André conhece seu meio-irmão Erick


Notas iniciais do capítulo

Essa novela eu disponibilizo em outros sites, é original, espero que gostem. ^^



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Os vôos estavam atrasados. O aeroporto estava um caos com tanta gente esperando a hora do embarque e mais um monte de gente esperando o desembarque de seus parentes, amigos, conhecidos...

André era um deles. Sentava-se desinteressado em uma mesa de um café cheio de gente. Vestia um suéter azulado e calça jeans, e brincava com os dedos enrolando um de seus cachos castanhos que caiam por cima das orelhas. Com seus olhos castanhos, percorreu todo o aeroporto um pouco entediado e suspirou cansado.

- É... está demorando. – comentou seu padastro sentado olhando para o relógio Rolex que tinha sido presente de Natal há uns meses atrás. Em cima da mesa seu capuccino submarino com chantilly extra esfriava. Márcio era um homem alto e um coroa boa pinta, seu corpo estava em forma e não tinha ainda pêlos grisalhos em seu rosto e nem em seu cabelo. Vestia um terno Armani novo, que o deixava mais boa pinta ainda.

- Ultimamente viajar de avião tem sido uma loucura...! – comentou Sueli, sua esposa. Uma mulher de cabelos loiros tingidos e de rosto plastificado usando uma blusa lavanda e uma saia preta de linho combinando com suas sandálias de salto agulha. – Estou tão ansiosa para conhecê-lo!

Sueli bebericou da soda italiana com gosto de maçã-verde, esperando seu marido falar alguma coisa. Mas o problema era que não tinha muita coisa pra se falar. Estavam ali esperando uma pessoa que mal conheciam... seria triste, se não fosse tão hilário de tão anormal. A situação era a seguinte: Erick, filho de Márcio havia sido expulso de casa por seu padastro agora que sua mãe – que passou os últimos dezesseis meses em coma – faleceu... e Márcio era obrigado a receber um filho que não via à exatos nove anos, data em que se casou com Sueli – que já tinha André – e virou as costas para a família antiga.

- E como é que ele é, pai? – André perguntou com respeito a seu padastro. Márcio podia não conhecer seu filho verdadeiro, mas era um paizão para André.

- É jovem. – Márcio respondeu bebendo o capuccino frio, sem saber por onde começar. – E pelo que me lembro ele não é muito alto, tem olhos azuis e cabelos curtinhos arrepiados escuros...

- Certamente é tão bonito quanto você, querido! – Sueli comentou orgulhosa, meio sem saber o que achava da situação. Márcio tinha olhos azuis e cabelo escuro, ela pensou que o comentário podia agradar.

André quase riu vendo sua mãe tentando ser legal em receber em sua casa um filho que Márcio obviamente não queria, mas que era obrigado a aceitar por ordens judiciais. Parece que o padastro de Erick, um tal de Gregory, não queria a guarda do filho de sua falecida esposa... tinha planos no Caribe para curtir a sua viuvisse!

- Ano passado ele ganhou um concurso de fotografia na escola. E suas notas não estão tão ruins... – Márcio tentou parecer orgulhoso, contando para Sueli e para André o que sabia de seu filho, enquanto falava remexia na pulseira do Rolex.

- Deve ser um rapaz muito inteligente. – Sueli comentou com um sorriso amarelo de batom rosa-alaranjado esquisito que a deixavam parecendo uma Barbie velha.

- O Vôo um, sete, quatro, de Brasília, fará desembarque pelo portão A3. – anunciou o alto-falante repetindo-se umas duas vezes até que conseguiram entender o que a mulher de voz metalizada estava dizendo.

- É o vôo! – Sueli se colocou de pé deixando sua soda verde pela metade, pegou sua bolsa preta de couro envernizado e a passou pelo ombro, batendo as mãos na maior excitação, como se estivesse esperando por seu próprio filho.

André também ficou de pé e seguiu seus pais pelos corredores do aeroporto apinhado de gente até que chegaram no portão A3, onde mais um apinhado de gente esperava pelo desembarque. Estava insuportável tanta gente no Aeroporto, muitos reclamavam e todos respiravam impacientes. Até o ar condicionado não estava dando conta de tantos corpos e cabeças quentes para esfriar.

Márcio estendeu uma ridícula plaquinha com o nome de seu filho escrito em caneta preta: “Erick Albuquerque” e na mesma hora André abaixou a cabeça tentando se esconder no meio da multidão para não ser visto por ninguém naquela situação. Achava idiota a idéia da plaquinha, mas fazer o quê? Eles não tinham uma foto recente de Erick, só uma descrição porca da memória de Márcio quando o garoto tinha sete anos de idade... será que as pessoas mudavam tanto? André acreditava que sem a plaquinha pai e filho iriam se reconhecer – afinal eram parecidos. Odiava aquela placa ridícula.

- Será que ele cresceu muito? – Sueli indagou esticando o pescoço para enxergar por cima da multidão as pessoas que desembarcavam uma a uma e saíam com suas malas pelo portão de vidro.

- Ele é menor de idade, deve vir acompanhado de uma aeromoça. – Márcio deu um palpite, com uma voz desinteressada e olhos visivelmente ansiosos.

- Qual é pai... eles só fazem isso se você tiver menos que doze anos! – André ajeitou seu suéter azul no corpo e colocou as duas mãos no bolso de sua calça jeans, dando uma risada divertida.
Os três ficaram ali por um tempo olhando para a porta sem resultado algum, esperando, esperando e esperando até que cansaram de esperar.

Márcio já murchava os braços, cansado de segurar a placa de cartolina e Sueli com os pés ardendo por causa do salto, remexia o pé para amenizar a dor.

André encarava os cordões desamarrados de seu sapato com preguiça para se abaixar e tornar a fazer um laço. A porcaria do seu Rebook branco vivia desamarrando os cadarços e ele sempre tinha que se abaixar feito um otário e amarrar o sapato no pé. Agora não precisava, não era como se fosse tropeçar só porque estava em pé... Passeou seus olhos castanhos com desinteresse para todo o pessoal que ao desembarcar passava pela porta de vidro.

Lá dentro da sala de desembarque uma pessoa estranha chamou atenção de André: era um garoto assim da sua idade, com os cabelos castanhos bem lisos que caíam por cima dos ombros em pontas desfiadas em algum corte bem caro de algum salão de grife. Estava com uma cartola fora de moda na cabeça, parecendo que saiu de um clipe antigo dos anos oitenta da MTV. Camiseta branca de manga curta, pulseiras de couro que eram tantas que quase cobriam os braços todos, calça xadrez, ridícula, de flanela vermelha cheia de correntes e botas de combate, com mais algumas correntes. Para completar o visual, seus lábios avermelhados tinham dois piercings em argola – um de cada lado – da boca, no lábio inferior.

Ele vinha puxando uma mala preta enorme com tanto desleixo que a mala o tempo todo tombava para o lado fazendo-o parar e arrumar a mala enorme novamente. Parecia um rock-star fora de moda, especialmente por que usava um óculos escuro redondo. Chutou a mala acertando as rodinhas no piso e saiu pela porta de embarque como se procurasse alguém. André riu. As pessoas são mesmo estranhas e é cada “tipinho” que se vê pela rua hoje em dia...

Voltou a encarar os pais, ainda com os pescoços esticados procurando no além da sala de desembarque que já estava completamente vazia e que não tinha nenhum garotinho de cabelos espetados esperando... talvez tivessem errado o vôo! Quem conseguia entender direito o alto-falante? Será que iam ter que esperar muito?

André estava entediado. Sueli impaciente e Márcio ansioso.

O inesperado aconteceu bem naquele instante: o garoto rock-star-fora-de-moda aproximou-se de Márcio e Sueli, desinteressadamente tirando os óculos e grudando-o na gola da camiseta.

- Oi. – disse parando a enorme mala de frente para os dois.

Sueli fez uma cara de desdém, analisou a roupa do garoto. Márcio adiantou-se, meio sem jeito:

- Filho! Quanto tempo! – arfou o homem abraçando-o. Depois foi a vez de Sueli beijar-lhe as faces geladas do ar-condicionado. – Essa é Sueli... e André. Seja bem-vindo!

- Obrigado. – Erick respondeu soltando a mala. Os olhos azuis eram tão frios e sem emoção que pareciam de vidro. Estendeu a mão para André que tentando ser legal recebeu o aperto de mão gelado.

- É, seja bem-vindo. – repetiu meio que nem um robô, em estado de choque. Aquele era Erick?

Analisando aquelas roupas ridículas André não pode conter-se! Espere só até seus amigos colocarem os olhos em seu novo irmão?! Ia ser algo extremamente engraçado!


~*~

Joyce entrou no provador feminino levando consigo uns dez vestidos todos da mesma cor – marrom chocolate – de modelos parecidos para provar. Era claro que em seu corpo perfeito de modelo todos os vestidos fariam a garota espetacular. Seus cabelos castanhos lisos e seus olhos de mesma cor sempre caíam em um tom contrastante com sua pele pálida como uma verdadeira Branca de Neve... e Joyce era mesmo uma princesa das neves, pronta para brilhar.

Guta a esperava do lado de fora, sem animo nenhum para escolher um vestido para si mesma, ainda chateada com a notícia que tivera no verão: durante as férias na praia Joyce sua melhor amiga, não descolara da boca de André. Guta gostava de André, era seu segredo... guardado em seu diário cor-de-rosa e trancado em seu armário!

Guta não era assim tão princesa-de-contos-de-fadas como Joyce, mas nem por isso era feia. Ela era mesmo bonita: cabelos louros lisos que recebiam um retoque luminoso todo mês no salão mais caro da cidade, tinha um corpo diferente, com curvas enlouquecedoras – um quadril enorme que ela podia detestar, mas os meninos adoravam! – e uma pele branquinha meio rosada, uma gracinha.

- Tadá! – Joyce falou aparecendo pelo corredor do provador com um dos vestidos curtinhos mostrando suas pernas brancas. – Que tal?

- Acho que esse marrom não caiu bem em você – Guta logo falou. Não era de todo mentira, mas dizer que Joyce estava feia era um pecado! Joyce podia fazer o que quisesse que nunca ficaria feia.

- E que cor você sugere então?

- Um rosa queimado. – Guta logo estendeu para ela um vestido rosa-queimado que estava ali perto pendurado na estante, meio que se odiando porque de rosa-queimado Joyce ia ficar mesmo a verdadeira princesa. Devia deixar a amiga ir com cara de hippie e encantar menos o namorado.

Tarde demais! Joyce estendia a mão pedindo o vestido rosa enquanto a atendente da loja se preocupava em anotar que as garotas estavam entrando com mais um vestido para a prova. Pegou o vestido e fechou o provador indo se trocar.

Guta respirou fundo um pouco cansada. Estavam há horas escolhendo roupas para o churrasco de aniversário que André daria domingo em sua casa.

- E aí? Como estão indo? – Renato se aproximou trazendo algumas camisetas nas mãos. Era um rapaz bonito – bonito era pouco, Renato é o tipo de cara que toda menina sonha em ver só de cueca em um outdoor em plena avenida. – de cabelos castanhos bem lisos e curtos e olhos de um verde estarrecedor. Seu corpo torneado era agravado pelo fato de que Renato era um esportista incorrigível, era o melhor atleta do time de basquete da escola e arrancava suspiros das garotas da escola.

- Diga-me você! – Joyce surgiu rodopiando com seu vestido rosa-queimado. Sacana! Aquela cor ficava mesmo bem nela!

Renato parou um tempo segurando o ar em seus pulmões tentando manter seus olhos no vestido, mas não podia evitar em percorrer as maravilhosas e brancas pernas da menina. Joyce era maravilhosa em todos os sentidos.

- É, você está bonita. – Guta disse, já que Renato estava em transe o suficiente para ser incapaz de balbuciar qualquer coisa. – O que você tem ai?

Renato piscou acordando do transe e virou-se para Guta, segurando sua bolsa caramelo da cor de seus sapatos fechados, de vestido florido verde e branco.

- Ah, umas camisetas que achei que poderíamos dar de presente para André. – eles sempre compravam os presentes juntos desde a sétima série, quando começaram a andar juntos. – O que acham?

- Ele definitivamente usaria essas! – Guta se empolgou pegando as camisetas da mão de Renato. Uma delas era amarela com hibiscus preto. Já podia imaginar André usando aquela camiseta numa festa à noite, parecendo tão encantador que Guta precisaria se segurar para não agarrar o namorado da amiga.

- Sei lá. – Joyce reclamou saindo do provador descalça e com o vestido rosa-queimado no corpo de deusa das neves. – Eu estava pensando em dar outro presente, tipo, uma cueca...

Dar uma cueca de presente para o namorado sempre queria dizer estar pronta para fazer.

Renato enrijeceu imediatamente quando ouviu as palavras de Joyce. Como se as palavras fossem afiadas facas cravando-se em seu peito com fulgor. Renato era afim de Joyce desde o primeiro colegial, todo mundo meio que sabia mas fingia que não. Seria o casal perfeito, se eles ficassem juntos, coisa que não aconteceu porque André chegou antes.

- Você faz o que você quiser. – respondeu meio seco, tentando esconder o descontentamento. – Eu vou é comprar essas, você também, né Guta? – buscou apoio na colega.

- Definitivamente. – Guta sorriu. – Vamos ao caixa, te esperamos na saída, Joyce.

- Tá bom! Eu já vou! – a menina respondeu entrando no provador para trocar de roupa.
Guta e Renato caminharam até o caixa da loja. Os dois pagaram com os cartões de crédito de seus pais e pediram para a atendente embrulhar junto, porque queriam agregar um cartão de aniversário assinado pelos dois.

- Não era hoje que o meio-irmão do André chegava? – Renato perguntou tentando não olhar para trás e ver Joyce escolhendo uma cueca na ala masculina da loja.

- É mesmo. A gente podia visitá-los, o que acha?

- Não sei não... Além do quê, não quero ficar segurando vela que nem naquela viagem.

- Nem eu. – ela concordou de imediato.

Estavam os dois fartos de segurarem vela.


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