Entre Fogo e asas escrita por ACunha


Capítulo 20
A Queda e a Fuga


Notas iniciais do capítulo

Último Capítulo T.T gente, vou chorar. É tanta emoção *-* Já comecei a escrever a continuação, mas vai demorar um pouquinho pra postar aqui. Por enquanto, leiam, releiam, leiam novamente... ENFIM. Um pouco do Logan e do Collin nunca é demais, hein? ;) Aproveitem o último capítulo...



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Não deixei nenhum bilhete ridículo de adolescente fugindo de casa. Pouparia meus pais desse drama. Apenas peguei a chave do carro de Ian, joguei minha mochila no banco de trás e saí sem fazer barulho. Quando eles vissem o lugar onde a chave ficava pendurada vazio, eles entenderiam. Ou me ligariam desesperados, e eu explicaria tudo. Não pensei muito nisso. 

A porta da garagem estava escancarada, como se o bom e velho Dodge Charger estivesse me esperando a vida toda. A pintura verde escura estava descascada nas laterais, e tinha um brilho opaco sob as luzes amareladas da garagem.

Saí da cidade pensando como uma fugitiva. E se eles me pegassem? E se me colocassem de castigo? E se um policial me visse e me prendesse? Mas, assim que passei pela placa dizendo "Volte sempre!", me senti mais segura. Ainda sentia que ficaria bem melhor se Collin estivesse lá, mas bani este pensamento antes que me derrubasse novamente. 

Nos primeiros três quilômetros, tudo estava ótimo. Estava realmente abusando da sorte. Então, começou a chover. Aquele tipo de chuva que parava qualquer trânsito. Os poucos carros que estavam na rodovia ficaram mais lentos, e eu tive que ir parando também. Implorei aos céus para que nenhum policial me visse dirigindo. Eu ainda não tinha carteira. 

Felizmente, todos logo se acostumaram com a chuva e continuaram o percurso noturno. Quando eu achei que tudo ia voltar ao normal, passei por uma esquina escura, e um táxi veio escorregando na minha direção. Acelerei o carro, querendo passar ilesa, mas ele bateu na lateral da traseira do carro. Balancei um pouco com a colisão, e fiquei em estado de choque. Lentamente, desci do carro, tremendo de frio, e dei uma olhada na parte de trás. Não estava amassado, mas tinha dois arranhões finos perto da roda. Suspirei de alívio. 

-Não olha por onde anda? - o cara do táxi gritou furioso. - Eu tenho uma senhora idosa aqui comigo!

Murmurei um pedido de desculpas, sentindo que estava aliviada demais para ficar com raiva, e o escutei gritar por uns cinco minutos direto. Depois voltei a entrar no carro, ainda em choque, e voltei para a estrada. Para quem tinha perdido o irmão em um acidente de carro, eu estava até calma. Queria ver o cara do táxi ficar calmo assim. 

Já estava ficando mais tranquila quando a chuva aumentou, e os trovões começaram. Eles eram muito altos, e estavam muito próximos. Lembrei com um sobressalto de Beatrice no internato, e da árvore que pegou fogo, e logo me arrependi. Bem na hora, um trovão atingiu outra árvore bem na minha frente, e eu soltei um grito. Mas pisei fundo no acelerador e consegui escapar antes que a árvore caísse em cima de mim. Corri como louca pela estrada molhada, certa de que aquele tinha sido o pior plano da história, e só então percebi que a árvore não tinha realmente caído, só estava ligeiramente inclinada sobre outra. Ri nervosamente comigo mesma.  

Sabe aqueles momentos em que você passa por diversas experiências surreais, e só então se pergunta: "Caramba, como eu sobrevivi a tudo isso?" É mais ou menos nesses momentos em que sentimos vontade de chorar, mas acabamos rindo loucamente. E foi isso que eu fiz nos dez quilômetros seguintes. 

Até que...

O carro estalou uma vez, então começou a falhar direto. Pisei fundo no acelerador, implorando aos céus para que ele não morresse. Não aqui. Não quando eu não entendia nada sobre carros, e estava sozinha em uma estrada à noite, com uma chuva dificultando a visão de qualquer coisa à dez metros do carro. Então, quando ele parou completamente e eu fiquei presa ali, no meio do nada, eu lembrei de um pequeno detalhe.

A gasolina. 

-Droga! - Bati com força no volante, querendo arrancá-lo do seu lugar. Tentei ligar o carro mais algumas vezes, e eu acho que só estava deixando a situação pior ainda. Quando desisti e fiquei completamente parada no banco, comecei a me sentir claustrofóbica. Meu peito ficou pesado, e eu quis arrancar meu coração de lá, pela velocidade em que ele estava batendo. O que diabos eu ia fazer agora?!

Abri a porta com força, com um chute irritado das minhas botas de couro, e saí para a noite, sem me importar com a chuva. Levantei o capuz do casaco, ficando ainda mais cega. Andei alguns metros à frente do carro, mas logo desisti e dei meia volta. Quem sabe quanto tempo eu ficaria perambulando por aí procurando por um posto de gasolina até perceber que não encontraria nenhum, e estava completamente perdida? Soquei a frente do carro, sentindo que tinha me machucado seriamente com isso, mas não dei a mínima. Afundei no chão ao lado da porta do carona, abracei meus joelhos e olhei para cima, para os pingos de chuva que enxarcavam meu rosto. As gotas geladas ajudaram a aliviar um pouco a dor de cabeça, mas elas não iam encher o tanque do carro. 

-Merda - sussurrei para ninguém e fechei os olhos. - Isso é tudo culpa sua, Ian. Tudo! Você me deixou, e ainda me deixou sem gasolina. O que tem a dizer sobre isso agora?!

Cresça, maninha

Enfiei a cabeça entre os joelhos e tentei reprimir outra onda de lágrimas. Eu sabia. Sabia que não conseguiria fazer isso sem Collin. Afinal, quando é que eu consegui fazer alguma coisa sem ele? Depois que o conheci, tudo que eu fazia tinha que ter a sua participação. Mas era assim que devia ser, não é? Afinal, ele era meu anjo da guarda. Acho que é por isso que anjos e humanos não podiam ficar juntos. O humano fica tão dependente do seu anjo que chega a ser doentio. Não é saudável depender tanto de alguém assim. 

Mas e daí? Eu não me importava em ser saudável, só queria Collin, e ponto final. Era tão difícil entender isso? 

-Droga, Collin! - gritei para a noite. Então tive um susto.  

-O que foi que eu fiz?  - ouvi uma voz perguntar. Levantei a cabeça, apertando os olhos para enxergar, e vi primeiro um par de tênis surrados, seguidos por pernas cobertas por jeans desbotados, e então uma camisa branca, até chegar ao rosto dele. O rosto que eu queria tanto ver. Os olhos azuis que consertariam qualquer coisa que estivesse errada.

-Collin! - exclamei e me levantei com um pulo. Agarrei seu pescoço e me colei nele como uma sanguessuga. Seu peito tremeu com algumas risadinhas aliviadas que ele soltou, mas ele também me envolveu com seus braços fortes - como eu sentia falta deles - e enterrou o rosto no meu cabelo.

-Não acredito que me mandou mesmo embora - ele sussurrou. 

-Cale a boca - pedi. Peguei seu rosto entre minhas mãos e o beijei. Realmente, não passaria nem um segundo a mais sem ele. 

-Hum... - ele murmurou se afastando. - Então, senhorita. Problemas com o carro? 

Eu ri e o abracei de novo, rapidamente, só para me certificar de que ele estava mesmo ali. Então disse a ele que estava sem gasolina, e ele sorriu e levantou uma garrafa cheia de um líquido amarelado. Meu queixo caiu. 

-Como...? - comecei a perguntar, mas ele me calou com um beijo.

-Eu adivinhei - ele respondeu. - Na verdade, vi o ponteiro da gasolina caindo ontem. Achei que precisava de ajuda.

-Não, eu precisava de você. - Soltei um riso nervoso e então lembrei de algo crucial. - Collin...

-Sim?

Hesitei. Mas precisava fazer isso.

-Mostre suas costas - pedi baixinho.

Ele ficou sério e sua expressão desmoronou. Lentamente, ele virou de costas para mim, e apoiou as mãos no carro. 

-Vamos lá. Dê uma olhada - ele me desafiou. 

Minhas mãos pareciam ser feitas de pedra ou de gelo enquanto eu as levantava para tocar a barra da camisa de Collin. Cautelosamente, levantei o tecido branco só um pouquinho, o bastante para ver o início de uma grossa cicatriz linear, bem avermelhada, que parecia recente. Meu estômago se  revirou e eu soltei sua camisa automaticamente. 

-Ah, meu Deus - ofeguei horrorizada.

-Eu queria ainda poder dizer isso - ele resmungou. - Mas...

-Collin... - balancei a cabeça, perplexa demais para entender. - Você é...

-Um anjo caído. Pode falar, não é tão horrível assim. 

-Não?!

-Logan estava certo - ele virou para me olhar e quase deixei escapar uma risada incrédula pelas suas palavras. Mas seu rosto era solene. - Ter suas asas arrancadas não dói mais do que quebrar um dedo, e logo passa. O pior é a humilhação. Acho que foi por isso que Beatrice ficou tão furiosa. 

-Collin, do que você está falando?

-Eu sou um anjo caído agora, então se Logan quiser me matar, ele não vai despertar ira nenhuma no resto dos anjos. Então, por enquanto, temos alguma vantagem. Pode falar, ótimo plano, não é? 

Fiquei sem palavras. Até tentei falar, mas não consegui. Tentei expressar minha surpresa de qualquer forma possível, mas tudo que consegui foi um som estranho, que ficava entre um grito de surpresa e uma exclamação de ultraje. 

-Tudo bem com você? - ele perguntou lentamente.

-Tá brincando? - gritei de volta. - Você é um anjo caído! 

-É isso aí. 

-E não se sente... mal? 

-Não, não muito. Eu deveria? 

-Não sei. - Franzi a testa, perdida em confusão, e fiz uma careta. - Você não vai... se aliar a Logan, agora que é um deles, não é?

Collin riu. 

-Sam, acha mesmo que eu deixaria você para me juntar a um bando de anjos caídos fedorentos que querem sair por aí explodindo tudo? 

-Mas... - tinha ficado mais confusa ainda pela sua escolha de palavras. - Agora que você caiu, não é mais meu anjo da guarda. 

-E por que não? - ele deu de ombros. - Ninguém me despediu do cargo. Sua alma não está perdida, Sam. A diferença é que, ao contrário de quando eu era um anjo, a única forma de me matar é se arrancarem minhas asas. Minhas novas asas, que devem crescer daqui a um tempo... - ele parou, ficando pensativo por um momento. - Como acha que eu ficaria com asas negras? 

-Bem... - engoli em seco. - Diferente. 

Collin deu de ombros mais uma vez, e percebi que a sua queda o transformara para sempre. Ele não era mais perfeito. Ele tinha caído exatamente por isso. Agora, só me restava saber o quanto ele tinha mudado, e se isso faria alguma diferença para mim.

-Então... - estávamos em um silêncio desconfortável. Ele pigarreou. - Uma ajudinha aqui? - Collin levantou a garrafa com gasolina mais uma vez e sorriu, sem graça. Automaticamente senti outro sorriso se espalhando pelo meu rosto. É, íamos ficar bem. Ele não estava perdido, só havia caído. Talvez se tornar um demônio não fosse tão ruim assim.

Caramba, Sam, você pirou de vez.

Colocamos a gasolina no carro e ele assumiu o volante. Para minha surpresa, havia um posto há alguns quilômetros de lá. Terminamos de encher o tanque e continuamos oficialmente nossa viagem. Para onde íamos? Só meus sonhos poderiam dizer. Ou talvez não. Talvez parássemos em Las Vegas se eu previsse algumas apostas, mas quem sabe? 

A chuva parou depois de um tempo, e um céu cheio de estrelas se abriu acima de nós. Será que os anjos estariam nos observando agora, enquanto fugíamos?

Pensei em várias coisas ao mesmo tempo. Meus pais ficariam bem, eu tinha certeza, desde que eu ficasse longe. Megan ainda era um mistério para mim; quem sabe com o que ela planejava nos surpreender no futuro? E Logan era aquele pequeno detalhe que meu subconsciente nunca me deixava esquecer, mas essa parte era facilmente esquecida quando eu estava com Collin. Collin, meu eterno anjo da guarda, agora um aspirante a demônio, mas que sempre estaria comigo. Era só disso que eu precisava.

Não esqueci de você, Ian, sussurrei mentalmente para ele. Você está calado a um bom tempo.

Fiquei esperando uma resposta, mas ele me ignorou.

O que foi? Finalmente desisitu? Um sorriso mental de vitória se espalhou pelo meu rosto.

Tome cuidado, Pequena Sam, foi a sua resposta cheia de significados. Sua voz estava ainda mais alta e clara, e tive realmente que olhar para os lados para me certificar de que ele não estava ali. Quase tive um vislumbre dos seus olhos da cor do oceano me observando, me advertindo. Suas palavras continuaram ecoando na minha cabeça por minutos depois.

É sério. Muito cuidado. 


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Notas finais do capítulo

E... Acabou T.T vou me poupar de despedidas, se não vou chorar. Aguardem a continuação! *-* Beijoos ;*