Entre Fogo e asas escrita por ACunha


Capítulo 18
O Inferno Na Terra


Notas iniciais do capítulo

Contagem regressiva para o fim :( Aproveitem os últimos capítulos!



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-Meus sentidos de anjo me enganam - Anauel comentou enquanto me guiava pelo corredor, desviando aqui e ali de uma Sombra -, ou você e L. estavam... - ele franziu a testa.

-É - murmurei constrangida.

-Ah. 

-Não faça mais comentários, por favor. 

-Minha boca é um túmulo. 

Corremos para tentar sair do internato, mas perto da saída, uma horda de Sombras furiosas se agitou e bloqueou nosso caminho. Eu gritei, e Anauel apenas me girou para correr na direção oposta. 

-Onde está Beatrice? - ofeguei. 

-Está tendo problemas para libertar Collin.

-Onde ele está?!

-Não sabemos. - Anauel olhou para trás uma vez e franziu a testa. - É melhor subir nas minhas costas.

Meu estômago revirou. Voar com Collin era uma boa, eu faria cem vezes seguidas sem nem piscar, mas voar com Anauel... Apesar de conhecê-lo há menos de um dia, eu sabia que podia confiar nele. Mas, no meio de toda aquela adrenalina, só o que eu queria era achar Collin e dar o fora dali. 

Não. Mentira. Eu queria que todos dessem o fora dali, e me deixassem a sós com Logan novamente. 

-Anda! - Anauel insistiu.

Respirei fundo uma vez e pulei nas suas costas. Abracei seu pescoço, e suas asas se abriram em algum ponto em baixo dos meus braços. Eu não parecia incomodar, então o apertei com força e fechei os olhos. 

Eu pude sentir exatamente o momento em que alçamos vôo. Acho que o frio na barriga foi o que me alertou. Abri os olhos por um momento, o suficiente para vez o internato lá em baixo. E o qu e vi pareceu uma cena daqueles filmes de guerra que insitiam em nos fazer assistir na aula de História, só que haviam mais espadas do que armas, e mais asas do que eu podia contar. Haviam anjos de asas negras e brancas por toda parte. Alguns também estavam no ar, lutando e voando, e Anauel desviava deles com frequência. Olhando de cima, vi pela primeira vez o quanto do internato havia sido destruído depois do incêndio inicial. O edifício não tinha mais teto em lugar nenhum, e várias paredes estavam pela metade, como aqueles edifícios gregos (ou seriam romanos?) que tinham sido preservados pela metade durante séculos. 

-Olá, Anauel. - Uma garota se colocou no nosso caminho. Ela era parecia com Megan, de certa forma, mas tinha a pele mais bronzeada e olhos incrivelmente verdes. Usava calças militares e uma blusa preta mínima que deixava o umbigo com piercing de fora. E tinha um sorriso brincalhão nos lábios cheios. - Sentiu minha falta? 

Anauel suspirou. Parecia cansado. 

-Íris - disse desanimado. - Por onde andou, maninha? 

-Aqui e ali, você sabe - ela nos rodeou um pouco e sorriu. - Principalmente no inferno. - Então fixou seus olhos em mim. - Tem uma preguiça grudada no seu pescoço, maninho.

Antes que Anauel pudesse fazer alguma coisa a respeito, Íris tinha me puxado pelo cós da minha calça jeans, e enquanto eu tentava afastar suas mãos com as minhas, acabei me desprendendo das costas dele. Íris me segurou no ar por um momento, e nesse meio segundo jurei ter visto seus olhos ficando vermelhos, assim como os de Logan. 

Então Íris me soltou, e eu estava caindo. Bom, de certa forma, foi um alívio saber que, assim que eu morresse, tudo isso acabaria. Eu iria acordar no céu, e Collin estaria lá, e nunca mais precisaríamos voltar à Terra. Ou então eu reencarnaria, e recomeçaria minha vida, mas Collin estaria tomando conta de mim, como sempre esteve, e talvez um dia eu lembrasse que tinha um anjo da guarda e tentasse contatá-lo. Então ficaríamos juntos de novo.  Ou, na pior - ou melhor - das hipóteses, eu acordaria no inferno, e Logan estaria lá, e finalmente, finalmente ficaríamos juntos para sempre, como sempre quisemos. 

A mente humana é uma coisa incrível. Pensei em todas essas possibilidades em menos de um segundo, enquanto caía para a morte, com o ar sendo tirado dos pulmões e ao mesmo tempo pensando em tantas outras coisas. Meus pais. Eu decepcionaria eles se morresse. Por outro lado, eu veria Ian. Ele não ficaria nada feliz comigo quando soubesse que eu tinha passado para o time dos mortos. Mas talvez pudéssemos assombrar alguns internatos juntos, e ficaríamos conhecidos como os "Irmãos Sangrentos", ou outro nome mais criativo.

Tudo isso foi considerado antes que eu tivesse tempo de processar a dor que eu sentiria ao me espatifar no chão. Felizmente, este momento nunca chegou.

Pois meu anjo da guarda, como sempre, estava lá para me salvar. 

Collin apareceu como naqueles gibis de super heróis que Ian adorava tanto. Se ele estivesse com a cueca por cima da calça, chamaria ele de Super Homem, ou Super Anjo, ou simplesmente suspiraria "meu herói". Mas por que estou falando sobre essas coisas irrelevantes? Collin apareceu para me salvar, e isso me deixou tão feliz e aliviada que fiquei sem fôlego. Em um momento eu estava lá, caindo, e então ele me pegou em seus braços musculosos e bronzeados. Suas asas brancas imaculadas refletiam a luz do pôr do sol, e seu cabelo tinha um tom ainda mais dourado. Os olhos eram faíscas de fogo azul. 

-Samantha - ele suspirou aliviado enquanto nos levava para longe. 

Não consegui pensar em nada para dizer. Entrelacei as mãos no seu cabelo e o puxei para mim, quase com desespero, querendo esquecer tudo que havia se passado nas últimas horas. Beijei seus lábios, sem esperar que ele me beijasse de volta, apenas porque eu não conseguia passar muito tempo sem isso. E, quando nos afastamos, encarei seus olhos, suplicando.

-Tire-me daqui.

Ele assentiu e subimos. Fomos para além das nuvens, de onde não se podia ver nada do que acontecia lá em baixo. Com a cabeça apoiada no seu peito e seus braços ao meu redor, me senti quase bem de novo. 

-Onde você estava? - perguntei.

-Logan me trancou em uma espécie de porão que havia lá, em baixo do prédio dos dormitórios masculinos. 

-Esteve lá por muito tempo? - franzi a testa.

-Quase um dia. - Senti Collin dando de ombros.

-O que está acontecendo lá em baixo? - tive medo da resposta.

-Beatrice está vencendo, como sempre - ele respondeu calmamente. - Mas Logan realmente tem alguma vantagem do seu lado. 

-Você não devia estar lá? - procurei seus olhos. Eles brilharam.

-Você quer que eu volte? - perguntou receoso. 

Balancei a cabeça imediatamente e voltei a me aninhar nos seus braços. Algo havia mudado na forma como ele me segurava. Devia ter sido o beijo, é claro. Ele não tinha mais medo de reprimir seus sentimentos por mim, e eu nem queria que ele fizesse isso.

Mas...

-Eu lembrei daquela vida - anunciei, me preparando para sua reação.

-Já estava na hora - ele afirmou lentamente.

-Está falando sério? - fiquei irritada. - Eu me lembrei da parte em que sou completa e loucamente apaixonada por Logan. 

-Nada pode mudar o passado, Sam. - Collin estava triste, mas mesmo assim parecia seguro. - Quem acha que separou vocês, afinal?

-Pare aqui. 

-Sam...

-Pare agora mesmo.  

Collin desceu lentamente. Estávamos no meio da estrada, em uma parte com quase nenhum movimento no trânsito. Ele caminhou até uma árvore na beira da estrada e chutou algumas vezes o seu tronco, pensativo. Depois apoiou as costas na madeira escura e se voltou para mim.

-Não foi minha decisão - disse por fim. - Miguel me mandou dar um fim naquilo... É claro que, a essa altura, eu já sabia que seria impossível acabar com os seus sentimentos um pelo outro. 

-E por quê? -O amor, Sam... - Collin olhou para baixo, e pude jurar que seu rosto ficou um pouco vermelho. - O amor está além do poder de qualquer força da natureza. Nada, nem ninguém, poderia nos forçar a sentir coisas que não sentimos. É inevitável. Acabar com o que você sentia por Logan era simplesmente impossível, e, mesmo que eu quisesse, isso nunca estaria sob meu controle.

-Nem sob o meu - comentei desanimada. 

Collin sorriu. 

-Exato. Ninguém tem controle sobre isso. Entende agora? 

Franzi a testa, com vontade de discutir, por pura teimosia.

-Mas... - fiz uma careta. - Eu amo Logan. Mas também amo você, e... - agora eu era quem queria chutar aquela árvore, até que ela saísse voando pela estrada. - Isso é complicado demais. 

Collin deu de ombros e avançou na minha direção. Aceitei seu abraço com felicidade, mas não conseguia deixar de compará-lo com Logan... Seu cheiro maravilhoso, seu cabelo macio sob as minhas mãos, seus lábios sobre os meus...

-Vamos voltar - Collin sugeriu.

-Não!

-Já acabou - ele garantiu e me soltou. 

-E quem venceu? 

Ele precisou hesitar um momento antes de responder.

-Não sei. Vamos. 

Logan tinha vencido. Collin não teve como prever isso, e acabou nos colocando em perigo novamente. Alguns anjos Caídos estavam encarregados de prender os perdedores daquela "Pequena batalha", como Beatrice estava murmurando desde que chegamos lá. Logo eles nos pegaram também, e fomos presos na pequena clareira da antiga lanchonete. 

-Não mandei que saísse daqui? - Beatrice rosnou para Collin. Para minha surpresa, ele bufou.

-Dê um tempo - pediu pacientemente. - Estamos todos amarrados, esperando pelo pior, e você fica me dando sermão? Francamente, Beatrice.

Beatrice agora está perdendo de dois a zero para Collin!

Ela ficou contrariada, e essa foi a melhor coisa que vi em dias. Sua testa se franziu em confusão, e ela apenas encarou o nada, incrédula, parecendo não aceitar que alguém havia acabado de enfrentá-la. Seu rostinho de adolescente dava a impressão de que ela estava apenas frustrada com um problema difícil de matemática. 

Rapidamente, o lugar começou a ficar cheio de anjos amarrados. Não vi Anauel em nenhum lugar, e nem Miguel, e isso me preocupou.

-Onde estão... - comecei a perguntar, mas Beatrice me interrompeu.

-Miguel foi buscar reforços, nas palavras dele, e Anauel... - ela balançou a cabeça. Ofeguei de horror. 

-Ele morreu?! 

-Não! - ela exclamou furiosa com meu pensamento. - Suas asas foram arrancadas. Ele é um deles, agora. 

Sem. Chance.

-Não leve o conceito de demônio tão a sério - Collin sugeriu. - Nos primeiros meses, eles nem são tão ruins.

Beatrice lhe encarou com desprezo.

-É melhor não repetir isso enquanto eu estiver por perto. 

Collin deu de ombros, mas se encolheu.

Ah, não. Ela virou o jogo. 

Dei uma boa olhada ao redor, e meus olhos quase saltaram do rosto quando vi uma pessoa em especial amarrada em baixo de uma árvore. Com as roupas rasgadas, cabelos bagunçados e uma expressão furiosa no rosto sempre tão confiante, e as asas de morcego lutando inutilmente contra as cordas apertadas.

-Megan! - gritei.

Ela voltou sua atenção para mim. Seus olhos se arregalaram.

-Sam! - exclamou surpresa. - Pensei que tivesse dado o fora daqui.

-O que você está fazendo amarrada? - eu ainda estava perplexa. Megan me lançou um olhar furioso.

-Ah, eu só achei que seria uma boa me amarrar e curtir a paisagem - ela bufou. - Nunca passou pela sua cabeça que eu podia estar fingindo estar do lado de Logan, quando na verdade estava o tempo todo do seu lado? 

Meu queixo caiu. 

-Eu... Ah, Megan... - algo dentro de mim começou a pegar fogo, e eu quis desesperadamente bater em alguma coisa. - Que droga! - explodi. - Odeio Logan! A culpa disso tudo é dele, e... - interrompi a frase quando vi a expressão de Collin. Sabe? Aquela expressão que diz "Pare de falar, ele está bem atrás de você". 

Virei, e Logan estava lá, parado no portal que vi no sonho. Seus olhos estavam frios e controlados, mas fixados em mim. Tinha colocado a camisa preta novamente, e as asas haviam sumido. Por um momento irracional, meu corpo inteiro congelou de medo. Aquele não era o mesmo Logan das minhas memórias, nem o Logan que havia me beijado loucamente na sua sala há poucos minutos. No entanto, ele me ignorou, e se voltou para Megan com um sorrisinho arrogante.

-Traidora - afirmou calmamente, e ainda balançou a cabeça, como se falasse com uma criança que tinha feito algo errado. 

-Vá se ferrar - ela respondeu abaixando o rosto. 

Ele riu uma vez, sem humor, e agitou a mão uma vez na direção dela. As Sombras seguiram seu gesto, e voaram ao redor de Megan, formando um borrão negro assustador. Megan gritou, e se remexeu mais ainda para se livrar das cordas. Ela tremia loucamente, e eu senti meu estômago revirar. 

-Pare! - gritei para Logan. - Logan, pare com isso!

Ele parou de sorrir, mas não voltou a me olhar. Deixou que Megan sofresse mais um pouco, e então agitou a mão novamente, e as Sombras desapareceram. Megan, no entanto, estava completamente sem cor, e quase inconsciente. Olhei para Logan com reprovação, e vi seus olhos negros fixos nos meus. Eles estavam distantes, sem expressão. Depois de um tempo, não consegui mais encará-lo, e virei o rosto.  

-L.! - um anjo caído gritou. - Pegamos todos. O que faremos agora?

-É! - outras vozes se elevaram. - Torturamos? Matamos?

-Não podem nos matar, idiotas - Beatrice sussurrou indignada. 

-Não - Logan respondeu para todos e abriu a boca para continuar, mas hesitou por um momento. Nesse segundo crucial, seu rosto ganhou alguma expressão, e jurei que ele estava confuso. Aquele era o meu Logan. Seus olhos procurarm os meus novamente, e dessa vez eu o encarei suplicante. 

Eu sabia o que ele ia dizer se não tivesse hesitado. Tínhamos uma conexão tão grande, que eu já sabia, há muito tempo, o que aconteceria se perdêssemos. "Arranquem as asas de todos"; essa seria a sua ordem. Ele queria, o tempo todo, aumentar o seu exército de Anjos Caídos. Mas, enquanto nos encarávamos, novamente parecia que podíamos ler a mente um do outro. 

Não faça isso.

Logan respirou fundo. 

-Soltem todos - ordenou simplesmente.

-O quê?! - Íris, a "irmã" de Anauel, exclamou. - Depois de todo esse trabalho?!

-Vocês viram nosso poder - ele se dirigiu a nós, os perdedores. - Já sabem que podemos vencer quando quisermos, e venceremos, quando a hora chegar. Por enquanto, levem este aviso aos seus, e os meus, irmãos e irmãs no Céu. Não existe mais inferno

Dito o seu aviso, o lugar caiu em um silêncio mortal. Pude ouvir o vento balançando as árvores, e bagunçando meu cabelo, e de repente eu senti frio. O céu estava de um tom assustador de azul escuro. A noite começava e, junto a ela, uma guerra. 

-Agora... - Logan continuou calmamente, mas com um olhar ameaçador - Soltem todos

Eles nos soltaram. Os anjos não perderam tempo. Estavam em menor número, então voaram para além das nuvens, até que não pudessem mais ser vistos. Collin, Beatrice e eu continuamos lá. 

-Você ainda não... - Beatrice começou a dizer, mas Logan foi mais rápido. Ele se aproximou dela suavemente, a virou de costas agressivamente e, só com um puxão habilidoso das mãos, arrancou suas asas brancas imaculadas. 

Beatrice gritou loucamente, e se debateu, e começou a chorar. Eu gritei também, e arfei, mas me senti presa ao chão, e imóvel, como uma árvore. Logan jogou as asas, agora manchadas de sangue, no chão, e limpou as mãos na calça.

-Eu sempre quis fazer isso - ele disse sorrindo. 

Ela não respondeu. Caiu no chão, desolada, e cobriu o rosto com as mãos. Seu corpo pequeno e magro tremia com os soluços. Eu nunca havia gostado dela, mas senti uma dor terrível tomar conta do meu peito. 

-Seu monstro! - gritei. Minha voz tremeu de raiva e de medo. - Por que fez isso com ela? - meio inconscientemente, senti Collin me segurando. 

-Ela está exagerando. - Logan revirou os olhos. - Não dói tanto assim. Agora ela sabe como nós nos sentimos quando ela arrancou as nossas asas. Não é mesmo, Beatrice? - sua voz se elevou. - Você não sentia prazer em nos expulsar do nosso lar? Onde tudo era perfeito, tudo era imaculado? Mas você, de todos os anjos, era a única que merecia cair!

Beatrice gritou de raiva, de uma forma que fazia as minhas cordas vocais doerem só de escutar, e na mesma hora um trovão acertou uma árvore. Outro incêndio começou, lentamente, mas logo foi se espalhando pelas outras árvores e plantas. Alguns Anjos Caídos começaram a se afastar e ir embora. Percebi, pela primeira vez, que não achava Megan em lugar algum. É, ela podia estar tecnicamente do nosso lado, mas ainda era uma covarde das grandes. 

-Você vai me pagar! - Beatrice continuou gritando. O fogo se confundia com seus cabelos ruivos. - Vocês todos vão sofrer, até implorarem para morrer! 

Então outro raio atravessou o céu, e eu fiquei cega pela luz repentina. Quando voltei a enxergar, Beatrice não estava mais lá.

-Quanto a vocês dois... - Logan se virou para Collin e eu. Recuei e senti os braços de Collin me protegendo. 

-Não se aproxime de mim - ordenei com o máximo de coragem que pude reunir, mas logo me arrependi. Eu precisava fazer Logan desistir dessas ideias malucas, mas agressão não parecia ser a melhor opção. - Por favor, Logan... - pedi mais baixo, usando a tática que tinha aprendido enquanto nos beijávamos na sua sala. - Não faça isso. 

-Sinto muito, querida - ele falava sarcasticamente. - Mas eu já fiz. 

Seus olhos ficaram vermelhos novamente, e percebi que Logan havia desaparecido. Aquele homem na nossa frente era um completo desconhecido, alguém muito mais velho e poderoso, alguém contra quem nenhum exército de anjos poderia lutar. E, pela primeira vez em todas as minhas vidas, eu quis destruí-lo. 

-Nunca vou perdoar você por isso - afirmei lentamente.

-Eu nunca pedi seu perdão - ele me lembrou e sorriu. - Perceberam que vocês dois foram os últimos que sobraram aqui? - olhei ao redor, e senti puro pavor. Estávamos literalmente sozinhos com aquele monstro que tinha possuído Logan. - Vocês sabem como os últimos da festa são inconvenientes. Mais cedo ou mais tarde, eles tem que ser expulsos. 

Reprimi um tremor, mas não estava exatamente com medo. Empinei ligeiramente o queixo, desafiando Logan a continuar nos ameaçando, e ele fez uma pequena reverência, ainda irônica, como se estivesse se despedindo. Mas ele era esperto demais para nos dar as costas. Então eu dei meia volta e caminhei decidida, resignada e furiosa até o antigo estacionamento do internato, com Collin me seguindo de perto. Alguma parte mínima do meu cérebro havia se lembrado do carro de Ian, esquecido e  largado de qualquer jeito naquela escola há algumas semanas. Entrei automaticamente no banco do carona, e agradeci por ter carregado as chaves na minha bolsa durante todo esse tempo. Entreguei-as para Collin, e ele nos tirou de lá o mais rápido possível. 

Olhando pelo retrovisor, vi vários pássaros escuros alçando vôo no céu crepuscular, saindo de algum ponto do internato. Mas eu sabia, só não queria admitir, que não eram simples pássaros. 


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Notas finais do capítulo

Eu sei que muitas de vocês vão me odiar pelo fim desse capítulo, mas era necessário. E, SIM, vai ter continuação. Não percam os próximos caps. Beijos ;*