Entre Fogo e asas escrita por ACunha


Capítulo 13
A Mentirosa Foi Enganada


Notas iniciais do capítulo

Esse é particularmente o meu capítulo favorito! Espero que gostem. Ah, e quem já leu a minha outra história, Love And Hate, vai AMAR também. Qualquer relação com a Rose NÃO é mera coincidência ;) Quem ainda não leu, o que está esperando? .-. Termina de ler aqui e corre lá pras outras histórias! Beijos ;*



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Acordei com um grito preso na garganta. Encontrei os olhos de Collin me encarando ansiosos, e não resisti a dar um pequeno soluço sem lágrimas. 

-Ah, Collin... - lamentei. Por nós dois. Nós três, na verdade. 

-O que foi? Como foi o sonho? - ele me pegou nos seus braços e fez carinho no meu cabelo. - Desculpe não ter aparecido, não consegui alcançar você.

Balancei a cabeça, assustada demais para falar, e envolvi seu pescoço com meus braços. Senti medo por nós dois. Por todos que deviam sentir medo. Mas não contei o sonho a ele. Em vez disso, menti e disse que havia sonhado com a lembrança da morte de Ian. 

E é por isso que você vai arder no inferno dos mentirosos, por não dizer a verdade ao seu próprio anjo da guarda, irmãzinha. A voz de Ian na minha cabeça não serviu de ajuda.

Ah, cale a boca, disse à ele. Pessoas mortas não deviam perturbar.

Mas, mesmo assim, meu Ian imaginário estava certo. Devia ter contado, pelo menos, a parte final do sonho. Mas não consegui. A ideia era assustadora demais para acreditar. 

E, afinal, como dizer a Collin que ele ia se apaixonar por mim, e eu por ele? Parecia um futuro tão... tão...

Ah. Tão perfeito.

-Isso não vai acabar bem - sussurrei no ombro de Collin, e suspirei. 

-Eu sei - ele sussurrou de volta, me apertando mais. - Mas estaremos juntos. Não importa o que aconteça. 

Se ele soubesse do que está falando... Não me seguraria tão perto assim. 

Nas próximas horas, eu fiquei negando outra tentativa de Collin entrar nos meus sonhos. Não queria nem saber o que mais eu poderia ver se dormisse novamente. Infelizmente, quando Collin se foi para a cozinha pegar alguns pacotes de Cheetos para dividirmos, o cansaço me venceu. Afundei no meio dos travesseiros e nem percebi meus olhos se fechando. Dessa vez, não sonhei. E, quando acordei novamente, o quarto ainda estava escuro. A janela estava meio aberta, e pude ver uma grande lua cheia brilhando no céu azul escuro, com algumas nuvens cinzentas ao redor. Respirei bem fundo, e me senti relaxada pela primeira vez em horas. 

Ao meu lado, no chão, estava Collin. Ele dormia profundamente, jogado de qualquer jeito em um colchão. Seus lábios estavam meio abertos, e ele roncava discretamente. Reprimi uma risada. Ele murmurou alguma coisa sem sentido e virou de lado, agora com um sorriso relaxado, colocando as mãos juntas em baixo da bochecha, como uma criança de cinco anos dormindo. 

Ah, que meigo. 

Levantei com cuidado, sem querer fazer barulho, e andei de fininho pelo quarto. Olhei no relógio. Era meia-noite em ponto. Eu me sentia completamente desperta, e fiz careta para a possibilidade de voltar a dormir. Queria me mexer, andar por aí. Mas, primeiro, um banho.

Peguei uma toalha no guarda roupa e fui até o banheiro. Para minha surpresa e completa felicidade, a água estava quente. Tomei um longo e completo banho, tendo cuidado para não fazer barulho além da água correndo, esperando que ninguém tenha acordado. Depois sequei meu cabelo na toalha e vesti um suéter novo, preto, com gola alta, e um jeans. Mas a brisa que vinha da janela era fria demais para apenas isso. Peguei meu casaco preto de lã atrás da porta, e calcei minhas botas pretas. Andei cuidadosamente pela casa, me encolhendo cada vez que ouvia o som dos meus próprios saltos batendo no chão de madeira, e odiando sapatos de salto mais do que nunca. Consegui chegar até a porta sem ninguém acordar para me impedir, e a abri com cuidado. Ela rangeu, e eu me perguntei furiosamente porque Lilian ou Gabriel não passavam um pouco de óleo nas dobradiças. Saí de casa e fechei a porta, suspirando de alívio. 

Consegui.

Lá fora, estava mais frio, mas eu estava preparada. Agora, o som dos meus saltos não era tão alto comparado com o som das ondas se quebrando na praia. O oceano reluzia sob a luz da lua, parecendo mais calmo do que estaria se fosse de manhã. Estava de um prata azulado, ou um azul prateado, tanto faz. Mas me dava uma sensação de conforto que eu nunca poderia imaginar. Soltando um suspiro satisfeito, desci pelo caminho de pedras lisas até sair completamente do pátio da casa, e logo o som dos meus passos foram abafados pela areia da praia. Não me importei em sujar as botas; elas já estavam bem velhas, de qualquer forma. Apenas andei, com a mão nos bolsos, olhando para o chão e às vezes para o oceano. Fiquei me perguntando se Collin iria me procurar ali, e, se me achasse, o que diria. Será que ficaria irritado? Ah, bom, isso eu descobriria depois. Estava ocupada demais pensando em nada para pensar nisso.

Não sei por quanto tempo fiquei lá, observando a lua que ficava cada vez mais amarela, e menos branca, e sentindo o vento frio que vinha com as ondas e levantava meu cabelo. Ah, a umidade ia acabar com ele. E nenhum anti-frizz fazia milagres. Mas não me importei. Lembrei do ritmo de uma música que um dia eu havia ouvido, mas que agora não sabia o nome, e me fixei nesse pensamento, tentando inutilmente lembrar qual era a música. Cantarolei não sei quantas vezes, sussurrando, em voz alta, para quem quisesse ouvir. E não é que, quase no meio da praia, chegando quase bem na frente do prédio dos meus avós, eu lembrei? Era uma daquelas músicas melosas que Becca começou a gostar quando descobriu que amava Jason. Hear You Me, de um tal de Jimmy... Alguma coisa. Acho que lembrei dessa porque o refrão falava algo sobre anjos. 

May angels lead you in... Hear you me, my friends...

É, a melodia pegava. Cantei a música inteira agora, satisfeita em ter lembrado, sentindo saudades de Becca e Jason tanto quanto eles deviam me achar uma louca. De repente, senti um arrepio terrível na espinha, e levantei o olhar.

Tem alguém ali.

Perto da grama, sentada, abraçando os joelhos, havia uma mulher. Ela usava jeans escuros, e uma blusa vermelho sangue com um profundo decote V. Seu cabelo negro voava ao seu redor, criando um contorno preto e assustador para seu rosto pálido. Não precisei pensar duas vezes.

-Megan? - perguntei. Ela levantou o rosto e na minha direção e sorriu.

-Sentiu minha falta? - ela perguntou sarcástica. Levantou com um salto e andou na minha direção. 

-Onde você esteve? - perguntei meio irritada por ela ter me dado um susto. - Você está sozinha?

-Não; trouxe Logan comigo - ela respondeu revirando os olhos. - Não seja ridícula. É claro que estou sozinha. E onde estive não importa.

Assenti, levemente aliviada por ouvir que estava tudo bem, e saber que Meg não tinha mudado nada, apesar de tudo aquilo estar acontecendo.

-E... Como está Logan? - perguntei sem poder evitar. Meg suspirou.

-Ah, o de sempre. Louco pelo poder, irritado com Deus e o mundo, tudo isso.

-Você estava no internato, não estava? - franzi a testa, lembrando do sonho que revelava o novo quartel general de Logan.

-No que sobrou dele, pelo menos - ela resmungou. - Mas não estou aqui para falar disso. Logan me mandou enviar uma mensagem.

-Ele fez o quê?! - quase gritei. - Depois de tudo que fez, ele não tem coragem de falar na minha cara? Pode dizer para Logan que ele pode ir pra...

-Não mate o mensageiro - Meg levantou as mãos como um sinal de inocência. - De qualquer forma, se ele viesse até aqui, Collin o destruiria em um piscar de olhos.

Arqueei as sobrancelhas.

-Sério? -Claro. L. está fraco. Depois do pequeno show com as Sombras...

-Pequeno?

-...ele precisou descansar. Essa forma humana não facilita a vida de nenhum de nós. - Megan se remexeu, desconfortável, e franziu os lábios.

-Meg... - hesitei. - O que você é? 

Para a minha surpresa, Meg riu. Gargalhou. Quase dobrou o corpo de tanto rir. Então, quando eu começava a arregalar os olhos e pensar que ela estava louca, ela se recuperou.

-Desculpe, é que... Nossa, você tinha que ver sua cara. Realmente, humanos são engraçados quando tratam do sobrenatural - ela enxugou uma lágrima no canto dos olhos. - Mas, bom, quer saber minha história?

-Sim.

-Quer mesmo saber?

-Fale logo.

-Tudo bem... - ela afundou na areia e bateu no espaço ao seu lado. Suspirei de frustração e me sentei ali. Abracei meus joelhos, me sentindo uma bola pequena que alguém poderia chutar a qualquer momento. Megan fez o mesmo, mas suas pernas eram muito mais longas que as minhas. Ficamos observando a lua e o oceano por um longo tempo até que ela achasse uma forma de me contar.

-Sou filha de Lilith - ela disse simplesmente.

-Lilith... o demônio? - perguntei surpresa.

-Sim. Há muito tempo atrás, quando os humanos ainda nem tinham explorado o adultério, e quando minha mãe ainda andava pelos povos da Terra sem ser reconhecida, ela encontrou um rapaz. Ele era novo, ingênuo, e tinha uma bela esposa e três filhos. O nome dele era... - Meg apertou os olhos, tentando se lembrar. - Bom, não importa. Minha mãe, Lilith, ficou obcecada com a ligação que ele tinha com a esposa, e ficou tentada a explorar aquilo. Então ela o seduziu e, mesmo contra sua vontade, ele sucumbiu e traiu a esposa. Assim surgiu o adultério, os "prazeres da carne", como vocês dizem hoje. O ato de "ficar" com alguém somente por diversão, e não para procriar, que era o único motivo para que os homens e as mulheres se casassem naquela época. Da união de Lilith com o primeiro homem infiel, nasceu uma garota. Meio demônio, meio humana. Adivinha quem era ela? - Meg sorriu, apontando para si mesma, e eu apenas tremi.

-Caramba - sussurrei perplexa.

-Eu sei. Então, mamãe me criou para ser quem sou hoje. Sedutora, arrasadora de corações, aquela que estimula os homens a serem infiéis e, pegando pelo lado demoníaco, que se alimenta de carne humana para sobreviver. 

-Espera, como é?!

-Ah, você ouviu. Então, eu tenho que comer carne humana. Qual é o problema nisso? - ela perguntou dando de ombros e passando a língua nos lábios. - Mas não se preocupe. Só os homens são as minhas vítimas. 

-Que alívio - murmurei sarcástica.

-Por milênios, vivi com Lilith no nosso palácio nas Terras do Fogo, levando os homens que já haviam morrido à loucura. Eu, Lilith, e minhas duas irmãs.

-Você tem... irmãs? - perguntei agora me sentindo tonta. 

-Sim. Lilith tem três filhas; eu, a dominadora dos homens infiéis; Scarlett, minha irmã mais velha e mais perversa, que controla as mulheres para levá-las a fazer coisas que nunca fariam, como abortar seus bebês e esfaquear seus maridos; e Lilith's Rose, a caçula... - Meg reprimiu um sorrisinho.

-Quem é Lilith's Rose? - perguntei curiosa.

-Rose é muito impulsiva. Faz muito tempo que não a vejo. Mas falo com Lilith sempre que posso, e ela me diz que Rose tem seus próprios problemas com os vampiros. Um vampiro e um meio-anjo, em particular. 

-Vampiros existem?! 

-Deixa pra lá. Então... - Meg suspirou. - Dezessete anos atrás, eu estava em uma viagem rápida pela Terra para me vingar de um certo homem que se recusou a trair a namorada, e encontrei Logan. Ele me atrapalhou, fazendo um monte de perguntas que de início não entendi, porque não o reconheci. Perguntava sobre minha mãe, se ela ia ajudá-lo. Como não sabia quem ele era ainda, e pensava que fosse apenas um humano muito perturbado, eu disse que não. Minha mãe não ajudava ninguém. Logan foi embora com raiva." 

"Dias depois, quando voltei para a Terra do Fogo, Lilith estava furiosa. Nosso castelo estava quase todo destruído. Ela me disse que Logan havia a castigado por não ajudá-lo, e que a culpa era minha, e que eu devia resolver as coisas. Voltei para a Terra e procurei por ele. Quando nos encontramos novamente, Logan me propôs um trato.

"Eu tinha que lhe dizer em que lua se devia usar os poderes do bem para dar um dom à alguém. Eu estava furiosa, entediada, e menti. Disse que era na lua cheia, mas na verdade era na lua nova. Ele acabou descobrindo minha mentira, mostrando que sabia a resposta certa todo o tempo. Eu fiquei com medo do que podia acontecer. Mas Logan desapareceu e me deixou voltar à Terra do Fogo. Lá, o castelo estava inteiro novamente, mas minha mãe tinha uma mensagem para mim. Disse que Logan havia falado com ela, e lançado uma maldição em mim."

"Eu estava amaldiçoada a viver na Terra na forma como eu deveria; meio humana, meio demônio, com características e sentimentos humanos, mas com a necessidade de me alimentar de carne humana. E, quanto mais eu ficasse sem me alimentar, mais fraca eu ficaria. Pareceria doente, anêmica, magra e cansada."

-Como você estava naqueles dias antes do Halloween - percebi com um sobressalto.

-Sim - ela assentiu. - Eu estava aguentando a fome até aquela noite. Seria um banquete, de qualquer forma, já que sabia exatamente do plano de Logan.

-E mesmo assim você deixou... - comecei a gritar, mas ela me interrompeu.

-Eu não podia fazer nada! - ela se exaltou. - Foi ele que me prendeu aqui, para início de conversa. É ele quem eu devo obedecer, se quiser viver bastante e morrer para voltar à Terra do Fogo. 

-Hãn? - franzi a testa. Ela revirou os olhos.

-A maldição só é quebrada se eu morrer normalmente, de velhice, e não assassinada nem nada. Então tenho cuidado com qualquer coisa que possa me deixar doente, ou machucada, ou quase morta. Se morrer de outra causa, vou reencarnar e ter que encarar tudo isso de novo - ela bufou. - Já é ruim o bastante ter nascido na mesma família que Joshua; imagina como seria meu irmão em uma próxima vida! Ah, como sinto falta de Scarlett... - ela suspirou.

-Joshua é bacana - eu o defendi automaticamente.

-É? Diga isso à ele - ela pegou um pouco de areia com a mão e soprou contra o vento. Fiquei maravilhada com a nuvem de pó branco que apareceu bem na nossa frente, parecendo uma névoa brilhante que cobria a lua. 

-Você não é tão má quanto parece - eu disse de repente. - Acho que sua parte humana está vencendo aqui.

Megan me encarou pelo canto dos olhos, as pulilas quase completamente dilatadas, os lábios formando um sorriso sarcástico e ameaçador ao mesmo tempo. Muito discretamente, ela arqueou uma sobrancelha. 

-Nunca mais diga isso em voz alta - sussurrou quase sorrindo.

-Seu segredo está seguro comigo - sussurrei de volta, adorando a sensação de intimidade que eu estava começando a ter. Ter uma amiga de verdade sempre esteve fora dos meus limites de esquisitice. Becca sempre foi uma boa colega, mas nunca contei nada realmente importante a ela. Parece que apenas algumas pessoas me entendiam, e a maioria delas eram homens. Ou anjos. E, agora, uma das filhas de Lilith.

Megan sorriu, satisfeita, e se levantou. Suas asas de morcego se abriram nas costas e bateram sincronizadamente. Sem acenar nem dar adeus, ela começou a voar para longe, até que me lembrei de uma coisa.

-Megan! Espere! - gritei. Ela parou e virou. - Você disse que tinha uma mensagem de Logan.

Ela arregalou os olhos, se lembrando, e sorriu, sem graça.

-É mesmo. Esqueci completamente... - e soltou um riso nervoso.

-Então, o que é? 

Sua expressão se suavizou, e a sugestão de um sorriso apareceu no  canto dos seus lábios vermelhos.

-Logan me mandou dizer... Que sente sua falta. 

Tive dificuldade de respirar, mas assenti, sem querer responder àquilo. Um aperto conhecido agora tomava conta do meu peito. Acenei para Meg e deixei que ela fosse embora, voando, na direção da lua cheia. 

-Onde você estava?! - Collin me atacou assim que fechei a porta. - Estava quase saindo pra te procurar! 

-Calma, pai - eu brinquei. - Fui só dar um passeio. Ah, e encontrei Meg. 

Collin me fitou por muito tempo. Parecia estar a beira de um ataque de pânico.

-Nós conversamos um pouco, depois ela foi embora e eu voltei. Nenhuma força do mau me pegou nem nada - revirei os olhos, odiando sua expressão desconfiada. Não contei sobre a mensagem de Logan; ele já tinha muito com o que se preocupar. 

Foi só depois de longos minutos me encarando que Collin soltou um suspiro frustrado e avançou na minha direção. A próxima coisa que percebi foi que ele estava me abraçando, e eu estava sem ar.

-Nunca mais me assuste assim - ele murmurou contra meu cabelo, agora já meio seco. - Sério; não quero parecer um pai superprotetor, mas eu sou seu guardião. Quando você está em perigo, meu sexto sentido me avisa.

-Ele te avisou quando eu saí? - perguntei desconfiada.

-Bom... não, mas...

-Então não deveria ter se preocupado - me afastei para olhar seu rosto. - Acredite, se eu estivesse em perigo, teria gritado, corrido, e tudo mais que você pode imaginar. Você saberia - eu sorri, tentando quebrar o gelo, e o sorriso que obtive de resposta quase fez meu coração explodir. 

-Pequena Sam - ele passou a mão pelo meu cabelo, minha bochecha, e parou na ponta do meu queixo. - Eu não sobreviveria muito tempo se deixasse alguma coisa acontecer com você. 

-Você nunca vai deixar nada acontecer comigo - afirmei lentamente. - Qual é, Collin. Você é careta demais pra isso - brinquei. 

Ele apertou os olhos, bufando, mas continuou sorrindo. Então, antes que eu pudesse impedir, se aproximou e beijou minha testa suavemente. Soltei um suspiro involuntário, fechando os olhos, e depois senti uma vontade louca de fazer uma coisa. Fiquei na ponta dos pés, ainda de olhos fechados, e senti seu rosto ficando cada vez mais perto do meu, seus lábios na ponta do meu nariz. 

Não resisti. Estiquei mais um pouco as pernas, colocando minhas mãos ao redor do seu pescoço, e encostei meus lábios nos de Collin. A surpresa do toque percorreu todo meu corpo, e senti que a qualquer momento desmaiaria nos seus braços. O corpo dele ficou rígido, e por um momento de pânico, pensei que ele fosse me afastar. Mas, em vez disso, Collin me beijou de volta, me puxando pela cintura para ficarmos mais perto um do outro. Pensei que aquele momento podia durar para sempre, que o mundo poderia ter congelado e eu agradeceria, mas foi rápido. 

Ah, foi rápido demais! 

Collin me empurrou gentilmente pelos ombros, e eu abri os olhos. Ele me encarava, ofegante, com os lábios meio entreabertos e os olhos arregalados. Suas pupilas estavam completamente dilatadas, deixando apenas um contorno azul em volta do preto intenso. Encostei na parede atrás de mim, também respirando com dificuldade, e senti que meu rosto queimava tanto que pensei estar pegando fogo. O sangue pulsava loucamente nos meus pulsos, meu pescoço, até nos meus lábios. Ficamos nos encarando, um mais surpreso que o outro, até que percebi o que havia acontecido.

Merda. Estamos ferrados. 

Mas o que eu havia feito?! Collin não podia se apaixonar por mim, e nem eu por ele! Se isso acontecesse, ele seria obrigado a cair e se tornar um demônio! E, mesmo que Logan quebrasse a maldição, a minha alma seria levada. Nenhum de nós poderia sair ganhando. Estávamos entre a cruz e a espada. 

Collin pareceu ler meus pensamentos, já que se afastou quase automaticamente de mim, como se tivesse levado um choque. Enfiei minhas mãos, agora formigando, nos bolsos do meu casaco. Nós dois parecíamos ter visto fantasmas. Ele estava pálido, incrédulo, mas ao mesmo tempo parecia uma criança que descobriu que o papai noel não existe. Depois de um tempo, aquele olhar acusador e surpreso começou a me incomodar mais do que deveria. Não queria ser a primeira a falar, mas sentia que enlouqueceria com aquele silêncio pasmo.

-Collin - sussurrei, surpresa com como a minha voz soou alta. - Por favor... fale alguma coisa.

Ele balançou a cabeça rapidamente, negando, e engoliu em seco. Achei que estava tendo um ataque de pânico.

-Collin... - tentei de novo, agora verdadeiramente preocupada. - Você está bem? - estendi uma mão na sua direção, mas ele recuou como se fosse uma faca. Tropeçou no tapete da sala, mas continuou andando de costas, procurando uma forma de sair.

-Eu... - ele tentou falar, e sua voz estava rouca. Engoliu em seco e tentou de novo. - Não...

Ele piscou várias vezes, rapidamente, e soltou a respiração. Balançando a cabeça, virou de costas e foi embora. 

Minha cabeça girou. Senti que ia cair, e me apoiei na parede até chegar ao chão. Estiquei minhas pernas, deixei que as mãos caíssem no colo, e soltei um suspiro que veio do fundo da minha alma. De alguma  forma, eu entendi que aquele era o começo de uma longa jornada. Longa e dolorosa. Depois daquela noite, tudo mudaria. E tudo que eu queria era que Collin fosse feliz. Mas agora, meu peito doía só ao imaginar nunca mais poder beijá-lo. 

Ah, droga. Isso não é nada bom. 

Ouvi algo sendo quebrado na cozinha. Não era costume de Collin quebrar as coisas quando estava estressado. Só esperava não ter o transformado para sempre. Mas ainda estava em estado de choque. Não senti meu corpo, não acho que estava pensando com clareza. Só depois de muito tempo foi que meu coração se acalmou, e eu pude respirar de novo. E, quando eu pensei que estava ficando surda com o silêncio, o som do bater de asas me alertou. Suspirei, triste, e fechei os olhos.

Ótimo, Sam. Você acaba de corromper um ótimo anjo da guarda.  E agora?  


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Notas finais do capítulo

Reviews? =D