Capítulo Quatro – Aproximando.

— Você tem quantos anos? — Ela perguntou.

“Por que diabos ela quer saber minha idade?” Edward perguntou surpreso pela vigésima vez naquela noite. Fazia algumas horas que ele e Isabella estavam conversando sobre a vida deles. Isabella contou sobre Charlie e um pouco sobre seus amigos e sua escola. Edward apenas ouvia atentamente. Ele sabia que ela não tinha ninguém pra conversar, por isso, deixou ela falar bastante e ouviu sem interromper nada.

Ela era uma menina interessante. Linda! Doce, meiga, carinhosa. Realmente, não merecia estar sofrendo como está agora. Fora o pai de Samantha que tinha matado o pai de Mica e feito outras coisas para James, então por que a filha do assassino tinha que pagar? Ela não fazia a menor idéia de por que estava ali, e deixou isso bem claro para Edward.

— Por que quer saber isso? — ele perguntou.

— Eu falei de mim a noite inteira, você só ouviu. Está na sua vez. — ela disse sorrindo fracamente.

Ele deu um sorriso tímido e se ajeitou na cama. Os dois estavam deitados lado a lado. Edward estava meio sentado, com suas costas apoiada no travesseiro, apenas olhando a morena ao seu lado. Seus dedos formigavam com vontade de fazer um carinho nos cabelos dela.

— Tenho vinte e um anos. — ele respondeu.

— Não é estranho? — dessa vez ela virou seu rosto para encará-lo. — Eu conversando pacificamente com o cara que me seqüestrou. E ele me ajudando. Isso é louco!

— Louco. — ele concordou.

Eles ficaram um tempo em silencio. Mas não era um silencio ruim, como ele tinha quando ficava com Mica e Josh. Era um silencio bom. Um silencio confortável. Que ele sentia que seria apenas com ela que ele conseguiria ter um silencio confortável. Ela estava fazendo ele se sentir a vontade, como se ele não fosse o que ele é. Como se ele fosse uma pessoa normal, que amanhã de manhã estaria acordando para trabalhar, e não o que ele é hoje.

Então, ela bocejou baixinho e se virou para ele que estava olhando para a parede com o olhar perdido. Ele se virou novamente para ela e seus olhares se encontraram. O verde dele penetrou o chocolate dela. Eles se aproximaram mais. Eram como se eles falassem tudo o que estavam sentindo, apenas pelo olhar. No olhar dele, estava confusão, confiança, admiração. No olhar dela, estava confiança, dor, um pontada de tristeza, e uma pontada de felicidade. Era como se eles conversassem, sem falar.

— Você é linda. — ele sussurrou acariciando as bochechas que atingiram um tom rosado dela.

— Você também é lindo. — ela disse com um sorriso tímido e ele sorriu torto.

Se aproximaram mais alguns centímetros. “Ele vai me beijar.” Ela pensou. “Nós vamos nos beijar.” Ele pensou e sorriu com esse pensamento. Edward não entendia porque de seu sorriso. Ele já havia beijado e ficado com tantas mulheres, que já havia perdido a conta. Sempre pensou que ia beijá-las, mas nunca, um sorriso se formou em seus lábios tão naturalmente, como dessa vez. “Que porra está acontecendo?” Ele pensou.

Vendo a batalha interna de Edward, Bella fechou os olhos com força e caiu em si. Ela estaria beijando um bandido. O cara que havia seqüestrado ela. E que nesse momento estava ajudando-a como nunca, mas ela... não podia. Era errado. Era contra as suas leis. Mas ela sabia, que se o beijasse, não iria se arrepender depois.

Mas agora não é o momento certo para isso. Os dois sabiam disso.

Os dois fecharam os olhos com força, e no mesmo momento se afastaram. Edward passou a mão em seus cabelos desarrumados deixando-os ainda mais bagunçados que antes. Bella apenas suspirou pesadamente, e mordeu os lábios. Ela começou a brincar com suas mãos, enquanto ele botava o braço ao redor da cabeceira da cama onde ela estava. Ela pareceu notar e sorriu brevemente.

— Edward... — ela sussurrou.

— Hm?

— Me ajude a ir no banheiro? — ela perguntou meio errada. — Sei que você já fez muito por mim, mas preciso escovar meus dentes.

— Claro.

Ele se levantou rapidamente, e foi caminhando em passos largos até o lado onde ela estava. Isabella — Samantha para ele — já estava sentada com uma careta de dor. Ele passou suavemente o braço ao redor da cintura dela, e pegou uma de suas mãos. Ajudou-a levantar e teve paciência para esperá-la dentro do banheiro escovando seus dentes. Depois de escovados, ela sorriu para o espelho vendo-o logo atrás dela sorrindo também para o espelho.

Voltaram para o quarto, e ele a ajudou novamente a deitar e se deitou ao lado dela também. Ele não iria dormir ali, iria apenas esperá-la dormir para descer e dormir naquele confortável sofá, já que Mica e Josh estavam ocupando a cama desde o inicio desse seqüestro.

— Obrigada. — ela sussurrou para ele antes de fechar os olhos e se acomodar.

Ele não falou nada. Ficou em silencio se sentindo bem. Se sentindo útil, e pela primeira vez em semanas, fazendo o bem. Se sentiu satisfeito consigo mesmo. Se sentiu feliz. Um sentimento estranho tomou conta de seu corpo, de seu peito. Um sentimento que o deixava completo. E ele não queria sentir aquele vazio novamente que sentiu por anos.

Depois de alguns minutos ali, acordando olhando para o nada no escuro, Edward levantou da cama tentando fazer o mínimo barulho possível. Pegou sua mochila, e a colocou bem escondida, em um fundo falso que havia dentro do armário. Caminhou pé por pé até a porta. Quando ele ia fechando, um sussurro rouco o surpreendeu.

— Não vá. — era Samantha que havia o chamado.

Ele balançou a cabeça antes de entrar. “Que se dane.” Era o seu pensamento.

Ele fechou a porta e a trancou com a chave que tinha logo em seguida. Deitou ao lado da morena, e puxou o cobertor para cima de seu corpo. Ele podia ver no escuro que ela estava sorrindo, e isso o fez sorrir também. A respiração dos dois estavam calmas. E mesmo com os curativos e o cheiro de remédio, Edward podia ver que aquela morena tinha um perfume natural. Sua pele era perfumada. Era um cheiro único. Era um cheiro dela.

Do mesmo modo, que Isabella já estava entorpecida com o cheiro delicioso de Edward. Era um cheiro único. Um cheiro dele. Que ela jamais havia sentindo em outro alguém. Os dedos dela formigavam com vontade de tocar aquela barba por fazer. Ou fazer um simples cafuné naqueles cabelos bagunçados e sedosos. Ela queria simplesmente poder abraçá-lo. Mas sabia que não podia. Era errado. Aquela aproximação deles era muito errada.

E poderia resultar coisas ruins. Para os dois.

— Boa noite. — ela sussurrou se virando para o lado com que ficaria com o rosto dela, perto do peito de Edward.

— Boa noite, Morena. — ele sussurrou de volta.

Mas nenhum dos dois fecharam os olhos e caíram no sono. Ao contrário, Edward ficou cheirando o cabelo dela, e ela mordendo os lábios com a proximidade que eles estavam e com o pensamento que estava em sua mente. Ela sabia que era errado, mas, ela já estava ferrada. Não havia motivos para não arriscar. Seu corpo iria doer um pouco por causa do movimento que ela iria fazer, mas, ela sentia que deveria fazer aquilo. Mesmo que causasse muita coisa ruim.

Ela tinha que provar os lábios dele.

Com esse pensamento, ela se apoiou em seu cotovelo subindo mais para cima no colchão, fazendo com que as respirações deles ficassem misturadas. Ela passou a mão na bochecha dele, e ele fechou os olhos no escuro. Mas ela sabia que ele estava acordado. Ela podia ver pela respiração dele. Com isso, se aproximou mais do rosto dele, e selou os lábios dos dois.

Os dois fecharam os olhos e pararam.

Havia novas sensações invadindo o corpo de ambos. Era como um choque de eletricidade, que tomou conta dos dois. Por inteiro. Era uma explosão que aconteceu dentro do corpo dos dois. De desejo e de felicidade. Os dois estavam realizados. Estavam completos. Estavam sentindo a mesma coisa. Um pelo outro. Mesmo sendo errado.

Os lábios dele eram macios e quentes. Acima de tudo, eram saborosos. Viciantes. Um vicio que os dois sabiam que não teriam como se livrar. Os dois estavam maravilhados com aquelas sensações que adentraram o corpo deles. Edward sabia e sentia que ela estava tendo a mesma coisa que ele. Depois de alguns segundos, eles se separaram.

Não ouve língua. Foi apenas um longo selar de lábios que causou sensações que nenhum dos dois imaginava ter. Ele estava ansioso por mais. Mas sabia, que se ela o envolvesse ele perderia totalmente o controle que havia tido. Claro que ele queria mais, mas era arriscado. Para os dois. Ele sabia muito bem disso. Ele sabia dos próprios perigos que ele proporcionava a qualquer mulher que estivesse junto com ele, por mais de uma noite. Mas agora, não havia como ele ignorá-la. Ele queria cuidar dela. Ele queria ficar mais com ela. Queria conhecê-la melhor. Queria se tornar mais que amigo dela. Ele estava gostando dela. E essa aproximação era muito perigosa.

Ela se deitou novamente no colchão, e como uma menina que acabou de dar o primeiro beijo, levou seus dedos até os seus lábios e os tocou levemente. Apesar de ter sido apenas um selinho longo, demorado e maravilhoso, ela queria mais. Mas queria se segurar. Não queria ser fácil. Não queria ser dada. Ela queria dar passo por passo sem se preocupar se estaria indo rápido demais. A situação dos dois era muito delicada.

— Agora sim, uma boa noite pra você, Morena. — ele falou dando um beijo na testa dela, arrancando um riso baixo e um arrepio.

— Boa noite. — ela sorriu mesmo estando escuro.

Edward se juntou mais ao corpo dela, e ela com um pouco de dificuldade se juntou mais a ele também. Ele ficou fazendo um cafuné delicioso nos cabelos dela, que a fez suspirar e fechar os olhos deixando o sono lhe levar. Pela primeira vez em semanas, ela estaria dormindo em paz. Alias, os dois estariam.

Quando o dia começou a clarear, Edward se levantou lentamente e foi ao banheiro. Lavou seu rosto, e logo em seguida saiu do quarto fechando a porta atrás de si silenciosamente. Ele sabia que teria que tomar muito cuidado para ir para a sala, para não fazer barulho nenhum para Josh e Mica não desconfiarem. Deitou no sofá e se cobriu. Fechou os olhos tentando dormir novamente. E conseguiu.

— Vamos acordar, Belo Adormecido! — Mica cantarolou e Edward abriu lentamente seus olhos e se sentou.

— O que foi? — perguntou coçando seus olhos.

— Josh está preparando o café da manhã para a vadia, depois você leva lá para ela. — Mica disse. — Hoje vou sair com Josh e vamos ficar o dia inteiro fora, só voltamos amanhã pela tarde. James ligou e quer que façamos alguns trabalhos para ele.

— Certo.

— Se quiser dar algumas lições na vadia lá, pode ficar a vontade, Edzinho. Você está muito controlado ultimamente. — ela falou chegando mais perto e mexendo no colarinho de sua camiseta. Mas não era esse toque que ele queria.

— Ok. — ele deu um sorriso presunçoso.

Mica deu um selinho rápido em Edward, mas não era os lábios que ele queria. Os lábios que ele queria era daquela morena que estava machucada sem ao menos saber por que. Ele queria apenas ela.

— Vamos Josh! — Mica gritou.

— Já estou indo. — Josh gritou de volta.

O casal saiu minutos depois no carro que James havia dado a eles. Ele fez sua higiene pessoal e depois foi para a cozinha e derramou todo o suco que Josh havia botado ali, na pia, desconfiando que havia algum laxante ou algo do tipo. Depois, serviu novamente, e fez uma torrada. Colocou uma laranja, e subiu com a bandeja no colo em direção ao quarto onde Samantha estava.

Abriu a porta silenciosamente, vendo que ela ainda estava dormindo. Não iria acordá-la agora. Ela estava tão serena, tão calma, tão linda, tão angelical que ele pensou que iria se derreter só de ver aquela imagem. Violando todas as leis dele e dela, Edward avançou em passos lentos até a Isabella — Samantha para ele — e acariciou suavemente o rosto dela, e um sorriso bobo surgiu nos lábios dele.

Depois de alguns minutos, Isabella começou a se mexer na cama calmamente. Edward decidiu, então, se afastar, e ficar apenas sentado na cadeira que havia de frente para a mesa.

— Bom dia. — ele falou dando um sorriso tímido quando ela abriu os olhos.

— Oi. — ela disse.

Ela se sentou lentamente e ele se levantou. Ela fez um sinal para ele esperar, e assim ele o fez. Ela foi caminhando em passos tranqüilos até o banheiro. Escovou seus dentes e aproveitou para ver como estava seu rosto. Inchado por causa do sono. Mas nos seus lábios, haviam algumas marcas vermelhas. Marcas de sangue. Marcas da agressão que ela havia sofrido. Tocou-os com a ponta dos dedos e um ardor a atingiu. Tirou imediatamente seus dedos dos lábios, e aproveitou para lavar seu rosto.

— Você está bem. — ele perguntou entrando no banheiro.

— Sim. — ela deu um sorriso fraco.

— Mesmo? — ele disse botando a mão na cintura fina de Isabella, que apenas assentiu. — Tem café pra você. Não se preocupe, não há nenhum tipo de laxante ou algo que te faça ruim.

— Tudo bem. Obrigada.

Ela passou a mão em seus cabelos e depois se encaminhou para o quarto, e se sentou na cadeira que havia na frente da mesa. Começou a comer enquanto Edward ia até o armário e retirava a mesma mochila preta que ele havia trazido ontem com remédios e curativos.

— Acho que precisamos trocar seus curativos. — Edward disse voltando a olhar para Samantha.

— Tudo bem... — ela engoliu a torrada. — Vou precisar de sua ajuda para o banho novamente. — ela terminou e corou. Ele sorriu.

— Adorarei! — ele disse com um sorriso torto e ela riu baixo.

— Hoje eu já estou melhor que ontem, então, você não vai me ver nua. Nem vá se animando.

— Posso sobreviver com isso. — ele falou rindo e ela riu.

Ficaram nesse clima descontraído até Bella terminar de se alimentar. Depois, Edward a ajudou a ir até o banheiro, e em seguida, ajudou-a se despir e a tirar os curativos. Os hematomas ainda continuavam lá, mas davam um ar que iriam sarar em breve, isso deixou Edward mais animado, sabendo que o que ele fez por ela ontem, e o que faria por ela nesses próximos dias, iria dar resultado.

Edward deixou ela entrar no box sozinha, mas ficou ali no banheiro caso ela precisasse de alguma ajuda. De vez em quando, ele ouvia alguns gemidos baixos de dor vindo dali, e ficava apreensivo, e perguntava a cada minuto daquele longo banho se ela estava bem ou se ela precisava de ajuda.

Ele estava realmente preocupado com ela. E não sabia o quão grande era sua preocupação e do que ela poderia causar.