Odeio, odeio mesmo, odeio de verdade com todas as minhas forças ate a essência mais profunda da minha alma quando alguém me fala isso e suas derivações, sinto vontade de gritar com todas as minhas forças, de avançar no ser que proferiu tais palavras – e não é que o dicionário ajuda a falar bonito mesmo? – mas nesse dia em especial, eu só tive uma crise de soluços e dei um chute na bola de vôlei, atingindo acidentalmente a treinadora na cara, pelo menos não foi com força.

− Serio mesmo? – replicou Lah

− SI-SI-SIM! – berrei entre soluços

− Sei que eu já disse isso, mas não diga que não te avisei, você devia ter feito como eu, já resolvi esse problema desde o começo das férias, assim curti o restante delas tranqüila.

− não acredito, simplesmente não acredito que deixei tudo pro ultimo dia!

            Terminada a frase, rebati por reflexo a bola de vôlei que a treinadora jogou na minha direção, mas rebati com tanta força que ao acertar a proteção do ginásio do lado da professora, ela desmaiou, provavelmente com medo de ter sido acertada por outra bolada minha.

            Foi-se o resto do dia e veio o outro, e eu esquecendo das toneladas de dever de casa das férias resolvi fazer outras coisas milhares de bilhões de vezes mais divertida, tipo ouvir musica, ir na sorveteria, ver televisão e coisas assim. São 14h27min e estou de ponta a cabeça no sofá assistindo pela bilionésima vez uma reprise de X Files, já vi tantas vezes esse episodio que posso praticamente dizer as falas dos personagens, mas ai, alguém grita meu nome.

− O QUE É? – respondi rudemente ao chamado.

− Deixe de grosserias! – percebi que era minha mãe um pouco tarde pra não levar bronca – mas você não tinha lição pra fazer?

            Num daqueles melhores momentos a lá animação de comedia, eu larguei o controle da T.V. no chão e arregalei os olhos – é você esta pensando exatamente a verdade, eu acabei de me tocar o que eu esqueci o dia todo − e num salto me pus de pé atravessando mais da metade da sala corri pro meu quarto como o papa-léguas no deserto, eu tinha pouco tempo e não podia sequer me dar ao luxo de parar pra pensar.

            “De um copo de leite puro, toma-se ¼ do leite, completando-se com água, depois toma-se mais ¼ da mistura e completa-se novamente com água, quantas são as partes de água e leite?”

Desgraça, complicada, vou a próxima...

"Calcule o diâmetro dos círculos sabendo que π=3,14...” odeio PI, afinal, aonde eu vou aplicar isso no mundo real? Próxima...

“Através da formula de bascara...” porque sempre bascara? Eu ODEIO bascara! Melhor tentar português...

“Classifique os tipos de sujeito e predicado das frases a seguir...” AI! A ultima vez que eu vi isso foi na quinta serie! Melhor passar pra física...

“Calcule o IMC(Índice de Massa Corpórea) dos seguintes corpos:”

Vou acabar arrancando os cabelos se as coisas continuarem assim...

Meu celular toca, atendo.

− Você fica engraçada quando esta com raiva e pensando.

− Max! – quase gritei – você não sabe do meu problema...

− deixou tudo pro ultimo dia, não fez as tarefas, agora esta morrendo de raiva.

− espera ai, você disse que eu fico engraçada quando estou com raiva? – olhei pela janela, lá do outro lado da rua estava ele, no quarto dele me olhando da mesma janela que fica de frente pra minha.

− vou chutar mais uma vez, você quer ajuda com as atividades que não precisam de resposta pessoal, certo? – disse ele como que me fazendo uma oferta.

− faria isso por mim? Faria mesmo isso por mim?

− Quantas vezes eu deixei de te ajudar? − ele perguntou, mostrando mais uma vez que era meu verdadeiro melhor amigo sem precisar dizer isso..

            Eu não devia ter perguntado, de qualquer maneira, não preciso nem falar o que combinamos, ele desligou e veio me ajudar.