●๋•..●๋•

  - Alice, anda! - Sua colega a puxou pelo braço, tirando a jovem de seus desvaneios - Daqui a pouco a senhorita Mckenzi chega e você sabe que ela detesta quando os alunos se atrasam... Vamos logo pra sala! - Ainda distante, a menina assentiu com um meneio de cabeça, acompanhando a amiga até a classe. Estavam na escola e a primeira disciplina que teriam seria Artes, lecionada pela professora mais severa do colégio. Se atrasassem-se, com certeza ficariam depois da aula. Caminhavam a passos largos pelo corredor, ainda tumultuado pelos estudantes, que conversavam antes do sinal escolar anunciar o início das aulas.

  Quase três anos haviam se passado desde aquela noite. E Alice ainda tinha pesadelos sobre os Winchesters e o apocalipse. Não sabia mais o que fazer, aqueles sonhos, sempre tão reais, lhe tiravam o sono. Quantas vezes não se pegou pensando em Miguel e Lucífer, que continuavam presos naquela jaula? Por quantas noites não ficou acordada escrevendo sobre a incógnita que Sam havia se tornado após ter recuperado sua alma? Por tantas tardes ficara a desenhar Dean gritando por socorro nas profundezas do Inferno... E o anjo de olhos azuis? Castiel certamente era o que mais vinha enfrentando dificulades nos últimos meses: sem Miguel como general, Rafael queria assumir o controle do Paraíso a todo custo, e aquilo acabara desencadeando uma guerra entre seus irmãos. Quantos problemas! E não se cessavam... Recentemente, vinha tendo pesadelos com uma jovem não muito mais velha do que ela, talvez uns vinte anos, longos cabelos castanhos e olhos escarlates: a mãe de todos. Duas semanas desde que essa nova personagem entrara em cena, saida do purgatório. Afinal, quais os novos mistérios que estariam rondando os rapazes?

  Suspirou, ainda perdida em suas reflexões, enquanto arrumava o material em sua carteira. Sophie observava-a com uma sobrancelha arqueada: desde que conhecera Alice, a pouco mais de um ano e meio, quando eram calouras no ensino médio, a adolescente sempre fora muito quieta. Seu jeito misterioso e calado a intrigava. A morena atiçava sua curiosidade. Por vezes perguntou a ela o que se sucedia, mas a mesma nunca lhe dizia nada, a não ser algo como "lamento, me distraí." ou "ah, não é nada de mais..." Mais uma vez, resolveu arriscar:

  - No que você 'tá pensando? - Perguntou, enquanto sentava-se a seu lado.

  - Eu? - Riu de sobressalto - Nada...

  - Ah, que isso, Alice: nós somos amigas, não é? Então porque você não me conta nada? Por acaso não confia em mim?

  - Não é nada disso, Sophie... - A garota disse diante da torrente de questinamentos feitos pela colega - É só que... - Estava hesitante em lhe contar sobre seu segredo. Desde a noite em que falara com seu pai, jamais voltara a dizer algo a respeito de seus sonhos outra vez. No início, pensou que fossem apenas tormentos causados pelo seu subconsciente: assistira a um filme de terror na televisão um dia antes e ficara impressionada, apenas isso. No entanto, após meses tendo pesadelos com as mesmas pessoas (ou coisas), já estava desesperada. E se lhe achassem louca? Ou se não acreditassem nela? Valia mesmo a pena arriscar? Sophie tinha razão: precisava conversar com alguém... Encarava a loira de olhos castanhos, que permanecia do mesmo modo. Respirou fundo - Olha...

 TRIIIIIIIIIIIIIIIIMMMMM.... O sinal ensurdecedor e barulhento soou, interrompendo ambas. Em seguida, a mulher ruiva de cabelos cacheados, presos num coque alto, entrou na sala. Andou lentamente até sua mesa, onde depositou seus pertences. De súbito, olhou seus alunos por cima do óculos, como se fosse um aviso para que todos se calassem e voltassem-se para a mesma. O que de imediato aconteceu. O ruído dos saltos de seu scarpin vermelho eram os únicos sons que se ouviam. Ajeitou seu avental branco e começou:

  - Bom dia, turma. - Disse seca - Trabalhos em cima da minha mesa, irei corrigí-los e devolvê-los no quinto período. Espero que todos tenham trago as apostilas de "História da Arte", pois vocês terão de ler os textos das páginas 229 à 236 e me entregar um resumo de suas conclusões ao final desta aula. Não quero ouvir conversas paralelas alheias ao assunto que discutiremos, entendeu senhorita Mason? - Seus olhos pousaram sobre a figura de Sophie, que ainda fitava a colega pensativa.

  - Hã? Ah, claro, senhorita Mckenzie! - Sorriu constrangida. Ficara frustrada com o acontecido. "Por que o sinal precisava tocar justo agora?! ARGH..." 

●๋•..●๋•

  Andava apressado pelas ruas abarrotadas de pessoas daquela cidade. Imaginava o que fariam se soubessem que, naquele exato momento, ocorria uma guerra entre anjos e demônios, que decidiria o futuro dos mesmos. Provavelmente entrariam em pânico, ou não acreditariam. "Às vezes, preferem viver uma mentira do que encarar a realidade..." Ele realmente não compreendia os humanos.

  - Ah, por favor, me perdoe! - A menina que aparentava ter pouco mais de quinze anos se desculpava: haviam esbarrado-se sem querer. Assim como o mesmo, parecia estar distráida com alguma coisa... Castiel apenas a mirava com certo receio, não sabia ao certo o que era. A adolescente de longos cabelos negros e olhos claros lhe sorriu antes de pôr-se a andar outra vez, carregando seus livros, provavelmente da escola. O anjo a segurou pelo braço a fazendo parar e encará-lo assustada - O que...?

  - Como se chama? - Perguntou num tom calmo e sereno.

  - E-eu... - Balbuciou pouco nervosa, se desvencilhando do toque.

  - ALICE! Espera... - Sophie chegou correndo, surpreendendo o anjo. A garota o fitou confusa e voltou-se para a colega - O que 'tá acontecendo?

  - Nada. - A morena o mirou uma última vez, com uma sensação estranha a respeito do mesmo - Vamos. - Saiu acompanhada da loira, que nada entendera. Cass a observava se afastar com um semblante preocupado. "Quem é você?" Se perguntava...

●๋•..●๋•