Coroa de Flores escrita por CarolTV
Notas iniciais do capítulo
Sim, depois de 4 anos decidi dar uma chance a essa história. Passei por alguns problemas e sinto que escrever é uma das coisas que podem me fazer bem. Realmente era uma boa história. Não garanto frequência de postagem, mas espero que pessoas leiam haha.
Uma corsa de pelos dourados dormia enroscada à sombra da árvore mais bonita de um jardim cercado com altos portões. Dormitava tranquilamente enquanto o sol lançava seus primeiros tons de laranja ao céu azul. Muito pacientemente ao seu lado repousava um enorme leão, majestosamente sentado, observando o movimento das avezinhas que acordavam nas árvores. Então ela despertou.
– É muito bom lhe ver de novo. – disse o Leão.
A corsa, que ainda piscava com a claridade do amanhecer, lhe respondeu:
– A que devo o prazer de acordar ao seu lado, Pai?
– Preciso que você saiba que esse ano será diferente. Você terá que tomar uma difícil decisão muito em breve. Mas não se assuste. Siga a brisa, o Vento, abençoe todo o seu reino daqui até Cair Paravel, leve o chamado da Vida. Seu primeiro dia já começou. Ame a Natureza florescente como se fosse sua última bênção. – e encerrou dando-lhe um beijo na cabeça. Ela assentiu e ele se afastou, desaparecendo entre as árvores.
Ela se levantou e se chacoalhou. Olhou ao redor. Uma brisa suave tocou seus pelos e ela se preparou mais uma vez para cumprir seu propósito. Seguiu-se então uma lufada de vento fresco e ela deixou-se desfazer em uma nuvem de poeira cintilante que foi logo carregada para cima pelo ar. E assim, quando já havia sido carregada por cima dos portões e além, o brilho voltou a se condensar no ar, dessa vez na forma de uma grande águia. Por onde passava, as ninfas nos campos abaixo despertavam, e também os pequenos animaizinhos, que corriam aos riachos para tomar da água ainda fresca do inverno que se encerrava. Andorinhas vinham se juntar a ela em seu voo, destes-de-leão espalhavam suas sementes pelos ares. Nas montanhas, as oréades saíam de suas grutas e cavernas para saudar o sol da manhã que derretia os últimos picos de neve.
Por alguns dias ela ainda iria tocar paragens que conhecia bem. A floresta de pinheiros e carvalhos, onde sempre gostava de parar por uma noite e festejar com os sátiros a sua própria chegada, aceitar os presentes e banquetes fartos de frutos e nozes, dançar ao som da flauta que amava tanto. Nas montanhas gostava de correr com os linces, saltando entre as rochas livre e veloz como eles. Nos vales se fazia uma náiade e com elas nadava entre os peixes, em direção ao maior rio que atravessava o Reino de Nárnia. Ela se juntava a todas as ninfas, tomava ora a forma das flores, a forma das águas ou das árvores, e dançavam noite e dia através do país. Por onde passavam acordavam os animais e as plantas, a grama verdejava com vivacidade sob seus pés e os ares se enchiam de seus belos cantos e dos pássaros que, entusiasmados, também se davam à cantoria. Celebravam com faunos e centauros, e às vezes até anões.
Mas todos os anos, e dessa vez mais do que nunca, ela ansiava chegar a Cair Paravel. Seres humanos lhe fascinavam, e gostava de assisti-los nas grandes festas do palácio que davam em sua honra. Gostava de vê-los, eram mais alegres do que aqueles de Telmar. Viviam em harmonia com a Natureza ao seu redor e como eram bons para o povo! Fora sempre grata a eles pelo fim do longo Inverno. Ainda lhe doía como aquela feiticeira perversa fora capaz de submeter seu Espírito irmão e às criaturas da Natureza ao seu poder maléfico. Achava-os tão bonitos e fortes. Até então nunca tomara parte em suas festas por não saber qual forma queria ter: se a dos Filhos de Adão ou a das Filhas de Eva – fora sempre algum pássaro, algum lobo ou leopardo sentado calmamente a um canto, certa vez fez-se até de sereia para vê-los correr pela praia. Foi quando da visita de uma princesa estrangeira, passara a reparar com mais cautela o Grande Rei Pedro. Ele a tocava com delicadeza e dançavam ao som das flautas e cítaras, lhe falava com um afeto que soava diferente do destinado a qualquer outra pessoa. Tinha um sorriso que ela pudera apenas descrever para si mesma como feliz e tão simples. Seu riso era mais doce que o som da brisa nas folhas das árvores, seu olhar suave era como o de um cervo que observa a campina.
Ela se deu conta, então, de que sentira inveja da mulher que o pretendia. Queria sentir a textura de sua pele, o cheiro de seus cabelos, o sabor de seus lábios. Foi assim que, enquanto voava para mais outra temporada de celebrações e bênçãos, o Espírito da Primavera decidiu que, dessa vez, seria uma mulher.
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