Agora que pertencemos a algo muito maior, os sofrimentos de nossa vida não aprecem ter a menor importância. Mas há quem ainda pergunte com que história se preenche a lacuna entre os Anos de Ouro da antiga Nárnia e o domínio telmarino em nosso país. As pessoas não gostam de histórias tristes, talvez por isso elas tenham preferido esquecer. Ou talvez não tivessem esquecido, porque era uma história importante demais e há capítulos da vida do mundo que nos forçamos a enterrar, mas não conseguimos. Embora esta seja uma passagem triste, ela não era triste o tempo todo.

Muito pelo contrário, o que faz da minha história uma tragédia não é o começo ou o meio, mas apenas o infeliz desfecho que traz. Se um velho contador de histórias decidisse parar em “Quando chegou a primavera ela era a nova Rainha de Nárnia.” nenhum de vocês esperaria que não fossemos felizes para sempre se não soubessem o que aconteceu ao fim dos Anos de Ouro.

Talvez seja por isso que a memória viveu em silêncio no coração dos narnianos. Lembrar era muito mais doloroso do que eles podiam agüentar. Mas foram tempos áureos tão prósperos e em paz que nos recusamos a esquecer.

Estamos juntos de novo, juntos para sempre. Eu os estive esperando desde o dia em que partiram em busca do Veado Branco. Eu esperei por muito tempo, eu mesma busquei pelo Veado Branco certa vez, eu queria a realização do meu desejo maior e de todos os narnianos: que os reis voltassem ao reino que lhes pertencia. Mas não o encontrei. Meu tempo acabou e eu tenho estado nesse mundo enorme à espera.

Aqui não doía a saudade porque aqui eu sabia que os veria de novo. Os dias foram brilhantes e são ainda mais brilhantes agora. Já que todas aquelas dores não passam de um espectro e muito os paisanos têm me indagado há a história de ser narrada, tal qual como aconteceu.

Mas não por mim, ou por qualquer dos grandes Reis. Talvez vocês queiram ouvi-la nas doces palavras de um poeta cego –agora ele enxerga perfeitamente – que viveu essa época e vocês já devem conhecer. Ou não conhecem o conto d’O cavalo e seu menino? Tenho quase certeza de que sim.

Com a palavra, o Senhor Poeta.