Livre Arbítrio: Eu Escolho Você. escrita por MilaBravomila


Capítulo 49
Capítulo 49




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Senti o doce perfume de Luce quando ela passou por mim e saiu do quarto. Seu cheiro sempre me fazia estremecer. Cam estava sentado na cama e parecia debilitado. Eu sabia que ele estava mostrando a ela que estava bem, mas que levaria ainda alguns dias pra se recuperar totalmente.
- Como você está? – perguntei ainda de pé.
Ele não respondeu, apenas sacudiu a cabeça com um “sim” silencioso.
- Eu só queria te agradecer pelo o que você fez.
- Não foi por você, Daniel.
- Eu sei, mas não me importa. Você salvou a vida dela naquela noite e a manteve segura todo esse tempo quando eu não pude estar lá, então eu estou te agradecendo.
- Bom, eu faria de novo, se quer saber. – Cam respondeu com seu ar decidido e arrogante – Faria tudo por ela.
- Eu sei disso. – respondi contido.
- Bom, então não finja que não está puto, camarada, porque eu ouvi que ela te contou o que houve entre a gente em Vegas.
Senti o sangue esquentar em minhas veias, mas sorri.
- Se você ouviu nossa conversa, então certamente ouviu o final dela, então me fala, quem é que está fingindo agora?
Vi a chama da raiva em seus olhos. Ele estava machucado fisicamente, mas ver Luce junto a mim era o que mais o magoava. Era uma merda admitir, mas ele a amava de verdade. O que ele não sabia era que não existia a menor possibilidade de o amor dele ser maior que o meu.
Cam passou as mãos pelo cabelo desgrenhado com dificuldade e respirou fundo.
- Vocês não vão amanhã a tarde, não é? – ele perguntou meio que afirmando.
- Não, e achei justo contar a você. Partimos daqui a pouco.
Ele riu um pouco e completou:
- Ela não te odeia por fazer as coisas sem consultá-la?
- Provavelmente, mas depois a gente se resolve. – respondi friamente enquanto andava lentamente até a janela aberta de seu quarto.
- O que, você quer que eu me despeça dela agora? – ele perguntou cinicamente voltando a se deitar.
- Não. Como eu disse, só estou te agradecendo pelo o que você fez. Eu só quero que você se recupere e que depois disso não se aproxime mais dela.
Ele soltou uma risada gutural, mas sua debilidade física fez parecer como um grunhido. Com dificuldade, ele voltou a sentar na cama.
- Ai, Daniel, você me diverte. Quem escuta você falando desse jeito até poderia pensar que era uma ameaça.
Eu dei meia volta e fiquei de frente pra ele. Eu não queria mais jogar.
- Cameron – eu falei no tom mais calmo que consegui – eu quero que você me escute. Por mais que eu seja agradecido pelo o que você fez, eu não vou mais tolerar sua aproximação, não vou mais admitir suas investidas. Luce é minha mulher e eu não vou tolerar você ou ninguém mais que queira tirá-la de mim. Eu vou lutar por ela com muito mais força que você pode sonhar em fazer, então, pro seu bem, eu espero que se mantenha afastado. Entenda isso como quiser.
Nos encaramos em silêncio por um curto tempo e seus olhos me disseram que ele entendeu meu recado. Ambos sabíamos, no fundo, que ele não iria desistir; sabíamos que nosso próximo encontro seria sangrento, mas eu estava disposto a tudo.
- Se você já deu seu recado, pode sair. – a voz dele saiu rouca por entre os dentes.
Cinco minutos mais tarde, eu estava nos braços da minha amada.
...
“Por favor, Senhor, não permita que eles se matem.”
Essa era a prece silenciosa que eu entoava enquanto andava pra longe do quarto de Cameron.
Eu senti, assim que o reencontrei, que algo havia mudado. Não o amor dele por mim, esse eu sabia que esse seria eterno, assim como o meu por ele, mas havia algo de decisão nas suas palavras e suas atitudes. Eu sabia que ele não toleraria mais nenhum tipo de aproximação entre eu e Cameron e isso me assustava. Eu tinha medo do que poderia resultar de um confronto entre os dois e sabia que a cada dia, isso se tornava mais iminente.
- Luce, conseguiu sair viva de lá? – a voz de Arriane me atingiu quando cheguei no térreo.
- Ai Arriane, que susto! – exclamei quando vi seu corpo magro a menos de um metro de mim – Você não perde a mania de surgir do nada, né? – eu falei levando a mão ao peito.
- Tá devendo ou o quê? – ela perguntou piscando e me abraçando com um braço.
- Daniel e Cameron sozinhos no quarto. Isso te diz alguma coisa? – perguntei irônica esperando ela juntar as peças e ficar tão nervosa quanto eu.
- Sexy... – ela respondeu olhando pro nada como se tivesse imaginando algo - Luce, querida, você sabe que eu te adoro e que tenho maior respeito pelo Daniel e blá blá blá, mas vamos combinar que ele e Cameron juntos fazem uma dupla, hein?! – ela respondeu ainda brincalhona.
- Nem me fale. – oi tudo o que eu consegui responder, se ela soubesse o que ocorre entre nós...
- Olha, fica calma. – ela disse quando começamos a andar em direção ao lado de fora do prédio – Cam está muito debilitado e Daniel não vai tentar nada com ele agora.
- Eu sei, só...
- Só o quê? – ela perguntou.
- Sei lá, Arriane, eu acho que tenho medo do que eles podem fazer um ao outro.
Arriane respirou fundo e parou de andar. Ficou de frente pra mim quando disse:
- Luce, sabe que eles te amam e que fariam de tudo pra ficar com você, não é?
- Eu sei.
- E sabe que você é a única pessoa que pode impedir isso, não é?
Como eu não respondi, ela prosseguiu.
- Talvez você não saiba o que quer.
- Não! – eu berrei.
- Não de não é isso, ou não de não sabe? – ela perguntou.
- Arriane, você está me confundindo.
- É simples, Luce. Você tem dois caminhos a seguir, mas não pode trilhar os dois juntos.
Uma voz saiu de dentro de mim e falou com tanta certeza e com tanta autoridade que eu até duvidei que fosse realmente minha.
- É Daniel o meu caminho. Eu não vivo sem ele, não posso.
- Então já sabe o que fazer com Cameron. – ela finalizou.
Nos encaramos em silêncio. A verdade de minhas próprias palavras martelando meu coração. Terminar com Cameron – seja lá o que fosse que nós tínhamos juntos – me doía, demais, mas só de pensar em fazer o mesmo com Daniel, o ar faltava de meus pulmões.
Nos olhos de Arriane eu via a compreensão, a amizade e o apoio. Naquele momento, naquele ínfimo minuto, eu senti vontade de abraçá-la e de agradecer a ela pela amizade que me dava. Eu não a via como um anjo caído, como alguém que fazia parte de toda essa bagunça que se tornou minha vida, era apenas Arriane, minha amiga Arriane.
Um pequeno sorriso brotou em nossos lábios.
- Obrigada. – sussurrei. Ela se pôs a me enviar seu sorriso mais brilhante.
- Meu anjo. – a voz aveludada de Daniel surgiu perto de nós. Ele trazia nos ombros uma mochila, uma das grandes.
Eu olhei para ele e para a bagagem.
- Pronta pra ir? – ele perguntou antes de me dar um selinho.
- Ir? Tipo, agora?
Ele apenas sorriu e ficamos nos encarando.
- Eu não tenho a noite toda, OK? – Arriane disse autoritária enquanto batia a mão no pulso, como se houvesse um relógio ali.
- Você vai com a gente? – eu perguntei meio atordoada.
- Relaxa, não vou empatar nada! Só vou acompanhar até um pedaço do caminho, depois os pombinhos vão sozinhos. – ela sorriu maliciosamente e eu senti minha bochecha esquentar - Já volto. – ela disse pra nós enquanto partia em disparada para cima.
Eu continuei sem entender coisa alguma. Daniel me abraçou ternamente me olhando com aquele violeta penetrante.
- Nós vamos pra longe, ficaremos distantes por um bom tempo, até que os outros acalmem as coisas por aqui e encontrem algumas respostas... mas você não pode mais ficar vulnerável, meu amor.
Ele acariciava meu rosto com as mãos e me explicava docemente, calmamente. Eu sacudi a cabeça em afirmação, pois compreendia que minha vida era mais que apenas minha agora e queria fazer de tudo pra ajudar. Já foram dois ataques que chegaram muito próximos ao seu objetivo, eu não podia permitir que Daniel e os outros ficassem amaldiçoados pra sempre, eu tinha que me manter segura e viva por mim e por eles, mesmo que isso significasse me afastar da minha família e amigos.
- Eu entendo. – sussurrei de volta, apertando meus braços ao redor de sua cintura.
- Meu anjo, Arriane já vai voltar pra que possamos partir, então... essa é a hora pra você fazer o que tem que fazer, sabe...
Eu sabia que Daniel se referia a Cam. Despedida, essa era a palavra. Engoli com força o nó que se formou em minha garganta e falei decidida.
- Não há nada pra ser feito, Daniel. Estou pronta pra partir com você.
Ele fez o que parecia impossível: seus olhos violetas olharam ainda mais fundo em mim, e brilhavam intensamente. Essa tinha sido minha decisão, era ele quem eu queria. No fundo da minha alma uma parte estava chorando. Não havia mentido quando disse a Cam que o amava, mas essa parte ficou enterrada em mim, junto com Margarett. Daniel era meu passado, meu presente e futuro.
Eu sabia que Cam sentiria muito quando soubesse que saí sem dizer adeus, mas seria melhor assim, pra nós dois. Eu o queria muito bem e meu maior desejo era que ele pudesse ser feliz, mas minha escolha foi feita há muito tempo, há séculos atrás, quando encontrei Daniel pela primeira vez.
- Eu te amo. – eu disse pro meu anjo loiro que estava visivelmente emocionado. Acariciei-lhe a bochecha e dei um beijo suave nos lábios.
Arriane chegou nessa hora.
- Podemos ir, eu já preparei o candelabro.
Eu e Daniel rimos com a encenação dela de estar segurando uma vela com a mão, enquanto que levava uma mochila enorme na outra.
Franzi o cenho.
- Vocês vão me levar pra acampar, é isso? – perguntei.
- Mais ou menos. Toma. – ela respondeu tirando um casaco do tipo sobretudo de dentro da bolsa e estendendo em minha direção.
Era uma bela peça, feita de lã preta e grossa, mas tinha um corte moderno.
- É melhor se agasalhar pra viagem. – Daniel disse ajeitando o casaco em meu corpo e me ajudando a fechar os botões.
Depois que eu estava devidamente agasalhada, ambos ajeitaram as mochilas e abriram as asas. Daniel me envolveu em seus braços fortes e me apertou contra seu corpo quente antes de partirmos.
...
Voamos pelo o que me pareceu uma eternidade, uma bela e suave eternidade. Estar no céu sentindo o vento em meu rosto e o cheiro do oceano negro lá embaixo era tão absolutamente maravilhoso, que me fazia esquecer completamente do tempo. Arriane voava ao nosso lado e fizemos uma viagem silenciosa, com Daniel apenas guiando-a para onde virar. Sobrevoamos algumas cidades e percebi que íamos cada vez mais ao norte.
Apesar de Daniel me manter segura a apertada contra si, o frio estava começando a me atingir, tanto devido às horas da madrugada que avançava quanto pela posição geográfica em que estávamos, além da velocidade. Mas era tão gostoso, que eu poderia voar pra sempre assim com ele.
Finalmente, começamos a reduzir a velocidade quando nos aproximamos de uma pequena cidade. As luzes, gradativamente foram aumentando de tamanho e as casas tomando forma. Era uma cidade bem pequena e totalmente diferente do que eu estava acostumada. As ruas impecavelmente limpas e organizadas estavam desertas àquela hora da madrugada. As casas dispostas simetricamente eram muito iguais umas das outras. Parecia uma cidade de bonecas.
-Você está sorrindo. – Daniel me disse assim que posamos no meio da rua.
- É que... é bonita. – respondi me referindo à pequena cidade.
- Bom, faz tempo que não venho aqui, e quer saber, tá exatamente a mesma coisa. – Arriane disse chegando perto de nós.
- Onde estamos? – quis saber.
- Northanville, uma cidade ao sul do Canadá.
- Canadá? – perguntei surpresa pela distância que percorremos – Nossa...
- Vamos passar a noite na casa de um velho amigo. – ele falou enquanto começávamos a caminhar.
- Andamos dois minutos exatos pela rua principal da cidade – ao que me pareceu – e entramos em uma das transversais. Três minutos depois estávamos na frente de uma casa simples e adorável.
Daniel bateu gentilmente na porta e poucos instantes depois um senhor que me lembrou muito o Papai Noel, nos atendeu.
- Daniel, Arriane! – ele nos recebeu abrindo os braços.
Daniel deu um longo e apertado abraço no velhinho simpático e Arriane foi a próxima. Foi engraçado ver a expressão dela ao fazer isso, ela parecia, sei lá, com vergonha de estar tão feliz ao revê-lo.
- E esta deve ser a adorável Lucinda Price. – o senhor falou olhando em minha direção.
- Muito prazer. – eu lhe sorri e estiquei uma das mãos.
O senhor a apertou com delicadeza e permaneceu fascinado me encarando.
- Tantas histórias... – ele disse – eu fico realmente encantado em conhecê-la, Srta. É uma grande honra.
Eu senti a droga das minhas bochechas esquentarem mais uma vez. Era uma merda isso.
Daniel me sorriu e passou um braço ao redor de minha cintura.
- Podemos entrar? – Daniel perguntou.
- Claro! Por favor, fiquem a vontade.
O senhor saiu da frente para que pudéssemos passar. A casa era bem simples e aconchegante. Era organizada e cheirava a sopa e incenso. Nós depositamos a bagagem sobre a mesinha da sala e sentamos no sofá. Através do enorme relógio da lareira eu vi que já passavam das três da madrugada.
- Eu fiz uma sopa pra vocês se alimentarem antes de descansar. – o senhor falou sorridente se encaminhado para a cozinha ao lado – Eu já volto.
- Eu espero que acompanhe batata frita com esse troço. – Arriane disse baixo cruzando os braços sobre o peito.
- Arriane! – Daniel a repreendeu, mas deixou escapar um sorriso.
- Ah, Daniel, qual é? Até parece que você não lembra do gosto que tem! – ela disse rebelde, ainda controlando o tom de voz. – Luce, não se preocupe, eu trouxe biscoitos e chocolate pra gente se manter mais tarde.
Eu ri.
- Daniel, quem é ele?- perguntei depois do acesso de riso que Arriane me provocou.
- Harvens é um velho amigo meu, quer dizer, nosso. Ele esteve ao nosso lado há muitos anos atrás quando travamos uma batalha lendária contra um grupo de banidos...
- É claro, que eu era muito mais jovem e muito menos pesado, também! – a voz redonda de Harvens preencheu a sala orgulhosamente, interrompendo Daniel.
- E põe menos pesado nisso, hein! – Arriane completou sorrindo.
Harvens deu uma enorme gargalhada e eu podia jurar que ele ganhava a vida se vestindo de bom velhinho nas festas de fim de ano.
- Eu era bom com a espada, e ainda sou. Pena não ser mais tão ágil... – ele lamentou ainda de bom humor – Venham, vamos comer.
Nós fomos até a copa e o cheiro da sopa de legumes invadiu meu nariz. Havia torradas e diversos tipos de pães e temperos e a sopa estava uma delícia, apesar de Arriane ficar fazendo cara de vômito quando Harvens não estava olhando. Era uma exagerada.
Tivemos uma ótima refeição e foi bom ouvir as histórias dele. No fim, já se aproximavam das quatro da manhã e o cansaço finalmente me atingiu. Harvens cedeu o quarto dele pra eu e Arriane descansarmos enquanto ele e Daniel se ajeitariam na sala. A cama era de casal e eu e Arriane deitamos lado a lado, como amigas de escola.
- Arriane, obrigada por vir conosco. – eu disse pouco antes de meus olhos fecharem pesadamente.
- Descanse bem, luce, amanhã vai ser um grande dia.
As palavras dela se perderam no escuro da minha cansada mente e eu apaguei.
Na manhã seguinte, ou melhor, na tarde seguinte, eu estava muito melhor. Sim, eu acordei na hora do almoço e parecia que eu tinha dormido por dias ao invés de horas.
- É essa sopa de legumes que Harvens faz, esse troço revigora, mas é ruim como xarope. – Arriane resmungou enquanto abria as janelas do quarto. O dia estava lindo e o céu era de um azul profundo, perfeito.
- Onde está Daniel? Eu não ouço a voz dele lá fora. – perguntei ainda meio sonolenta sentada na cama.
- Bom, ele está ocupado. E a minha missão é aprontar você.
- Me aprontar, pra quê?
- Nós temos um compromisso muito importante e você deve estar preparada.
A voz de Arriane estava contida e eu fiquei um pouco preocupada. Eu não fazia idéia do que estávamos fazendo nessa cidadezinha, mas me parecia importante. Talvez houvesse outros, como Harvens, que poderiam nos ajudar. Pelo o que eu tinha entendido da conversa no jantar eles se conhecem de décadas e Harvens lutou ao lado deles mais de uma vez. Talvez ele pudesse nos dar as informações que precisávamos saber sobre os banidos e sobre essa estranha aliança com os Primeiros.
Assim sendo, deixei Arriane tomar a frente. Comemos novamente o que sobrou da sopa da noite anterior – quer dizer EU comi, porque ela se recusou a comer algo tão saudável, como ela mesma disse. Arriane ficou com os pães e alguma alface que encontrou na geladeira, além de seus biscoitos e chocolates.
Quando deu quatro da tarde nós já tínhamos feito as unhas e hidratação no cabelo – sim, Arriane levou esmaltes e cremes de hidratação. Eu reclamei no início, a última coisa que passou pela minha cabeça foi me embelezar, mas contra Arriane, nem mesmo um furacão.
Já que eu não tinha Daniel e não tínhamos o que fazer até o fim da tarde, ficamos bancando as mocinhas.
- OK, você está definitivamente linda. – ela anunciou quando me olhou da cabeça aos pés – Eu sou foda ou não sou?
- Falando assim parece até uma missão quase impossível me deixar apresentável. – eu disse fingindo estar brava.
A verdade era que eu estava feliz. Passar uma tarde aparentemente normal com ela foi gratificante e agora, me olhando no espelho, me senti muito bem. Eu estava com um vestido claro e de corte romântico, com manguinhas fofas. O decote não era muito profundo e a cintura era acentuada. Ele parava no joelho, mas vestia tão bem que eu até sorri. A sapatilha cor bege fechava o visual feminino. Definitivamente, não era o tipo de roupa que eu usava, mas certamente me tinha caído como uma luva e eu estava me sentindo... linda.
Arriane estava com uma calça descolada branca e uma bata azul clara, muito bonita.
- Ok, onde é a festa, então? – eu perguntei sorridente.
- Não é uma festa, é uma reunião... e pra variar estamos atrasadas, vamos.
Nós saímos finalmente da casa de Harvens e o final da tarde estava realmente deslumbrante. Bateu uma vontade desesperada de estar ao lado do meu anjo vendo o fim desse dia lindo, assistindo ao pôr-do-sol ao seu lado. Nós passamos pelas poucas pessoas nas ruas curtas e organizadas da cidade e todos pareciam tão felizes, que era como se o sol estivesse banhando a todos com alegrias e esperanças renovadas, inclusive a mim.
Chegamos em um terreno mais afastado do centro da cidade, era como um mini sítio, ou foi o que me pareceu. Era um local lindo, com um vasto campo verde de grama tão perfeita que parecia artificial. Esporadicamente, surgiam árvores e moitas de flores das mais variadas cores. O cheiro do campo limpava meu corpo por inteiro e o dourado do sol poente contrastava com o céu vermelho e violeta, violeta como os olhos do meu amado...
- Chegamos. – a voz de Arriane me fez despertar.
Estávamos de frente para uma pequena construção, uma casinha, diria eu, exceto pelo pequeno sino no topo e também pela cruz de bronze acima da porta de entrada. Era uma capela.
- Uma capela? – eu perguntei confusa – Vocês marcaram a reunião numa capela? Daniel está lá?
Arriane se virou pra mim e pegou minhas mãos. Eu olhei imediatamente pra baixo assim que senti que ela me passava algo delicado pra segurar. Era uma rosa, uma rosa branca. A mais linda rosa branca que eu já tinha visto na vida.
- Esse é um encontro muito especial, Luce – ela disse com os olhos brilhantes – E eu me sinto muito feliz por poder estar aqui com vocês.
Eu comecei a juntar as peças, comecei a perceber tudo. A flor, a capela, a ausência de Daniel. Quando ela abriu a porta a minha frente, tudo se confirmou. A capela era simples e pequena, com apenas cinco fileiras de bancos de cada lado. Buquês de flores multicoloridas adornavam o local e o aroma era suave, delicado, envolvente. O tapete vermelho era macio aos meus pés. Há alguns metros de distância estava o altar e ao fundo uma imagem da Virgem Maria segurando seu filho nos braços. Harvens estava com uma batina branca, impecável, atrás de um pedestal, sobre o qual repousava uma bíblia aberta. O rosto do velhinho era de pura bondade e felicidade e ao lado dele, a imagem perfeita de Daniel, vestido de branco e com suas asas douradas preenchendo e roubando a luz do ambiente. Ele estava me esperando e sorriu tão docemente que me doeu. Uma lágrima silenciosa escorreu de meus olhos quando eu lentamente comecei a andar em sua direção.


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Notas finais do capítulo

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