Ela até tentou controlar o choro, não queria perder a compostura na frente de todos, principalmente de James. Porém todo e qualquer esforço que fizesse seria em vão, Lily tinha vivido um verdadeiro pesadelo desde que pisara no Beco Diagonal e estava fisicamente e mentalmente exausta.

Potter continuava afagando suas costas, a ruiva tentou diversas vezes reprimir as lágrimas quentes que banhavam sua bochecha, mas seus soluços sempre voltavam. Ela sabia que não era a única cansada, todos na sala tinham passado por momentos difíceis - até mesmo Petúnia que fatalmente estava se controlando no meio de tantos bruxos - e era injusto que ela monopolizasse as atenções.

– V-Você não pod-dia ter feito aquilo comigo... - disse a menina chorosa ainda no colo de Pontas. - Eu q-queria ter fic-cado... Ficado com v-você!

– Não queria você nem mais dois segundos perto daquele lugar... Não se culpe, está bem? - Ele a abraçou mais forte - Ela dormiu desde que chegou? - Perguntou ele para alguém cujo Lily não conseguia ver. Essa pessoa deve ter negado pois ele agarrou as pernas da ruiva e a pôs em seus braços, tirando-a do chão. - Ela precisa dormir...

James a levou pelas escadas e ninguém o impediu. A menina continuava aos prantos, com raiva por ter sido deixada para trás no Beco Diagonal, raiva por não ter conseguido impedir que Potter a jogasse na lareira e principalmente raiva por seu beijo com ele ter sido um mero artifício de distração.

Quando o colchão tocou suas costas Lily se virou para o travesseiro, escondendo o rosto de James. Ele já a tinha visto chorando demais, não queria parecer fraca na frente de ninguém, muito menos dele. Mais raiva por ter chorado debilmente em público inflou em seu peito.

– Eu sei que está com raiva de mim, mas o que eu fiz foi para sua proteção. Por favor, por favor.... não me odeie por isso - Potter implorou enquanto alisava os longos cabelos ruivos da menina.

A garota não respondeu, permaneceu com seu rosto escondido na fronha, e após alguns minutos escutou os passos de James para fora do quarto e o bater da porta ao se fechar. Ela estava sozinha, e não demorou muito para que o clamor de seu corpo por repouso vencesse e a fizesse dormir. Quando as pálpebras pesaram, ela não as impediu de se fecharem.

Lily despertou com os resmungos de Xinsy no pé da cama, o gato devia estar estressado por estar na mesma casa que um cão, um rato e um lobisomem. Os miados do felino a despertaram, deixando-a alerta. A ruiva não se importou por ter sido despertada, pois estava com sede. Calçando pantufas que estavam ao lado da porta ela saiu pelo corredor escuro da casa.

Tudo estava silencioso, provavelmente todos cederam à exaustão e dormiam como pedras atrás de cada porta. Sem fazer nenhum som a menina andou lentamente até a cozinha, mas um diálogo cochichado a fez parar. Estava vindo da sala de jantar.

Não era do feitio de Lily espionar os outros, mas era James quem estava falando e isso aguçou a curiosidade dela, a fazendo se abaixar atrás de uma poltrona e ouvir silenciosamente cada palavra da conversa.

– Quando soube que o Beco Diagonal estava sofrendo um atentado dos Comensais da Morte, liguei para a casa de Lily e como era de se esperar ela já tinha ido para lá fazer as compras dos materiais. Não podia deixar ela lá, tive que ir tirar meu Lírio daquela confusão.... Você não ia acreditar em como ela estava quando consegui achá-la, no meio do caos, caída no chão cercada de gente desesperada e ilhada pelo fogo.

– Eu sei que você tinha que tirar ela de lá, acha que eu quero ver aquela marrenta ruiva no meio daqueles malucos? - respondeu Sirius - Só acho que você devia ter nos avisado, podíamos ter ajudado...

– Não tinha pó de flu o suficiente pra mim e para ela, como acha que íamos voltar nós cinco? Quatro na verdade, por que duvido que o Rabicho iria. - Justificou Potter. - Eu fiz o que achei certo, não é possível que meus amigos e Lily estejam com raiva de mim!

– James, todos nos importamos com você... Nas horas que você ficou desaparecido essa casa virou um hospício. Sua mãe estava inconsolável e se você tivesse ficado mais 20 minutos sem aparecer Almofadinhas teria caído no choro. Sem falar em Lily que nem piscava enquanto encarava a lareira. - Explicou Remo num sussurro tão baixo que a ruiva teve que apurar seus ouvidos. - Da próxima vez não aja como se todos fossemos inúteis... Temos que lutar lado a lado.

– Então vocês acham que terá uma próxima vez? - Pedro perguntou vacilante

– Óbvio, aquele maníaco das Trevas não vai parar tão fácil... O Ministério conseguiu prender alguns dos seus seguidores, mas isso não é nada para ele. Pelo o que meus pais tem dito, o número de simpatizantes de sua "filosofia" tem aumentado muito... - respondeu Sirius.

– O que eles queriam afinal no Beco Diagonal? Causar terror? - Rabicho questionou novamente. - Pois conseguiram - estremeceu ele.

– Pelo o que ouvi dos homens que estavam com Kingsley... - Potter respirou fundo, parecendo evitar fazer som de nojo - eles queriam exterminar nascidos trouxas.

A ruiva quase não conseguiu ouvir o que o maroto tinha dito, de tão baixo que ele havia pronunciado. Mas quando os dizeres dele chegaram aos seus ouvidos um arrepio gélido percorreu o corpo da menina. Se James não a tivesse salvado, ela talvez estivesse morta.

– Por Merlim! Acha que isso é verdade Pontas? - disse cético Aluado.

– Sim... Quando eu estava tentando sair daquela confusão com Lily, o asqueroso do Malfoy a identificou, e em uma simples ordem dele 4 Comensais começaram a segui-la. Foi por isso que eu não podia deixá-la la nem por um segundo a mais no Beco Diagonal. Tive que usar o restante do pó de flu para tirá-la ... Se não aqueles caras iam matá-la. - contou Potter.

– Só não entendo como ela concordou em voltar sozinha... Deu uma paulada na cabeça dela? Pois quando ela chegou aqui parecia bem confusa - Indagou Black.

Um silêncio constrangedor pairou no ar e o rosto de James deve ter denunciado a essência de como Lily tinha sido "convencida", pois os marotos soltaram risadinhas.

– Até posso imaginar... Os dois fugindo de Comensais da Morte malvados, Evans com medo de morrer e Pontas salvador da pátria a protegendo... Você pegou a ruiva!! - Sirius exclamou alto rindo.

– Shiii, fique quieto Almofadinhas, se Lily acordar e ouvir isso... ela vai nos matar - pediu Potter.

– Mas pera ai, o que aconteceu então? - perguntou Rabicho.

– Eu a beijei e... a joguei na lareira durante o beijo... - James sussurrou envergonhado.

– Como é que é? Você a beijou como distração para tacar pó de flu nela? - Aluado parecia não acreditar - Meu Merlim, agora eu entendo a raiva dela...

– Como assim? - James questionou.

– Você é tapado? Pontas, se você esta com todos os dentes na boca e o nariz reto e sem fraturas é porque eu presumo que ela tenha correspondido o beijo e não lhe lançado um soco - Teorizou Black, Potter deve ter assentido ou concordado de alguma forma, pois Sirius continuou - E se ela correspondeu e você a tacou em seguida contra a vontade dela numa viagem de pó de flu... Nossa, Evans deve estar espumando de raiva.

– Vocês acham? - James parecia pensar no que tinha escutado do amigo.

– É claro, ela esta se sentindo usada - Remo disse.

– Droga, não acredito que estraguei tudo mais um vez... - Gemeu ele.

Algum dos marotos deve ter tentado animá-lo, mas Lily não soube pois nesse exato momento ela cansou de bisbilhotar e se levantou desajeitadamente do esconderijo. Permaneceu em silêncio até quase chegar nos degraus da escada que dava para o corredor dos quartos. Infelizmente sua pantufa prendeu no carpete e ela caiu no chão alarmando os meninos que estavam na sala aos cochichos.

Todos os marotos encararam ela, e a ruiva sentiu seu rosto atingir a mesma coloração dos cabelos. Não era a primeira que eles a tinham descoberto ouvindo suas conversas atrás da porta e isso só tornava toda a situação ainda mais constrangedora.

Pedro correu e ajudou Lily a se levantar. Humilhada demais para agradecer ela encarou os próprios pés naquelas malditas pantufas.

– Evans de todas as suas habilidades a persistência é a que mais lhe traz problemas... Quando vai entender que espionagem não é o seu ramo? - Sirius provocou.

– Ah, cala a boca Black! - Exclamou com raiva a menina - Eu ia tomar um copo d'água e quando vi que estavam conversando eu...

– Resolveu escutar - completou Almofadinhas

– Não, eu dei meia volta e fui subir as escadas... Mas minha pantufa prendeu no carpete, ok?

– Mentir também não é a melhor de suas habilidades Lily

– Eu já estava voltado para o quarto - A ruiva o encarou com raiva por ter sido descoberta e se não tivesse tão atenta aos olhos arrogantes de Sirius não teria notado a leve e conhecida pressão no crânio de quando alguém entra em sua mente por oclumência.

Ela arfou com surpresa e voltando seus olhos enfurecidos para James - que permanecia imóvel olhando-a.

– Saia da minha cabeça Potter! - A menina o fuzilou com o olhar e ele se encolheu. - Nunca mais faça isso, nunca mais pense em fazer isso!

– O que...? - Perguntou Pedro confuso sem entender o que acontecia

– Ele está usando oclumência em mim! - Explicou Lily explodindo de raiva.

– D-Desculpe... - Pediu Pontas envergonhado.

– Não tem o que se desculpar James, você quis bisbilhotas a privacidade de Evans... Assim como ela fez com a nossa - Sirius sorriu provocativo.

– Já falei para você calar a boca Black - rosnou Lily.

– Me poupe Lily, vai me dar outro soco?

– Vou fazer pior

– Ah é. Como? - perguntou Almofadinhas divertido

– Estou pensando em inventar histórias bem divertidas sobre você e contar para... Marlene. - ameaçou a menina.

– Não! Você não faria isso Evans! Vou te amordaçar numa cadeira até o fim dos tempos! Estou avisando, se você fizer isso...

– Chega! - Ordenou Remo - Os dois tem que parar com isso - Ele indicou para Lily e Sirius que ainda tinham posições ofensivas - James não use oclumência nas pessoas, essa é uma técnica para se usar em inimigos... E Lily não escute nossas conversas por favor, isso constrange Pontas.

A garota voltou a corar e concordou com a cabeça. Voltou a olhar para Potter e o viu medindo sua reação, porém sem uso da oclumência.

– Vou voltar a dormir, desculpe - Sussurrou ela, porém antes de subir as escadas ela parou no degrau - E James... Você realmente estragou tudo com aquele beijo - Disse ela sem olhar nos olhos de ninguém e voltou para o quarto correndo antes que fosse impedida ou se arrependesse de suas palavras.

Antes de fechar a porta ela pensou ter ouvido resmungos desesperados.