Meu Doce Lírio escrita por Capistrano


Capítulo 28
Capítulo 28 - Cambridge


Notas iniciais do capítulo

Demorei um pouco, mas enfim entrei de férias e estou formada!!!! Nem acredito, e como forma de desculpas eu estou postando um capítulo bem longo. Espero que gostem!



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A casa já não parecia tanto o lar do qual Lily sentia falta. Na verdade, era evidente que a família estava se mudando as pressas, e tal cena multiplicava um sentimento de culpa no peito da ruiva. Havia muitas caixas espalhadas pelo cômodo, e as prateleiras que um dia foram cheias de livros, agora estavam vazias. A menina não pôde deixar de imaginar como a irmã mais velha estaria lidando com tudo isso.

Petúnia estaria assustada, irritada, ou os dois? A última hipótese era a mais provável. A dona de cabelos acaju esteve se preparando mentalmente desde que tinha deixado a Estação para tal reencontro com a garota trouxa. Entretanto quando a viu sentada no sofá lendo uma revista de celebridades, o coração dela parou, as mãos começaram a suar, e seus dedos se coçaram para pegar a varinha como forma de proteção. Porém Lily sabia que só iria piorar as coisas caso tocasse em qualquer objeto mágico.

– Ah... Você chegou – Disse Petúnia, aparentemente entediada e indiferente – Só estou aqui para avisar que nem pense em tocar nas minhas coisas... – A menina ainda não tinha tirado os olhos das páginas que lia – E muito menos cogite a possibilidade de entrar no meu quarto, ouviu bem?

– Claro Túnia – Sussurrou a ruiva.

Ao ouvir aquele apelido a irmã mais velha abaixou a revista e a pôs no colo. Quando seu cenho se tornou visível, ela estava tentando conter uma expressa de nojo. Trocando-a por um visual mais apático. Seus cabelos estavam muito mais longos, porém presos em um rígido rabo de cavalo. E seu rosto, muito mais magro, com as maças do rosto extremamente ressaltadas e ossudas, com olhos fundos.

– Vou terminar minha leitura na varanda. A sala começou a feder.

Batendo os pés com uma força desnecessária ela andou decididamente até o quintal, se jogando em cima da grama verde. A irmã também estava muitíssimo alta, todavia nada graciosa.

– Hm... Ela está diferente, não? – Lily encarou nervosamente os pais – Mais alta e magra... Cresceu bastante.

Dando de ombros o pai levou as malas da filha para o segundo andar, enquanto a mãe trocava de assunto animadamente para o lanche do dia seguinte.

– Teremos convidados. Você pode escolher o chá querida, sei que tem muito bom gosto... Vou fazer aquele seu bolo favorito, quer? – perguntou ansiosa Charlotte.

– Quero sim. Mas quem vem amanhã? Pensei que meus avós não pudessem sair muito da Escócia... Vovó não tem problemas com trem?

– Ah sim, tem... Mas não serão eles.

Por um momento a ruiva se preocupou com os convidados. Poderiam ser comensais da morte disfarçados, ou quem sabe o próprio Malfoy apareceria com o verme de seu pai, seria uma aparição teatral. Bem a cara deles.

Mas quando fitou estressada a rua, ela avistou um homem. Com uma capa azul escura que cobria parte de seu rosto. Definitivamente era jovem, dava para perceber pela postura que tinha. E quando os dedos dela encontraram o bolso da varinha ela avistou a tempo o broche da Lufa-Lufa brilhando no peito do desconhecido. Era um dos enviados de Dumbledore.

Suspirando aliviada ela se sentou em um dos bancos da cozinha. Os pais estavam sendo protegidos. Nenhum enviado de Você-Sabe-Quem ou dos Malfoy viria se aventurar por aquelas terras. E quando a onda de apreensão e tensão se esvaiu, um sentimento tomou o lugar, a curiosidade. Quem eram os convidados, afinal?

– Mãe, para que tanto mistério? Eu logo vou descobrir... – Argumentou a dona dos cabelos acaju.

– Exatamente, você logo descobrirá. Não seja tão curiosa querida, só vai criar rugas antes do tempo... Ou vocês bruxos tem feitiços de beleza? – A trouxa arqueou as sobrancelhas – É por isso que está tão linda?

Lily sorriu agradecida. E depois de algum tempo apenas observando a mãe cuidar das caixas da mudança e dos preparativos do lanche ela decidiu voltar a seu quarto. Xinsy provavelmente estaria miando faminta.

– Vou para o meu quarto... – Murmurou a ruiva ao subir as escadas.

Ao andar pelo corredor estreito ela sentiu uma forte vontade de espiar o quarto da irmã. Não era do feitio dela mexer nas coisas dos outros, muito menos desobedecer a ordens claras, como aquela era. Entretanto a vontade era quase insana...

– Lily, meu bem, não entre aí... Petúnia está arrumando a mudança do quarto da própria maneira, e nem mesmo a mim ou à sua mãe ela deixa entrar – John, o pai das meninas, sugeriu aparecendo na última porta do corredor, a biblioteca. – Não acho que ela vá ficar feliz de suspeitar que você mexeu em suas coisas, não é?

– Err, sim pai. Tem razão – Ruborizando por quase ter sido pega no flagrante ela empurrou a segunda porta à direita. Onde era um de seus lugares favoritos do mundo.

O ambiente ainda não tinha nada dentro das caixas, tudo estava onde a ruiva tinha deixado desde a última vez que estivera ali. Porém próximo à cama estava um grupo de compartimentos de papelão para a mudança. Foi generoso da parte dos pais deixarem que Lily pudesse empacotar suas próprias coisas.

Quando seus pés pisaram no carpete, Xinsy se esfregou charmosamente em seu calcanhar, pedindo atenção, carinho, e definitivamente comida. Quando conseguiu pôr a comida para a gata, as mãos da menina partiram na direção do objeto que ela mais adorava naquela casa. O álbum de fotos da viagem para a Espanha.

A garota nunca o levava para Hogwarts, pois sabia que sua mãe adorava ver aquelas fotos. Com os dedos sedentos para tocar naquelas páginas, Lily se sentou na cama e abriu o livro repleto de memórias.

Uma das coisas que mais amava naquele objeto era o quão inanimado era. As fotos não se mexiam, e isso permitia que quem as estivesse encarando pudessem imaginar o que poderia estar acontecendo naquele momento, ou quem sabe recordar dado instante fotografado. As imagens trouxas eram como parar para se perder no tempo, uma nova espécie de magia.

O primeiro retrato era de Lily com seu pai. Estavam abraçados, rindo em uma sorveteria. Fora nas férias antes de ela ir para Hogwarts. E a ruiva nem sabia o que de fato era ainda. Seu rosto era mais redondo, e com menos sardas. Seu cabelo era mais enrolado e curto, na altura dos ombros, mas seu sorriso era o mesmo.

Abraça a John ela sentia a segurança que até hoje podia sentir percorrer por suas veias quando estava perto dele. Mesmo depois de aprender tantos feitiços de defesa e ataque, e mesmo sabendo que trouxas são muito frágeis em relação a qualquer ser mágico. O pai dela ainda era um super-herói.

Na página seguinte tinha algumas fotos de Petúnia posando junto com esculturas em um museu, e a ruiva riu com a lembrança daquele momento. A irmã mais velha quase derrubou a maior atração do local.

Quando estava quase no fim ela viu o retrato que estava procurando. Era de Lily e Petúnia abraçadas, andando juntas e felizes por uma praça. No rodapé da página ela viu uma macha, e soube que sua mãe andou folheando o álbum, e chorando quando se lembrava da união das filhas, mesmo que conturbada.

Mais culpa entrou no coração da menina. Era um fardo dela, ser uma bruxa. Ser diferente e assustar um membro de sua família, mesmo que seus pais sentissem imenso orgulho disso, era doloroso.

Uma batida na porta a tirou de seus devaneios, e a menina ouviu a voz da mãe pedindo ajuda na cozinha. Durante o resto do dia, e no jantar, Lily focou em esquecer o peso que ardia no peito. E ignorou a presença da irmã mais velha o máximo que pôde. Tendo um fim de dia o mais agradável possível.

Na manhã, o pai estava aparando a grama do jardim, enquanto a mãe polia a mesa de chá no quintal. Petúnia não estava em lugar nenhum, e a ruiva achou melhor assim. Sem conflitos logo cedo.

– Bom dia – Disse a voz animada de Charlotte – Já começou a guardar suas coisas nas caixas? Se quiser eu posso ajudar... – Ela deu de ombros sorrindo em expectativa.

– Obrigada, vou começar a empacotar tudo hoje...

– Talvez você possa pedir a ajuda das nossas visitas também – sugeriu ela.

– Mãe... – Suspirou Lily – Quem são essas pessoas? Novos vizinhos?

– Relaxe! – Divertiu-se John se aproximando de onde as duas estavam conversando. – A cada dia mais curiosa, hen? Logo eles vão estar aqui... Você vai amar!

Mais uma vez a ruiva desistiu de descobrir quem iria vir visita-los nessa tarde. Resolveu que seria mais útil ajudar a mãe na cozinha. Lavando a louça e preparando o café da manhã. Depois de fritas com certa dificuldade os ovos, separar os pães e frios na mesa organizadamente ela chamou a família para se servir.

– Perdi a prática em cozinhar... Talvez esteja salgada demais a comida... – Desculpou-se Lily.

– Está ótimo, não é John? – Sorriu a mãe encorajando a filha. O pai concordou assentindo com a boca cheia – Como anda o colégio? Em uma de suas cartas você falou sobre algumas provas importantes...

– Ah, sim. Os N.O.M.s... Petúnia sempre fica fora de casa o dia todo?

– Geralmente sim, ela tem andado muito sozinha – respondeu Charlotte.

– Que bom, pois o resultado das provas vai chegar por correio coruja nesse verão.

– Tenho certeza que vai se sair muito bem, querida! Deve ser uma das melhores alunas... Já vi seu malão, é pesado demais, cheio de livros enormes...! – Disse o pai.

– É pesado mesmo – A ruiva deu de ombros, encarando a janela e encontrando os olhos do bruxo da Lufa-Lufa. – Se não se importam, vou levar um pouco de comida para um amigo...

– Ah, o Kingsley? – perguntou a mãe.

– Esse é o nome dele? Do bruxo de Dumbledore?

– Sim, mas não leve muitos ovos, ele prefere pão com geleia.

– O conhecem?

– Claro, não acha mesmo que vamos deixar um pobre homem nos proteger o dia todo e nem vamos agradecer... – Ofendeu-se John.

– É Lily... Ele faz o turno diurno. À noite quem assume a guarda é um homem tão adorável quanto, ele fica fascinado conosco. Acho até que se voluntariou para nos vigiar... Arthur Weasley. – Concordou a mãe – Ele também estudou na Grifinória, estava ansioso para te conhecer...

– Os dois ficam aqui todos os dias? – Surpreendeu-se ela.

– Não... Vigias alternadas com os Potter. Kingsley gosta de caminhar pela vizinhança no fim da manhã... terá de se apressar para pegá-lo a tempo, meu bem.

– Sim... Hm, pão com geleia? – perguntou a menina vacilante. E quando o pai assentiu com a cabeça, ela se levantou preparando um prato com dois pães, ambos com geleia de morango, alguns queijos e um copo de suco. – Eu já volto...

Saindo pela porta da frente, ela caminhou apressada até o local em que tinha visto o homem pela última vez. Desejando que ele ainda estivesse ali em algum lugar. Quando parou, iluminada pelos raios de sol, perto da árvore que o tinha avistado, ela identificou, distante, em seu campo de visão, a capa preta.

– Ei, Kingsley! – Chamou ela, quase correndo atrás dele.

Ao som de seu nome ele parou abruptamente. Se virando para ela, e a encarando confuso.

– Sou Lily Evans – Respondeu ela, ofegante, a sua pergunta não dita.

– Ah sim... Algum problema com seus pais? Petúnia sumiu de novo? – A voz do bruxo era grave, porém excessivamente gentil.

– De novo? – A ruiva perguntou confusa – Não... Err... Trouxe seu café da manhã, sem ovos.

– Ah, muito obrigado. Eu já ia comer em um restaurante trouxa bem engraçado... – Ele deu de ombros, sorrindo agradecido e pegando o copo e o prato da mão da garota.

Os dois se sentaram confortavelmente na sombra fresca da árvore. E ele era surpreendentemente educado.

– Hm, minha irmã tem o hábito de desaparecer?

– Com certa frequência – Respondeu Kingsley dando de ombros e comendo um de seus pães com geleia. – Mas não vai para muito longe... Na primeira vez que ela sumiu, foi quando me viu e descobriu que estavam sendo vigiados e que logo iriam se mudar. Ela surtou completamente... Sua mãe teve que dopa-la com calmantes... Não foi uma cena bonita.

– Eu imagino, sinto muito.

– Não sinta. Petúnia é parecida com muitos trouxas, eles têm sérios problemas com a ideia de magia. Poucos são como os seus pais, que entendem, respeitam e se interessam... Enfim, quando ela fugiu depois do efeito do calmante, não foi fácil encontra-la. E tive que pedir ajudar a Arthur e aos Potter. Mas conseguimos acha-la... Estava em uma campina, deitada nos arbustos dormindo. – Ele deu de ombros mais uma vez.

– E como vão as... Coisas? Alguma movimentação estranha?

– No primeiro dia sim. Seus pais de fato estavam sob os olhos de um Comensal da Morte... Jovem demais para ser algum problema, tinha acabado de se formar em Hogwarts, talvez você conheça... Hm, Rodolfo Lestrange?

Lily de fato o conhecia, felizmente só de vista. E só em pensar nele perto de sua família seu peito se contraía em um ódio intenso. Rodolfo era um sonserino, brilhante em combates e em Adivinhação, que era aclamado por muitos jovens da casa. Não era bonito, tinha dentes tortos e grandes demais para lábios tão finos, e seus olhos eram saltados de seu rosto, o que só o fazia ser mais aterrorizante. Tinha se formado no ano passado, e não era surpresa que tivesse se aliado a Você-Sabe-Quem. Lúcio Malfoy era seu maior fã.

– Sei quem é... – Respondeu ela com a voz controlada.

– Não se preocupe, quando me viu e soube que eu era um enviado de Dumbledore saiu às pressas, e desde então nunca mais o vi.

– Pensei que os Potter estivessem vigiando a casa antes de você.

– E estavam, entretanto o Lestrange não parecia temê-los muito. Mas sua família teve sorte, se os Potter não estivessem aqui, talvez ele tivesse tentado alguma coisa, um susto em Petúnia quem sabe.

A ruiva estremeceu. Se arrependendo de não ter arrancado os cabelos loiros de Malfoy quando teve chance. Ela se levantou depois de algum tempo, recolhendo o prato vazio e o copo.

– Bem, soube que você gosta de caminhar... Não quero atrapalhar, e sei que minha mãe vai querer minha ajuda hoje em casa. Obrigada por cuidar deles, essa é uma dívida que nunca serei capaz de pagar.

– Não se preocupe. Cambridge é um lugar muito bonito, e eu me distraio assistindo a vida tão pacata dos trouxas... – Ele sorriu e se despediu, afastando-se com sua capa esvoaçada.

Quando voltou para casa a manhã já tinha acabado, e provavelmente os pais já até teriam almoçado. Charlotte estava varrendo o chão da sala, enquanto John lia confortavelmente um jornal perto da janela.

– Ah querida, demorou muito... Kingsley realmente é uma companhia fascinante, não? – Sorriu a mãe na entrada da casa. – Já almoçamos, e logo nossas visitas chegarão, por que não vai se arrumar, hen? – Sugeriu ela.

– Hm, claro – Murmurou a ruiva, subindo as escadas.

A menina tomou um banho rápido e vestiu a roupa que sabia que seus pais gostariam de vê-la usando. Era um vestido azul escuro, estampado com pequenas flores amarelas. Era o tipo de roupa que a mãe compraria para ela usar no natal.

Penteando os cabelos e deixando-os soltos abraçando suas costas, ela encarou o espelho. E pelo reflexo viu a gata, Xinsy, agindo de um jeito engraçado.

– O que foi? – Perguntou a dona da felina à ela.

Xinsy estava com as unhas cravadas no carpete e com o corpo em baixo da cama, deixando apenas a cabeça, com uma expressão rabugenta à mostra. Lily já tinha visto a gata agir assim, mas foi quando estava na casa dos Potter, e o animal não gostava dos marotos.

– Ei, se acalme. Eles não estão aqui – A ruiva acariciou a orelha de Xinsy, e logo em seguida ouviu o chamado do pai para descer, pois os convidados já tinham chegado. – Não se preocupe, eu volto logo...

Quando seus pés bateram no último degrau da escada ela se viu diante da última pessoa que espera ver em sua casa.

– O que faz aqui? – Ela perguntou confusa, encarando um James segurando um buquê de flores. Atrás dele estavam seus pais, seguidos por Pedro, Remo e Sirius.


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