Cartas para Uchiha Sasuke escrita por juliacalasans


Capítulo 2
Uma vida de exclusão


Notas iniciais do capítulo

Aqui estou eu com outro capítulo...
Esse capítulo conta um pouco da vida da nossa protagonista. É, mais precisamente, o dia em que ela escreve a primeira carta, momento descrito no prólogo.

Espero que gostem!



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O sol penetrava sorrateiro pelas frestas das cortinas e batia com toda a sua força no rosto alvo da menina que dormia aconchegada por luxuosos lençóis de linho. Sem despertar de seu sono, ela se revirou na cama, murmurando alguma coisa desconexa.  Mas o sol era forte e incômodo, e ela acabou por abrir os olhos.

Lamentou-se internamente por ter acordado. Estava tendo um sonho tão bom... Naquele sonho, Naruto Uzumaki, sua paixão desde a infância, finalmente olhara pra ela. O sorriso ingênuo dele e seus olhos brilhantes olhando pra ela com admiração... Se aquilo realmente acontecesse, ela poderia ser feliz. Coisa que nunca fora e tinha a impressão que nunca seria.

A umidade ameaçava transbordar dos olhos perolados, e ela teve de contê-la com muito custo. Não choraria, não àquela hora da manhã. Afinal de contas, não tinha tempo; se não corresse, não conseguiria entrar na escola. Ela não era contrária à ideia, mas sua família com certeza seria. Por isso, despiu-se da camisola de seda pura que usava e correu nua para o chuveiro, ligando-o, deixando que as gotas de água fervente se chocassem contra a pele branca e sedosa.

A temperatura, embora estivesse a um passo do insuportável, não parecia incomodar à garota. Havia algo mais forte que povoava seus pensamentos, algo que a machucava como se uma faca afiada estivesse dilacerando seu coração. E esse algo era seu reflexo.

Hyuuga Hinata era muito bela, embora não visse isso. Tinha um rosto angelical e harmonioso, com belos e exóticos olhos perolados e longos cabelos negros, os únicos que possuíam aquela cor em sua família.  Seu corpo também não tinha nada de feio; Era curvilíneo, gracioso, esbelto e harmonioso como todo o resto.  Cada passo dela parecia uma dança, uma dança que hipnotizaria e encantaria a todos. Se ela não fosse tão tímida e sem auto-estima.

Tanta era sua timidez que ela se recusava a se valorizar um pouco. Não usava maquiagem, e os cabelos estavam sempre presos num coque. As calças largas e os moletons velhos e gastos que usava impediam que qualquer ser do sexo oposto visse nela seus pontos fortes. E, embora fosse uma pessoa muito gentil e de coração doce e bondoso, ela não tinha amigos, pois corava e gaguejava muito quando alguém lhe dirigia a palavra. A infelicidade rondava-a, insistente, tomando conta do frágil coração que estava sendo corroído pela solidão. As lágrimas que lutara pra reprimir transbordaram dos olhos alvos, dolorosamente, acompanhando um soluço baixo e sofrido.

Era sempre assim.  Sempre chorava de manhã, antes de ir pra escola, e na hora do almoço, quando voltava da mesma. Chorava ao ver o primo, Neji, conseguir êxito na vida e chorava ao ver o pai ralhando com ela por ser tão fraca. Sua visão estava distorcida pela infelicidade, e tudo no mundo parecia triste e horrível.  Até mesmo o banheiro lhe parecia mergulhado na melancolia.

Saiu do boxe, fechando os olhos enquanto se envolvia no soberbo roupão de lã rosa que a esperava no cabide.  Entrou no quarto e vestiu o a blusa de uniforme da escola, a calça larga e o moletom surrado que adorava.  A mochila lhe esperava, pronta, numa cadeira. Pegou-a e desceu as escadas que a levariam para o primeiro andar. Passou direto pela cozinha, pegando apenas uma barrinha de cereal na mesa ao sair. O ar frio das manhãs de Konoha bateu em seu rosto, mas ela não ligou. Abriu a barrinha e, lentamente, começou a saboreá-la.

A escola logo começou a ser vista. Era um prédio um pouco precário, mas resistira bravamente ao tempo, e por isso acabou por sediar a escola mais prestigiada da cidade. Hinata atravessou os portões velhos e que rangiam quando eram abertos e sentou-se isolada dos outros grupos debaixo de uma grande ameixeira. Tirou de sua mochila um livro e, ia começar a lê-lo quando viu um pedaço de papel parcialmente escondido pelas raízes.  O que era aquilo? Puxou-o, percebendo que não era um pedaço de papel e sim uma revista, intitulada Se Sinta Melhor e Cia—A melhor revista para sua altoestima!. Interessada pela primeira vez em muito tempo, começou a folheá-la.

A revista falava, principalmente, sobre assuntos relacionados à valorização do corpo e da alma, coisas que Hinata não absorveu. Só se interessou por uma sessão intitulada “Faça Amigos” que tinha e-mails e cartas de pessoas que, supostamente, queriam fazer amigos. Seu coração perdeu uma batida ao perceber que ali poderia estar sua chance, sua salvação da solidão. Mas a ideia parecia tão ridícula que Hinata afastou-a da cabeça. Seu desejo era se desfazer da revista,  mas algo lhe impedia de fazê-lo, então ela guardou-a na  revista com carinho e olhou para a frente, fitando os alunos que se agrupavam, cada um com seus respectivos amigos.

Varreu o pátio até encontrá-lo, juntamente com Haruno Sakura, Yamanaka Ino e Sasuke Uchiha. Ele. Com seus cabelos loiros, brilhantes olhos azuis, a ingenuidade estampada em cada ato. Tão belo... Tão lindo... Tão gentil... E tão distante! Ele era um sonho impossível, algo impossível de se ter. Vejam só, ele mal olhava pra ela! Era uma excluída, um nada.

Deixando a ameixeira pra trás, A Hyuuga entrou no grande prédio da escola, andando pelos corredores cheios de gente até encontrar a sala de sua primeira aula, biologia. Como sempre, o cômodo estava vazio em exceção do professor Asuma. Hinata sempre chegava antes de todos, sentava em sua carteira e tirava um livro grosso, o qual lia até que a aula começasse.

_Olá, Srtª Hyuuga._ cumprimentou o professor, sorrindo pra ela.  Ele era um de seus professores preferidos, juntamente com Kurenai (diziam-se as más línguas que os dois mantinham um relacionamento, mas ninguém nunca confirmara.), a professora de português.

_Olá, Sr. Sarutobi._

_De novo a primeira, não é?_ perguntou ele, divertido.

_De novo a primeira, pra sempre a primeira._ respondeu ela, num murmúrio, enquanto se sentava em sua mesa e tirava um grosso livro da mochila, o qual começou a ler.

Um silêncio calmo se instalou na sala por alguns minutos, mas logo foi quebrado pelos alunos que entravam conversando animadamente, seguido por outros alunos, até que a sala estava completa. O professor pigarreou, pedindo silêncio, e a aula começou.

Ninguém estava propriamente prestando atenção em nada, e continuaram não prestando atenção até que a aula acabou. Quando Orochimaru, a professora (ou seria professor?) que dava aula de ciências, apareceu com uma cobra no pescoço, as pessoas continuaram não prestando atenção. Também não se fixaram quando entrou Kurenai, explicando sobre substantivos e verbos.

Na verdade, as conversas só pararam quando o sinal que avisava o recreio soou e todos saíram, comemorando sobre alguma festa que Hyuuga Neji ia dar na mansão dos Hyuugas.

Hinata deu um pulo. Neji? Dando uma festa? Na sua casa? Ele estava louco? Ela não gostava de sair da sala durante o recreio, mas naquele dia abriu uma exceção. Tinha medo do primo, mas queria explicações.

Zanzando pelo pátio, ela procurou por ele até que o encontrou, conversando com Sasuke Uchiha. Foi em sua direção, perguntando:

_É ve-verdade q-q-que v-você v-vai d-dar uma f-f-f-esta lá em c-c-c-casa?_

Calmamente, ele olhou pra ela.

_É sim. Por quê?_

_P-p-porque n-n-não me c-c-c-consultou?_

_Porque consultaria? Hanabi permitiu, eu farei. Você não tem nenhuma autoridade dentro daquela família. Eu posso fazer o que eu quiser, entendeu? Alguma reclamação?_ cada palavra vinha carregada de desprezo e ameaça. Aquilo a feria como um a navalha, dilacerando-a ainda mais.

_N-n-n-n-n-n-n-n-não..._ murmurou ela, antes de sair correndo. Ainda teve tempo de ouvir a risada maldosa de Neji, mas tentou ignorar. O que faria? Seu primo consultara uma menina de doze anos ao invés dela, a primogênita, porque o pai a considerava um fracasso.

Entrou na sala e bateu com força a porta, fitando as paredes com um desespero doentio. Precisava falar, falar coisas que guardara pra si por tanto tempo. Mas como faria amigos se ninguém nem sequer a enxergava?

Não suportaria continuar estudando naquele dia. Pegou a mochila e foi na diretoria, aonde explicou para a diretora Tsunade que estava passando muito mal. Como estava mais pálida que o normal, com uma aparência muito fraca, a mentira convenceu a diretora com facilidade, e Hinata pôde sair finalmente dos confins daquele lugar que ela odiava.

Mas a dúvida ainda estava lá: como desabafaria? Como? As ruas da cidade passavam-lhe turvas enquanto Hinata se esforçava pra pensar num modo pouco vergonhoso de desabafar quando a ideia veio-lhe como um raio: A revista. Mas parecia-lhe tão absurda...

Entrou nos jardins bem cuidados da Mansão Hyuuga e ajoelhou-se na relva macia, tirando a revista da mochila. Folheou-a até encontrar a sessão “Faça Amigos”. Varreu os olhos pela página, examinando cada leitor que mandara seu recado quando um lhe chamou a atenção. Movida pelo desespero, ela não pensou muito antes de circular aquele trecho com caneta vermelha e correr pra dentro.

Hinata reviveu aquele medonho dia enquanto colocava a carta no correio. Sentia-se fraca, horrível, despedaçada—dilacerada—desprezível, inútil.  Sentimentos que se intensificaram quando Neji chegou, ordenando que ela fosse para seu quarto, pois a festa começaria, e ele não queria alguém como ela a sujar a decoração perfeita.

Tudo lhe parecia ainda mais melancólico enquanto ela subia para o segundo andar. Entrou pela porta, trancando-a, e em seguida, jogou-se na cama. As lágrimas saltaram dos olhos perolados tristes, e ela dormiu embalada pelo som da festa que corria no andar de baixo.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo foi focado só nela. O próximo será focado só no Sasuke. E, daí pra frente a história se desenrola.

Espero que gostem. Um beijo!



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