Cap. 22 Nascimento

-Eu ouvi a conversa. Me desculpe por isso, não foi por querer. – ouve uma breve pausa - Nala, a criança, a criança que morreu – ele se colocou em minha frente me fazendo olhar dentro de seus olhos – era sua não era? Foi seu filho que morreu!

Desviei de seus olhos e caminhei em direção a casa falando sobre os ombros.

-Estou cansada Jasper. Vou me despedir de todos e ir para o quarto. Outro dia falamos sobre isso esta bem! – já com a cabeça baixa fui me afastando -

Jasper pensou em dizer algo, mas logo se calou ao sentir toda a dor que emanava de mim. Eu não precisava responder a sua pergunta, ele já sentia a resposta.

Já estava no segundo andar da casa e ao abrir a porta do quarto dois sentimentos afligiram meu corpo. O primeiro, um grande amor ao ver Seth dormindo todo largado na cama apenas com sua Box preta e Samy por sobre seu corpo babando nos lençóis; o segundo uma dor enorme por saber que nunca poderei dar a Seth a satisfação de dormir junto ao corpo de seu filho.  Sentei-me em uma poltrona ao lado da cama velando o sono dos dois e me perdendo também nos meus.

Minha cabeça latejava e meu corpo doía, ao mesmo tempo que uma voz estridente entrava por meus ouvidos piorando minha dor.

-Tia! Tia! Acorda Tia. Já amanheceu e tem sol, você prometeu. Vamos tia, vamos logo para a praia!

-Não grita, não pula, não respira Samy. – eu estava irritada e as palavras foram ditas com mais rispidez do que gostaria –

Quando abri meus olhos vi seu rostinho lindo me olhando já com desanimo. Seus olhos tentavam a todo custo segurar as lagrimas. Eu o havia deixado triste por puro e simples egoísmo. Um aperto enorme no peito me envolveu e logo me senti na obrigação de reverter a situação.

-Ah sua pestinha. Isso é jeito de acordar sua tia! – já havia levantado meu corpo e agora estava sentada encostada as almofadas organizando os fios de cabelo já revoltos. Peguei Samy pela cintura e o joguei ao meu lado.

-Agora eu vou me vingar de você seu lobinho danado.

Comecei a fazer cócegas em sua barriga e a dar beijos molhados em seu rosto.

-Eca , que nojo tia. Para! – sua voz saia entre risos e as lagrimas escorriam por seu rosto, mas estas eu sabia que eram de alegria.

-As crianças vão descer para o café ou preferem continuar a pular na cama?

Seth estava com o corpo encostado no batente da porta do banheiro enrolado apenas a uma toalha. Os cabelos molhados escorriam pela lateral de seu rosto e seu tórax se movimentada seguindo o ritmo de seu riso. Tudo a minha volta parou e eu só tinha olhos para ele.

-Er...nos já vamos descer. Me deu uma fome de repente! – pisquei em sua direção e fui recompensada com um grande sorriso –

Peguei Samy pelas mãos e o levei em direção ao banheiro.

-Vamos tomar um banho rápido e já descemos.

Vesti Samy com um shorts jeans escuro e uma camiseta vermelha, como íamos a praia também deixei separado em sua mochila uma bermuda de banho e sandálias. Já que iriamos correndo pela floresta optei por vestir uma calca legging preta e uma regata longa lilás com a parte de traz rasgada, o que deixou visível minhas costas e a tatuagem. Aproveitei a mochila e coloquei um biquíni e uma saia longa em tricô para trocar quando chegássemos.

Quando descemos para o café, todos estavam reunidos no quintal onde a circulação do ar era maior  e conversavam animadamente. Samy correu para Bella que já lhe preparava um copo de leite com chocolate e começou a falar sem parar sobre nossos planos para hoje e seu desejo de pular do penhasco.

Nessie estava visivelmente cansada, o que já era esperado visto que faltavam poucos dias para o nascimento do bebe. A gestação estava correndo bem e Carlisle faria uma cesariana para diminuir as chances de algum contratempo. Com o nome escolhido, o quarto pronto e um filho que já conversava com seus pais, agora realmente só faltava o mesmo dar o ar da graça a esta família.

-Nala? Você pode nos ajudar a mostrar os pensamentos de meu filho?

-Claro querida. – segui em sua direção e ergui minha palma em direção a sua barriga sem ao menos tocá-la –

-Ele esta acordado Nessie. – sorri em sua direção - Zafrina, segure nas mãos dela e deixe a mente aberta e você Nessie, pense em Kali – minha Irma o apelidou e logo todos passaram a chamá-lo desta forma - , converse com ele e diga o que quer que ele faca.

Todos me olhavam com confusão e logo um suspiro desviou a atenção de todos.

Zafrina estava rígida e sua face ia da confusão a euforia em segundos.

Quando as duas se separaram a respiração de Nessie estava agitada e seu rosto corado. Toquei em seu braço e pude senti-la muito quente.

-Foi lindo, não há uma intenção clara nas imagens, mas ele vê o que ela vê. Ele conhece a todos nós. A sensação de senti-lo, de ver através de seus olhos e ouvir seus pensamentos primitivos é indescritível. – Zafrina já formulava sua ilusão e deixou a todos atônitos com as imagens.

-Bom família, agora que já sabem o que fazer nós vamos a praia. – peguei Samy no colo enquanto ele ainda comia uma fatia de bolo e o levei para um lugar na grama longe dos outros.

Enquanto esperava por Seth abri minha mente e enviei meus pensamentos a Edward.

-Preste atenção as reações de sua filha. Seu corpo esta mais quente que o normal e sua barriga mais baixa. Acredito que seu netinho nascera antes do tempo. Avise Carlisle para deixar tudo pronto.

Por uma fração de segundo as feições de Edward foram do medo ao entendimento. Ele não poderia expressar sua angustia para não assustar a filha, ao mesmo tempo que precisaria estar preparado para tomar decisões rápidas caso o bebe resolvesse nascer antes do tempo.

-Voltem cedo. O sol não ira durar muito tempo e estamos pensando em fazer algo na cidade mais tarde.

-Claro Alice. Só vou jogar esta criança do penhasco e já volto para irmos as compras. – falei rindo enquanto limpava a blusa de Samy, estava toda suja com migalhas de bolo.

-Vamos Tia, quero ir correndo com você.

-Não querido, você vai com o Seth. Ele é maior e mais forte, comigo você pode cair.

-Não. Quero ir com você. – seu pezinho já batia nervoso no chão, os braços presos na altura do peito e um bico enorme no rosto me deixaram sem reação.

-Esta bem, mas você vai segurando firme neste cordão esta bem? Retirei o cordão que estava em minha cintura e o passei no pescoço.

-Estamos indo família – Acenei para todos e me afastei de Samy enquanto me transformava. Logo ele montou em minhas costas segurando firme no cordão e fomos correndo em direção a floresta. Uma pantera negra com um garotinho nas costas e um lobo cinzento enorme ao lado dos dois, qualquer ser normal teria um AVC ao ver a cena.

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No jardim

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-O que foi aquilo? – Carmem estava encarando a floresta sem entender nada –

-Minha Irma horas! – Bela brincou um pouco antes de contar mais alguns detalhes sobre Anala. –

-Ela é um lobo?

-Não. Bom visto por este ângulo é algo parecido. Ela é uma mutante e utiliza a forma de pantera para se locomover mais rápido ou se proteger. Diferente dos lobos, ela não perde suas roupas ou muda seu tamanho. Suas características são idênticas a do próprio animal e sua mente se abre para se comunicar com outros, por esta razão ela consegue falar mentalmente com animais ou com os lobos. – apontou para Jacob indicando o tipo de lobo ao qual se referia - 

-Ela é muito diferente. – Kate afirmou como se para si própria, mas todos ouvimos –

-Ela é diferente em muitas formas o que a faz muito especial e o que também a deixa vulnerável. Seu corpo não foi adaptado a lidar com tantas mudanças e logo sofre muito e se enfraquece.

-Isso é estranho Bella! Quando vivi com ela, ela já era muito forte, mas nunca vi seu corpo padecer em função de sua transformação ou magia!

-Ela não nos contou tudo que a rodeia Garrett. Tem algo que a assusta muito, mas ela ainda não confia em nós para contar. – Jasper estava se levantando e caminhava de volta para a casa.-

-Vocês confiam nela Carlisle.

-Sim Eleazar, confiamos. Por mais que ela nos esconda alguma coisa, sabemos que faz para nos proteger. Ela já nos provou que não veio aqui buscar por coisas ruim e sim para obter uma família. Nós agora somos sua família pelo tempo que ela desejar.

Aquela conversa havia chegado ao fim e as atenções voltaram-se para Nessie de forma que os acontecimentos da manha passaram despercebidos. Nessie estava respirando agora com dificuldade e todo seu corpo parecia em chamas de tão quente.

-Pai! PAI. Esta doendo. – um grito sofrido saiu de sua garganta e logo seu corpo estava nos braços de Edward que corria para o quarto.

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Na floresta

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Samy estava rindo muito enquanto corríamos em direção a praia. Já havíamos avisado Emily e ela estaria reunida aos outros esperando por nós para uma deliciosa manha entre amigos. 

-Tia, vamos nadar?

Parei já próximo a praia e voltei ao normal.

-Claro querido. Vá na frente, sua mãe já esta te esperando. Vou me trocar e já estaremos com você.

Fiquei olhando aquele pequeno borrão marrom correndo em direção a sua mãe já com os braços abertos. Eles se abraçaram e seu corpo girava no ar enquanto Emily o rodava com vontade. O sorriso dos dois era enorme e nem percebi quando Seth se aproximou e me abraçou por trás.

-Você fica toda boba com este garotinho. Espera até ter um bebe em casa! Acho que vou ser deixado de lado.

-Nunca faria isso meu amor. –deitei minha cabeça em seu ombro -. Me sinto apegada a ele só isso.

-Eu gostei muito destes últimos dias. Consegui te imaginar como uma mãe. –seu hálito doce penetrou por meus poros e senti as pernas falharem.

-Queria muito poder te dar tudo isso meu amor. Mas não posso. – virei meu corpo em sua direção e com a cabeça presa a seu peito chorei -.

-Não chore. Não falei estas coisas para te deixar triste. Só que te vi tão feliz que pensei que poderíamos, após o casamento, pensar em adotar uma criança. –suas mãos ergueram meu queixo me deixando presa em seus grandes olhos castanhos -

-Seriam maravilhosos meu amor! –um novo animo elevou meu corpo e um grande sorriso iluminou meu rosto-.

-Que bom que gostou da idéia. Vamos conversar melhor depois, agora temos algumas crianças para jogar do penhasco.

Nos vestimos e fomos em direção aos outros na praia. Algumas crianças estavam brincando enquanto as mães organizavam os lanches em toalhas na areia. Sam e Embry estavam no topo do penhasco e pularam gritando para chamar a atenção, deixando as crianças já eufóricas, loucas de vontade de acompanhá-los.

Dividimos a turma em grupos de três e enquanto eu esperava com Seth no mar, já no fundo próximo a onde os mergulhos terminavam, Sam, Embry e Quill subiam com as crianças. Uma a uma elas eram jogadas no ar, da parte mais baixa do penhasco é claro, em nossa direção. Logo que mergulhavam, seguíamos buscando por seus corpos e as levávamos a praia.

Seguimos neste ritmo por uma hora, ate que todas as crianças estavam exaustas pelos constantes mergulhos e caminhadas em direção ao penhasco. Sentamos em volta das toalhas cheias de comida já com uma fogueira acessa para esquentar os corpinhos gelados dos pequeninos. Como Alice havia previsto, o sol nos deixou próximo ao meio dia.

Estávamos rindo e conversando banalidades quando um forte uivo chegou a nossos ouvidos deixando todos atentos.  Senti como se uma espada rasgasse meu peito e o choro de Nessie gritou em minha mente.

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Na casa

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Edward levou Nessie ao quarto no segundo andar. Jacob o seguiu sem pensar duas vezes. Carlisle correu em direção ao seu escritório e pegou sua maleta seguindo também para o quarto.

-Fiquem aqui e se mantenham longe da casa. O cheiro de sangue pode ficar insuportável.

Não sei de onde tirei forcas, mas falei com todos que ainda estavam com olhares perdidos para toda aquela movimentação. Emmett logo entendeu o que estava acontecendo e levou os demais ao jardim dos fundos formando uma barreira junto com Alice e Rosalie. Esme estava com eles e meus olhos procuraram por Jasper. Ele não estava em lugar nenhum. Subi para o quarto ainda sentindo meu corpo tremer. Toda a frieza de ser um vampiro havia se esvaído e me senti agora como uma mãe desesperada com medo de perder a filha.

Nessie estava pálida, o suor escorrendo de seu rosto e os dentes trincados como se segurasse um grito. Jacob estava a seu lado segurando sua mão enquanto Carlisle verificava o que poderia ser feito.

-Não há mais tempo para a cesariana, a bolsa estourou e há muito sangue. Você terá que ser forte querida. – Carlisle olhava com dó para Nessie e desespero para Edward.-

Encostei na parede com medo de desabar no chão imaginando a dor de minha filha ao mesmo tempo que lembrava da minha dor quando ela nasceu.

-Carlisle, não há como dar nada há ela? Algum sedativo? – Edward tentava manter a calma e passar tranqüilidade em sua voz para não assustar ainda mais a filha, mas falhava vergonhosamente.

-Não há tempo. Não fará efeito em seu corpo.

Um grito de dor ecoou pelo quarto vindo da minha pequena Nessie. Minha alma gelou. O corpo de minha filha agora convulsiva e seus olhos perdiam o foco. Senti que a perdia a cada segundo e de mãos atadas só me restava pedir para que o melhor acontecesse.

Parte da minha atenção foi desviada para o som de patas batendo contra o solo seco. Dois animais estavam correndo pela mata. O ritmo de um era pesado e muito forte. Não reconheci de imediato, não tinha a mesma cadencia dos pés de Seth, mas também não pareciam em nada com a forma tranqüila de correr de minha Irma.

-ANALA.

Minha filha gritou tirando toda a forca de seu ser para que sua voz fosse ouvida e como respondendo a seu chamado vi na grama seguindo em direção as paredes da casa um Guepardo saltar e entrar por nossa janela ao mesmo tempo em que voltava a sua forma natural.

-Anala?

-Depois eu explico. – quase sem ar e com o nariz sangrando apoiei minhas mãos sobre a barriga de Nessie e uma luz branca envolveu nossos corpos trazendo tranqüilidade aquele ser que se transformava dentro dela.

-Carlisle. –minha voz quase um suspiro, mas ela entendeu o que eu pretendia e organizou o material necessário para a cesariana.

Sentia Jacob tremer ao meu lado e dizer coisas desconexas no ouvido de Nessie.

-Não me deixe minha princesa. Te amo tanto.

Nessie parecia sem vida nos braços de Jacob, seus olhos ainda sem foco estavam presos ao torpor da energia que a rodeava. Carlisle trabalhava rápido junto a Edward e então um choro doce pode ser ouvido. E eu retirei o escuto de Nessie permitindo que ela voltasse aquele momento e ouvisse seu filho pela primeira vez.

Ainda fraca caminhei em direção a porta e senti que braços quentes me seguravam.

-Obrigada por salva-los Anala. Te devo a razão da minha vida.

-Não Jacob, eu é que devo a minha. Agora vá, vá ficar com sua mulher e seu filho.

Encostei na porta e pude ver então o que é realmente uma família -Carlisle já havia saído com a roupa de cama e qualquer outra coisa que estivesse embebida em sangue- Reunidos no quarto  estávamos nós seis;  Minha Irma nos braços de seu marido observado de forma nostálgica e apaixonada aquela pequena criança de pele morena e cabelos castanhos acobreados. Caliel dormia calmamente no colo de Nessie, agora, amparada por Jacob.

Pela janela pude ver que Seth estava ao lado de Jasper e todos estavam ansiando por noticias.