Mutação Oculta escrita por Athenaie


Capítulo 31
Capítulo 31




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Fui levada para uma sala pequena e trancada lá dentro sozinha. O Eric ficou em discussão acesa com a Elena que lhe dizia para ter calma.

A Ana antes de eu ser levada, passou um dedo pelo pescoço, sinal sobejamente conhecido por significar: ‘’Vais morrer!’’

A Pam olhou-me à saída com um ar meigo e pesaroso. Ela podia ser uma vampira mas já me tinha como uma amiga. Eu não era apenas a namorada do criador dela.

Os vampiros que me levaram pelo braço pareciam incomodados. O que era eu? Como era isso possível? Vampiros ou não ninguém gosta de estar perante uma diferença incompressível.

Sentei-me no chão, encostada a uma das paredes. Sentia-me no fundo do poço sem luz à vista. O Eric estava salvo mas eu não. Os vampiros não aceitariam a diferença. Eles sentiriam que eu era uma ameaça de certeza. Desta noite não passo, pensei. Como lidaria o Eric com a minha morte? Seria vampiro o suficiente para aceitar e não se meter em causa por mim? Ou estava demasiado humano, em virtude do sentimento que nutria por mim e entraria numa luta perdida à partida condenando-se à morte?

Eu não gostaria disso. Não gostaria de o arrastar comigo. Ele não tem culpa que eu seja diferente e ele não tem culpa que eu me tenha exposto da forma que eu me expus! As nossas existências cruzaram-se e apesar do primeiro erro ter sido dele ao dar-me sangue, nada podia prever que a minha reacção à substância iria ser diferente do que a do resto dos humanos. Não o culpava por isso. Não havendo forma de falar com ele nada mais me restava do que acalmar e concentrar-me no amor que sinto por ele. Só posso esperar que ele entenda o recado levado pelas minhas emoções. Não faças nada que te ponha em perigo. O tempo que passei contigo foi a melhor fase da minha vida e se morrer hoje, morro feliz. Vive a tua existência e não te condenes por mim.

Enquanto estava concentrada nos meus sentimentos e em aguardar com calma o culminar de todo o processo, vieram buscar-me.

A sala estava muito mais vazia. Desta vez só uns quantos vampiros restavam e uma humana, aquela que me tinha exposto.

Presentes estavam o Eric, a Pam, a nossa comitiva, o James e a sua comitiva. Os 4 juízes não estavam presentes, sendo agora apenas a Elena a única juíza. Contei pelo menos mais 30 vampiros que pensei que alguns deviam pertencer ao tal grupo de quarenta que eram a lei entre os vampiros. Enquanto olhava para cada uma das caras presentes vi outro conhecido. Tomas Bedford estava presente. Não o tinha visto na primeira parte da audiência mas eis agora ele ali. Seria para me defender ou para me acusar?

Elena falou para mim:

 - Alexandra, como te disse antes este tribunal não tem competência para julgar humanos. No entanto tu apresentas-te aqui como uma criatura diferente dos humanos e tens uma relação pública com um vampiro. Não te podemos deixar ir sem compreender o que és e o que isso pode significar para nós enquanto espécie. Por isso e em respeito ao Eric que é um vampiro respeitado e também pelas recentes características que apresentas vamos dar-te oportunidade de falar.

Olhei à volta. O Eric fazia um esforço para se manter controlado. A Pam tinha um olhar triste, o Tomas estava inexpressivo. O James parecia agora enfadado. O seu inimigo era o Eric e era ele o seu objectivo, não eu. A Ana estava rejubilante.

E decidi-me que era tudo ou nada. Que estava na hora de mostrar a minha força. Não as características adquiridas. Eu, apenas eu, a Alex que entrou em tempos pelo Fangtasia em busca da sua amiga Catarina e que fosse o que tivesse que ser. Não me ia acobardar. E falei. Contei tudo. Contei como conheci o Eric e porquê. Contei o porquê de ter tomado sangue da primeira vez, que pretendia salvar a minha amiga. Ter sido dele foi apenas um facto irrelevante. Se ele não mo tivesse cedido eu teria comprado no mercado negro. E continuei a contar tudo, agora o ataque que tinha sofrido, com a segunda troca de sangue, com a possibilidade de sentir o Eric da mesma forma que ele me sentia. A força, a resistência, a velocidade, a capacidade de sarar, os testes de ADN com o Tomas. Por fim assumi a minha culpa de me ter exposto perante o SC, afinal mais forte e mais resistente mas era uma humana de base e às vezes não consigo controlar o meu lado mais emotivo e mais negro também.

Todos ouviram com atenção o que eu disse e com aparente interesse. Não fui interrompida até terminar.

Quando acabei de falar o Tomas foi chamado a dar o seu depoimento. Não sabia o que esperar.

O Tomas levantou-se e explicou a forma como me conheceu e os testes que me fez. Explicou aos presentes aquilo que já me tinha explicado a mim e ao Eric em Houston.

No fim deu a sua opinião.

 - Se me permitem a minha opinião, a Alex não deve ser considerada uma ameaça mas sim uma possibilidade. Uma humana que tem um ADN que é resistente ao nosso vírus mutagénico é algo extraordinário que não deve ser destruído. Nós estamos presos à nossa condição sem possibilidade de evolução enquanto espécie. Uma espécie que não evolui está condenada à extinção. A possibilidade de estudar o ADN dela e quem sabe encontrar mais humanos com a mesma mutação é o futuro para nós enquanto espécie. Somos monstros de outra época. Está na hora de aceitar a diferença e avançar se queremos realmente ter um lugar neste mundo.

A Elena ponderou uns minutos em silêncio e por fim falou para mim:

 - Após ouvir o Tomas tenho que concordar com ele. Não há grande hipótese para nós enquanto espécie se nos mantivermos congelados no tempo. A hipótese de existir uma espécie híbrida entre humanos e vampiros parece-me realmente ser o futuro, quando nenhum de nós continuar por cá. Além disso, acrescento algo que nenhum dos presentes referiu. O medo é uma característica dos humanos. A intolerância gratuita é uma característica dos humanos. Nós somos superiores a essas emoções menores. Deixar-nos levar pelo medo e pela intolerância era o mesmo que tornarmo-nos humanos.

Acho que não tinha respirado até esse ponto. Enchi os pulmões de ar e libertei-o com toda a minha força. Afinal haveria esperança?

Foi sol de pouca dura! Um dos vampiros que eu não conhecia levantou-se:

 - Elena, se me permite a questão aqui é mais vasta do que aceitar ou não aceitar um humano diferente. A questão é que aceitando-a entre nós, estamos a aceitar um humano que não nos deve lealdade nem pode ser controlado. Apesar de também eu concordar com o Tomas que não devemos temer a evolução e deixar-nos decididamente de ideais ultrapassados se queremos ter lugar neste mundo, o que é certo é que se o Eric a quer manter entre nós, ela tem que ser realmente uma de nós, caso contrario quem é responsável por ela? Quem a controla?

O Eric saiu em meu auxílio.

 - Ela não precisa de controlo, ela não se alimenta de sangue.

O Vampiro retorquiu

 - Ela é uma humana entre nós. Com características nossas mas, é uma humana. Nunca um humano ficou com um vampiro nessas condições muito tempo. Sejamos racionais. Ela é falível, ela pode e cometerá erros, não é controlável. Como qualquer humano pode mudar de ideias amanhã e usar o que sabe e o que tem contra nós. A única forma de a manter é ela sendo realmente uma de nós.

O Eric quase explodiu de fúria. As presas estendidas em toda a sua força, um rosnar que vinha do fundo da sua garganta.

Ele ia perder o controlo dentro de segundos e não haveria então nenhuma hipótese para nenhum dos dois. Tinha que falar

 - Eu não quero ser transformada. É a minha escolha. Façam o que tiverem que fazer.

O Eric olhou-me em profundo desespero. Por momentos pensei que ia ver sair lágrimas dos seus brilhantes e angustiados olhos azuis. Ele estava a sofrer. Não me queria perder e eu estava a escolher a morte à possibilidade de estar com ele?

Não era isso! Eu estava a escolher a morte à eventualidade dele ser obrigado a transformar-me. Ele já tentou faze-lo antes e não foi capaz. Acabaria por se negar a faze-lo e lá íamos voltar ao ponto de partida.

A Elena falou:

 - Era a primeira vez que estávamos preocupados com o que um humanos quer ou não!

O Tomas voltou a falar:

 - Não me parece que seja necessário transforma-la. Ela está já muito diferente dos humanos e não é apenas nas características físicas. Digam que não reconhecem o seu lado vampiro quando ela escolhe a morte a subjugar-se a algo que não pretende? É visível que ela é muito mais vampira que humana e essa diferenciação vai ser cada vez mais visível sempre que ela entrar em contacto com o nosso sangue. Além disso, não é totalmente verdade que ela não seja controlável. Ela não pode ser subjugada mas o Eric sente as suas emoções. Posso afirmar com certeza que o facto de ele conhecer os sentimentos dela é uma forma até mais forte de controlo que a lealdade que é imposta entre nós e que todos nós sabemos que muitas vezes é quebrada ou não houvesse sempre tantas trocas de poder e tantas mortes por explicar.

O silêncio voltou. O vampiro que propôs a minha transformação não contra-argumentou contra a opinião do Tomas. O Eric manteve-se imóvel enquanto a angústia de me perder o queimava por dentro, célula a célula.

A Elena parecia pensar.

Lembrei-me da Ana. Nos últimos minutos até me tinha esquecido que estava presente. Olhei para ela ao lado do James. Estava expectante. Tinha esperança que tudo terminasse com a minha morte. Ocorreu-me que os vampiros não matam em frente de testemunhas. Eu iria morrer naquela noite que ia já longa mas ela não sairia viva para saborear a vitória. Ela procurou o James para me destruir mas ia ser destruída comigo. Não pude evitar sorrir. Havia uma espécie de castigo natural. Eu morria mas ela iria comigo. Se era verdade que havia inferno, íamos continuar a nossa guerra no fogo eterno! Quase que larguei uma gargalhada! Isto só podia ser stress pós traumático. Estava a enlouquecer de vez.

 - Eric – disse Elena – aceito que ela não seja destruída nem transformada se efectuares aqui e agora o nosso antigo ritual de casamento e é a minha última hipótese que lhe dou. Deves compreender que nunca fomos tão benevolentes com um humano e não posso ceder mais do que já cedi.

Não percebi. Olhei para ele. Ele olhou para mim com uma expressão que parecia dizer: Oh pelo amor de deus, não arranjes mais problemas.

Ele acenou que sim para a Elena e um dos vampiros passou-lhe um punhal antigo para as mãos.

Que ritual era esse que incluía um punhal? Eu não deveria saber o que esperar? É assim que eu me vou casar com ele, sem ninguém me perguntar nada?

Ele aproximou-se de mim e disse baixinho: Confia em mim!

Foi como uma onda de certeza. Claro que confio. Se virar vampira, paciência. Não dormia há mais 36 horas, tinha perdido sangue, estava entre a vida e a morte há horas. Há limites para o que posso suportar.

Ele pegou no braço dele e com o punhal desferiu um golpe muito profundo. O sangue jorrava em catadupas. Depois pegou no meu braço e com um gesto rápido fez-me o mesmo. O Vampiro que lhe deu o punhal, pegou nos nossos braços e uniu-os na zona dos golpes. Senti imediatamente o sangue dele no meu sistema, com uma força, com um poder nunca antes sentido. De todas as vezes que entrei em contacto com o sangue dele era através de ingestão. Agora era mais rápido e potente. A sua corrente sanguínea entrava pelo golpe duma forma que sentia o meu coração a bombear o seu sangue espesso. Olhei para ele extasiada de prazer. Ele tinha os olhos fechados e experienciava também o meu sangue na sua corrente sanguínea. Pude sentir o corpo dele a encher-se de emoções fortes e por segundos ia jurar que ouvi o coração dele bater. O meu ADN era realmente forte como o Tomas tinha afirmado. O meu sangue a entrar directamente no seu corpo provocava-lhe sensações físicas humanas e foi quando vi uma lágrima que escorria dos seus olhos.


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