Mutação Oculta escrita por Athenaie


Capítulo 30
Capítulo 30




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Ao cair do sol saímos do hotel. Resolvi vestir-me a condizer com a ocasião, só que ao contrário do preto que aparentemente tanto gostam os vampiros eu quis primar pela diferença. Vesti um conjunto de calças e casaco muito justos ao corpo, branco, botas brancas e um casaco como o dele, quase a arrastar pelo chão, também branco. Ele não disfarçou um olhar de admiração quando me viu. Ia enfrentar os vampiros e não escolhi esconder-me, parecer submissa ou a pedir clemência. Ia enfrenta-los mostrando que era diferente e que tinha orgulho de ser diferente.

É preciso uma grande dose de coragem para fazer algo assim ou então uma grande dose de loucura. Tenha esta coragem sempre estado em mim, seja fruto das novas capacidades, seja por começar a estar habituada a estar em perigo, o que é certo é que ao sair do hotel eu me sentia capaz de enfrentar o mundo e rir na cara da morte. Era loucura de certeza!

Encaminhamo-nos para o local da audiência. Um palácio que aparentava ter vários séculos de existência nos arredores de Paris.

Muitos carros a chegar, muitos carros já estacionados com os motoristas humanos à espera.

Entramos.

Fomos encaminhados para um dos salões do palácio. Faltou-me momentaneamente o ar ao ver casa cheia. Deviam estar cerca de 300 vampiros na sala e eu sou a única humana. À medida que fomos caminhando lentamente através do salão o Eric foi sendo cumprimentado com reverência por muitos vampiros. Era visível o seu poder entre os seus. Os vampiros olhavam com desdém e desprezo para mim e alguns chegaram mesmo a estender as presas para que eu pudesse ver. Com esforço mantive-me altiva. Não ia ceder, nem acobardar-me. A Pam deu-me a mão sem eu estar à espera. Foi bom sentir o apoio dela e ajudou-me a manter-me firme na minha convicção.

Após quase uma centena de cumprimentos ao longo do salão, uma vampira muito baixinha e com cabelo e olhos quase brancos aproximou-se do Eric.

 - Eric Northmam!

 - Elena – disse ele

Oh que raio, sempre pensei que a Elena seria alta e encorpada. Parecia uma menina albina.

 - Não é a melhor forma de nos revermos – disse ela

 - Tenho a certeza que no final da noite tudo estará resolvido – assegurou ele

 - É esta a humana que tanto reboliço tem causado? – Perguntou ela olhando para mim

 O Eric pegou-me na mão e apresentou-me à Elena. Ela mirou-me de alto a baixo com uma expressão enigmática.

Estudou-me e por fim virou costas assoprando um ‘’uhmm’’ entre as presas.

Não podia dizer que ela tinha ficado minha fan depois disso.

Em minutos a audiência preparou-se para o julgamento. Os 4 juízes mais a Elena sentaram-se nos seus lugares. Uma secretaria colocada num patamar mais alto em relação a todos os outros. O Eric ficou de pé em frente aos juízes. O James, um vampiro magro, alto e moreno, que parecia muito novo estava ao seu lado. Tinha cabelo curtinho como um soldado e apesar do frio estava de t-shirt de manga curta. Eu sentei-me junto à Pam, na primeira fila de cadeiras do lado direito do Eric. O resto das cadeiras foram ocupadas pelos restantes vampiros na sala. Em segundos a sala ficou silenciosa e o julgamento começou.

A Elena teve a palavra e começou a explicar o motivo daquela convocatória. James, um vampiro com 700 anos de idade que residia na península ibérica tinha provas que a manobra levada a cabo pelo Eric contra a congregação religiosa ‘’Soldados de Cristo’’ tinha sido exclusivamente motivada pelo seu desejo de proteger a humana com quem vive actualmente. Tal era uma acusação muito grave, dada a sua posição dentro da hierarquia. Um vampiro com a sua posição não deve actuar contra humanos para defender um humano. Isso punha em causa o seu discernimento enquanto líder e nos tempos que correm isso não era algo a que os vampiros se pudessem dar ao luxo.

O meu coração acelerou e comecei a tentar controlar a respiração. Tudo se jogava agora e as nossas vidas dependiam da forma como ia decorrer este julgamento.

Foi dada a palavra ao Eric para se defender da acusação.

O meu viking em todo o seu esplendor falou alto, não para que todos os ouvissem, que os vampiros ouvem muito bem mas para mostrar a sua força através das suas palavras.

Apresentou impressões retiradas de sites da net onde os SC pregavam a sua futura guerra contra os vampiros. Apresentou testemunhas, outros vampiros que corroboraram as suas afirmações, dizendo ter conhecimento das actividades da SC, terem investigado a expensas próprias e apresentando provas de que se o Eric não tivesse actuado antes de tempo os problemas iriam ser muito maiores do que foram.

O seu discernimento em acabar com a congregação sem mortes, nem envolvendo os vampiros chegou a ser muito elogiada, sendo demonstrativo da sua capacidade de liderança e de raciocínio.

Aos poucos sentia-me melhor. Não aparentava que o James pudesse fazer algo contra o Eric. As provas eram suficientes para comprovar que o Eric era um excelente líder. Sorri para dentro quando o plano de descredibilizar a SC foi elogiado. Na realidade o plano era meu e sentia-me de uma forma meio estranha elogiada pela minha inteligência. Ninguém morreu e tínhamos aniquilado os nossos inimigos.

Finalmente a palavra foi dada ao James para que pudesse contra-argumentar.

O James virou-se para a audiência e falou:

 - Realmente o esquema articulado por Eric Northman para destruir a SC teria sido brilhante e motivo de aplausos se na realidade isso não tivesse sido tudo para defender a humana que o acompanha – e apontou para mim – E eu tenho uma testemunha que pode comprovar aquilo que eu digo.

O meu coração quase que parou, quando uma porta lateral abriu e eu vi entrar a Ana.

O meu cérebro disparou com inúmeras revelações ao mesmo tempo. Eis até onde ela era capaz de ir para se vingar. Ela procurou o James, um dos inimigos do Eric para lhe contar o que sabia. Ela que odiava vampiros há uns meses atrás, alia-se agora a um para me fazer cair a mim e ao Eric. E ainda falam que os vampiros são a maldade em pessoa. Ela participou no meu rapto, na conspiração para me matar, o namorado dela espetou-me uma estaca no peito e como nada disso funcionou jogou a cartada mais alta que poderia ter jogado para me atingir. Aliar-se a um inimigo do Eric para com isso condenar-nos ambos à morte.

A fúria foi tomando conta do meu corpo. Sentia-me capaz de a matar em frente a todos naquele instante. Para o diabo com a conversa que a menina é influenciável. Quem a influenciou agora? Ela é desprovida de carácter. È uma assassina. Só não mata pelas próprias mãos, arranja quem faça o trabalho sujo por ela.

Que mal lhe teria eu feito em tempos para ela me odiar assim tanto? Os humanos são capazes de odiar com uma força infindável, fazer o que quer que seja para levar a cabo a sua vingança. Somos na realidade uma espécie desprezível!

Sentia o gosto amargo do ódio na minha boca e se a Pam não me tivesse obrigado a sentar não sei se ela teria tido hipótese de abrir sequer a boca para falar. Para o diabo com as consequências. Ela teria caído ali naquele instante. Eu mesma lhe arrancaria a cabeça! Não duvido que tivesse forças para isso!

Com um ar vitorioso, ela aproximou-se dos juízes, olhando para mim com a expressão de maior gozo que já vi. Estava profundamente feliz de finalmente acabar com a minha vida!

Começou então a falar e contou tudo o que se passou naquela noite. O rapto, a policia que sabia ao que ia, com as acusações de pedofilia e o ataque do Paulo quando me cravou a estaca.

A Elena interrompeu com um ar enfadado:

 - Tens algo que comprove que o Eric só fez isso para salvar a humana ou vamos ficar aqui o resto da noite?

 -. Ela não é humana! – Gritou ela

Os vampiros ficaram subitamente em alerta e senti um enorme desespero no Eric. Eu ia ser exposta!

 - Ridículo! – Disse Elena – Pensará porventura que não reconhecemos uma humana quando a vemos?

 - Ela não é totalmente humana! Ela retirou a estaca do peito e sarou na nossa frente.

Foi um tumulto imediato. Os vampiros olhavam para mim com desconfiança. A Ana ria com a sensação de vingança cumprida. O Eric rodou sobre os calcanhares para olhar para mim e eu podia sentir o seu desespero crescente. Ele não tinha previsto isto e eu era a causadora de tudo. Fui eu que fiz questão de mostrar que podia sarar e isso agora ia custar-me a vida e ao Eric provavelmente.

A Elena era a única que parecia pouco surpreendida ou pelo menos não demonstrava. Olhava para mim com os seus olhos assustadoramente brancos e por fim ordenou que eu me aproximasse.

Levantei-me e aproximei-me do Eric. Ele estava a fazer um esforço monumental para se manter aparentemente calmo mas todo o seu interior fervia sem controlo.

A Elena fez um sinal rápido para um vampiro que estava atrás dela. Numa fracção de segundo, ele estava atrás de mim, agarrou-me num braço, levantou-me a manga do casaco e com um punhal, cortou-me um braço.

Gritei de dor, o Eric lançou-se contra ele e foi impedido por vários vampiros instantaneamente. O meu braço corria sangue que pingava abundantemente no chão. A minha roupa branca estava toda salpicada de vermelho. A audiência ficou muito excitada. Os vampiros podem estar mais controlados mas uma humana a sangrar na sua presença era um estímulo difícil de resistir.

O Eric debatia-se contra os que o seguravam e foi preciso cinco vampiros para o imobilizar. Ele tinha as presas estendidas e estava completamente em fúria.

E tão rápido como o meu sangue começou a correr, assim deixou de correr e o golpe a cicatrizar. Em menos de dois minutos o corte fechou perante os olhos surpreendidos de todos os presentes.

A Ana tinha a expressão que parecia dizer: ‘’e assim encerra o meu caso’’. A prova que eu não era propriamente uma humana vulgar estava à vista de todos e dificilmente eu teria uma explicação para isto.

A Elena saiu do centro da mesa dos juízes e veio junto a mim. Pegou no meu braço e provou o meu sangue que ainda estava fresco no braço.

Os seus olhos brancos abriram imenso.

 - O que és tu? – Perguntou-me e eu podia ver que ela estava muito curiosa

 Nem sabia se conseguiria falar mas não me podia dar por vencida e precisava dizer qualquer coisa.

 - Sou humana. – Disse

 - Sei disso! O teu gosto é humano, o teu sangue é quente, o teu coração bate, posso ouvi-lo daqui. Como é que tu podes sarar como nós? O que és tu?

O meu discernimento já me tinha causado problemas. Seria melhor contar a verdade ou continuar a negar as evidências?

Rapidamente resolvi arriscar. Os humanos são a pior das espécies. Será possível encontrar compreensão entre os poderosos imortais?

 - Sou humana mas bebi o vosso sangue e adquiri algumas das vossas capacidades!

O silêncio que se seguiu foi insuportável. Como eu sempre pensei os imortais não gostam de coisas que não compreendem.

A Elena dava passos curtos pelo palanque enquanto lambia o resto de sangue meu que tinha nos dedos. Virou-se por fim rapidamente:

 - Eric Northman, a forma limpa como acabou com a SC não é passível de condenação. Tendo o móbil sido ou não esta criatura que não sabemos bem o que é, na realidade, nada vos poderá ser apontado. Nenhum humano morreu, não há provas de envolvimento dos vampiros e foram destruídos de uma forma tal que não será possível regressarem ao activo. A sua acção como responsável de área é irrepreensível e o seu discernimento é exactamente aquilo que procuramos nos novos tempos. Já não é possível acabar com os nossos inimigos através da violência. Eric, você é um vampiro muito inteligente e uma honra para a nossa espécie. Este tribunal considera-o livre de qualquer acusação.

Os vampiros que o seguravam soltaram-no de imediato. Ele ergueu-se de imediato recompondo a sua postura de líder. Não se sentia no entanto ainda um vencedor. A apreensão continuava.

O James estava furioso. A Ana estava surpresa e parecia ter menos certezas na nossa derrota.

A Elena então voltou-se para mim.

 - Quanto a ti…….não consigo compreender o que és e o que significas, por isso ainda não tenho uma decisão para ti. Esta audiência não tem poder para julgar um humano mas nem tu és uma humana verdadeira bem como a tua relação com o Eric tem que ser bem ponderada. Desta forma, vamos fazer um intervalo para todos nos acalmarmos um pouco e depois veremos se o que tu és deve ser mantido ou exterminado!


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