Mutação Oculta escrita por Athenaie


Capítulo 25
Capítulo 25




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 - Diz Mário – atendi eu o maldito telemóvel quando ele finalmente tocou. – Conta-me coisas

O Mário fez então o relatório resumido das últimas semanas. Contactou o SC, disse que gostaria de fazer parte e foi convidado para um encontro. Contou os motivos pelos quais gostaria que os vampiros fossem exterminados da face da terra e chegou ao extremo de passar um chorudo cheque à organização para ajudar na suposta guerra santa. Evoluiu rapidamente dentro da hierarquia e finalmente chegou a um patamar em que lhe foi cedida a informação sobre o que estava para breve.

A organização estava pronta a começar a guerra em campo aberto e não tinha problemas em condenar alguns dos seus membros à morte ou prisão para isso. Era de uma guerra contra o mal que se tratava e perante isso tudo é lícito. O ponto de partida da guerra estava traçado, a humana que vive com o vampiro mais importante da península ibérica vai ser assassinada. Isso vai enfurecer o vampiro que vai atacar sem dó nem piedade e poderemos provar ao mundo que eles não passam de máquinas da morte. O Mário continuou a contar-me o plano. Quando lhes perguntou como seria a humana assassinada eles riram e disseram que a morte teria que ser extraordinariamente cruel para enlouquecer o vampiro, sendo assim, eu seria capturada de noite e quando o sol nascesse, para evitar ser salva por vampiros, seria amarrada a um poste rodeada de madeira e morreria da mesma forma que as bruxas no tempo da inquisição. Quase que deixei cair o telemóvel da mão.

Temos que lhes dar a mão à palmatória. No que toca a simbolismo na minha morte eles iam rebentar com a escala. Combati o medo com a fúria. E dizia o Eric que eu era má por os condenar a uma existência apontados como monstros. Os gajos querem queimar-me viva. È pouco o que eu pensei para eles!

O meu cérebro funcionou rapidamente e em segundos engendrei um plano para marcar o dia da minha captura. Se assim não fosse estava entregue à sorte. Combinei rapidamente com o Mário que ele deveria informar a organização que eu dali a 2 noites estaria sozinha em minha casa. O Eric teria supostamente qualquer coisa para tratar em Madrid, pelo que estaria ausente e eu teria combinado com a filha dele um jantar a 2 na minha casa. Teria sabido disto pela filha e diria também que na noite em questão ia impedir a filha de sair de casa a pretexto de qualquer assunto urgente. Assim sendo eu estaria sozinha, na minha casa e completamente indefesa contra uma captura. Assim que eu fosse capturada o Eric saberia imediatamente e seria parte dele fazer a chamada anónima à polícia dizendo que tinha ouvido gritos de crianças dentro da igreja. Se tudo corresse como eu planeava, a polícia entraria no espaço, muito tempo antes do nascer do sol e eu estaria salva e teria servido aos meus inimigos um pouco do seu próprio remédio.

Foi tudo muito rápido. Mal ouvi a porta de casa a ser arrombada, várias mãos imobilizaram-me de encontro ao chão da sala. Magoei-me ao cair com a cara no chão e senti o gosto do sangue na boca. Tentei perceber se teria perdido algum dente mas pelo jeito era só um lábio rebentado.

Tentei não fazer demasiada força quando me debatia. O sangue que o Eric me fez beber no dia anterior deixou-me com imensa força e resistência. Sentia que podia levantar-me apesar das pelo menos 6 mãos que me forçavam contra o chão.

Fui amordaçada, embrulhada num cobertor ou qualquer coisa parecida e levada para um carro, onde me fecharam quase sem ar na mala do carro. Acalmei o meu batimento cardíaco e foquei-me no que tinha a fazer. Primeiro que tudo: Avisar o Eric. Disse o seu nome mentalmente. Sabia que ele o poderia ouvir. A nossa ligação sanguínea estava mais forte que nunca e ele saberia na hora que era agora que todas as engrenagens deviam entrar em alta rotação.

A viagem foi rápida e lutei contra a falta de ar que a mordaça e o cobertor me causavam.

Finalmente largaram o cobertor no chão com estrondo o que me provocou mais algumas dores bem agudas. Desenrolaram-me e obrigaram-me a ficar de joelhos no meio do espaço. Estava no interior da igreja. À minha volta 20 membros da organização entre eles, o Luís Alecrim e a minha ex-amiga atrelada ao que parecia ser o novo namorado. Os outros não os reconheci.

 - Hoje é um grande dia para nós – Disse Luís – è o dia para qual nos preparamos. O início da guerra contra os seres do inferno. Irmãos congratulemo-nos por estarmos a servir a mão de deus ao eliminar as trevas da face da terra.

Retiram-me a mordaça e eu gritei imediatamente

 - Seus grandessíssimos filhos da puta!

Cai no chão com um soco em cheio na boca que um dos homens que me guardavam me aplicou

Levantei-me apesar das dores e do sangue no interior da minha boca.

Olhei para ela directamente

 - O que ganhas com isto? – Perguntei à Ana – O que ganhas em participar na minha morte? Fui assim tão tua pouca amiga que mereça este castigo?

Ela olhou-me cheia de ódio. Era como se eu lhe tivesse morto a família inteira a sangue frio.

 - És A traidora da nossa raça. A morte é pouco para ti! Pagarás por toda a eternidade pelos teus pecados a arder no fogo do inferno

Oh mãe. Matem-me já, não me torturem com conversas destas, por favor.

 - És uma pobre desgraçada – disse-lhe rindo – Tens a personalidade duma amiba. Se te mandarem saltar da janela também saltas?

Extremamente provocada gritou com todas as forças

 - Eu acredito! Eu acredito que estamos a fazer o maior bem ao mundo ao livrar-nos daqueles monstros e começa por ti, que és a pior de todos ao unires-te a eles.

O Luís interrompeu

 - Não adianta tentares provocar as minhas ovelhas, o teu destino está marcado. Morrerás ao nascer do sol da forma devida, como uma bruxa a arder viva numa fogueira sagrada.

As ovelhas gritaram em uníssono amém e a minha ex-amiga era a mais fervorosa de todos.

Neste tempo todo não me deixei abater sobre o medo mas estava a ser difícil manter-me corajosa no meio de todo aquele fanatismo levado ao extremo.

E se a policia não aparecesse? O sol não tardava a aparecer e o Eric não me poderia salvar. A ideia de ser queimada viva aterrorizou-me e estava quase a quebrar quando ouvi bater com estrondo na porta e ouvi do outro lado: Policia, abram imediatamente!

Os 20 pareceram olhar-se sem saber o que fazer. O plano não cobria a hipótese da polícia bater à porta de repente. Estavam na dúvida como agir. Uma coisa era matar-me a mim, outra era pegar em armas contra humanos e aproveitei para precipitar as coisas antes que eles chegassem a uma conclusão.

Gritei socorro com todas as minhas forças e foi em segundos que as forças policiais invadiram o espaço de armas em riste.

Foram minutos confusos com membros da organização a tentar fugir, com o Luís a incitar à luta, com os polícias a deterem toda a gente e a algemarem aqueles que se debatiam.

Sentei-me num degrau do altar. Estava em frangalhos. Um polícia perguntou-me o que fazia ali e se precisava de assistência médica.

Estava ainda muito abalada para falar e apenas lhe acenei com a cabeça que não.

Era evidente que a polícia sabia ao que ia, pois um destacamento dirigira-se imediatamente ao escritório que ficava nas traseiras para ver os computadores enquanto outros vasculhavam as instalações com cães pisteiros.

Perante o ar incrédulo dos lunáticos a polícia informou-os que havia indícios de prática de actos sexuais com menores e que estavam todos detidos preventivamente.

A Ana gritou: É mentira, isso é um esquema dos vampiros e aposto que essa cabra está envolvida!

Eu levantei-me e encarando-a com um sorriso disse:

 - Não sei do que estás a falar. Nem sei porque me raptaram!

A polícia claro queria o meu depoimento mas eu pedi com um ar sofrido de o podia fazer amanhã, afinal estava muito abalada e queria descansar.

Estava tudo em alvoroço. Computadores a serem carregados para viaturas e pude ouvir os cães a ladrar nervosos no pátio das traseiras. Acharam os corpos pensei.

A Ana aproveitou a confusão para se aproximar de mim e dizer-me espumando de raiva:

 - Vais pagar tão caro por isto!

 - Parece que és tu que vai pagar e com uns tempinhos na cadeia!

E então gritei de dor. O namorado dela que tinha permanecido o tempo todo imóvel e como tal não tinha sido algemado, levantou uma estaca de madeira e cravou-a directamente no meu peito, falhando o coração por milímetros.

Cai no chão em agonia. A dor era tão forte que senti que ia desmaiar ou entrar em choque. O atacante foi imobilizado pela polícia e outro agente chamava o INEM pelo rádio. Com uma réstia de forças agarrei na estaca e perante o grito do polícia que entretanto correra em meu auxilio, para eu não fazer isso, puxei-a para fora.

Foi um alívio imediato. A dor diminuiu e conseguia respirar agora. Tudo estava silencioso e em choque à minha volta quando me levantei do chão. O polícia conseguiu reagir e agarrou-me o pulso para me sentir a pulsação enquanto eu com a mão que tinha livre, puxei a camisa, rebentando os botões e expondo o peito aos meus inimigos. A sua cara foi demonstrando cada vez mais espanto e eu podia ver a incredulidade nos seus olhos à medida que a ferida no meu peito sarava a uma velocidade alucinante.

Ela é uma vampira! – gritou a Ana – É uma vampira! Olhem, olhem! Ela cura-se!

O polícia que segurava o meu pulso olhava para mim incrédulo e falou quase tão baixinho que mal se ouviu:

 - Ela tem pulso, está quente, o seu coração bate!

E fez-se silencio outra vez enquanto todos os presentes faziam um esforço para tentar perceber o que estavam a ver e o que aquilo significava.

A dor do meu peito quase que tinha passado e a ferida era agora pouco mais do que uma cicatriz fresca. Estava na hora de conseguir sair dali.

 - Como podem verificar não preciso de tratamento médico, preciso apenas de descansar. Vocês - falando para as autoridades - têm o meu nome e os meus contactos. Será que podiam liberar-me de prestar depoimentos hoje? Gostava de poder tomar um banho e limpar todo este sangue.

Estava tudo à nora. Ninguém compreendia o que tinha acabado de acontecer. Os polícias também não morrem de amores pelos vampiros e a dúvida sobre o que eu seria instalou-se. Daí a quererem ver-me pelas costas não levou muito tempo e deram-me permissão para ir para casa se quisesse.

À saída olhei para a Ana. Estava um caco, destruída. O Luís não se iria safar das acusações de pedofilia e o seu mais recente namorado tinha tentado assassinar alguém perante os olhos da polícia. Ela, provavelmente safaria-se, no processo que se seguiria mas mesmo não enfrentando pena de prisão, a sua ligação à organização era sobejamente conhecida de todos. Tempos difíceis a esperavam. Por momentos pensei que ela era apenas uma desgraçada influenciável e que eu tinha acabado de lhe arruinar a vida mas quando me lembrei que ela preparou e colaborou numa tentativa de fazer de mim um churrasco, achei que era pouco o castigo que lhe apliquei.

Sai da igreja pelos próprios pés, a noite estava quase a terminar e eu só queria refugiar-me nos braços do Eric, quando ouvi a sua voz a partir de um carro que abrandou ao meu lado.

 - Que fazes aqui? È quase dia!

 - Entra.

Entrei e ele arrancou a alta velocidade pelas ruas. Antes de chegarmos a casa ele disse-me:

 - Com sol ou sem sol não irias morrer esta noite. Eu tiraria-te de lá de qualquer forma, de qualquer jeito, a qualquer altura. – Sorri para ele e ele para mim.

 - Isto já não é um problema – disse ele - é autêntica catástrofe! – e riu-se às gargalhadas!


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