Mutação Oculta escrita por Athenaie


Capítulo 15
Capítulo 15




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Este ano o verão chegou em força em meados de Junho e as temperaturas atingiam os 35 graus durante o dia. Se não fosse o Ar condicionado no quarto que agora partilhava com o Eric em minha casa, seria impossível estar lá. Pelo menos para mim. Os vampiros sentem menos frio e calor que nós.

Um dia após o pôr-do-sol e o Eric ter ido trabalhar tocaram à porta. Estranhei quando vi que tinha vários vizinhos à porta. Perguntaram se estava sozinha e se podiam entrar.

Nunca fui de deixar vizinhos entrar em casa e muito menos ter qualquer tipo de amizades. È bom dia, boa tarde quando nos cruzamos e basta.

Seja como for acedi ao pedido. Algo que dizia que sabia qual era o assunto.

O administrador do prédio, o Sr. Monteiro encarregou-se de fazer o papel de porta-voz.

Não estavam minimamente contentes com o tipo de criatura que me visitava. Havia crianças no prédio, cruzarem-se no elevador com um vampiro era um perigo. Queriam proibir a entrada de vampiros no prédio.

No fundo até os entendia. Os vampiros podem ser realmente assustadores e o Eric às vezes gosta de provocar, mostrando uma presa aqui, outra acolá a algum humano que fica a olhar mais tempo para ele. Além disso todos temos direito às nossas convicções e medos. Sabe deus que neste tempo todo ainda não consegui convencer a Amélia a conhecer o Eric, apesar de já concordar comigo que se ele me quisesse matar já o teria feito. Seja como for, havia direitos consagrados na lei e os vampiros não podiam ser descriminados. Era a lei. E eu tenho direito a receber em minha casa quem eu quiser, desde que se comporte e não incomode ninguem.

Assim sendo perguntei:

 - O Eric já atacou, maltratou ou ofendeu alguém aqui no prédio?

 - Não mas…

 - Então tenho pena. Aceito o vosso medo e a vossa incapacidade em cruzar-se com ele mas não há nada que possam fazer para o impedir de me vir ver. A lei está do nosso lado. Ele não pode ser barrado apenas porque é um vampiro e eu tenho o direito de receber em minha casa quem eu quiser. Assim sendo, lamento, mas aconselho a não começarem uma guerra que está perdida à partida.

Claro que não seria assim tão fácil e fui brindada com um sem número de ofensas e impropérios cheios de raiva e ódio. Quando eu me preparava para acabar com a birra, já que afinal estavam em minha casa, a dona Lurdes, uma idosa simpática de 77 anos, solteirona convicta, que vivia no apartamento ao meu lado e que se tinha mantido calada durante todo o tempo levantou-se e elevou a voz para que todos pudessem ouvir:

 - Vamos a acabar com isto! Estamos na casa dela e ninguém tem o direito de a ofender dentro da sua própria casa. Ela está certa quer vocês queiram ou não, de modo que é melhor sairmos todos e quem tiver que se conformar, que se conforme.

Com olhares com mais ou menos ódio o grupo lá foi saindo. A D. Lurdes ficou para trás. Quando todos saíram ela falou:

 - Desculpe minha filha por isto. Só vim com eles pois queria evitar que a discussão passasse os níveis da boa educação. Como você deve imaginar não concordo com eles.

Essa foi uma surpresa. Sempre pensei que quanto mais velhos são os humanos mais dificuldade terão em adaptar-se a novidades e os vampiros eram uma grande novidade.

 - Quer beber algo? – Ofereci

 - Não estou bem assim e tenho que sair que tenho uns assuntos de velha para tratar – disse gozando consigo mesma – Queria só dizer-lhe que a invejo!

 - Inveja-me??? Ora essa…

Ela riu-se e continuou

 - Ora minha filha, tivesse eu a sua idade e o seu aspecto e faria exactamente a mesma coisa. O seu namorado vampiro é a coisa mais apetecível que já vi. Sim, estou velha mas ainda vejo muito bem.  – Disse, sempre rindo

 - Obrigado, acho! Disse eu ainda meio surpresa

 - Não tem nada que agradecer minha querida. Sabe, eu nunca me casei mas não foi por não gostar de homens. Apenas nunca encontrei ninguém, essas coisas acontecem e já não me sinto triste por isso. Mas voltando ao seu vampiro, aquilo é um pedaço de mau caminho, vim com ele no elevador uma noite destas e apesar da minha idade respeitável vinha a admira-lo. Que pedação!!!

A conversa da D. Lurdes animou-me e até me fez esquecer do ultimato dos outros vizinhos. Comecei a rir com ela.

 - Realmente é um pedação de homem, confesso!

 - Minha filha, espero que o use bem! – Dizia ela a gozar

 - Vou tentando, vou tentando! Sabe que ele é um vampiro muito forte e às vezes é difícil ter pedalada para….. (medi as minhas palavras)…tanto!

 - Sabe duma coisa? Isto dos vampiros terem aparecido foi uma grande surpresa mas para mim foi uma boa surpresa. Estou feliz de ter vivido para poder saber que afinal o mito era verdadeiro. Aproveite minha filha, que eu no seu lugar também aproveitaria e não se preocupe com a vizinhança. Eles não podem fazer nada e só terão que se conformar.

 - Obrigado D. Lurdes.

 - Não tem de quê minha filha e se precisar de conversar sobre alguma coisa perceba que tem aqui uma fan! Estou velha mas gosto de uma boa historia e se compartilhar alguma da sua vivência comigo é um favor que me faz.

Achei que ter uma fan apenas por ter uma relação com um vampiro não era um grande motivo mas percebi que na idade e solidão da D. Lurdes, qualquer animação era bem-vinda. Alias apesar da idade era uma mulher de mente aberta e muito bem-disposta.

Nos dias que se seguiram, antes de ir para o trabalho tomei café no bar da esquina muitas vezes com ela. Perguntava-me sempre pelo Eric e eu partilhava algumas coisas com ela, obviamente o que podia partilhar, o que se cingia basicamente à nossa relação e não a tudo o que estava à nossa volta.

A D. Lurdes mexia-se sempre nervosamente na cadeira, como quem está em pulgas para saber mais e mais e eu sentia que de alguma forma ela sentia-se a viver uma grande aventura através de mim.

À medida que a confiança entre nós foi crescendo um dia a Lurdes (como eu agora já a chamava a pedido dela) perguntou:

 - A Alexandra ama-o mesmo, não é? Isso não é apenas só sexo…

 - Bom, Lurdes, confesso que o sexo é uma grande parte!!

 - Mas é mais que isso não é?

 - É – admiti eu – Não vou negar! No entanto, tenho os pés bem assentes na terra Lurdes. Somos de mundos diferentes, somos de espécies diferentes e não sei bem se isto que temos pode ser mais que isto, se ele quer que seja mais que isto ou sequer se é possível!

 - Acha que ele não gosta de si? Quer dizer da forma como gosta dele?

 - Não! Não é isso! Ele não diz que me ama mas eu sei que ele me ama. (foi a primeira vez que afirmei a alguém que o Eric me amava) O caso é que eu não sei que tipo de relação se pode construir com um imortal! – Pronto, desabafei

 - Bom, você pode tornar-se imortal também

 - Pois, posso. Ou melhor posso-lhe pedir que me torne imortal mas eu não sei se quero isso. A ideia de não morrer faz-me tanta ou mais confusão do que a ideia que um dia morro e tudo acaba. Parece estranho, não é?

 - Não – disse-me ela – apesar de a vida eterna ser o sonho mais antigo da humanidade, pensar em sobreviver a todos que conhecemos não me parece uma ideia agradável.

 - E nem é só o facto de pensar que vou ver morrer toda a gente que já conheci. É pensar que depois não seria eu, seria algo diferente. Não sei, nem gosto de pensar nisso e sinceramente tenho afastado essa ideia da minha cabeça. Estou ainda em estado de negação, nem quero pensar sequer que posso ter que pensar nisso!

 - Compreendo

 - Por isso, vou vivendo o dia-a-dia ou melhor a noite-a-noite enquanto dá, enquanto ele me quer por perto. Sei lá se amanhã ele se farta e eu nem sequer preciso de pensar nisso?

 - Você acredita que ele se vai fartar ou tem essa esperança para evitar pensar no assunto?

Bingo!

 - Acho que tenho essa esperança! Apesar de saber que vou sofrer com a separação, que nunca mais vou encontrar alguém como ele, pois há coisas que…bom…até são fisicamente impossíveis para um humano (estava a referir-me delicadamente ao sexo), apesar disso tudo acho que estou sempre com esperança que ele me deixe.

 - Alexandra, eu já a considero uma grande amiga e as amigas devem dizer a verdade umas às outras.

 - Sim?

 - Por aquilo que você me contou, pelas nossas conversas, por todos os pormenores que me disse, aconselho-a a não ter essa esperança! Ele pode não dizer que a ama mas você sabe que sim, que ele a ama. Não estou a ver uma criatura tão antiga como ele mudar de ideias assim.

 - Os vampiros não pensam as relações como nós.

 - Minha Amiga, alguma coisa você tem de diferente e é essa diferença que é a chave de tudo. Eles podem não conceber as relações como nós mas você é diferente para ele e acho que você sabe disso e apenas não quer admitir.

Não há nada pior do que quando ouvimos alguém dizer aquilo que nós já sabíamos mas que nos recusávamos a admitir!


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