“O ciúme é o pior dos monstros criados pela imaginação.”

            O amor torna as pessoas adultas em crianças. Sentem ciúmes possessivamente, brigam por motivos bobos, ficam com saudade uma da outra... Mas nenhum dos dois tem coragem de pegar o telefone e ligar, ou visitar a outra pessoa. Ninguém quer dar o braço a torcer, ninguém quer engolir o próprio orgulho – ou a raiva, mesmo que momentânea.

            Tenha Gilbert e Matthew como exemplo.

           O canadense está deitando em sua cama, assistindo a Hora Acme e abraçado no travesseiro. Olha para o celular a cada cindo minutos, checa as mensagens e confere se não perdeu nenhuma ligação. Seu irmão, Alfred, já foi em seu quarto inúmeras vezes, tentou convencê-lo a sair, dar uma volta, mas Matt simplesmente diz que está passando mal.

           – Ficar trancado dentro do quarto não vai fazer com que ele te ligue.

           – Eu sei. Mas não estou esperando que Gilbert me ligue. Não estou me sentindo bem, apenas isso, Al.

           Eu pensei que ele estivesse brincando comigo. Só fui perceber que ele falava sério quando não deu uma daquelas risadas de quando está tirando onda comigo. Ao invés de risada, seu rosto estava tenso.

           – Espere um minuto... Eu e Pablo? – Ele só podia estar brincando – Por favor, Gilbert, você sabe que não há nada entre eu e ele, nós somos apenas–

           – Amigos? – Ele me cortou, levantando uma sobrancelha – É, imagino a amizade íntima e forte entre vocês dois, Matthew – Odiei o tom de ironia que ele usou comigo.

           Gilbert mudou novamente o canal e tentou se aconchegar mais no sofá. Também não parou de encarar o telefone. Sabia que era sua obrigação ligar e pedir desculpas, afinal, Matt não estava errado. Pegou o celular e achou o número de Matt, mas não conseguiu ligar.

           – Ele ainda deve estar com raiva de mim – Murmurou, colocando o celular de volta na mesa.

           Em sua mente, a briga parecia um filme que passava pela milésima vez.

           – Matthew Williams, não minta para mim, você e aquele cubaninho são super amiguinhos, aposto que devem andar juntinhos o tempo todo.

           – Gilbert, pare de ser infantil, eu quase nunca vejo Pablo! Hoje foi uma excessão, ele estava aqui, você ainda não havia chegado e–

           – Resolveu colocá-lo em meu lugar? – Matthew respirou fundo e apertou a ponte do nariz. Agora ele entende como estou.

           – Vai ver que foi, Gilbert – Ele falou com ironia – Faça-me um grande favor, já que está tão desconfiado de mim, vou embora. Tchau, Weillschmitd – Deu meia volta e saiu andando. Deixou-me sozinho naquele local.

           Brigas idiotas e ciúmes desnecessários. No final das contas, voltamos à estaca zero. Dois adultos agindo como crianças. Eles esperam o telefone tocar enquanto nenhum tem coragem para discar o número.