“Com o amor sendo cego, os enamorados
não podem ver as loucuras que cometem.”

            – Foi sua culpa. – West me falou, pegando uma revista em cima da mesa.

            É, realmente foi minha culpa. Se eu não tivesse me atrasado para meu encontro com Matt, eu não teria visto-o conversar com Pablo¹ animadamente, não teria um ataque de ciúmes, ele não teria gritado comigo e ido embora com tanta raiva. E se eu também estivesse mais calmo, teria ido atrás dele, não o deixado voltar para casa de Alfred.

            – Ah, claro, muito obrigado, como se eu já não soubesse disso. Você é o melhor irmão que existe, principalmente quando está tentando me consolar, sabia?

            – Não fui eu quem me atrasei no encontro. Pelo que eu saiba, nunca deixei Feliciano esperando – Ele folheava as páginas, até parecia que não tinha ouvido o que eu havia contado-o.

            – Mas deixou Kiku esperando quantas vezes? – Ele parou de mexer e me encarou. Toquei em seu ponto fraco.

           – Essa é outra história. Não vem ao caso – O seu tom de voz demonstrava sua irritação ao tocar no assunto. Eu ri ironicamente.

           – Que eu saiba, bruder, você e ele terminaram porque você só sabia se atrasar para os encontros.

           Sim, por mais incrível que pareça, Kiku e meu irmão já foram namorados. Isso foi na época da Segunda Guerra Mundial. Não durou muito porque West brincava com o japonês. Mas sabe aquele famoso ditado que diz que você só dá valor ao que tem quando perde? Foi assim. Meu irmão teve as três piores semanas de sua vida depois que o nipônico terminou com ele.

           E com Kiku foi o mesmo. Apesar de o término ser de sua iniciativa, ele ficou deprimido, mesmo que não demonstrasse. Estava na cara, literalmente, que ele também estava magoado (olhos inchados e olheiras não aparecem do nada).

           Tenho a impressão que eles – principalmente West – nunca superaram, mesmo tendo outras pessoas agora.

           – Eu e ele terminamos porque ele foi embora, Gilbert. Ele foi e eu não o segui. E mesmo se eu tivesse seguido-o, ele não teria voltado atrás. Kiku estava cansado de mim, da minha imaturidade em relacionamentos. Ele fez certo em ir embora.

           – Você realmente acha isso? – Agora eu percebi que não era irritação em sua voz, era mágoa, tristeza.

           – Ele está feliz com Heracles, não está? – West sorriu de canto. Não me enganou, bruder², sei quando você está fingindo sorrir.

           – Mesmo assim. Você não pensa no que teria acontecido se tivesse ido atrás dele?

           – Teríamos discutido, ele teria ficado com ainda mais raiva de mim... Ou teríamos nos acertado, voltado pra casa e feito amor até que caíssemos no sono. – Ele sorriu novamente – Mas não aconteceu. Talvez eu tenha cometido um erro, mas nunca vou ter certeza. Mas já você, idiota, pode muito bem ir até a casa de Alfred agora, pedir desculpas para seu namorado e evitar que isso aconteça com vocês.

           – Não posso, Arthur quer a minha cabeça num prato. Deve estar fazendo alguma magia para que eu morra indo para lá.

           – Você que sabe. Boa sorte, Preußischen Feigling³!

           Ignorei as palavras “carinhosas” de West e fiquei pensando no que fazer. Droga, porque eu tinha que ser tão ciumento?!