Estava deitado na cama no hotel olhando para o teto. Meu pensamento só se encontrava em Gabriele. Sentei-me irritado e joguei o travesseiro longe, como se minha raiva e nervosismo fosse sumir com a queda daquela coisa macia branca. Estava tentando dormir a horas e não conseguia. O fuso horário com certeza não estava ajudando. Olhei para o relógio que marcava 9:09 da noite no horário de Brasília. Sim, estava novamente em território brasileiro. Era para Tom estar aqui também, mas aquele idiota acabou se atrasando e perdeu o vôo. Ele só poderá vir daqui dez dias.

Dez dias sozinho num país sem conhecer ninguém. Não ia ser fácil esses dias. Ainda mais porque pretendia visitar a Gabi que provavelmente me daria outro fora. Mas isso iria deixar para amanhã. Estava tão cansado que queria estar dormindo como uma pedra e sonhando. Ao mesmo tempo, queria estar ao lado dela, pedir desculpas, dizer que ainda a amo e perguntar se ela me ama.

Provavelmente não mais.

Olhei para o aparelho novamente, que desta vez marcava 9:24. Achei que havia se passado tanto tempo, não só 15 minutos.

Voltei a fitar o teto. Era tão branquinho quanto à pele de Gabi, que se destacava com seus cabelos compridos e negros. E os olhos... Nossa, aqueles olhos... Tão profundos. Meu coração já começava a bater mais forte só de lembrar o jeito que ela me olhava.

Eu tentava parar de pensar nela, porém não estava tendo sucesso. Tudo me fazia lembrar dela. Até mesmo uma simples caneta, que me lembrava de tudo o que ela me escrevia, de todos os “eu te amo” que me mandava. Será que voltei a ser o Bill encalhado de sempre?

Pela terceira vez, verifiquei a hora. Apenas 5 minutos havia se passado. “Já chega, não aguento mais. Preciso vê-la”, pensei.

Troquei de roupa, peguei o endereço dela e liguei para um taxi. Não consegui alugar um quarto no hotel em frente ao de Gabi. Infelizmente já estava lotado.

Já dentro do carro, o taxista me avisou que demoraríamos um pouco por causa do transito. Acho que ele deve ter percebido que havia algo errado comigo e começou a me fazer perguntas.

-Desculpe perguntar, mas aconteceu alguma coisa com você, amigo?

-É uma longa história. E nem sei ao certo o que houve mesmo.

-Bom... o trânsito está meio parado. Acho que temos tempo para um resumo. Mas se for alguma incômodo...

-Não, imagina. Talvez você possa me ajudar.

-É sobre o que?

-Mulheres.

-Esse assunto é meio difícil. – rimos. Ele parecia simpático. Estava me dando confiança.

-Bom.. é... Eu e essa garota começamos a escrever cartas um para o outro por uma simples coincidência. Eu acabei me apaixonando por ela mesmo sem conhecê-la. No dia em que finalmente pudemos nos ver e conversar direito, ela ficou com meu irmão gêmeo e depois de uns dias me disse que talvez estivesse gostando dele.

-Nossa...

-Depois de alguma semanas, meu irmão disse que não a queria mais, então começamos a namorar. Mas ai, percebi que ele ainda era apaixonado por ela, e peguei os dois se beijando no apartamento dela.

-Que rolo, Meu Deus. E ai?

-Daí, bati no meu irmão. Só que no mesmo dia, fiz a maior burrada da minha vida. Pedi para que escolhesse entre nós dois. Estou com medo que ela não me escolha, entende? E a partir daí ela não fala mais comigo, não atende minhas ligações nem me manda mais correspondências. Agora estou indo vê-la, pois faz quase dois meses que não tenho notícias dela e estou preocupado.

-Ela deve fazer muita falta pra você.

-Você nem imagina o quanto. Não consigo ser feliz sem ela – olhei para ele e continuei – Alguma sugestão do que eu possa fazer?

-Já pediu desculpas?

-Já, muitas vezes.

-Olha, vou dizer o que eu faria ãhn... esqueci seu nome.

-Bill.

-Então Bill, você já se desculpou, agora se ela vai aceitar já é outra história. Que tal tentar conquistá-la outra vez?

-Como assim?

-Faça a se apaixonar por você de novo. Alias, onde está seu irmão?

-Está em Los Angeles. Ela acabou perdendo o vôo e só eu vim para o Brasil.

-Melhor ainda. Use a ausência dele a seu favor. – ele olhou para fora da janela. – Chegamos.

Sai do carro e dei o dinheiro para ele. Talvez começar do zero não seja uma má ideia. Agradeci e fui em direção ao hotel onde mora a menina de pela branca e cabelos pretos.

-Bill – gritou ele de dentro do carro antes que eu entrasse – Está vendo aquela lugar ali, com uma placa luminosa? É uma floricultura. Dê uma passada lá e compre um buquê bem bonito para ela. Mulheres se derretem com flores.

-Obrigado senhor.

-De nada. Até mais, Bill. E boa sorte.

Fui até a loja e comprei as flores mais bonitas. Juntei tulipas, rosas, margaridas. Todos os tipos que havia ali. Gabi não iria me perdoar apenas se eu lhe desse isso. Pelo menos era um começo.

Prometi a mim mesmo que não iria desistir dela. Eu até me lembro que já escrevi isso para Gabriele uma vez. Está na hora de começar a cumprir minha promessa e fazê-la se apaixonar por mim... outra vez.

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