Doomed Sun escrita por Meel_Bear


Capítulo 6
O lugar de um coração




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Havia anoitecido na cidade de Karakura, o vento soprava pelas ruas e o céu estava repleto de densas nuvens que anunciavam a chegada de uma forte tempestade e com trovões que ecoavam pelo céu negro fazendo barulhos estrondosos.

Ichigo estava no quarto encarando o lado de fora por sua janela, cheio de bandagens e curativos. Tinha tido outro sonho estranho como aquele de antes. Fora mais leve que o antecedente mas era igualmente preocupante.

- O que diabos são estes sonhos? – reclamou – Estão começando a me tirar do sério!

Ichigo levantou da cama e foi em direção do banheiro jogar uma água em seu rosto. Ele se encarou no espelho do banheiro e fez uma careta.

- Ótimo, agora além de múmia estou com cara de zumbi! – passou a mão no rosto irritado

Quando Ichigo tirou a mão do rosto e se olhou denovo, sentiu a cabeça rodar e sua visão embaçar. Apoiou-se na pia enquanto piscava os olhos rapidamente tentando se livrar daquela sensação, mas sua cabeça começou a doer terrivelmente. Como quando estava enfrentando o Scrapjer.
O ruivo colocou uma mão na cabeça e apertou os olhos, apertava a pia com tanta força que se ela não fosse de metal poderia chegar a quebrar.

- Que merda... – xingou semi-cerrando os olhos, encontrou mais uma vez seu reflexo no espelho agora conseguindo ver mais claramente. – Ótimo, tudo que eu precisava!

Ichigo sentiu a cabeça rodar denovo e seu corpo pesou. Ele tentou se apoiar na pia mas seus braços não conseguiram segurar seu corpo robusto, o que o fez ir de encontro ao chão frio do banheiro.

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Rukia estava ajudando Yuzu com a louça da cozinha enquanto conversavam distraídamente e riam com os comentários um da outra. Rukia havia se aproximado bastante de Yuzu, e igualmente de Karin. Só que Karin poucas vezes ficava muito tempo em casa, o que fez Rukia se aproximar mais de Yuzu, e ela sempre ajudava a pequena com os trabalhos de casa quando tinha um tempo livre.

Mas a pequena shinigami sentiu um arrepio lhe correr a espinha o que a fez cortar suas gargalhadas. Ela virou a cabeça alarmada quando pensou ter ouvido uma batida abafada.

- Rukia-san? – Yuzu perguntou – O que foi?
- Ouviu alguma coisa?
- Não. – a pequena arqueou a sobrancelha – Você ouviu?
- Veio lá de cima. – Rukia depositou o prato que estava em suas mãos e disparou pelas escadas.

Ela ouviu os passos de Yuzu logo atrás de si. Chegou na porta do quarto de Ichigo e a abriu esperando encontrá-lo deitado na cama como devia.

Mas ele não estava.

- Ichigo? – Chamou, não ouve resposta – Ichigo, onde você...

Rukia desviou o olhar para a porta do banheiro que estava entre aberta com a luz da lâmpada acesa.

- O que foi? Onde está o Nii-chan?

Rukia apontou para o banheiro e se dirigiu até lá, com Yuzu em seu encalço. Abriu a porta lentamente esperando não encontrar nada compremetedor, e não encontrou. Mas sim algo preocupante.

- Ichigo! – se apressou e se ajoelhou do lado do ruivo que se encontrava desacordado no chão – Ichigo, ei! O que houve? Acorde!

Ele não respondeu, tampouco se mexeu.

- Nii-chan! – Yuzu disse preocupada com o irmão que estava imóvel e se colocou ao lado de Rukia
- Ichigo droga! – Rukia praguejou – Quer parar com essa brincadeira? Eu vou te dar um sopapos se continuar me assustando assim! Ei!

Ela estava dando leves tapinhas no rosto de Ichigo, com esperança que ele reanimasse. Não houve resultado. Rukia mandou Yuzu descer correndo e pegar o telefone, a garota saiu em disparada pela casa para fazer o que a shinigami havia pedido sem hesitar.

Rukia viu que o peito do rapaz mexia lentamente. Ela chegou perto de seu rosto e sentiu sua respiração, mas esta não estava normal. Examinou rapidamente o corpo dele averiguando se ele não tinha batido em nada na queda, mas quando passou a mão na cabeça dele sentiu um leve galo se formando. Colocou a cabeça de Ichigo em seu colo a tirando do chão gelado, esperando alguma reação. Olhava pra ele esperançosa, praguejando e xingando a si mesma por aquela briga imbecil que a fez sair do quarto.
Enquanto ela encarava o rosto de Ichigo ela viu seus olhos tremerem e abrirem levemente.

- Ichigo! – Disse exasperada

Ichigo balbuciou algo inaudível, o que fez Rukia franzir o cenho.

- O quê?
- .. O que.. aconteceu? – Ele perguntou pausadamente enquanto tentava forçar seus olhos a abrirem por completo.


Ichigo sentiu a pontada forte em sua cabeça e gemeu, Rukia o olhou com os olhos transbordando preocupação.

- O que foi?
- Minha.. Cabeça. – Ele disse apertando os olhos. – Está tudo rodando.
- Consegue se levantar?

Ele não respondeu, apenas tentou se mexer e sentar. Rukia o ajudou e puxou suas costas devagar, então ele apoiou um braço no chão e conseguiu sentar enquanto a outra mão ia para o seu rosto.

- O que houve?
- Eu estava lavando o rosto, mas minha cabeça doeu e minha visão embaçou. – Ele disse – Depois não vi mais nada.

Rukia o olhou apreensiva. O que poderia ter causado aquilo em Ichigo? Ela se aproximou do ruivo e colocou a mão em sua testa.

- Sua temperatura está normal. – Disse franzindo o cenho novamente. – Vem, vou te levar pra cama.

Ichigo se apoiou em Rukia, o que foi bastante complicado para a shinigami pelo seu pequeno porte. Sem contar que o peso de Ichigo se concentrava quase que completamente em cima dela por ele ainda estar zonzo.

- Droga. Você realmente deveria perder peso! – Ela disse enquanto tentava guiar lentamente o garoto pra cama.
- Engraçadinha. – Ele retrucou enquanto se mexia lentamente sendo quase arrastado pela pequena

Finalmente eles conseguiram chegar na cama e Rukia ajudou Ichigo a se deitar lentamente. O garoto continuava tonto, talvez pela pancada de quando desabou no chão.
Rukia passou novamente a mão na cabeça dele onde o galo estava antes, mas dessa vez estava maior. Ele gemeu e praguejou baixinho com o toque da baixinha o que a fez tirar a mão imediatamente.

- Rukia-chan! – Yuzu disse na porta do quarto – Aqui está o telefone. Eu não o achava em lugar nenhum.
- Tudo bem. – Rukia pegou da mão de Yuzu e começou a digitar os números – Yuzu, você pode pegar uma compressa de gelo? Ele bateu a cabeça.
- Sim!

Yuzu se retirou do quarto mais uma vez, enquanto Rukia colocava o telefone no ouvido.

- Pra quem diabos você está ligando? – Ichigo perguntou enquanto encarava com uma careta a pequena shinigami
- Pro Urahara, preciso descobrir o que está acontecendo com você.
- Urahara?
- Não sei o que está acontecendo com você, mas definitivamente não é bom Ichigo. – Ela desligou e ligou o telefone apertando o redial e voltando ele ao seu ouvido.
- Não tem nada acontecendo, apenas passei mal.
- Cale a boca, você não sabe nem onde está o seu nariz.
- Não me mande calar a boca sua anã. – ele vociferou
- Inferno Ichigo! – Rukia desligou o telefone o metendo no colchão, o que surpreendeu o rapaz – Pode pelo menos uma vez me ouvir? Dói demais uma vez apenas? Eu sei que você está com alguma coisa te incomodando mas poderia parar de discutir comigo?

Ele a olhou sem reação.

- Como você..
- Não importa. E eu não vou perguntar o que é porque se você não me contou é porque não se sente a vontade, então não vou te obrigar em nada embora esteja querendo te socar até você abrir o bico de uma vez. – disse com a voz visivelmente alterada - Mas eu preciso que você colabore um pouco comigo!

Ichigo continuava a encarando, sem saber o que dizer. Era tão transparente assim? Por que ela estava alterada naquela maneira? Porque seus olhos estavam repletos de insegurança e preocupação?  Ela apenas pegou o telefone novamente voltando a discar os números enquanto o silêncio se instalava ali. Mas sua pequena voz irritada cortou completamente o silêncio.

- Droga Urahara, onde diabos esse telefone estava?.. Não me importa o que você estava fazendo, preciso que venha aqui!.. É o Ichigo, tem algo de errado com ele.

Rukia disse mais algumas coisas assentindo e então desligou.

- Ele está vindo.

Ichigo não respondeu, apenas ficava encarando o rosto da pequena.

- O que foi? – Ela perguntou irritada e virando o rosto.
- Desculpe.

Rukia voltou o rosto para Ichigo surpreendida

- O quê?
- Desculpe, pelo que eu disse antes. E por agora. – ele suspirou, desviando a atenção para o teto do quarto – Não devia descontar meus problemas em você.
- Por que você está desse jeito Ichigo? – Rukia perguntou enquanto encarava o rosto do ruivo – O que você tem, que não está me contando?
- Não posso falar.
- Sou sua amiga, pode confiar em mim.
- Não é em você que eu não confio. É em mim.

Rukia arqueou a sobrancelha.

- Você tem problemas demais, não vou te sobrecarregar com mais um.

O silêncio se instalou no quarto, que logo foi quebrado pela voz firme de Rukia.

- Sabe o que está me sobrecarregando? – Ichigo virou seu rosto a ela. – Minha preocupação com você Ichigo. Não são os Scrapjers, não é meu trabalho. – ela suspirou – É você.
- Se eu contar, não mudará nada.
- Talvez mude.
- Não Rukia, não vai mudar. – O olhar do garoto agora era duro – Vai piorar, vai piorar muito mais. É algo que eu preciso aprender a lidar sozinho, que eu tenho que carregar sozinho.
- Você não tem que carregar nem fazer nada sozinho..
- Não acho que derramar meus problemas para os outros seja uma solução.
- Não são outros Ichigo, são seus companheiros. – ela disse - Sou eu. Não apenas uma pessoa qualquer que acabou de te conhecer!
- Eu sei! – Ichigo brandou com a voz rouca – Eu sei que não!
- Então o que te impede?
- Medo! – ele respondeu de uma vez, sem ao menos hesitar.

Rukia o olhou surpreendida. Quantas vezes tinha visto o amigo com medo? Sempre o vira confiante, seguro de si. A vez que o realmente o viu com medo fora quando seu Hollow interior o estava amedrontando, e naquela vez poucas palavras foram suficientes para fazê-lo continuar de onde havia parado.

Mas o que dessa vez estava complicando tanto?

- Eu tenho medo do que pode acontecer. – Ele repetiu – Medo do que eu possa fazer, eu não sei o que está errado comigo. Não sei o que infernos é isso. Eu não consigo mais confiar em mim, não consigo mais ter uma maldita noite de sono tranquila ser ter pesadelos. – Ele continuava dizendo, como se as palavras simplesmente estivessem fluindo por entre seus dentes.
- E por estar com medo, acha que tem que carregar isso sozinho?
- Não, eu acho que tenho que carregar sozinho porque é algo perigoso demais para dividir com alguém.

Rukia ainda o olhava, tentando entender cada palavra do desabafo de Ichigo. Ela tinha entendido que ele estava com medo de algo, que estava inseguro. E agora ela também entendeu o que assombra tanto o garoto.

O medo de machucar as pessoas que ama.

Rukia ouviu Yuzu chamar lá de baixo, avisando a chegada de Urahara. Ela gritou de volta dizendo que já desceria e se levantou.

- Se você acha que dá conta sozinho, isso é você quem decide. – Ela começou a falar fazendo com que o ruivo a encarasse novamente – Mas não deixe seu medo acabar com você Ichigo, se está com medo... Enfrente o que está te amedrontando. Se não quer machucar ninguém, tenha fé em si mesmo que não machucará. E principalmente se lembre de que você não está sozinho agora. – ela suspirou – Que nunca estará.

Rukia começou ir em direção a porta, e parou no meio do caminho.

- Mesmo quando pensar que está perdendo tudo, não se entregue. Mesmo se pensar que sua vida acabar diante seus olhos, não se acovarde. Se machucar alguém que você ama.. – A voz da shinigami pareceu vacilar aos ouvidos de Ichigo, mas ela continuou firmemente – não se deixe abater. Nós nascemos com propósitos e objetivos, mas há pessoas com quem podemos contar para nos ajudar a cumpri-los.

Ichigo não tinha reação, as palavras da pequena shinigami o atingiam como uma bronca. Mas era motivador, ao mesmo tempo que tranquilizante. Ele ouviu a voz dela novamente

- Nossos corações, estão em um lugar especial. – Ela pousou sua mão sobre o peito – Confiados as pessoas em que acreditamos. – Ela se virou para ele – Então não diga que está sozinho Ichigo! Não ache que tem que carregar tudo sozinho. – ela se virou novamente saindo do quarto – E principalmente.. Não se atreva a querer morrer sozinho.

Rukia finalizou desaparecendo do campo de visão de Ichigo. Ele ficara ali, encarando o lugar de onde ela havia desaparecido com aquelas palavras ecoando em sua mente. Sentiu um certo calor em seu peito e todo aquele temor que estava sentindo pareceu diminuir.

- Não morrer sozinho, eh? – Ele desviou seu olhar para a grande e brilhante lua branca – Quem vai morrer, sua baixinha idiota.

Um incontestável e tenro sorriso se formou em seus lábios, enquanto ainda repassava cada palavra de Rukia em sua cabeça.


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Notas finais do capítulo

Heeere it is dears. Recompensei bastante vocês... Vou tentar não demorar séculos para postar novamente ok? Minha vida anda mais tranquila ~E eu tenho que atualizar a história -todoscorreBem, espero que tenham gostado, e mais uma vez perdoem os erros... Quando eu tiver tempo, os consertarei com calma. Obrigado por lerem, e espero seus reviews!