Meu Vizinho Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 10
Uma conversinha


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo revela qual foi a tal maldição que Ares lançou!

Leiam...



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Quando acordei estava encharcada de suor. Aquele sonho tinha me dado medo. Não tinha a mínima idéia se aquilo fora um simples sonho, ou se fora uma visão do passado... De qualquer jeito... Foi estranho.

Eu tentei levantar da cama, mas estava me sentindo muito tonta. E com uma incrível dor de cabeça. Fui me levantando com calma.

Eu fiquei sentada na beira da cama por um tempo antes de tentar levantar. Assim que consegui me por de pé, o celular tocou. O barulho fazia a minha dor de cabeça piorar. Droga! Quem podia ser àquela hora da manhã?

Atendi.

“Alô?” Minha voz estava falhada. Ela geralmente fica assim quando eu acordo.

Alice?” Perguntou a voz do outro lado.

Eu franzi o cenho.

Mamãe?” Perguntei.

“Sim! Sou eu filha!” Animada como sempre. “Está tudo bem? A sua voz está péssima.”

É... É que eu acabei de acordar, mas... Bom dia para você.” Eu sorri embora ela não pudesse ver isso.

“Bom dia?” Ela perguntou sem entender. “Ahm... Pelos cálculos... Acho que aí devem ser 5 da tarde.”

“5 da tarde?!” Eu quase deixei o telefone cair.

Olhei par ao relógio e notei que ela estava certa. Ah não... Eu tinha perdido a aula!

O que aconteceu?” Perguntou preocupada.

“Não... É nada. É que essa semana foi bem complicada para mim.” Falei. “Tive... Alguns problemas, mas... Acho que agora está tudo bem.”

Houve uns segundos de silêncio.

Certo...”

“E quanto á Paris?” Perguntei. “Recebia a carta do...” E me engasguei na hora de dizer. “... Papai.”

“Ah! É maravilhosa! É o lugar mais lindo que eu já conheci!” Ela voltou a se animar. “Seu pai e eu estamos tão felizes. Nós tiramos fotos em quase todo o lugar! Tem tantas atrações... É lindo.”

Eu me lembrei do sonho que tive. Minha mãe tirando fotos de Paris, e acabou conhecendo Hermes. Mas era melhor eu não falar nada.

“Mas eu não liguei para isso... Quero saber como você está.” Falou ela.

Eu... Vou bem.” Falei.

“Bem? Não parece muito... O que anda acontecendo? Que... Espécie de problemas você teve essa semana?” Ela perguntou curiosa.

Não foi nada.” Menti.

“Até mesmo pelo telefone eu posso saber quando você está mentindo ou não. Conte para mim, Alice.” Insistiu ela.

Eu não estava com paciência. Queria guardar aquilo. Não queria contar para a minha mãe que eu quase morri no mínimo três vezes naqueles dias, e que eu conhecera o meu pia de verdade.

“Tá bom. Eu conto.” Falei. “É que a semana foi cheia de surpresas para mim. Eu... Recebi umas visitas, sabe?”

“Algum amigo da faculdade? Ele é bonito?” Perguntou ela, pensando que se tratava de um namorado.

“Bem... Acho que você o achava bonito.” Admiti. “Sabe... O nome dele é Hermes.”

Um silêncio mortal.

“O mais engraçado é que... Eu descobri que ele é o meu pai.”

Mais silêncio.

“Alice... Eu...” Ela estava sem palavras. “Isso é ridículo...”

“Mesmo?” Perguntei. “Então é mentira?”

O jeito com o que eu perguntei a fez hesitar. Ela estava pronta para mentir, mas então notou que não adiantaria.

“Ele que te contou?” A idéia parecia á incomodar.

Não. Bem... Mais ou menos. Eu... Descobri uma parte, e a outra ele me contou.” Disse.

“Você tem que entender... Eu não menti para você por mal! Eu não queria que você...!”

“Foi para o meu bem, não é?” Perguntei irritada. “Eu passei 19 anos achando que o... William era o meu pai. Ele por acaso sabe quem eu sou?”

“É claro que ele...!”

“Ele sabe o que eu sou?” Era melhor esclarecer a pergunta.

Mais silêncio.

Eu desci as escadas e sentei em uma poltrona que tinha do lado do sofá.

Não. Ele... Acha que você é adotada.” Contou.

“Não... Claro que não. Ele não me amaria se soubesse que eu sou.” Falei colocando a mão sobre os olhos.

“Por favor, Alice... Você tem que entender. Eu fiz o que achei que seria melhor. Hermes nunca poderia ficar perto de nós para sempre. Você cresceria sem um pai. Não estou dizendo que é culpa dele, também. É só que...”

“Eu sei. Vocês dois se amavam, não é?” Adivinhei. “Aposto que foi difícil para os dois terem que se separar.”

“Com certeza.” Falou uma outra voz.

Eu quase pulei da poltrona. Sentado no sofá estava Hermes. Não vi ele entrando ali, pois meus olhos estavam tampados.

“Nós nos amamos até hoje. É claro... Eu também amo o Will, mas... Eu só fiz isso porque não queria te obrigar a seguir um caminho. Não queria que fosse forçada á isso. Ele... Ele seria um ótimo pai, mas...”

“Eu entendo tudo isso, mãe.” Cortei. “Sei que queria o melhor para mim. Sei que queria que eu tivesse uma família. Eu só... Eu só queria ter conhecido ele desde de pequena. Eu queria... Saber quem era o meu verdadeiro pai. Ter visto ele sem ter que esperar tanto tempo.”

Hermes me observava enquanto eu falava. Parecia saber exatamente o que minha mãe estava falando.

Você já o viu antes! Ele... Lembra quando você era pequena? Uns... Sete anos eu acho. Eu não pude te buscar na escola, então um homem foi buscá-la? Lembra? Vocês apostaram corrida até em casa e você acabou caindo e ralando o joelho. Era ele.”

Ele riu se lembrando daquele dia. Eu tampei o celular para ela não me ouvir e perguntei baixinho:

“Era você?!”

Ele assentiu sorrindo, mas logo o seu rosto voltou a ficar sério.

“Isso... Isso não conta! Eu queria conhecê-lo como pai! E não como um cara que me buscou na escola uma vez quando eu tinha sete anos!” Protestei.

Nós temos que conversar... Eu vou...”

“Continue em Paris.” Falei. “Eu... Preciso pensar um pouco. Preciso de um tempo.”

Nunca pensei que falaria: “Preciso de um tempo”. Sempre achei essa frase ridícula. Em geral, só aqueles adolescentes problemáticos falam isso.

“Tem certeza que...?”

“Eu fui atacada por dois cães gigantes, e quase fui morta enquanto lutava com um motoqueiro raivoso.” Contei. “É. Eu tenho certeza.”

“Certo. Mas depois nós precisamos nos falar.” Disse ela.

Tchau mãe. Mande um beijo para... O Will.” Disse.

“Tchau...” Ela não parecia muito feliz.

Eu desliguei o telefone, e olhei para Hermes. Ele estava com a mesma roupa que eu vira em meus sonhos. Pelo menos na parte que ele foi falar com Ares. O que não era nada bom...

“Nós é que temos que conversar.” Falou ele em um tom severo, e ao mesmo tempo paternal.

“O que aconteceu?” Perguntei.

“Diga você.” Falou ele. “Faz alguma idéia do que você fez?”

“Sim, eu tenho.” Falei. “E... Eu tenho que correr um pouco agora.”

Eu me levantei e fui para o meu quarto.

“Alice, isso é sério!” Exclamava ele do andar de baixo.

Eu troquei de roupa, e desci as escadas. Me senti aliviada por tirar aquele pijama laranja rasgado e sujo de ontem, e vestir uma ótima roupa de corrida.

“Sério por quê? Porque ele é o Deus da guerra?” Perguntei. “Eu não ligo.”

“Pare e me escute.” Advertiu ele.

Eu desci as escadas, e abri a porta de casa.

“Se quer falar comigo, vai ter que agüentar o meu ritmo.” Falei.

Eu não queria evitar o meu pai, mas estava pensando nas coisas que Ares dissera. Afinal... Quantos filhos ele tinha que nem mesmo sabiam que eram meio-sangues? Quantas vezes eu o veria na minha vida? Aquilo não era justo! Eu me senti triste, e sozinha. Por isso fui fazer a única coisa que eu sabia. Correr.

Comecei a correr para o lado oposto á casa de Ares. O Sol estava começando a se por. Meu ritmo não era lento, mas mesmo assim Hermes conseguiu me acompanhar. Se bem que... Para o Deus da corrida isso não é difícil.

“Acha que isso é uma brincadeira? Que você pode desafiar qualquer um, porque é uma semideusa?” Perguntou ele. “Alice... Aquilo foi demais.”

“Sinto muito, mas o que você esperava que eu fizesse?” Perguntei. “Deixar para lá só porque ele é um Deus?”

“Não é disso que eu estou falando.” Ele disse. “Ares provoca as pessoas desde que nasceu. Sei disso. Ele é o meu irmão.”

“Sinto pena de você, pai.” Murmurei.

Eu senti que ele quase sorriu, mas então lembrou-se de que o assunto era sério.

“O ponto é... Você o desafiou, e o deixou irritado.” Falou.

“Eu o desafiei e ganhei.” Corrigi. “Ele é só um mal perdedor.”

“Em parte você está certa, mas... Ele é um Deus. Não pode agir de maneira tão petulante com qualquer um que começar a te irritar.” Ele me repreendeu.

“O que quer que eu faça?” Perguntei.

“Agora... Não há mais nada para fazer.” Contou ele. “Ares lançou uma maldição. Eu sei. Ele é um mal perdedor, é irritante e tudo mais. Mas... Ele tem os seus poderes. E desafiá-lo não foi sábio.”

“Se esconde por 19 anos também não.” Retruquei.

“Isso não...!” Ele tentou protestar, mas eu tropecei em uma pedra e caí no chão.

Sou desastrada na maioria das vezes... Meu pai se abaixou e tentou me ajudar, mas eu fui mais rápida e levantei sozinha.

“Não preciso da sua ajuda.” Falei sentindo algumas lágrimas nascerem nos meus olhos. “Não preciso da ajuda de um Deus para me virar.”

Ele franziu o cenho.

“Por que você fez isso?” Perguntou. “Sabe como eu estou preocupado?! Você nunca nem mesmo tocou em uma espada, e agora se meteu nessa enorme encrenca.”

“Eu vou me virar sozinha.” Falei.

“Ares lançou uma maldição. Sabe qual foi?” Perguntou ele. “É como... Se você tivesse agora uma energia extra. Para atrair monstros.”

“O que...?” Perguntei. “Você quer dizer... Que agora vão aparecer mais monstros do que antes?”

“Sim. E só vai piorar.” Falou ele tenso. “A cada vez que você derrubar um monstro a energia vai aumentar e chamar mais deles.”

“Nunca vou ter descanso...” Murmurei. “Como ele disse.”

Aquele desgraçado! Era isso que ele queria dizer! Naquele momento eu sabia que estava ferrada, mas... Tinha outra coisa na minha mente.

“Não vou deixar que você morra.” Falou ele com a mesma determinação que teve no meu sonho. “Eu vou... Vou te ajudar. Nem que não seja diretamente.”

“Não. Não quero a sua ajuda.” Falei. “Se tem que ir, vá logo.”

“O que houve com você? Eu sei que isso tudo é difícil, mas...” Ele parecia não entender.

“Quantos filhos você tem no mundo?” Perguntei. “Centenas? Milhares?”

Ele franziu o cenho.

“Quantos deles na fazem idéia de quem você é? E... Quantos dele nunca viram você na vida?” Perguntei tentando ao máximo não chorar.

“Você é a minha filha mais nova, sabia? A última que eu tive.” Contou ele. “Depois da sua mãe... Eu não me apaixonei por mais nenhuma mulher.”

“Se você tem que ir embora... Vai.” Falei. “Eu... Não quero ocupar o seu tempo.”

“O que quer dizer com isso?” Perguntou.

Respirei fundo.

“Eu sei que o Ares é um idiota. Eu sei que ele quer irritar á todos e provocar brigas, mas... Não posso simplesmente ignorar o que ele disse!” Eu olhei para ele. “Quantas vezes mais eu vou te ver? Eu nunca mais vou falar com você sem me perguntar isso.”

Ele sorriu um pouco triste.

“Eu não vou deixar você, nem a sua mãe.” Falou. “Eu posso não estar presente sempre, mas... Vou sempre estar ao seu lado. Não me interessa se sou ocupado ou não... Pode ser até por poucas vezes, mas... Eu vou me esforçar ao máximo para vir te visitar. Por isso...”

Ele limpou uma lágrima que tinha escorrido no meu rosto.

“Prometa que vai tomar cuidado.” Pediu ele. “Por favor.”

“Eu prometo.” Falei.

Ele sorriu.

“Eu vou proteger você do melhor jeito que puder.” Falou ele. “Você ainda não sabe de muita coisa, mas como você disse para a sua mãe... Você precisa de um tempo para respirar, não é?”

Ele passou os dedos pelo meu cabelo, e foi embora.  


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Notas finais do capítulo

O que acharam?

Bem... O próximo capítulo será hilário. Vocês verão...

Até lá...

E quero reviews!