Amante Conquistado escrita por leel


Capítulo 11
Capítulo 11




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/126008/chapter/11

Alysia acordou sentindo uma forte dor de cabeça. Tinha o lençol cobrindo os olhos e pensava no horrível sonho que tivera: tinha encontrado uns homens muito estranhos em um beco e seu colega Butch era um deles. Fora aprisionada e levada com eles. Depois um dos homens que a levou tirou-a da casa. Ele a levou para um castelo imenso onde havia bruxas dançando. E ela era uma delas! Depois, ela descobriu que o homem era um vampiro e tinha presas imensas. Mas então ela também era uma vampira e ela era quem o mordia.

Que raio de pesadelo esquisito. Tateou o colchão com a mão à procura do abajur que ficava ao lado da cama, em sua casa.

Encontrou um braço enorme em vez disso.

“Bom dia pra você também, Alysia.”

Ela descobriu a cabeça. Puta que o pariu. Não era sonho coisa alguma!

O vampiro estava ali bem ao lado dela.

Não, espere. Ela estava delirando. Ele era mesmo um vampiro? Tentou levantar-se, mas o mundo girava. Ela seria capaz de sentir dor com o passo de uma pulga pelo chão. Segurou as têmporas com as mãos.

“Acho que alguém aqui nunca ficou de porre.”

A voz de Vishous era uma britadeira em sua mente.

Vagarosamente, ela recobrou a consciência. Mas que parte daquilo tudo era real?

Hum. Ela lembrava-se de ter ido a uma danceteria com Vishous. Lembrava de ter bebido algo, e de ter soltado a franga na pista de dança. E depois, no carro… ela lembra de ter avançado nele, querendo ver suas presas. Que diabos havia naquela bebida pra ela delirar e agir daquele jeito? Ainda se lembrava de estar por cima dele.

Ah, Deus, eles não podiam… não, não teria acontecido. Ou teria?

“Você está tão intocada quanto antes. Eu não sou um estuprador. Se bem que, nesse caso, não seria exatamente um estupro, já que você é quem me atacou.”

Esfregando as têmporas, Alysia respondeu devagar.

“Você lê pensamentos agora?”

“Claro, eu sou um maldito vampiro, esqueceu? Dentre outras coisas, vampiros lêem mentes. Ou vai fingir que não queria ver as minhas ‘presas’ ontem à noite?”

Ah, se ela soubesse que tudo aquilo era mesmo verdade. Mas jogar com Alysia era muito divertido. Isto é, enquanto ela não soubesse de nada mesmo.

Em meio à dor, ela olhou torto para o homem a seu lado.

V. ergueu uma sobrancelha.

“Ah, sim. E quem é que ontem, quando chegamos, não queria entrar aqui, porque era um castelo mal-assombrado e estava cheio de vampiros sanguinários?”

“Você me dopou. Eu não bebo, muito menos uso drogas.”

“Talvez a garçonete tenha trocado a sua bebida.”

Que canalha mentiroso ele se sentia agora.

“Não seja idiota. Você quis se vingar de mim. É bem a sua cara.”

“Bem, o lado bom disso tudo é que você dança muito bem.”

E fica sedutora como o diabo.

“E então?”

“Então o quê? Ah! Se eu leio pensamentos? É claro que não. Você é que é muito transparente. Dá pra ver pela sua cara que você queria saber se aconteceu alguma coisa ontem. Mas não se preocupe. Não rolou porque eu surpreendentemente, eu fui um maldito cavalheiro ontem.”

É oficial: Vishous, o guerreiro mais frio da Irmandade da Adaga Negra, é um mentiroso descarado. Exceto pela parte do “cavalheiro”. Quem diria, hein?

Alysia queria abrir um buraco ali mesmo, esconder-se e nunca mais voltar a ver a luz do dia outra vez. Ela atacara um homem enquanto estava bêbada. Ela, que sóbria jamais faria nada parecido.

Voltou a cobrir a cabeça. E essa dor que não passava? Ela ia pegar aquele cara de jeito quando ele estivesse distraído. Ah, se ia.

Claro, quando ela tivesse coragem de olhar para ele outra vez.

“Deixei um comprimido e água para essa sua dor de cabeça. Estarei na sala de estar do Buraco, se precisar de alguma coisa.”

Alysia olhou por debaixo do lençol e o viu sair. Tomou o remédio e caiu no sono assim que a dor passou.

***

Phury e Butch jogavam uma partida de bilhar na sala de jogos. Phury quase nunca ganhava do tira, mas a graça estava em jogar e dar boas risadas com ele.

“Soube o que seu companheiro de quarto aprontou ontem à noite?”, Phury disse. “Levou sua amiga ao Zero Sum.”

Butch fez sua jogada e levantou os olhos para o guerreiro.

“Como é?”

“Parece que os dois foram dar uma volta. Rhage me contou.”

“Rhage é uma velha fofoqueira.”

“Não quero nem ver quando Wrath souber disso. Se é que ele já não sabe.”

“Vishous perdeu completamente o juízo.” Butch abanou a cabeça, apoiando-se no taco. Depois apontou a mesa com a cabeça. “Sua vez.”

Phury fez sua jogada, mas mais uma vez não foi bem sucedido.

“Droga. Nunca serei tão bom quanto você nisso.”

“Tenho certeza de que há coisas que você sabe fazer que eu jamais conseguiria.”, Butch respondeu. Depois ficou pensativo.

“Espero que Vishous não tenha feito nada demais com Alysia.”

“É, ele não anda mesmo muito bem. Mas ele nunca foi de maltratar fêmeas. E tenho pra mim que ele está começando a gostar dela, só não sabe disso. Ainda.”

“Você acha mesmo que ele vai ter de assumir… aquilo?”

Phury soltou um muxoxo, desgostoso.

“Isso vai arruiná-lo se o fizer. Mas ele tem escolha?”

Ambos permaneceram em silêncio.

“Vamos voltar ao jogo”, Butch disse. “Depois terei um papo com V.”

***

Alysia acordou sentindo-se bem melhor. Talvez ainda estivesse um pouco enjoada, mas pensando em como estava horas atrás, não era tão mau.

Havia tanta coisa fervilhando em sua mente. Pensava no delírio que tivera, pensando que Vishous era um vampiro. As lembranças estavam meio enevoadas, mas ela tinha certeza de ter visto nesse delírio que ele tinha presas.

Presas. Pelo amor de Deus.

Seria possível? Não, ela estava ficando louca. Mas havia tanta coisa estranha ali: porque eles só circulavam à noite? E aquelas persianas de aço, vedando totalmente a luz do sol? Ela ainda lembrava do tamanho daqueles homens todos. De Butch, que estava tão maior do que quando trabalhava na polícia.

E ainda tinha aquele bonitão. Rhage. Minha nossa, ela tinha jogado um castiçal nele com a intenção de feri-lo. Lembrava de ter visto um galo imenso em sua testa depois. E, na manhã seguinte, sua pele não tinha nenhum arranhão. Como podia ser aquilo?

 Ela não podia estar sonhando. Estava ali com eles, comera com eles. Ela abraçara Butch no beco. E Vishous… com certeza ele era muito real. Pensou naquele abraço inesperado. E no incidente no carro. Mas esse não contava, ela estava de porre.

Mas tinha sido verdade, não tinha? Ele lhe contara sobre o ocorrido no carro.

O que acontecia nas ruas escuras de Caldwell à noite? Que tipo de seres habitava aquela escuridão dos becos?

***

Vishous estava usando seus computadores, pesquisando alguns endereços que Phury e Zsadist tinham conseguido na noite passada, após eliminar dois redutores.

Não queria admitir, mas sentia-se algo culpado. Fora infantil ao tratar Alysia daquele jeito. Na hora tinha sido engraçado, mas agora havia algo escondido em algum lugar de si mesmo que dizia que ele não tinha agido certo.

Droga. Não era do tipo que se desculpava. Tinha colocado a moça em uma situação vexatória. Como ia olhar para ela agora?

Pusera-a em sua cama numa tentativa inconsciente de se desculpar. Queria que ela estivesse confortável, queria estar mais perto para deixá-la segura... só que a última coisa que ele podia representar era segurança.

Sentia uma raiva absurda de si mesmo e de tudo a seu redor. Por Deus, sua vida estava tão errada. Tanta amargura e tanta frieza cansavam. E ele estava mais do que cansado.

Estava prestes a pegar o interfone e pedir que Fritz lhe trouxesse algo para comer, quando sentiu uma presença estranha na sala de estar.

“Nunca se acostuma, não é, guerreiro?”

A Virgem Escriba. Bem ali. Na sala de estar do Buraco. Quando você acha que as coisas não podem ficar piores…

“O que quer aqui? Já não fodeu com a minha vida o suficiente?”

“Vou ignorar que me fez uma pergunta e que continua rude, guerreiro. Não serei tão condescendente no futuro.”

“Dane-se você.”

O ser diminuto, coberto de seda negra dos pés à cabeça, flutuou para mais perto de Vishous. Um ar frio encheu o ambiente.

“Quem dera pudéssemos ter começado isso de maneira diferente, meu…”

“NÃO OUSE ME CHAMAR ASSIM! Nunca! E não esqueça que foi você quem provocou isso tudo, quando escolheu cumprir sua promessa absurda e abandonou sua cria no campo daquele carniceiro.”

A Virgem Escriba tinha erguido uma de suas mãos luminosas na esperança de tocar seu filho, mas soube que talvez jamais pudesse fazer isso. Voltou a ser fria e direta.

Tanto quanto ele mesmo era. Havia tanto mais dela na alma do vampiro do que ele mesmo poderia suspeitar...

“Como queira. Vim apenas avisá-lo de que a cerimônia de apresentação do Primale será daqui a três dias. Os preparativos estão praticamente concluídos.”

“E se eu não quiser ir?”

“Sofrerá as conseqüências. Não pense que sua posição tornará as coisas mais fáceis para você, Vishous, filho de Bloodletter.”

“Que grande novidade, vindo de você, não é?”

Vishous encarou sua mãe. Seus olhos diamantinos brilhavam. Havia dor e ódio naquele olhar. Sentiu que podia perder a cabeça a qualquer momento.

“Está convocado, guerreiro. Apresente-se daqui a três dias.”

A Virgem Escriba virou-se e ia se afastando, quando voltou de súbito. Como se tivesse percebido algo.

“Como ousa manter algo que me pertence, guerreiro? Achou que eu nunca perceberia?”

Vishous estava de costas, para não encarar aquele ser tão poderoso. Não podia responder por si se ela continuasse ali, dirigindo-se a ele. Foi com o mais absoluto rancor que ele lhe respondeu:

“Não sei de que diabos está falando.”

“Sabe muito bem”. A pequena divindade foi chegando perto do quarto, mas estacou. “Pensa que pode me ferir com essa sua atitude, guerreiro. Não vai conseguir.”

Não.sei.de.que.porra.está.falando.

“Voltarei outra hora para exigir o que é meu.” Sumiu no ar após dizer isso.

Um frio ódio percorria o corpo do vampiro. Sentia a vontade de socar as paredes, de ser violento. De matar. Precisava dar vazão a todo aquele horror dentro de si.

Foi até o balcão, pegou uma garrafa de Goose e atirou-a na parede.

***

Quando estiver no meio de uma situação que não possa controlar, simplesmente aja como se fosse um dia comum de sua vida. Alysia pensava nas palavras da mãe de uma amiga de infância – que calhava também de ser sua vizinha. Fora uma substituta torta de sua própria mãe, e tinha sempre uma comida gostosa, um sorriso, uma palavra de conforto. Deus às vezes coloca anjos em nossas vidas, e eles aparecem de onde menos esperamos.

A detetive tentava seguir o conselho daquela mulher bondosa e mesmo em meio a todo aquele caos, procurava estabelecer uma espécie de rotina. Tomar banho, cuidar de si, preparar-se para a primeira refeição. Tentar controlar o que era possível, porque todo o mais escapava de seu controle.

Já estava pronta para começar mais um dia – ou noite? – naquela mansão onde estava passando os últimos dias. Só faltava recolocar o colar, que ela tinha finalmente lembrado de retirar antes do banho. Ao segurar a peça, notou que a pedra estava quente. Que estranho. Prendeu-a no pescoço e ia para a porta. Ouviu um grito de dor e o barulho de algo se quebrando.

Correu até a sala de estar.

Vishous, completamente transtornado, atirando objetos do bar na parede: uma garrafa de vodca. Copos. Gritava ferozmente naquele idioma estranho, e tudo que ela podia entender era que às vezes ele gritava ‘maldita’ em inglês.

A essa altura, Butch estava voltando da casa principal pelo túnel. Sentiu que havia algo errado com seu melhor amigo e correu para chegar ao Buraco o quanto antes. Ao entrar, viu o cenário de horror. Alysia na porta do quarto, sem entender.

Vishous finalmente cansou-se de atirar coisas e caiu de joelhos no chão, ofegante.

“Maldita... maldita.”

Butch olhou para Alysia com uma pergunta muda nos olhos. Ela lhe devolveu o olhar, dizendo que não entendia. O tira aproximou-se do amigo. Ajoelhou-se também. Colocou a mão em seu ombro.

Vishous ainda tinha aquele olhar duro e trespassado de mágoa.

“Ela… esteve aqui.”

“Sua…?”

V. acenou com a cabeça. Ainda respirava com alguma dificuldade, mais para controlar sua ira do que pelo esforço físico.

Alysia observava a cena de longe e captou no ar a profunda ligação que unia seu ex-colega e o homem que a vigiava. Não sabia explicar como; ela simplesmente entendeu. E sentiu um ímpeto, uma ordem dentro de si que não conseguiu deixar de atender. Foi chegando perto dos dois vagarosamente. E colocou a mão no outro ombro de Vishous. Trocaram olhares por um instante.

O tempo parou. E então, o vampiro também compreendeu.

***

Pela primeira vez em sua vida, Vishous sentiu-se abençoado por uma de suas visões. Assim que Alysia o tocou, ele se sentiu completo. Viu a ele mesmo e àquelas duas pessoas junto dele envolvidas em luz. Sorrindo.

Meus dois amores.

Achou aquela expressão muito estranha, mas não tentou afastá-la da mente. Era como se fosse uma constatação. Não era algo ruim. Vishous sentiu-se inteiro. Como se a busca – fosse qual fosse – houvesse terminado.

“Você está bem, meu camarada?”. Butch quebrou o silêncio, com um olhar angustiado.

“Talvez não fique bem nunca. Mas sim, estou me controlando.”

Era mentira. Ter Alysia e Butch tão perto dele, tocando-o tirou dele toda a energia ruim daquele ataque de ódio. Pelo menos por ora. V. bateu de leve nas costas do tira. Sentia gratidão. O que era uma novidade, partindo ele. Ora, que merda, podia abraçar os dois ali por isso, se não fosse uma atitude tão maricas.  

“Preciso de um tempo. Vou dar uma volta.” Foi a única coisa que lhe ocorreu dizer.

“Vai dirigir assim, cara?”

 “Vou destruir essa casa inteira se não o fizer. E vou lhe pedir um favor, cara. Fique de olho na Alysia. E conte a Wrath o que aconteceu.”

“Sim, claro. Falando nisso, onde está ela? Tive a impressão de vê-la aqui na sala agora mesmo.”

Olharam em volta. Alysia tinha desaparecido.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!