A Sakura Inglesa escrita por M Iashmine M


Capítulo 4
Capítulo 4 - Armadilha sob holofotes


Notas iniciais do capítulo

Hiiiii, minnaaaaaaa!
Mil perdões pelo imenso atraso!
Estive ocupada (de verdade, não por preguiça), tanto com a faculdade e o trabalho quanto com minha outra fic.
Mas, de coração espero ter caprichado neste capítulo para compensar!



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Eu não compreendi bem o que se passou pela minha mente nos instantes seguintes: lembranças de sensações, temperamentos e emoções, tudo formando algo semelhante a uma venenosa essência para o coração. Imaginei que fosse isso porque minha cabeça estava latejando em compasso com meus batimentos e meu peito doía como se estivesse sendo pressionado por uma grande bigorna, dificultando até mesmo a respiração.

Perdi a noção da presença das outras pessoas a minha volta. Inevitavelmente sentia-me emboscada em uma armadilha. Eu não queria suportar aquilo, não queria aceitar que aquilo me fosse imposto.

E depois, nada. O completo branco se apoderou de meus pensamentos e tudo cessou, exceto pelo latejar das têmporas. Senti-me como em um palco, em meio à apresentação de alguma peça teatral. Tudo a minha volta era iluminado por um enorme e fortíssimo holofote e senti como se tivesse me perdido no roteiro, estava sem atos, sem falas.

Então um ponto se iluminou na platéia, um ponto vermelho muito brilhante que a luz do holofote não conseguia mais ofuscar. Ouvi a voz e senti o toque. Voltei a mim.

- Adhara-chan? – chamou Sophia.

- Adhara, está tudo bem? Você ficou pálida de repente. – A voz de Matt puxou-me um pouco mais para a lucidez. Senti-me sendo conduzida por sua mão em direção a uma cadeira.

Sentada, comecei a sentir o retorno da visão e meus outros sentidos voltaram ao normal.

- Adhara... – repetiu Sophia.

- Sophy, por favor. Diga que é mentira. Por favor, diga!

- Adhara, lamento dizer...

- Apenas diga que é mentira, uma ilusão, independente de qual seja a realidade – minha voz tremia.

Senti-a me olhando, então suspirou e disse:

- É mentira, Adhara. Você só está imaginando coisas. Não é de verdade.

Nas condições de raciocínio em que eu me encontrava, aquilo seria o bastante para me controlar e, quem sabe, manipular a situação de forma conveniente a mim.

Eu já sabia o que iria fazer.

- Bem, estamos em uma festa – eu disse, de repente, levantando-me da cadeira. – Vamos nos divertir.

Matt e Sophy me olharam estupefatos, e eu não podia culpá-los. Minhas ações dali para frente seriam as mais suspeitas da festa.

Andamos um pouco até encontrar o reitor, que me recebeu muito entusiasmado.

- Senhorita Shitsune! – Exclamou alegremente, cumprimentando-me. – Fico muito feliz em encontrá-la. Confesso que eu não tinha certeza se a senhorita viria.

- Isso seria estranho, senhor. Afinal disseste que este baile foi preparado para minha chegada à Universidade. Não faria sentido se o objeto da festa não comparecesse a ela – disse-lhe, tentando sorrir elegantemente.

- Tens razão, minha cara. Mas, sendo que vieste e estás tão deslumbrante, dar-me-ia um pouco do seu tempo para apresentar-lhe alguns dos nossos outros convidados?

Olhei para Sophy e ela disse:

- Nos vemos depois. Vou pegar algo para beber – então soltou minha mão e se encaminhou na direção de um balcão, onde um barman preparava coquetéis.

Olhei para Matt e engatei meu braço no seu.

- Vamos?

- Claro – ele sorriu.

O reitor realmente tomou um bom tanto do nosso tempo. Guiou-nos por quase todos os cantos do salão. Por algumas pessoas que passamos, ele limitou-se a acenar com a cabeça e seguia a diante. Naquele pequeno “tour”, fui apresentada a muitos alunos destaques da Universidade. Enquanto os cumprimentava, percebi que alguns tiveram simpatia sincera, e outros, disfarçada vontade (estavam claramente desgostosos com o evento proporcionado para a novata). Dentre as apresentações estavam: os gêmeos Thompson, geniais em Robótica e Nanotecnologia (da área de Engenharia Eletrônica); Fiona Tigger, de Fotografia; Margaret Roberts, de Belas Artes; Julian Michaelis, de Biologia; Richard Stauff, de Ciências Contábeis; August Georgis, de Engenharia Química; Rose Conrad, de Artes Visuais; Henrique Damastos, de Engenharia Civil, e assim por diante. Eram, por assim dizer, os campeões de Oxford: notas excepcionais, trabalhos excelentes, primeiros colocados em várias categorias e, é claro, a elite. Ficava claro que muitos eram herdeiros de famílias ricas; exceções a isso pareciam ser os gêmeos Thompson – o reitor me informou que, mesmo sendo da classe média baixa, por serem tão geniais, tornaram-se bolsistas integrais da Universidade. Achei isso realmente incrível, mas eles, aparentemente, não estavam muito dispostos a conversar - olhavam tudo e todos de forma desconfiada; cheguei a me perguntar se algum dia chegaria a ter uma conversa casual com eles.

Conversei mais com uns do que com outros, conseguindo arrancar alguns sorrisos agradáveis e assuntos leves.

- Parece que está se divertindo – comentou Matt, olhando para mim, enquanto acompanhávamos o reitor.

- Sim, isso está agradável de certa forma, mas não posso garantir que vou conseguir ficar em pé pelo restante da noite se continuarmos assim – olhei para ele, enquanto terminava a frase.

Mas aparentemente o reitor ouviu minhas palavras e se apressou em dizer:

- Sinto muito pela extensa série de apresentações, mas acredito que agora falte apenas um.

Depois disso, minhas orelhas esquentaram e Matt deu uma risada silenciosa.

- Acho que você deveria tomar cuidado com seus comentários... alguém pode ouvir – seus olhos brilhavam, mostrando um evidente sorriso.

- Tem razão – concordei, tentando amenizar a vermelhidão do rosto.

De repente, sem perceber o rumo que havíamos tomado ao acompanhar nosso guia, chegamos ao momento que eu tanto queria evitar naquela noite, naquele ano, em uma vida inteira se possível: o reencontro.

- Senhorita Shitsune, eu tenho agora o maior prazer em lhe apresentar nosso garoto prodígio, o jovem rapaz que tirou a maior média no nosso exame de admissão: Ryuu Ikobayashi! - O reitor fez uma pose orgulhosa ao pronunciar aquelas palavras.

E ali estava ele... Alto, esguio, charmoso, absurdamente lindo. Eu não consegui acreditar que ele pudesse ficar mais belo do que já fora quando nos conhecemos. Vestia um colete sob o fraque lustroso e um lenço vermelho aparecia elegantemente dobrado em seu bolso superior; seus sapatos brilhavam sob a luz do ambiente, seu cabelo estava firmemente fixo para trás e um pequeno brinco prateado de argola decorava sua orelha direita – onde sempre estivera.

Eu analisava seu corpo e seu traje tão profundamente que não percebi seus olhos negros nitidamente fixos em mim; sim, ele também me analisava de alto a baixo, percorrendo cada centímetro do meu corpo, deixando um rastro elétrico arrepiante por onde já havia examinado. Eu não queria olhá-lo nos olhos, pois temia perder a razão novamente, ficar atordoada e ansiosa. Mas a pressão do seu próprio olhar me obrigou a fazê-lo mesmo assim. Entretanto, segundos antes, instintivamente apressei-me a pensar que não ia permiti-lhe me abalar, ia enfrentá-lo e não fugiria para satisfazer dores passadas. Uma nova sensação tomou conta de mim e percebi-me mais corajosa, apesar de ainda sentir o latejar em minha cabeça. Confesso que, mesmo agarrada mais fortemente ao braço de Matt agora do que antes – o que certamente ele percebera –, comecei a sentir-me completamente distante, como se eu não fosse mais aquela Shitsune Adhara, mas sim outra moça completamente diferente.

Quando ergui meus olhos, eles não eram mais os meus... Estavam firmes e frios (quase petrificados), camuflados de uma expressão lisonjeira a favor de uma nova apresentação, a favor de conhecer um completo estranho, cruzar-lhe à frente pela primeira vez na vida.

- Muito prazer, senhor! Meu nome é Adhara Shitsune – fiz-lhe uma reverência típica de uma donzela e sorri cordialmente; em meu subconsciente, percebi minha voz no mesmo tom formal para equilibrar a expressão.

- O prazer é todo meu, senhorita, e permita-me dizer que és a mais bela dama deste baile – disse-me. Como apenas sorri em resposta, ele inclinou-se em direção ao reitor e sussurrou-lhe algo ao ouvido. Ouvi apenas ‘...o senhor conseguiu providenciar?’. Em resposta, o homem disse-lhe sorrindo e apressadamente, mas não baixo o suficiente para que passasse despercebida sua plena satisfação: ‘Claro, meu rapaz! É claro! Vou mandar trazer aqui imediatamente!’ e dirigiu-se a uma moça que passava por perto naquele momento. Percebi uma escuta em seu ouvido e imaginei se ela fazia parte da organização do evento ou se seria do grupo de seguranças. Vestia um colete justo por cima de uma social branca e usava uma calça igualmente justa, com uma bota cobrindo-lhe até o joelho. Ela sussurrou algo em um microfone camuflado no colete e, em questão de segundos, uma porta no fundo do salão se abriu discretamente e dela saiu outra moça, vestida igual à primeira. Em seus braços trazia um enorme embrulho furta-cor, um buquê de flores, as quais só identifiquei tarde demais.

A moça entregou o enorme ramalhete ao rapaz à minha frente. Quando, em meu subconsciente, consegui analisar a situação em sua totalidade, quase perdi o controle da nova personalidade; em questão daqueles poucos segundos, quase irrompi em lágrimas pelo passado que fora belíssimo e se tornara triste. Lírios orientais... Os maiores, mais belos e perfumados da família dos lírios. Minha flor predileta e minha mais forte ligação com Ryuu Ikobayashi.

Meu corpo inteiro tremeu e fiquei grata por ele não ter visto, pois estava virado para receber a entrega. Mas Mathew percebeu claramente e fez algo inesperado: soltou seu braço do meu, mas enlaçou-o em volta da minha cintura, como faria normalmente um rapaz com sua namorada. Firmou meu corpo sutilmente contra o seu – claramente não queria chamar muita atenção, só a necessária – e beijou minha têmpora direita, a mais próxima de seu rosto. Em seguida sussurrou para que apenas eu o ouvisse:

- Pode ficar tranquila. Não sei o que se passa, mas estou aqui para o que for que precisar.

Logo, Ryuu se virou e deparou com a cena. Sua expressão mudou por um breve instante, deixando transparecer sua desaprovação para com o gesto de meu amigo (o que aparentemente apenas eu percebi). Porém, assim como surgiu, a expressão desapareceu e ele sorriu, voltando-se com as flores na minha direção.

- Peço humildemente à jovem senhorita que aceites estas flores como um presente de boas-vindas à Oxford – disse. Percebi que calculava silenciosamente que eu precisaria libertar-me de meu acompanhante para recebê-las.

Dei meio passo à frente, e Matt acompanhou meu corpo exatamente o mesmo tanto, sem hesitar em permanecer com seu braço firme onde estava. Sentindo-me mais segura, retomei o domínio do meu novo eu, frio e calculista, e estendi meus braços para receber o presente; pelo volume do embrulho e da quantidade de lírios, o buquê dava a primeira impressão de parecer muito pesado para alguém fraca como eu carregar, mas era apenas impressão – tinha peso suficiente para que eu o suportasse.

- Que mais bela lisonja, senhor Ikobayashi! – Exclamei, sorrindo. – Estou encantada com tamanha atenção e delicadeza com que estou sendo recebida esta noite. Muito obrigada! – Aproximei as flores do rosto e inspirei, extasiada como doce aroma que sempre me rendia. – São maravilhosas!

- Vou providenciar um vaso adequado para mantê-las – disse o reitor, de repente; eu havia me esquecido de sua presença ali. – Assim poderá desfrutar melhor do restante da noite. Espero que goste de dançar, senhorita...

Ainda mergulhada no doce aroma a minha frente, respondi lentamente:

- Não que eu seja uma exímia dançarina, senhor, mas não nego que a ideia de uma valsa me agrada – confessei, entregando as flores a uma das moças uniformizadas que o reitor chamara novamente.

Aparentemente, Ryuu não quis perder a oportunidade:

- Sendo assim, a senhorita me concederia a honra da primeira dança? – Ele fez uma reverência, estendendo a mão direita em um convite.

- Ora, ora! – Comentou o reitor, sorrindo abertamente. – Parece que nosso rapaz aqui se encantou com senhorita.

Antes que eu pudesse sequer pensar em uma resposta ao convite do primeiro ou ao comentário do segundo, Mathew se antecipou.

- Lamento, senhores, mas a primeira música já é de meu privilégio – disse, cortesmente, enquanto me puxava junto de si para o centro do salão, onde alguns casais já se encontravam.

Sem dar a menor chance de findar a música que já tocava, Matt virou-me para si, firmando sua mão direita na base de minha coluna e enlaçando minha mão direita na sua outra. Para completar a pose, coloquei a mão livre em seu ombro e ele começou a guiar lenta e gentilmente. Começamos em silêncio, quando senti meu corpo fraquejar – toda a tensão e a ansiedade do momento anterior imediatamente recaindo para mim – e minhas pernas tremeram como se não fossem mais sustentadas por ossos. Com firmeza, Matt impediu que eu viesse abaixo; mas, em seguida, questionou:

- O que está havendo?

Eu não respondi. Ele mantinha a voz a nível audível apenas para nós dois.

- Você já o conhecia antes desta noite – constatou. – O que houve? Aconteceu algo entre vocês, ou ele lhe prejudicou de alguma forma?

Eu simplesmente não conseguia responder. Queria chorar, ainda que estivesse grata por ter sido inegavelmente firme frente a Ryuu. Tentei me recompor.

- Não quero tratar disso agora. Prometo contar mais tarde, em uma hora mais apropriada.

- Apropriado é tratar disso outro dia, porque se depender da sua força perante a presença dele, a qualquer instante você estará no chão.

Eu não podia discordar. Era a mais pura verdade.

- Tudo bem. Deixemos, então, para outro dia – afirmei.

- E pode ter certeza, minha cara, de que vou lhe cobrar uma explicação, mais dia, menos dia.

Não pude evitar dar um leve e relaxante sorriso; era impossível me sentir tão infeliz com Mathew ao meu lado. Deitei minha cabeça sobre seu peito, sentindo-me abraçada.

Terminamos aquela dança e começamos outra. Depois, como se para atrapalhar qualquer plano de Ryuu, Sophia me convidou para tomar um drinque e, em seguida, fui até o pianista em seu solitário palco; gostaria de conhecê-lo.

- Então é a senhorita de quem todos falam? A estrela da festa? – Disse ele sorrindo quando me aproximei.

- Acredito que sim – respondi timidamente –, mas não sei se sou aquela de quem todos falam – brinquei.

Ele retribuiu com um riso leve; parara de tocar por um breve momento para descansar as mãos – o que era mais do que compreensível, pois estava naquele lida havia mais de duas horas ininterruptas.

- Sou Adhara Shitsune, muito prazer! – Disse-lhe.

- Ah! Ora! Onde estão meus modos? – Ele se levantou e ajeitou o terno branco que reluzia em igualdade aos cabelos prateados. – Meu nome é Soul, Bryan Soul, e permita-me dizer que o prazer é todo meu – completou, tomando minha mão e lavando-a a seus lábios.

Admito que era encantador – ficava atrás somente das atitudes surpreendentes que Matt estava tendo naquela noite. Quando soltou minha mão, percebi que ao lado do piano havia um violino; era belíssimo, escuro e perfeitamente envernizado – talvez fosse de madeira negra de mogno. Fique tão atraída que lhe despertei curiosidade.

- Percebo que a senhorita admirou o instrumento, ou estou enganado?

- Não, admito. É um exemplar realmente digno de admiração; muito belo. E não posso evitar perguntar: ele lhe pertence?

- Não, senhorita, apesar de eu também sabê-lo tocar – afirmou Soul. – Não, não, ele pertence a meu colega de classe, o qual viria acompanhar-me esta noite, não fosse por amanhecer enfermo e sem condições para tocar. Infelizmente ele sofre de tendinite e isso limita seus dons, pois é um sujeito muito habilidoso no que faz. Eis que faz o possível para tratar do problema.

Fiquei maravilhada com tais palavras.

- A atenção e o reconhecimento que dedicas a ele são louváveis – disse-lhe com um sorriso muito sincero e admirado. – Ele deve ser um bom amigo para você, e o mesmo deve ser para ele.

 - Sim. Somos amigos desde pequenos, quase inseparáveis, mas não me cabe ficar tendo devaneios sobre momentos passados.

Não resistindo, pedi-lhe que me permitisse pegar o instrumento para analisá-lo melhor – e, se tivesse sorte, para tirar algum belo som dele.

- A senhorita toca? Se for, confesso eu estaria interessado em ouvi-la – ele sentou-se novamente depois de me alcançar o instrumento.

- Aprendi desde muito jovem, bem como o balé. Sou apaixonada por sua sonoridade tão melódica e singular.

- A senhorita me encanta com suas palavras. Pois então, sinta-se à vontade e toque. Acredito fielmente que meu amigo não se importará se for alguém com conhecimentos adequados que venha a mexer em seu instrumento.

Suas palavras foram tão convidativas, juntamente com seu sorriso, que, inevitavelmente, senti-me inclinada a aceitar. Mas - como eu já esperava - meus recentes encontros e sentimentos naquela noite não me permitiriam tocar sozinha perante todo o salão. Então imaginei possibilidades...

- Sabe tocar sem partitura, senhor Soul? – Arrisquei; mais que um não eu não receberia.

- Sei sim – respondeu ele para minha alegria. – Por quê?

- Bem, eu gostaria de saber se não seria muito incômodo que me acompanhasse em um dueto – sugeri.

- Seria uma grande honra e seria muito divertido. Tem alguma música da sua preferência?

- Sim. – Eu não precisava pensar muito para recordar de minha música clássica favorita. – Você conhece a Sinfonia da Borboleta?

- Não, não conheço – respondeu quase imediatamente -, mas se tocar um trecho da melodia para mim, talvez eu consiga acompanhá-la no restante – continuou, parecendo querer encorajar-me.

E assim foi. Indiquei-lhe os acordes e toquei alguns trechos em tom baixo para não chamar atenção dos outros convidados; em seguida, começamos a tocar. Tomei o especial cuidado de não me antecipar muito nas notas para que Soul pudesse me acompanhar. E foi plenamente agradável. Eu toquei toda a melodia de olhos fechados – ficara entre o piano e a parede para não ficar muito visível ao restante do salão – e, quando tornei a abri-los, percebi uma grande concentração de casais que recém paravam de dançar e se voltavam na nossa direção. E então começaram a aplaudir – alguns rapazes desacompanhados assoviavam; senti minhas orelhas esquentando e, quando olhei para Soul, ruborizei completamente, pois ele também sorria e aplaudia.

- Foi maravilhoso! Você é fabulosa tocando violino! É uma lástima que eu não possa tirá-la para dançar ao som de algo tão belo esta noite, afinal não teríamos música – lamentou, mas logo sorriu abertamente. Eu retribuí o gesto, sentindo as orelhas mais quentes do que nunca.

Enquanto atravessava o salão intencionando voltar para o lado de Matt e Sophy, mais aplausos. Quando o ambiente finalmente silenciou após os ruidosos elogios, Soul começou a tocar mais uma bela valsa. Porém, antes que eu pudesse chegar aos meus amigos, algo agarrou meu pulso sutil e firmemente, deixando claro que não me libertaria tão simplesmente.

Era Ryuu Ikobayashi. Seu rosto estava muito sério, porém seus olhos brilhavam de forma muito estranha. Ele me puxou sutilmente para si, me forçando a tomar posição para uma dança. Sem muita escolha e sem querer chamar sua atenção em qualquer tentativa de me desvencilhar, aceitei que começasse a me conduzir. E então...

- Eu sabia que era você – sussurrou em meu ouvido quando aproximou seu corpo do meu; no mesmo segundo toda minha espinha ardeu sob um frio anormal. – Dê-me ao menos uma dança esta noite – continuou, seu hálito quente em minha têmpora. – Você me deve isso; nossos assuntos podem ser tratados em uma ocasião mais apropriada, em outro dia.

Instintivamente, como que no desespero para não perder o controle da situação completamente após aquelas palavras, afastei-me de seu busto, ainda que sua mão segurasse firmemente meu corpo contra o seu, e joguei os últimos dados daquela noite.

- Eu não sei de que “assuntos” está falando, senhor Ikobayashi, mas posso lhe garantir que deve ser um equívoco, afinal eu nunca o vira antes desta noite. Só posso concluir que está me confundindo com outra pessoa. – Tentei manter minha voz o mais firme e neutra que pude, enquanto gritava de pavor dentro do subconsciente.

Seus olhos perderam o brilho e assumiram um tom grave, como que na intenção de me censurar por minhas últimas palavras. Enquanto isso, a música tocava. Em nenhum instante ele tirou seu olhar acusador de meu rosto, e deixei claro em minhas feições que sua atitude não estava me agradando. Quando ele abriu sua boca para dizer algo, a música havia parado, e logo senti uma mão conhecida tocar meu braço, vinda de trás.

- Já está tarde, Adhara – disse Sophia. – Sei que deve estar agradável, mas acredito que já seja hora de se recolher; você deve estar exausta.

Olhei para trás e, alguns metros além dela, vi Matt estendendo a mão para que eu me juntasse a eles para irmos embora.

Eles não faziam ideia do quão profundamente grata eu lhes era por aquilo.


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Notas finais do capítulo

Então? Então? Então? *-*
O que achou? Me diz! Me diz!
aushaushuahsuahsua
O próximo capítulo está quase pronto, mas não sei se poderei postá-lo imediatamente.
Farei o possível!
Abraços e não esqueça do review!



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