In My Head escrita por IsabelNery


Capítulo 6
Hora de acordar


Notas iniciais do capítulo

Oieee gente, aí vai mais um capítulo1 Espero que gostem!



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P.O.V. 3a Pessoa

 

Até o momento, apenas um não estava embalado em sonhos a uma vida que já não lhes pertencia. O Português. Era o mais resistente ao frio e à dor, adquiridos em anos de "experiência" familiar. E, ainda assim, era um dos mais doces. Com olhos verdes escuros na sombra que chegavam a um verde quase cristalino no sol. Demoraria muito para ter a coloração clara novamente. Filipe perambulava pelo quarto como uma marionete. Observou cada um dos companheiros, mas parou em um deles. Na verdade, uma. De certa forma, ele ainda pensava que tudo isso era alguma brincadeira de mau gosto dos seus irmãos. A garota de nome Isabelle acordaria em breve. Ele era mais velho que ela em dois anos e dois dias, apesar de não o saber.

Filipe estava concentrado em seu turbilhão de pensamentos, buscava mais uma resposta das suas milhares de perguntas, até agora todas sem qualquer solução.

Os mais velhos ainda dormiam. Isabelle abriu os olhos. Curiosa com o local. Teve susto ao olhar o garoto. Ela é Brasileira. Os dois falam português. Mais há diferenças nas línguas. Ele queria falar. Ela queria falar. Contudo, de suas bocas apenas ar sem som saía. Filipe inspirou bastante oxigênio, na tentativa de emitir algum som. Conseguiu alguns murmúrios, baixos o suficientes para ele ouvir. Ela estava em choque, ainda sentada, na parte de baixo do seu beliche. Estava trancafiada. De um lado, a parede, do outro, um menino. Atrás e na frente, apenas grades de metal do beliche. Não conseguia identificar absolutamente nada. Pensava que era apenas a continuação de algum sonho, um pesadelo realista até demais. Até se beliscou, mas foi em vão. Filipe entendeu e balançou a cabeça negativamente. Foi aí que sentiram o frio com mais vigor. Acostumada com o calor do Brasil, sua resistência ao meso era paupérrima. Os dois chegaram ao ponto de esperar que nevasse, mas nevar dentro de um quarto fechado? Olharam em volta, esperando que algo estivesse congelado. Até que Filipe saiu do transe, e pronunciou:

— Olá. - Inapropriado a dizer no local e no momento, pensou ele. Entretanto, o que seria apropriado?

Ela se espantou com o sotaque português, até aquele momento não havia passado pela cabeça que ele ou qualquer um dos outros não eram brasileiros.

Apesar de estar levemente rouco Filipe falou novamente:

— Filipe - E estendeu a mão. Dessa vez, o sotaque foi mais forte, com o L enrolado e forte, e o E não sendo pronunciado. Dando a ideia de Filip. Ela cumprimentou, apesar do choque térmico. A mão dele era fria. A dela estava em baixo do lençol cinza um pouco grosso. Da espessura aproximada de um dedo mindinho. Separaram-se e observara um ao outro. Até que Isabelle percebeu que ele estava esperando uma resposta.

— Isabelle. – Nome incomum em Portugal. Pronunciado de forma calma. Com o E presente. O L também, mas não como se este fosse o principal. Nessa hora, ele ainda pensava que era uma brincadeira e que a qualquer hora seus irmãos iriam aparecer. Já ela havia desistido da ideia de possível pesadelo e achava que estava em uma espécie de hospital. Isabelle percebeu que ele estava ajoelhado. Ela encostou as costas na grade da beliche e cruzou as pernas. Como se estivesse sentada no chão. Dando espaço para o garoto sentar. Ele não percebeu e continuou ajoelhado, até que se levantou. Recebendo uma corrente fria. Automaticamente recuou, sentando na cama de Isabelle. Aquele parecia ser o lugar mais quente do quarto.

— Desculpe. – Soou mais como um Disculp. Observou em volta mais uma vez. – Você sabe que lugar é esse? – Fora a primeira frase desse "diálogo". Essa pergunta fez Isabelle deixar a postura calma, para ela, Filipe sabia a resposta. Quando ele perguntou, suas esperanças acabaram. Murmurou um não.

O garoto falou bem baixinho, quase que para si mesmo:

— Nem eu.

Foi o suficiente para que ele percebesse que os olhos da garota ficassem marejados. Os chamados olhos de vidro, como assim ele os apelidara quando criança. Ela piscou e uma lágrima saíra de seu olho e descera bem lentamente por parte de sua bochecha. Porém, o dedo indicador dele impediu que a lágrima tivesse um caminho maior que entre o nariz a boca dela. Ela havia fechado o olho, mas abriu com o toque.

— Quem é você? – Isabelle perguntou. O ar estava menos frio. Eles já conseguiam falar.

— Chamo-me Filipe – Ele falava muito rápido para o raciocínio da menina acompanhar. Fora que o sotaque era forte. Ela entendeu algo como: Chamu mi Filip. Com o L forçado novamente. – Sou de Lisboa. – Novamente o sotaque carregado. Dava para entender, porém, a rapidez atrapalhava bastante.

— Tenta falar mais devagar. – Ela o interrompeu. Para ele era mais fácil, entendê-la, pois, em sua sala havia um garoto brasileiro. Nasceu no Brasil, ficou lá até os onze anos. O pai dele era português e se mudou com o filho para sua terra natal após a morte de sua esposa. Ele teve um leve relance desse amigo, teria sido um ótimo amigo. Mas, parece que todos que chegam perto dele se machucam. Pois, Lucas, esse era o nome, dentro de poucos anos morando em portugal, seu pai teve um infarto fulminante e, assim, voltou para morar com os avós maternos no Brasil. Isso foi há mais ou menos seis meses. Filipe ainda conviveu com ele por curtos dois anos. Ele lembrava que quando Lucas chegou, ele pedia a todos que falassem mais devagar.

— Ok. E quem é você? – Tentou imitá-la no sotaque.

— Eu sou Isabelle, nasci em São Paulo. – Filipe abriu um sorriso, pequeno. Mas, um sorriso aquela altura, naquele momento, naquele local. Era bastante. Pensou em vários filhos dos comerciantes brasileiros que vinham aos portos fazer negócios com seu pai. Ela o observava pensar, como se estivesse calculando um problema de matemática. Até que ele voltou os olhos a ela. E que olhos. Verdes, cintilantes, vivos, como uma floresta bem cuidada em plena primavera.

— Alcunha? – Ele perguntou

— Como? – Isabelle não entendeu. Na verdade, não sabia o que era ”Álcuna”. Ele ia repetir a pergunta. Quando, ouviram um barulho perto. Mais um acordou. Uma loura. Outra brasileira? Filipe pensou. Outra Portuguesa? Isabelle pensou. A diferença física entre os três era notável. Filipe tinha cabelos pretos e curtos, olhos verdes, pele pálida, era uns dois centímetros mais baixo que a Loura. Isabelle possuía cabelos castanho-escuros, quase pretos, era a mais nova dali, e não era tão branca como Filipe. Já a loura, de nome desconhecido, era alta, e tinha olhos claros, um verde-acastanhado.

— Sácame de aquí! (Me tirem daqui) – Falou a loira em tom de ordem. Quase gritou. Filipe se levantou, Isabelle também. E levou outro susto quando olhou para a beliche do outro lado e viu uma mão caída na cama de cima do último beliche.

Uma coisa a mais, a Loira falava espanhol. Filipe e Isabelle se entre olharam. Ele já foi a Espanha, sabia o básico.

— Mi nombre és Filipe. ¿Cuál és tu nombre? (Meu nome é Filipe, qual é seu nome?) – Isabelle estava alheia a tudo. Como se estivesse assistindo televisão. Tudo que ela sabia fora de sua língua, era inglês. 

— Rosa. ¿Dónde estoy? (Rosa. Aonde estou?)

— No sabemos. Ella nombre és Isabelle, ella es do Brasil. Yo soy de Lisboa. ¿Dónde eres? (Não sabemos. O nome dela é Isabelle, ela é do Brasil. Sou de Lisboa. De onde você é?)

— Barcelona. Al regresar a casa? ¿Por qué estoy aquí? Que me trajo? (Barcelona. Como volto para casa? Por que estou aquí? Quem me trouxe?)

— No se. Yo estoy aquí como tú. Y ella también. (Não sei. Estou aqui como você. E ela também.)

— Ok. – Ela se encostou na parede e sentou no chão. Algo dentro dela já sabia que não tinha como voltar para casa nem tão cedo. Mas, no momento, não era por isso que estava chorando. Era por Amanda, como ela estaria? Será que Guilherme era tão mal, a ponto de maltratá-la? Lágrimas, simplesmente caíam livremente pelo rosto dócil de Rosa. Isabelle também começara a chorar por não encontrar qualquer saída. Ela estava começando a desistir da internação em hospital e agora tinha a ideia de que morrera, mas de quê?

Todos na sala, com exceção do que dormia, lembravam claramente do dia anterior. De sua vida no dia de ontem. Cada um com uma cara diferente. Rosa, com raiva e angústia. Filipe, com nojo e tristeza. Isabelle, com arrependimento e dor.

Em uma parede, Rosa chorava. Na outra, Isabelle. E o garoto sentado no meio revezava seu olhar para um lado e o outro sem parar. Para uma e depois para a outra garota. A vontade de saber como sua irmãzinha Elisa estava era muito grande. O que os seus irmãos estariam fazendo? Tudo menos machucá-la por favor! Mas, quem iria protegê-la com ele fora de casa? Não lembrava sequer da última vez que havia visto o pai e a sua mãe vivia viajando. Tremeu quando lembrou da punição. Já tinha “olhos de vidro”. Parou a cabeça olhando para a brasileira. Virou o corpo, ainda sentado. “Não chore”, ele queria dizer. E a coragem? Quem era ele para dizer não chore para outro alguém quando tudo que ele queria no momento era fazer o mesmo?

Nessa hora, ouviu-se um baque. As três cabeças se ergueram em direção ao meio das beliches. Uma figura surgiu. O último acordou. Os três foram engatinhando até a parede que Rosa estava. Encontrando-se com os narizes vermelhos. Lágrimas secas. Encolheram-se quase que com medo. Cada menina de um lado e Filipe no meio. Todos os três encarando o homem alto e , ao que aparentava, de ressaca.

— ¿Quién eres tú? – (Quem é você?) Rosa perguntou.

— Tyler. – Os três olharam-se. Uma esperança brotou no peito de cada um.

— ¿Sabes dónde estaño? (Sabe onde estamos?) – Arregalaram o olho esperando a resposta, a última esperança de qualquer conhecimento sobre tudo o que estava acontendo.

— No. (Não) – Que Ótimo! Pensaram todos de forma irônica. Americano ou inglês? Rosa começou a chorar de novo. De qualquer forma, chegaram a conclusão final ninguém era do mesmo país que o outro. Estavam sós.

— Where are you from? (De onde você é?) – Isabelle perguntou, o sotaque forçado brasileiro. 

— New York. And you? (Nova York. E vocês?)- Ele não estava com medo, estava tratando tudo aquilo com uma naturalidade que chegava ao absurdo.

— I’m from Brazil, I’m Isabelle. He’s Filipe, and he’s from Lisboa. And she’s Rosa, she’s from… ( Eu sou do Brasil, sou Isabelle. Ele é Filipe, e ele é de Lisboa. E ela é Rosa, ela é de...) – Ela olhou para Rosa, não havia prestado atenção na conversa que não compreendia entre ela e Filipe.

— Barcelona. – Rosa terminou. Tyler analisou cada um. Os rostos vermelhos. Não aparentavam ser loucs o suficiente para estar num hospício, nem numa cadeia. Será que fomos sequestrados? Tyler pensava.

O frio voltou a incomodar. Como se alguém tivesse aumentado a potência do ar. Mas, que ar? A única coisa que se via na sala era: Quatro beliches, resultando oito camas. Oito luzes fortes no teto. E as quatro pessoas.

Nessa hora, alguns começaram a sentir fome. Seria esse o propósito? Morrer de fome e frio?

Todos voltaram as camas, pegaram os lençóis e se distribuíram pelo quarto. Não podiam negar, o quarto era grande. Ou vazio demais. De um lado da sala, Rosa chorava embolada de edredom. Isabelle chorava no travesseiro da parte de cima da beliche que acordou. Filipe estava tentando segurar o choro, mas a saudade da irmã apertava mais do que tudo. E às vezes derramava uma lágrima ou outra. Já Tyler, apenas observava tudo, parado, em pé. Esperando a dor de cabeça da ressaca passar. O frio era tanto que se você falasse apareceria uma leve fumaça no ar.

De repente, um sinal alto, como um alarme de carro, penetrou no quarto. Um PIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII... Desagradável. Todos taparam os ouvidos. Era ensurdecedor.

E algo, um computador, ou até mesmo uma pessoa disse: PRIMEIRA PROVA EM QUINZE MINUTOS. PREPAREM-SE.

 


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Notas finais do capítulo

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