In My Head escrita por IsabelNery


Capítulo 30
Tyler: Desativado




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P.O.V. Tyler

Preto. Tudo preto. Um dos maiores breus que já havia visto em vida. Não reconhecida mais nada. Tentei de alguma forma utilizar meus outros sentidos para me localizar. Meu corpo pairava por sob um lençol áspero e um colchão que de macio não tinha nada. O cheiro ao redor era horrível. Uma mistura de restos de comida estragada com vômito. Eu escutava apenas lá ao longe uma espécie de movimentação de alguém. Abri os olhos.

Eu estava na cama da casa de Jack, vestindo apenas uma cueca, me levantei em um pulo.

—  Deu certo. – Sussurrei para mim mesmo. Eu voltei. Será que foi tudo um sonho? Tudo de dentro da minha cabeça? Claro que não. Em todos esses anos tentando sonhar com Michael, nunca tive nada tão próximo de toda essa nova experiência. Assustadora e, agora que passou, incrível ao mesmo tempo. Ouvi barulhos vindo do banheiro e fui em direção à porta do mesmo. Levantei a mão para bater na porta, mas ela abriu antes que pudesse tocá-la. Era Alice, ela me olhou como quem havia visto um fantasma.

— Err, oi, desculpe, não quis acordar você. Já estou de saída. – Disse ela com as mesmas roupas da última vez que a tinha visto, no caso, ontem para ela.

— Está tudo bem, não me acordou. Por que já vai? Podemos conversar? – Falei e percebi que as bochechas dela estavam muito rosadas e foi quando me dei conta de quem ainda estava só de cueca. Olhei rapidamente em volta do ambiente procurando minhas calças até que as achei no chão perto da cama e as coloquei.

— Na verdade, eu realmente tenho que ir, ontem à noite foi muito para mim. – Ela disse indo em direção à porta da casa. Jack estava dormindo profundamente no sofá com a amiga dela envolta em seus braços com um cobertor sob eles.

— Deixe-me ao menos te levar para tomar um café. – Pedi, os olhos dela pairaram no ar por um momento enquanto ela pensava se aceitava ou não, até finalmente assentir. Coloquei minha camisa e calcei meus sapatos. Saímos e andamos em silêncio por um bom tempo. Minha cabeça não parava um segundo, refletindo sobre tudo que tinha acontecido nesses últimos dias. Eu realmente precisava parar e dar um rumo à minha vida. E isso começava a partir de agora. Ela entrou em uma cafeteria e eu estava tão absorto que quase continuava meu caminho só.

— Tyler? – Ela chamou minha atenção, me virei e entrei junto. Sentamos, eu pedi um café normal e ela um capuccino. – Então...

— Então? Bem, eu queria pedir desculpa por – parei por um segundo antes de falar o dia errado – ontem à noite. As coisas saíram um pouco do controle. Isso acontece com frequência na casa de Jack, mas ele é um amigo muito bom.

— Bem, eu mentiria se não dissesse que fiquei um pouco assustada, mas ao mesmo tempo foi meio libertador pra mim. Eu não quero que você pense que sou esse tipo de menina, que fica com o cara que conheceu no mesmo dia. Eu nunca tinha usado alguns tipos de drogas dali. – Ela disse meio encabulada, tomou um gole de sua bebida e continuou. – Você já me viu nua, então não tem porque ficar escondendo mais coisas. – Eu não tinha a menor lembrança dela sem roupas, nem de mais nada depois de um beijo, realmente preciso e vou parar de usar essas merdas pesadas. Apenas assenti e ela seguiu falando – A verdade é que eu não estou muito bem. Não estou muito bem há um bom tempo. E você é livre para ir embora a hora que quiser.

— Eu vou ficar, não tem nenhum outro lugar que deseje estar. – Falei, segurei sua mão e fiz sinal para ela prosseguir. Ela suspirou fundo e prosseguiu:

— Faz 5 meses que minha mãe faleceu.

— Meus pêsames – Eu disse, a dor em seus olhos era visível.

— Câncer de mama. – Ela secou uma lágrima que escorria em sua bochecha direita – Sabe aquelas histórias que você vê na TV, que a mulher se descobre com câncer, faz todo o tratamento, sofre e no fim fica boa? Foi bem parecida, com exceção do final. - Parou para respirar fundo - Bem, eu não saía de casa há muito tempo, até que minha amiga, você a conheceu, eu acho, ela estava com seu amigo. Ela é gisele, somos vizinhas desde que eu me conheço por gente. Ela cansou de me ver nessa situação e me tirou de casa, ela faz direito e me pediu ajuda para encontrar um livro que o professor dela passou. Foi mais ou menos nessa hora que eu te conheci.

— Ah, daí o livro de direito para a garota de administração.

— Eu tinha trancado meu curso para ajudar minha mãe, mas pretendo voltar mês que vem. Então, Gisele conheceu seu amigo e eu fui para a primeira festa em quase um ano. E, como você já sabe, uma coisa levou a outra e aqui estamos. – Ela disse e sorriu.

— Eu gosto de você, minha vida atualmente é uma confusão, meu irmão mais velho e meu pai morreram há algum tempo e desde então as coisas não vão indo muito bem.

— Meus pêsames – Foi a vez dela de falar. – Também gosto de você. – Um choque de calor percorreu meu corpo rapidamente. Falamos sobre mais alguns assuntos. Paguei a conta. E marcamos de sair no próximo fim de semana. Abracei ela, dei um beijo em sua bochecha e saímos cada um para um lado

Eu vou melhorar. Não era essa vida que Michael iria querer para mim, muito menos meu pai. Eu deveria honrar a memória deles, ser o irmão e filho que eles iriam ter orgulho. E eu serei. Além disso tem Mary, ela precisa desse apoio. Após algumas quadras meus pés me levaram até a biblioteca, entrei e já fui esvaziando meu armário.

— O que pensa que está fazendo? – Disse minha chefe.

— Estou me demitindo, senhora. – Ela me olhou espantada, e começou a falar um grande sermão. Eu apenas peguei minhas coisas e sai.

Pela primeira vez em muito tempo eu me senti livre sem a necessidade de usar qualquer droga. Tão leve, era um dia novo, um eu novo. E eu tomei como objetivo apenas uma frase: faça o que for preciso para ser feliz.

Apesar de tudo que eu estava sentindo no momento, não deixei de sentir saudades daqueles que há pouco tempo eram tão estranhos para mim, mas que agora já sentia como parte de minha família. Mais tarde vou entrar em contato com eles e ver como estão.

Sai da biblioteca e fui em direção à faculdade que ficava em frente. Fui ao setor de coordenação.

— Olá, boa tarde, em que posso ajudá-lo? – Uma mulher simpática me perguntou

— Olá, eu gostaria de me inscrever no vestibular para o curso de letras.

Algumas horas depois eu chego na casa da minha mãe, Mary vem correndo me abraçar, dou um beijo em sua testa e a coloco em meus ombros.

— Sabe que horas são? Essas são as mesmas roupas de ontem? Seu imprestável. Cada dia é uma decepção a mais com você, Tyler. – Minha mãe disse enquanto se arrumava para mais um plantão

— Boa noite, mãe, desculpe o atraso para cuidar de Mary, eu estava me matriculando no curso pré-vestibular, tenho um dinheiro que meu pai tinha me guardado e nunca toquei nele. Finalmente vou tentar entrar na faculdade no curso de letras. – Minha mãe arregalou o olho, por um momento ela achou que eu estivesse apenas tirando onda da cara dela. Até que caiu na real e começou a chorar. E então fez algo que não fazia há anos: me abraçou.

— Eu te amo, Tyler

— Também te amo, mãe – Ela me abraçou mais forte, deu um beijo na minha irmã e saiu para trabalhar com um sorriso no rosto.

— Letras? E o trabalho na biblioteca? – Mary perguntou.

— Eu me demiti. E sim, as palavras sempre me atraíam de alguma maneira e agora quero ir atrás do meu sonho. De um futuro que eu me orgulhe. E você? Já escovou os dentes? – Ela fez que sim com a cabeça. Brincamos mais um pouco e a coloquei para dormir.

E, pela primeira vez no dia, eu descansei. E que dia, hein? Eu mesmo diria que o dia de hoje teria sido um sonho, mas se todos aqueles outros não foram, esse estava muito mais longe de o ser. Mandei uma mensagem para Alice dizendo que estava ansioso para o próximo encontro, e outra para Jack perguntando se ele estava bem. Alice me respondeu com um emoji de carinha feliz e Jack apenas mandou um áudio dizendo que ainda não tinha se recuperado da ressaca.

Por fim, liguei o computador. Procurei em meu bolso e lá estava ele: um mísero papel, mas que tinha todo o significado de uma vida. Na verdade, de três outras vidas. Adicionei os contatos e comecei uma ligação. A cada rosto conhecido que aparecia, meu sorriso aumentava, até estarem todos lá.

— Oi, gente! – Eu disse, e me senti feliz e completo como não me sentia desde que Michael e meu pai se foram.


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