In My Head escrita por IsabelNery


Capítulo 3
Filipe: Ativado


Notas iniciais do capítulo

Oiee, sei que demorei a postar, mas o doido número dois me deu mais trabalho. Se acharam o anterior confuso, esse vai ser pior. Nos vemos lá em baixo, espero que gostem!!



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FICHA: Nº 2

NOME: FILIPE PEDRO BERNARDO MAGALHÃES BRAGA

NASCIMENTO: 25/01

IDADE ATUAL: 15 anos

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Portugal, Lisboa

P.O.V. Filipe

Eu estava em uma espécie de deserto, rodeado de areia que, com o calor do sol, se tornara avermelhada. Não havia mais ninguém, nem nada. A única coisa estranha ali era eu, sentia que minhas feições estavam sorrindo, mas quando toquei meu rosto com minha mão, havia um corte, parecia ter sido feito há alguns segundos, o sangue escorria e se misturava junto ao meu suor. Apesar de tudo, eu não estava cansado. Quase pulei quando ouvi, não sei ao certo de onde alguém gritando: Cadê você?

Olhava para todos os lados, mas estava só. Comecei a correr. Porém, para onde? Quanto mais corria, mais havia caminho a percorrer. A voz não voltou, em vez disso desapareceu. Em seu lugar escuto o meu despertador, que droga! Foi só um sonho, era só um sonho. Meus sonhos sempre eram tão vívidos que, mesmo sendo estranhos em sua maioria, ao acordar levo alguns segundos para me situar na realidade.

Como não falei antes, chamo-me Filipe, nascido e criado em Lisboa. Tenho cinco irmãos mais velhos e uma irmãzinha. Meu pai é Carlos Braga, ele é um grande empresário no ramo dos terminais de carga do Porto de lisboa. Mesmo com tudo isso, não sinto que sou rico, mas se for, de que vale quando não tenho praticamente NADA do ponto de vista imaterial. Nem me lembro da última vez que vi meu pai. Voltando para a realidade levantei do meu beliche e caminhei até o banheiro, tomei um banho e fiz minha higiene pessoal. Vesti-me e saí para umas das raras felicidades atuais em minha vida. O quarto ao lado.

Bati três vezes na porta cor de rosa claro, e ouvi um: Podi entrar.

— Bom dia, linda, estás preparada? – A garotinha de cinco anos fez que sim com a cabeça, ela estava com o uniforme da escola e a ajudei a fazer um rabo-de-cavalo. Eu amava minha irmã Elisa, e fazia questão de tratá-la como uma princesa, em parte porque ela merecia e em parte se eu não o fizesse ninguém mais faria, já que meus pais não estavam nem aí para ela. Não queria que ela crescesse como eu.

Segurei sua mão e seguimos para a escadaria, a grande mesa do café estava cheia – De comida, não de gente – Sentamo-nos e comemos, era assim todo dia, o resto da família só acordava mais tarde. Com exceção de João, ele é o irmão mais próximo de mim em relação à idade, apenas três anos mais velho, está no último ano do colégio. O resto dos meninos estão em alguma faculdade particular. Fomos para o jardim, o motorista nos esperava. No banco de trás do carro, João me encarava com ódio, eu brincava com Elisa. Felizmente, ela não viu a encarada dele. Avistei sua escolinha, ela me deu um beijo na bochecha e saiu com sua mochilinha saltitando até a entrada. Estava feliz por ela, mas João começou o que eu temia.

— Porque não viestes ontem? A noite fora agitada, todos os meninos vieram, menos você. Tinha até uma garota especial para ti – Desde que fiz dez anos, meus irmãos inventaram uma espécie de clube, eles reservavam uma boate, e passavam a noite com várias garotas bonitas, que nunca se tornavam namoradas. Isso era de duas a três vezes por semana, às vezes mais. Meus pais nunca descobriram.

— Esqueci-me – Menti, já não aguentava mais assistir a eles bebendo, usando drogas e àquelas cenas de depravação. Na última vez, quase que tiravam minha virgindade.

— Hoje terá de novo, ou você vem ou... – Fez um gesto obsceno, e depois mostrou o dedo do meio. Sabia da punição, já havia sofrido ela duas vezes. Cada vez piorava. Vocês não devem imaginar o que será, mas é melhor nem saberem. Só de pensar fico enjoado e me dá nojo. Muito nojo.

Felizmente, o carro parou. Infelizmente, João estudava no mesmo colégio que eu. Descemos e ele me empurrou. Ótimo, caí de cara na grama. Mas quando me recuperei, ignorei as risadas e ele murmurou:

— Não esqueça-te pirralho, ontem os grandões não se lembraram de você, mas hoje? Não somos tão bestas quanto você pensa. – Correu para os amigos, meu irmão era popular, pelo menos ele pensava que era, e todos pensavam no seu dinheiro. O chamavam de: Bragão quinto ou Cinco. Não dizíamos que éramos irmãos, fazia bem para nós. Para ele que não tinha uma aberração de irmão. Para eu que podia viver normalmente. Na escola eu era, digamos assim, um ninguém. Graças ao meu nome duplo ridículo, todos me conheciam por Pedro e pensavam que "O Filipe Braga" estudava em outro colégio. Também, era só para isso que o meu nome horroroso vinha a calhar, Filipe Pedro, onde já se viu coisa pior?

Bem, voltando para a realidade, não era um bom aluno, nem mau. Mas, não subornava os professores para passar de ano, feito meus irmãos. Fui andando até minha sala, estava com óculos escuros (não que eu precisasse), mas gostava deles. Minha mochila parecia pesar uma tonelada, porém subi de escada os quatro andares. O elevador era lotado, as escadas vazias, a escolha sua. Quando cheguei ao último degrau, minha perna direita tremia levemente por baixo da calça do uniforme. Andei pelos corredores para a primeira de seis aulas. Cheguei à sala e me sentei perto da janela. Uma das coisas ruins era a escolha de onde sentar, na frente: Nerds. No meio: meninos amostrando seus músculos (ou fingindo a falta deles). No fundo: Garotas conversando sobre tudo que você imaginar, depois de um dia no fundo, seus ouvidos vão estar bem mortos, acredite. Na janela: Eu. Claro que tinha outras pessoas, mas ninguém falava comigo. Eu achava bom, podia olhar para tudo o quanto quisesse e quando quisesse.

Apesar da aparência de fracassado, sou, na realidade, vingativo. Uma vez, um menino tentou dar um soco em mim por uma aposta com os amigos. Algumas horas depois ele foi para o hospital, caso: duas costelas quebradas, o nariz deslocado e um dos punhos torcidos. Obviamente meu pai pagou sua recuperação. Pior ainda foi quando zombaram de um dos poucos amigos que tive na vida, eram três caras do segundo ano, os três acabaram na posição fetal, de tantos chutes na virilha que eu dei. Por isso, o diretor era um "amigo". Aprendi a me defender em casa, quando se tem cinco irmãos mais velhos, cada um mais forte que o outro, você é o fracote. Eu tinha duas opções, ou lutava e fracassava, ou morria apanhando.

O sinal tocou. Próxima jornada. Subi mais dois andares de escada para a próxima aula. O resto do dia foi normal, no recreio observei sem participar de uma guerrinha de comida, e na última aula meus olhos verdes estavam fixos no relógio, só mais cinco minutos, só mais cinco minutos. Repetia em minha mente. A professora de português falava gaguejando, como se também quisesse sair. Só mais três minutos, minha mochila já estava arrumada. Tinha que sair dali antes que a barra pesada chegasse – Meninos do Terceiro ano que gostam de implicar, meu irmão estava entre eles – Não podia lutar contra meu irmão na frente dos outros, nem se eu quisesse. Ele iria usar isso contra mim. Um minuto, só mais um minuto, o sinal tocou. Saí como um raio. Desci as escadas em disparada. Vi que eles estavam no jardim da frente, teria que sair pela porta dos fundos. A grande porta cinza parecia me encarar, prendi a respiração e passei por ela, o cheiro da ferrugem me dava náuseas.

Felizmente, eles estavam distraídos com as líderes de torcida quando passei feito um raio, o carro já estava lá, saltei pra dentro. Elisa já estava dentro dela.

— Oi – Ela falou

— Oi linda, como foram as aulas?

— Boas, e as suas? – Ela é um amor, e sabia que João só vinha para dentro depois de meia hora ou mais.

— Ótimas. Você tem dever? - Assentiu. Ela pegou o caderno e a ajudei. Que dever de casa, pintar uma casinha de papel. Segurei o estojo, quando ela pedia uma cor, eu dava. Enquanto isso ela falava sobre o dia, eu balançava a cabeça e dizia: Sério? Que legal!

Terminamos e voltamos a esperar, João chegaria a qualquer momento, digamos que ele não consegue ver sua irmã. Toda vez joga a mochila quase na cara dela. O silêncio era insuportável, mas eu sabia o que João diria na frente de Elisa. De manhã ele estava um pouco educado, porém seu humor muda  rapidamente durante o dia.

— Elisa, por que você não pega seu celular e escuta alguma música? – Assentiu e pegou a mochila. Meus olhos estavam fixos na janela, apesar do vidro escuro se me esforçasse podia ver um pouco, pelo menos o suficiente para enxergar quando meu irmão chegaria e me preparar para receber uma “mochilada” no lugar de Elisa. O motorista estava lendo uma revista do seu estoque inacabável.

Estava suando frio, parecia que nunca tinha feito isso. Por um momento me senti um pouco mais idiota do que sou. Bragão quinto estava vindo, com uma lata de cerveja na mão, abriu a porta, mas não entrou. Duas líderes de torcida estavam agarradas a ele.

— Calma gostosa, deixa isso para a noite – Falou com uma delas, e ignorou a outra. – Hey Thomas, cuida delas agora, que eu cuido mais tarde, tá? – Gritou para um dos amigos que abriu os braços e as duas correram, mais pareciam marionetes de tão burras.

Senti cheiro de seu hálito antes dele entrar. Elisa também, mas ela tinha mãos para tapar o nariz. As minhas estavam se preparando, João não traz livros, em vez do necessário ele carrega pesos na mochila para malhar durante a aula e atrair mais garotas. Entrou com tudo, e bateu a porta com força.

Atingiu-me como uma tapa inesperada, quantos quilos ele trouxe hoje? Com certeza foram mais de vinte, caí no chão do carro segurando a enorme mochila preta. A joguei para o lado e voltei ao meu lugar no banco, antes que o bêbado enfiasse cerveja pela boca de Elisa.

— Abre a boca pirralho, tu estás muito fraco nem consegues segurar minha mochila, hoje ela estava leve. Hey, olhem para o que se encontra aqui, Elisinha, estás com sede? Essa bebida é muito boa, já bebi mais de cinco hoje. – Felizmente ela não ouviu, infelizmente ele veio para frente dela arrancou seus fones e os jogou fora, ela começou a chorar.

— Para João! Deixe-a em paz, como és estupido. – Disse e ele se virou lentamente, olhou para os lados e viu que já estávamos chegando. Sentou novamente e murmurou: - Daqui a pouco tu me pagarás pirralho.

Quando o carro parou, eu fazia de tudo para minha irmã parar de soluçar, seus olhinhos estavam vermelhos, mas ela saiu e eu a acompanhei. O bêbado parecia desnorteado, demorou algum tempo para se mover, o suficiente para subirmos as escadas, eu a deixar em seu quarto com a governanta e correr para o meu. Joguei a mochila na parte de baixo do beliche, e tomei um susto ao ver Miguel sentado na minha cadeira, ele é quatro anos mais velho que eu.

— Por que estás aqui? – Perguntei, ele apenas me olhava, tinha uma faca nas mãos e um olhar malicioso no rosto. Será que João já chamou a quadrilha? Meus irmãos eram: Carlos Júnior (24 anos), Alexandre (22), Henrique (21), Miguel (19) e João (18). Muito número para decorar.

— Ora, ora, vamos dar uma volta, Filipe? – Colocou a faca num bolso da calça e cobriu com a camisa. – Venha logo, pirralho! – Colocou uma mão no meu ombro, me forçando a andar, não podia fazer nada, sabia que ele tinha vontade e não hesitaria em usar a faca. Fomos para o seu carro, já eram quatro da tarde. Me jogou no banco de trás, João estava lá, ele estava bebendo uísque, mas conseguiu prender meus braços como se fosse pôr uma algema. Já sabia para onde estavam me levando, mas tão cedo? Engoli uma lágrima, João contou que eu faltei duas vezes, ou seja, a punição.

Eu odiava o clube deles. Especialmente o dessa semana. Nesse só podia usar roupas íntimas ou não usar nada. Miguel abaixou os óculos e o segurança nos deixou entrar.

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ALGUMAS HORAS DEPOIS...

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Casa. Finalmente estava em casa. Apesar da vontade de sair correndo, ver como Elisa estava ou apenas entrar no meu refúgio, me contive. Miguel andava com uma faca embaixo da camisa, drogado do jeito que estava, faria qualquer coisa. Consegui enganá-los fingindo que estava bebendo álcool enquanto jogava-o fora e bebia água e joguei fora o MD que me deram. Mas, infelizmente não escapei da punição.

Quando entramos, ele fez questão de subir comigo, os outros tinham ficado naquele fim de mundo. Ele abriu a porta do meu quarto e me jogou, caí de cara no chão pela segunda vez no dia.

— Olhe pirralho, vou voltar para lá. Se tu abrires a boca, tu estás morto. Tchau, trate de aparecer da próxima vez, caso contrário, é melhor para mim. – Começou a rir, e fechou a porta.

Levantei-me, corri para o banheiro e escovei meus dentes com força tantas vezes que perdi as contas. Tinha que me livrar daquele gosto. Quando acabei tranquei a porta e me sentei na cama de baixo do beliche. Bati a cabeça algumas vezes na parede, depois me deitei. Daí elas vieram, o que eu prendi o dia todo, conseguiram escapar da prisão que eram meus olhos. Lágrimas. Apenas lágrimas, um choro contínuo. Por quê? Por que eles fizeram isso? Por que sempre fazem? O QUE EU FIZ PARA ELES?! POR QUE A VIDA É TÃO INJUSTA COMIGO? POR QUE EU SOU TÃO FRACO? POR QUE AGUENTO ISSO?

Fui para o banheiro, lavei o rosto. Quanto tempo eu passei naquele inferno, mesmo? Afinal, que horas são? Olhei para o meu relógio – 22:45– Quer outro defeito meu? Eu não percebo o tempo passar, não sei se são minutos, segundos, horas, as vezes dias. Ele passa, eu sei, mas não percebo. Às vezes passa lento demais, quase se arrastando, e outras vezes um dia passa em minutos.

Sabia que estava cansado, devia estar assim. Me dirigi, para minha varanda. Adoro ela, e à noite, consigo ver tudo. Sentei na cadeira, cruzei os braços sobre a mesa, apoiei meu queixo nela e fechei os olhos em cima dos meus braços até cochilar. 

De certa forma eu conhecia o lugar, era familiar, mas como se eu não conseguia abrir meus olhos nessa espécie de sonho. Fazia calor, senti cheiro de sangue novamente, meu sangue. Será que fui parar naquele deserto de novo? De repente senti uma pontada aguda e rápida de dor no couro cabeludo, como se tivessem arrancado um fio de cabelo meu. Acordei no mesmo instante, merda de sono leve, tudo parecia normal, ainda estava na varanda. 23:20, voltei para o quarto. Subi para a cama de cima, me deitei. Cenas do dia passavam em flashes na minha cabeça. Não deixei escapar um detalhe, devo ter pensado em tudo até cair no sono, nunca sei ao certo quando durmo, apenas quando acordo.

Frio. Após de uma noite sem sonhos, meu quarto estava mais frio que o normal. Parecia que ia nevar. Abri os olhos, pisquei algumas vezes, olhei ao redor e pisquei bem forte mais uma vez. Tudo era cinza, feito de metal. Sem janelas, sem portas, sem saídas. Com toda certeza não estava em casa. Olhei para os lados, mais pessoas dormindo. Devia estar surtando, mas sabia que deveria ser culpa dos meus irmãos.

Pelo menos uma coisa boa, beliches, havia quatro. De um lado dois, do outro mais dois. Olhei para o beliche atrás do meu, tinha um cara alto, parecia que tinha bebido a noite inteira, só de olhar fico com pena da futura ressaca.

Só uma coisa estranha: Quem diabos é esse bêbado que eu nunca vi? Ele não parecia português. Do outro lado, as pessoas estavam na cama de baixo. Desci do beliche para vê-las. Meu deus, parecia estar pisando em gelo, felizmente estava com uma camisa de manga comprida. Mas que camisa cinza é essa que eu não tenho e não me lembro de ter colocado?

 Me ajoelhei, de frente a primeira beliche, era uma menina, parecia uma daquelas líderes de torcida que se vê nos filmes. Ela era bonita, mas também não a conhecia. Não se parecia nem um pouco com o cara bêbado. Dormia calmamente, às vezes tremendo levemente pelo frio. Seus cabelos pareciam eram loiros e pousavam em cachos no travesseiro. Única coisa ruim, ela tinha cara de patricinha e parecia um pouco mais velha que eu. Mas quem sou eu para julgar as pessoas? Parti para a última cama, outra garota. Também não se parecia com ninguém que eu tenha visto em vida. Ela tinha cabelos pretos que faziam um contraste na pele branca, mas não parava de se mexer. Era encantadora. Fiquei algum tempo ajoelhado observando-a. Por um momento, pensei em como sairia dali. Quem seriam essas pessoas, e onde eu estou? Nesse momento, ela acordou. Olhou para os lados e depois para mim. Seu olhar já dizia tudo, era um olhar de pavor, medo. Esperava uma resposta da pergunta que não fez. Depois começou a sentir o frio, onde estava não sabia, nem eu. Mas o que dizer? O que fazer? Por que as perguntas não acabam? Eu estava perdido.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Odiaram? Comentem por favor. Até o doido número três!

Beijinhooos! Daqui a pouco ela deixa de ser tão confusa!



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