In My Head escrita por IsabelNery


Capítulo 21
Brasil português


Notas iniciais do capítulo

Aproveitem?



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P.O.V. 3ª Pessoa

Para alguém que estivesse de fora da situação, poderia apreciar o local com o devido respeito que ele merecia. Apesar do sol escaldante, a luz que ele exalava tinha um aspecto diferente, como que trazia paz, ou algo semelhante. A areia era de um bege que se estendia por quilômetros e quilômetros. E o mar, ah, o mar, aquela imensidão de azul que virava branco quando uma onda se quebrava e espalhava pequenas bolhas pela areia molhada, era divino. A floresta fazia um grande contraste com a paisagem. Verde, bege, branco e azul. Era apenas estranho, porém estranhamente lindo.

Enfim, mas eles estavam o mais dentro da situação possível, muito mais até do que gostariam. Filipe se esgueirava vez ou outra para tentar se esconder da luz no meio da floresta. Não era uma floresta densa, era aberta demais, havia ar demais, luz demais. Até que de repente, ele parou e se virou para Rosa.

— Por favor, no hables espanõl ni ningún otro idioma com el portugués, hablo, diré que es tonto (Por favor, não fale em espanhol, nem em outro idioma com os portugueses, eu falo, direi que é muda). – Rosa apenas assentiu, Filipe sorriu e ela se esforçou para dar um meio sorriso. Ele se virou e ao dar o próximo passo caiu em uma armadilha dos indígenas. Foi tudo muito rápido para Rosa acompanhar, em um segundo, o português estava na sua frente e no segundo seguinte, ele estava suspenso em uma rede que estava presa a um galho na árvore. Ela sufocou um grito, ele ficou desorientado. A espanhola começou a analisar o ambiente ao redor, procurando uma solução, mas a melhor ideia que teve foi subir na árvore, e assim foi feito. Rosa quase não conseguia, enquanto escalava uma lembrança veio a sua cabeça, algo de apenas dias atrás que mais pareciam anos, no último dia de sua vida – Ela já havia aceitado o fato de estar morta ou em coma – Eram apenas duas adolescentes escalando o muro da escola, a morena conseguiu rapidamente, mas a loira estava de salto e saia, e teve mais dificuldade, mas conseguiu mesmo assim. O resto do dia Rosa fez questão de não se lembrar, não queria voltar a pensar no que aconteceu com sua melhor amiga Amanda. Apenas saiu do devaneio e voltou a encarar a árvore em que se segurava, a adrenalina percorria todo o seu corpo, e já havia rasgado a roupa cinza na perna esquerda e no braço direito. Ela estava rezando para que um índio não aparecesse enquanto escalava, até que conseguiu, chegou ao galho em que Filipe estava pendurado. Aí ela caiu na real, como o tiraria dali? Não trouxe nada afiado para cortar a rede, tentou com suas mãos, mas não conseguiu, e mesmo se conseguisse rasgar a rede, ele cairia no chão, ela não conseguiria segurá-lo.

— Calma, calma, mantén la calma y piensa. (Calma, calma, mantenha a calma e pense) – Filipe falava baixinho para Rosa. Ela respirou fundo algumas vezes e finalmente disse: Assegure la rama (Segura no galho). Ele passou as mãos pelos quadrados da rede e se segurou no galho, a espanhola pegou parte da rede e começou a roê-la com seus dentes. Filipe olhou espantado, até mesmo Rosa se conseguisse se olhar, olhar-se-ia espantada. Ela era uma menina de classe, sempre foi, mas depois de passar fome, frio e algumas situações de perigo extremo, parou de se importar, como qualquer mente sã também o faria. Ela, por fim, conseguiu abrir um buraco na rede, ele passou uma mão do quadrado em que estava segurando para o buraco e em seguida a outra mão. Todo o peso de seu corpo estava sendo sustentado pelas mãos, Rosa segurou-lhe pelo braço e o puxou para o galho, eles ficaram em cima da árvore, a uns 9 metros do chão.

— Gracias. – (Obrigado) Ele disse.

— ¿Estás bien? Bajemos, tengo hambre. (Está bem? Vamos descer, estou com fome.) – Ele assentiu e desceu primeiro, era um mestre em escalar árvores, o fez a vida toda numa tentativa de fugir de seus irmãos, uma vez passou a noite inteira em cima de uma.

 Ela voltou a se lembrar de Amanda, o que fez seus olhos se encherem de lágrimas e ela somente pôde enxugá-las quando alcançou o chão. Porém, ouviram o que parecia ser ao longe uma confusão. Durante seus anos de colégio, sempre ensinaram a Filipe que a invasão dos portugueses ao Brasil havia sido pacífica e que os índios adoraram, tudo fazia cada vez menos sentido. Gritos e tiros foram ouvidos e tudo que ele fez foi correr, vez por outra olhava para os cabelos loiros que corriam ao seu lado, até que chegaram no que parecia ser uma vila de índios, havia ocas pequenas e grandes, um pequeno rio, uma fogueira, mas estava vazia, todos os seus habitantes estavam na costa com os estrangeiros. Filipe já tinha se acostumado a furtar comida e roupas em outras aventuras, mesmo quando havia gente nas casas, foi fácil demais, comeram uma massa branca e depois alguns peixes que estavam fritando, beberam água do rio e voltaram a se esgueirar pela floresta, mas os portugueses já estavam explorando a ilha. Para a felicidade de Rosa e Filipe, os portugueses haviam se separado. Eles se depararam com um sozinho, este, ao vê-los, imediatamente apontou sua espingarda, Filipe se sentiu traído pela sua nação e não teve outra escolha senão contra-atacar. Deu-lhe uma joelhada na virilha, o que fez seu oponente ir ao chão, sentia a adrenalina preenchendo seu corpo, aquele velho espírito sanguinário acordando. Pegou a espingarda do homem, mirou nele e disparou sem hesitar. Na primeira vez que ele fez isso Rosa ficou em choque, mas outros três homens vieram, todos acabaram do mesmo jeito e Rosa parou de se importar com seus inimigos.

Pouco se via do cinza da roupa de Filipe, ela estava repleta de sangue e seu dono estava com um estranho sorriso no rosto, um olhar de satisfação que estava dando medo a Rosa. Ela não tinha ideia de que ele era tão violento. Mas ele estava querendo mais um, apenas um e uma bandeira, em cada um que matou viu o rosto de seus irmãos, mas faltava um, faltava João, e queria muito, mesmo sem saber de onde vinha tanta vontade, mas queria ver a bandeira da sua nação, não conseguiu ambos. Ele se sentou no chão e Rosa ao seu lado, o sol estava se pondo em algum lugar que eles não conseguiam ver, apenas começaram a conversar.

— ¿Qué crees que es esto? ¿Dónde estamos? El por qué estamos aquí? (O que você acha que é isso? Onde estamos? O por quê de estarmos aqui?) – Rosa perguntou

— No sé, yo creo que Dios no me gusta mucho, pero aún así, este es todavía un poco mejor que mi antigua vida, a excepción de la falta de mi hermana. (Eu não sei, eu acredito que Deus não gosta muito de mim, mas mesmo assim, aqui ainda é um pouco melhor que minha antiga vida, a não ser pela falta de minha irmã.) – Filipe disse calmamente e Rosa começou a chorar.

— Cálmate, todo va a estar bien ¿qué passa? (Calma, vai ficar tudo bem, o que foi?) – Ele falou enquanto tentava consolá-la de alguma forma. – Qué puedo ayudar? Si no desea contar está muy bien. (O que, posso ajudar? Se não quiser contar está tudo bem.) – Filipe disse e olhou para o céu escuro, havia tantas estrelas.

— No, sí, fue así, estava saliendo con um chico llamado Guilherme, y rompí com él el último día antes de despertar em la habitación gris. Luego, por la noche, secuestró a mi amiga Amanda y dijo que la lastimaría si no me acostaba com él, así que me desmayé y desperte aqui. (Não, é, foi assim, eu namorava com um cara chamado Guilherme, e terminei com ele no último dia antes de acordar no quarto cinza. Aí de noite, ele sequestrou minha amiga Amanda e disse que a machucaria se eu não dormisse com ele, aí eu desmaiei e acordei aqui.) – Ela se esforçou para falar calmamente, mas sua voz falhou em algumas partes.

— Vaya, lo siento. Pero es justo que yo te digo lo que me pasó. Me disculpo por las escenas sangrientas que ha visto hoy, no siempre fue así, hasta que la vida de ocho años fue genial. Tengo cinco hermanos mayores, mis padres son ricos y nunca están en casa, así que desde que tenía ocho años, mi hermano me ha arrastrado a los clubes nocturnos de ellos. Se llevaron el dinero de mi padre cerró una discoteca, un bar o en casa de alguien, putas llenas, alcohol y drogas, especialmente de éxtasis. (Puxa, eu sinto muito. Mas é justo que eu lhe conte o que aconteceu comigo. Eu peço perdão pelas cenas sanguinárias que você assistiu hoje, eu nem sempre fui assim, até os oito anos a vida era ótima. Eu tenho cinco irmãos mais velhos, meus pais são ricos e nunca estão em casa, por isso desde que fiz oito, meus irmãos me arrastavam para as boates deles. Eles pegavam o dinheiro do meu pai, fechavam uma boate, um bar, ou a casa de alguém, enchiam de putas, bebidas e drogas, principalmente o ectasy.) – Ele respirou fundo com nojo e continuou a falar. – Son sádicos, nadie es consciente y la fuerza que se necesita a un niño a hacer .. cosas ... (Eles são sádicos, ninguém em sã consciência leva uma criança e a força a fazer.. coisas...) – Filipe estava sufocando o vômito em sua garganta. – Me vi obligado a hacer varias cosas feas y desagradables, que prefiero no hacer comentarios, pero si me negaba a hacer algo, me vi obligado a castigo. (Eu fui forçado a fazer várias coisas nojentas e desagradáveis, que prefiro não comentar, mas se me recusasse a fazer algo, eu era forçado a punição.) – Ele se levantou correu para os arbustos e vomitou, respirou três vezes e voltou a se sentar ao lado de Rosa e continuou antes que ela pudesse falar algo. – Aprendí a trepar a los árboles, para proteger a mi hermana, gracias a mí, nunca fue llevado a alguna de estas canciones, y es un poco de eso estoy violento. Yo le pegaba a mis amigos en la escuela, pero sólo en las malas. Y aquí, si usted piensa que no es tan malo, es Belle, Tyler y aventuras. (Aprendi a escalar árvores, a proteger minha irmã, graças a mim, ela nunca foi levada para algum desses cantos, e é meio que por isso que sou violento. Eu costumava bater nos amigos da escola, mas somente nos ruins. E aqui, se você pensar, não é tão ruim, tem Belle, Tyler e aventuras.) – Rosa estava em choque, sua vida era perfeita, era rica também, mas seus pais sempre estavam lá, e era filha única, agradeceu tanto por isso. Ela sofreu por apenas um dia, apenas um, aquele garoto ao seu lado não tinha paz por anos, ela sentiu piedade.

— Lo siento (Eu sinto muito.) – Ela sussurrou.

— Gracias, dormimos? (Obrigado, vamos dormir?) – Ele sorriu e ela assentiu se perguntando como ele poderia sorrir.

Todo o dia foi agitado demais para que eles reparassem a falta que os outros faziam. O que foi bom para ambos, mas agora, quando tudo estava calmo e seguro, era inevitável não pensar. Rosa estava com saudades de ambos, mas conseguia aguentar e dormiu após um longo tempo com pensamentos demais lhe rodeando, ela chorou um pouco no breu. Filipe sentia sim a falta de Tyler, mas a falta de Belle era imensa, ele havia igualado Belle a Elisa, sua irmã mais nova, não conseguia diferenciar, mas estava morrendo de saudade dela(s). Por um tempo, parecia que seu peito estava vazio, que todo o seu corpo estava vazio, ele chorou, mas aí fez o que sempre fazia quando começava a ficar triste, lembrou da punição, enxugou as lágrimas, jurou vingança e dormiu tranquilamente.


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Notas finais do capítulo

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