In My Head escrita por IsabelNery


Capítulo 22
Apenas pule


Notas iniciais do capítulo

Aproveitem!



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P.O.V. 3ª Pessoa

Rosa abriu os olhos e, pela primeira vez depois de tanto tempo que ela mesma não conseguia lembrar, não tinha nada cinza, NADA. Ela estava no escuro, mas era aquele tipo de escuro que se você forçar um pouco seus olhos enxergará com facilidade. Só depois de alguns segundos percebeu que estava em sua cama, não aquela cama cinza, mas a cama na qual dormiu por metade de sua outra vida, a bela cama de casal, forrada com seu lençol rosa favorito. A janela estava aberta, era tão bom sentir o calor da Espanha de novo. Tudo tinha sido um terrível pesadelo, aquele cinza todo, aquelas aventuras sem sentido, aquelas pessoas estranhas. E ela acordou no meio da noite no seu quarto, isso era um alívio tão grande. Rosa sorriu e até deixou duas ou três lágrimas percorrerem seu lindo rosto angelical. Contudo, quando ela foi olhar melhor para o quarto que tanto sentira falta, percebeu que não estava sozinha na cama. Aí se lembrou do que acontecera antes de ir e parece que o pesadelo voltara. O homem ao seu lado estava deitado de bruços e dormia tranquilamente. A espanhola pensara em vários modos que a situação transcorrera para acabar assim, mas somente um dava por certo, e ela confirmou ao levantar e se descobrir do lençol que tanto gostava. Estava nua. Aí sim, ela voltou a chorar, de modo copioso até, mas no maior silêncio possível, pois não queria acordar o canalha ao seu lado. Decidiu ir ao banheiro e, ao abrir a porta, teve a pior imagem da sua vida: o corpo da sua amiga Amanda estava no chão, os olhos vidrados no além, e facadas cobriam seu corpo ao redor de uma enorme poça de sangue. Mas um sangue já seco, o que significava que acontecera há horas. Rosa quase desmaiou, quase. Ela ficou lá parada, sem conseguir acreditar no que via, aquilo só podia ser outro pesadelo. E o choro piorou, até que alguém colocou a mão em seu ombro, e aí ela gritou. Guilherme havia acordado, estava nu, mas ela não queria olhar.

— Rosa? – Ele disse e ela acordou no cinza. Não. Pensou por um segundo ao ver o quarto com as beliches e Tyler lhe chamando, mas aí percebeu que era bem melhor estar ali e não ter dormido com seu ex-namorado Guilherme e, era melhor não saber o que aconteceu com Amanda do que saber que ela poderia estar morta. Enfim, Rosa se sentou no beliche e sorriu para Tyler.

— Perdone, estabas movendo y grito. (Me desculpe, é que você estava se movendo e gritou)

— Usted entrenado español. Gracias, tuve una pesadilla horrible, gracias por sacarme de allí. (Você treinou o espanhol. Obrigada, eu tive um pesadelo horrível, obrigada por me tirar de lá.)

— Buéno, estabamos preocupados. (Tudo bem, estávamos preocupados.) – Falou e por cima do seu ombro, a espanhola viu Filipe e Isabelle, eles deram um sorriso a encorajando. Mas ela se lembrou do sonho e começou a chorar. Tyler se enrolou para continuar a falar em espanhol. - No, no, calm down. Sorry, shit, err, today, hoy no tiene nada que hacer, it’s Free Day. Remember, two yes, one no? Ok, it doesn't matter, come on. (Não, não, se acalme. Desculpe, merda, err, hoje, hoje, nhao tem nada para fazer, é Dia livre. Lembra, dois sim, um não? Ok, não importa, vamos.) – Ele a deitou e a abraçou naquele beliche. Ela chorou mais um pouco, mas logo se acalmou.

— Do you wanna tell us? (Você quer nos contar?) – Tyler disse e ela assentiu. Os mais jovens se sentaram no chão perto do beliche. Rosa começou a lembrar outras coisas, que estava no Brasil antigo com o português, que sentiu tanta falta de Tyler e de Belle, e que agora estava estragando o momento de reencontro, ela lembrou o que Filipe lhe disse e o sentimento de piedade pelo menino voltou, lá estava ele, de mãos dadas com a brasileira no chão, mas seu rosto não tinha um sorriso, apenas uma cara de preocupação. Rosa se esforçou a dar um sorriso.

— Es bueno verlos, no vamos a empezar bien el día. Entonces, ¿dónde estaban? (É bom vê-los, não vamos começar o dia assim. Então, para onde foram?) – Tyler a olhou desconfiado, mas logo sorriu também.

— You will never guess, we went to Vietnã! (Você nunca adivinharia, nós fomos ao Vietnã!) – Tyler gritou com tanta empolgação que deixou os outros três confusos, ele estava feliz por ter ido a guerra? Até Belle que tinha ido com ele não entendeu a princípio, mas analisou a situação e percebeu que a felicidade não era em si pela viagem, que não tinha lá essas coisas. E sim as pessoas com as quais falava agora. – It was kind of fun if we look now that it has passed, we slept in a tree, Soldiers cached us, I killed them all, Belle almost had a relapse, but I helped her, I promess that I will learn to how to talk in Portuguese to talk to my new little sister, and we missed you guys! (Foi até divertido se nós olharmos agora que passou, nós dormimos em uma árvore, soldados pegaram a gente, eu matei todos eles, Belle quase teve uma recaída, mas eu a ajudei, prometi que iria aprender a falar em português para falar com minha nova irmãzinha, e nós sentimos a falta de vocês gente!)

— Mataste gente Tyler? ¿Cómo pudiste? ¡Qué horror! (Você matou gente Tyler? Como teve coragem? Que horror!) – Rosa falou demonstrando espanto.

— Era necesario. (Foi necessário) – Tyler falou sério.

— Espera, tu quase tivestes o que? – Filipe falou para Belle, ela corou e olhou para Tyler por um segundo, mas ele não tinha entendido. Ela não ficou com raiva dele por ter contado, achava até melhor que não houvesse segredos entre os quatro. Mas Tyler sabia que esta seria a reação do português desde que a brasileira se sentou no chão e começou a gritar no meio daquela mata verde e escura do Vietnã.

— Err, ok, primeiro, vamos analisar o contexto, eu estava com fome, com saudades de vocês, no meio da floresta perigosa, verde e escura, já sabíamos que estávamos no Vietnã, e Tyler estava lutando sozinho com três soldados, ele os matou e os dilacerou na minha frente, eu não conseguia pensar, entende? Eu pedi pra Tyler me matar, mas foi só um deslize, me desculpem, sei que foi errado, ele me fez mudar de ideia na hora. – Ela falou olhando para o chão.

— Thank you, Tyler. (Obrigado, Tyler) – Filipe falou para o americano e em seguida abraçou a brasileira. – Olhe aqui, se tu pensares em fazer algo parecido mais alguma vez na tua vida, estarás perdida? Entendido? Está perdoada, me desculpe por não ter estado ao seu lado lá, também senti saudades. – Sorriram.

— Então, para onde foram? – Belle perguntou, era ruim falar em português por que apenas Filipe conseguia entendê-la, mas havia passado um dia inteiro falando somente em inglês com Tyler e queria voltar um pouco a falar seu idioma antes que o esquecesse.

— Adivinha? Brasil. – Filipe falou e Belle fez arregalou os olhos numa cara de surpresa.

— Sério? Como foi? Que parte da história?

— Essa é uma parte engraçada, o descobrimento, por Portugal. – Ambos riram. – We went to Brasil, Tyler (Nós fomos ao Brasil, Tyler)

— Ooh, ok, did you guys have fun? (Ooh, ok, vocês se divertiram?)

— Well, more or less (Bem, mais ou menos)

Rosa não falava nada há um bom tempo, mas ninguém tinha percebido, ela estava fazendo a mesma pergunta repetidas vezes em sua mente: Como ele consegue sorrir? – A história de vida de Filipe lhe passava pela cabeça inúmeras vezes, ela não conseguia descobrir como ele conseguia realizar o simples ato de sorrir. Era nessas horas que ela percebia o quão fútil era quando queria, ela tinha tudo, sempre teve tudo e sempre reclamava, mas como aquela criatura conseguia sorrir? Era só porque estava segurando a mão de brasileira? Mesmo assim, era impossível. Quase chorou de novo, mas se prometeu que iria tentar melhorar de algum jeito a vida dele quando/se voltassem.

— So, do you guys want to eat? We have all the day for us. (Então, vocês querem comer? Temos o dia inteiro para nós.) – Tyler falou.

Ninguém havia notado, o “brinde” dessa vez foi uma bola. Simplesmente uma bola cinza – pra variar – que estava encostada na parede. Foram ao quarto de refeições e havia sanduíches de queijo, comeram rapidamente. Após todos tomarem banho e escovarem os dentes foi que Belle viu a bola, ela a pegou.

— AAAAAAAAH!! – A brasileira gritou e todos foram para próximo a ela. Segurou a bola no mais alto que podia que só chegava ao peito de Tyler. E, de todos, quem mais se animou foi o mais velho. Tyler passara inúmeras tardes jogando bola com Michael, todos os tipos de bola, todos os tipos de jogo, apenas sentia falta, mas 1% havia sido preenchido, era mais que suficiente.

Enfim, jogaram vôlei, ou o que podia ser jogado com uma bola de vôlei sem rede. Pareciam crianças de novo, na verdade, todos se lembraram de sua infância, apenas uma bola bastava, às vezes até menos. Por que tinham que crescer e se tornar esses complexos adolescentes que nem eles mesmos conseguiam entender? Bem, ninguém sabia. Logo depois de Tyler cortar a bola no chão umas treze vezes, eles pararam de jogar e foram estudar as línguas. Belle havia avançado bastante no seu livro de inglês e já estava na metade de espanhol. Filipe já sabia bastante de inglês e espanhol e já estava no livro de Francês. Rosa terminara inglês e estava na metade de português junto a Tyler que havia acabado espanhol. O dia transcorreu lento até todos terminarem seus objetivos. Comeram de novo, dessa vez foi macarrão com molho vermelho, o que foi ótimo porque eles precisavam de carboidratos para queimar nos exercícios, afinal tinham que manter uma ótima musculatura para as aventuras. Tyler coordenou o treinamento desde a esteira, a parede de escalada, uma escalada com pulos pelas beliche, subindo e descendo, entre outros. Até que estavam muito cansados e dormiram na temperatura que agradava a todos, pois tinham o controle. A vida ali estava cada vez saindo do horrível e chegando ao agradável, estava chegando a ser divertido. Mas nem tudo dura para sempre.

Como de costume, Filipe acordou primeiro apesar de ser quase sempre o último a dormir. Ele percebeu que o chão já estava completamente coberto do fundo conhecido como buraco negro. Se gritasse, era provável que alguém caísse da cama no buraco e fosse sozinho/a para a aventura. Isso não poderia jamais se repetir. Ele tinha que ser rápido e silencioso, foi logo a Tyler. O cutucou de leve com sussurros até que ele abriu os olhos. Filipe pediu silenciosamente para que Tyler não falasse nada, ele não entendeu o porquê e o português apenas apontou para o chão. O americano arregalou os olhos e assentiu. Combinaram quem ia acordar qual garota, mas tinha um problema, como passariam de um lado para o outro do quarto para alcançar às beliches se havia um enorme buraco negro no chão? Não teve outro jeito, tentaram até fazer uma corda de lençóis, mas tiveram que falar para que elas acordassem.

— Belle. – Filipe disse.

— Rosa. – Tyler disse. – Somente Belle acordou, mas ela foi útil ao acordar Rosa. Os garotos, após um esforço enorme, conseguiram pular para as camas delas sem cair. Todos deram as mãos e pularam juntos no roxo cintilante. Estavam aprendendo, aprendendo demais nesse lugar. Aprenderam a resolver problemas em qualquer hora do dia, independente do humor e do problema. Aprenderam a ter coragem, a viver com estranhos, a falar quase fluente outras línguas, a deixar de ser egoísta, a sentir saudade, a ter sempre a dúvida sobre tudo, mas se importar em viver o agora, sem se importar com o local e contexto. Que apenas algumas pessoas devem ter o mérito de estar em seus pensamentos e, é claro, que a vida é curta demais para se preocupar com todos e com uma sociedade perfeita. É necessário pular em alguns buracos negros para viver, mas você pode tentar uma coisa mais simples ou complexa se preferir.

Com isto, basta...

pular alguns

espaços de

vez em quando.


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Notas finais do capítulo

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